Powered By Blogger

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

A MAMÃE GALINHA (conto)




Vivia, num grande galinheiro, uma galinha e sua ninhada de pintinhos. Eram doze lindos pintinhos amarelos e brancos. A mamãe galinha cuidava de todos com muito amor. Levava a ninhada para tomar banho no tacho que servia de bebedouro, espojar-se na terra para acabar com os piolhinhos que se escondem sob as penugens e penas das aves, e deitar ao sol para se aquecer até o momento de comer. Ah, neste momento a mamãe galinha dizia:

- Crianças, hora de comer! - E lá vinham todos correndo e piando alegremente liderados pelo pintinho que saiu primeiro da casca do ovo, o irmão mais velho. Avançavam na comida que o fazendeiro preparava diariamente para servir às aves, mas a mamãe galinha, sempre atenta, levava a prole para o cantinho onde o homem colocava o milho bem picadinho, acompanhado de verdura cortada bem fininha.

Eles ainda não podiam comer a comida das aves adultas, pois se engasgariam com os grãos de milho. Depois de comer iam descansar sob as asas quentinhas da mamãe galinha.

Assim eles foram crescendo. Já estavam empenados, sabiam ciscar o chão com força procurando bichinhos e pedrinhas para um rápido lanche enquanto não chegava a hora da próxima refeição.

Um belo dia a mamãe galinha chamou os pintinhos. Eles correm para ela. Então ela contou: um, dois, três, quatro...onze. Huuum! Está faltando o mais velho. A mamãe galinha ficou desesperada e começou a chamar:

- Có, có, có, có... - O pintinho não apareceu. Ela percorreu o imenso galinheiro, não encontrou o filhinho. Foi então que viu um buraco na rede de arame que cercava o galinheiro. Entendeu tudo. O pintinho saiu por ali.

E agora, fazer o quê? Ela não podia deixar os outros filhos desprotegidos. Se saísse na certa os outros pintinhos escapariam pelo buraco da cerca e se perderiam.

Ficou ali, diante do buraco, esperando. Os onze pintinhos estavam tristes, não tinham mais o irmão para liderar as brincadeiras. De vez em quando, ouvia-se o chamado da mamãe galinha. Era um có, có, triste, cheio de preocupação de uma mãe que espera o filho.

À tarde começou a chover, e o vento forte balançava a rede do galinheiro. A mamãe galinha se recolheu junto com os pintinhos na casinhola que era seu ninho. Agachou-se sobre as palhas, abriu as asas e recolheu todos os filhos.

As outras galinhas e os galos perceberam a tristeza da mãe. A galinha carijó, que dormia no poleiro em frente à casinhola, disse:

- Comadre, não fique triste... ele saiu para conhecer o terreiro da fazenda e como é muito extenso demora um pouco. Logo estará de volta.

- Sei não, carijó. Com esse tempo, esse vento forte... Penso que o vento pode levar meu filho para longe, e ele, tão pequeno, não saberá voltar para casa.

Enquanto as duas conversavam o dono fazenda, todo encapotado por causa do aguaceiro que caía do céu, abriu a porta do galinheiro e tirou de dentro da sua capa o pintinho desaparecido. Colocou-o no chão e ele correu gritando:

- Mamãe, mamãe, eu tive tanto medo da chuva...

Foi um alvoroço na casinhola. Os irmãos piavam de alegria. A mamãe cantava de felicidade pela volta do filho são e salvo. Abriu as asas para aquecer o fujão que estava todo molhado. O pintinho prometeu que nunca mais escaparia por aquele buraco por maior que fosse a sua curiosidade, porque amor e proteção de mãe ele só tinha ali no galinheiro.

E a mamãe galinha, num gesto de carinho, abria com o bico as penas molhadas do pintinho para limpar e ajudar a secar mais rápido.

- Puxa! Terminou a história, vovó? – perguntou o netinho.

- Claro, meu filho!

- Amor de mãe serve pra qualquer espécie, não é vovó!

- Sim, meu neto, qualquer espécie, até as cobras amam seus filhotes porque amor de mãe é o sentimento mais puro, mais sagrado que existe. Tudo pode passar, tudo pode desmoronar, mas o amor de mãe fica pairando sobre o mundo, sobre as pessoas através de séculos e milênios, é eterno meu querido neto.

- Agora me diga vovó, onde fica essa fazenda que tem uma galinha que fala?

- No país da minha imaginação...uai – respondeu a vovó, rindo.

04/05/06.

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto).

 

 

sábado, 25 de dezembro de 2021

TILICO, O JACARÉ DE PAREDE (história)



- Vejam só que petisco maravilhoso! Uma lagartixa geladinha.
- Calma dona Coruja, não se apresse pra me comer. A senhora não sabe nada sobre mim.
- Ah, essa não. Não sei nada? Você é um insignificante jacaré de parede, só isso. Tem mais, eu não preciso saber nada sobre os bichos dos quais eu me alimento. Eu quero apenas comê-los.
Tilico estava preocupado. Bastava a coruja dar um pulo e ele cairia nas suas garras. Como entretê-la enquanto elaborava um plano de fuga? Pensou e se saiu com essa:

- Vejam só que petisco maravilhoso! Uma lagartixa geladinha.
- Calma dona Coruja, não se apresse pra me comer. A senhora não sabe nada sobre mim.
- Ah, essa não. Não sei nada? Você é um insignificante jacaré de parede, só isso. Tem mais, eu não preciso saber nada sobre os bichos dos quais eu me alimento. Eu quero apenas comê-los.
Tilico estava preocupado. Bastava a coruja dar um pulo e ele cairia nas suas garras. Como entretê-la enquanto elaborava um plano de fuga? Pensou e se saiu com essa:

- Você não deve me comer porque eu sou um animal útil, sou insetívoro, controlo as pragas...
- Grande coisa – interrompeu a coruja – todos os animais são úteis, até o urubu, mas lembre-se que existe a cadeia alimentar e você faz parte da minha.
Tilico argumentou:
- Meu gosto é horrível. Você terá indigestão, diarreia e outras complicações. Ficará doente e não poderá cuidar dos seus filhotes.
- Deixa de conversa mole, lagartixa, eu me alimento de roedores, aves, répteis e insetos e nunca tive indigestão.
- Viu? Eu tenho razão. Eu não sou nenhum desses que você citou. Você não disse lagartixa.
- Pode parar com a conversa fiada, você sabe que é um réptil e como tal está no meu cardápio.

Tilico já não tinha mais argumentos para retardar o ataque da coruja. Então recorreu  à estratégia que a natureza lhe ensinou.  Quando a lagartixa está em perigo, ela fica parada e desprende o rabo que cai no chão e se remexe por alguns minutos. Isso confunde o atacante e dá tempo de escapar.
Foi isso que Tilico fez. 
Enquanto a coruja voava na direção do rabo se mexendo, ele escorregou para um vão no tronco e ficou aguardando o momento de sair. Ficou triste com a perda daquele lindo rabo que era seu orgulho, mas o importante é que ele estava vivo para realizar o seu sonho. Conformou-se:
– Que mal há nisso – disse para si mesmo - afinal o rabo só demora duas semanas para se regenerar.

25/12/21

(Maria Hilda de J. Alão)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

O SENHOR DÍGRAFO (poesia)




Estavam todas preocupadas
Pois com afinco haviam estudado
Mas não conseguiam entender
O esquema do Senhor Dígrafo.

Assim falavam as cinco vogais
Depois das notas semestrais
Sofrerem terrível baixa.
Pobre mestra cabisbaixa

Pensa com seus ricos botões:
“Será que minhas explicações
Não valem nem dois tostões!”
Foi de partir corações.

Disseram as cinco vogais:
“Muito iremos estudar
Até que possamos assimilar
A formação de um dígrafo.”

Com apoio da mestra Gramática
Que imbuída de muita tática
Disse que dígrafo é garoto simpático
Trabalhar com ele não é ato antipático.

“Ele é só um doce encontro
De duas letras formando um fonema:
Chave, olho, ilha, quilo, ossos, descer,
Não há problema é fácil de entender.

Esses são os dígrafos consonantais,
Disse a Gramática: ainda há os tais
De dígrafos vocálicos formados
Com vogal e as letras M e N

Eles são: am, an, em, en, im, in
Om, on, um, un, este não é o fim
De do que tenho para explicar
Peguem seus cadernos para anotar

Os exemplos que irei ditar
E nunca mais esquecerão
Desse encontro singular:
Amplo, anta, semente, fundo
Conto, tinta, por hoje isso é tudo.”

22/12/21

(Maria Hilda de J. Alão)


O DILEMA DA LETRA H

 



 Muito sofria a letra H

Dizendo ter um problema
Seria ela um fonema
Ou só a função de enfeitar?

No idioma português
Sofres de plena mudez,
Mas surges com altivez
No início ou final

De algumas interjeições.
Em outras ocasiões
Honras a etimologia
De palavras gregas e latinas

Como horizon, hoje e hilário
Constantes em dicionário
Porém sempre sem som
Pois não carregas esse dom.

Assim respondeu a letra F
Dizendo não ser blefe
Fazendo sorrir a letrinha H
Que achou ter muita lógica
Em ser letra etimológica
Podendo também enfeitar.

22/12/21

(Maria Hilda de J. Alão)


terça-feira, 21 de dezembro de 2021

A REVOLTA DAS CENOURAS

 



Havia um homem que tinha uma horta grande com plantação de cenoura, beterraba e pepino. Todo santo dia o homem, cujo nome era João, cuidava dos legumes retirando as ervas daninhas e regando para que eles não sentissem sede.
Outras vezes ele cavava a terra, ao redor das plantas, e colocava adubo químico para fertilizar as raízes fazendo nascer cenouras, beterrabas e pepinos fortes e bonitos. Quando descobria insetos que podiam prejudicar o desenvolvimento da plantação, ele borrifava inseticida para acabar com os bichinhos. Os vizinhos comentavam sobre o agrotóxico que João colocava na horta e ele se defendia dizendo que se não fizesse isso, a praga acabava com tudo.
Foi num dia muito quente, após terminar o seu trabalho na área das cenouras, que ele parou para comer e descansar um pouco antes de continuar. Almoçou planejando o serviço que faria nas áreas das beterrabas e dos pepinos. Guardou a marmita na sacola e foi se deitar sob uma árvore frondosa. Adormeceu e sonhou. Sonhou que havia uma movimentação estranha na horta e ele foi, de mansinho, ver o que estava acontecendo. Ficou de boca aberta quando viu as cenouras, todas em pé, com um avental xadrez vermelho e branco amarrado na cintura, tendo cada uma, como braços, um galhinho verde de cada lado. Elas agitavam os bracinhos e diziam alguma coisa que ele não entendia.

As beterrabas, mais baixinhas e gordinhas, trajavam uma saia de listras verdes e brancas e também tinham galhinhos, um de cada lado. Elas batiam palmas fazendo ritmo ao que diziam as cenouras. Os pepinos, mais altos e mais gordos, vestindo macacões amarelos com alças e um grande bolso na frente, também agitavam os braços. Eles colocavam os dedinhos na boca e assoviavam alto fazendo coro com as vozes das suas amigas. João chegou mais perto e pôde ouvir:
- Abaixo o lixo químico! Queremos tratamento natural! – diziam as cenouras revoltadíssimas.
De repente uma das cenouras apontou:
- Olha ele ali, gente! E todos correram na direção de João que, em poucos minutos, se viu cercado por cenouras, beterrabas e pepinos.
- O que é que está acontecendo aqui? Vocês deviam estar nas suas covas crescendo para serem colhidos. – disse João nervoso. – Vocês são legumes, não são gente.
- Atchim... hoje é o nosso dia de protesto. Protesto contra o envenenamento dos alimentos. – disse uma cenoura espirrando depois de uma pulverização de inseticida.
- Eu não faço isso. – disse o homem.
- Não! Por acaso este adubo que você põe nas nossas raízes é o quê? E o pesticida que espalha sobre nós é, por acaso, perfume para deixar nossas folhas cheirosas? – perguntou um pepino alto e muito forte.
- Eu faço isso para o bem de todos... – respondeu João preocupado.
- Cof, cof, cof...para o nosso bem! Além de nós, você envenena indiretamente as pessoas. Elas nos comem e...coitadas...cof, cof...! – disse, tossindo, uma beterraba limpando o narizinho na barra da sainha.
- Qual a solução? Como posso plantar sem usar esses produtos? – perguntou João.
- Já ouviu falar em produto orgânico? Procure conhecer os métodos naturais...ai..ai...– disse um pepino amarelo de dor de barriga por causa do adubo químico.

Neste momento o homem acordou e na sua cabeça ainda ecoava a palavra “orgânico”. No dia seguinte ele foi falar com o pessoal da Cooperativa agrícola da sua cidade. Queria muito saber sobre o assunto. Um técnico foi visitar a horta de João e passou para ele todas as instruções para implantar o sistema orgânico de plantio. Quando os dois saíram, ouviu-se um assovio vindo lá do canto onde estavam plantados os pepinos:
- Fiiiiiiiii...meninas, agora a coisa muda! Não seremos mais envenenados.
- Graças a nós. – disseram todas as cenouras numa única voz.
E todos terminaram rindo muito. Rindo de felicidade por saber que ainda tem gente que pensa mais no semelhante do que no dinheiro.
- Pois é, crianças, não devemos comer frutas, legumes e verduras sem lavá-los corretamente. Lembrem-se que nem todos os plantadores têm a sabedoria do João e nem têm uma horta revolucionária como a dele.

21/03/07.

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto).

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

A FESTA DO FOLCLORE

 

No mundo das lendas e dos mitos do Brasil havia um grande alvoroço. Estava chegando o dia de festejar o Folclore brasileiro. A preparação estava acelerada. A Mula-sem-cabeça, agitada, preparava as bandeirinhas coloridas, o Saci-pererê, que havia prometido ajudar, fazia suas peraltices trançando as crinas dos cavalos das fazendas, o que deixava os fazendeiros furiosos. Quando se lembrou da promessa, correu para ajudar a Mula a enfeitar o terreiro. Com seu cachimbo vermelho, soltando grandes baforadas, ele dizia:
- Cumade Mula-sem-cabeça, eu num sei si vai chegá muita gente pra essa cumemoraçãu. Hoji tá tudo tão isquisito! - A Mula-sem-cabeça, cortando as bandeirinhas, perguntou:
- Pur causa di quê, cumpadi?
- Minina, tu num sabi não? U pessoar dessi país anda inventandu umas festanças qui eu num sabia qui inxistia. Um tar de Dia das Bruxas. Ocê cunhece, aqui nu Brasir, essa tar de Bruxa?
- Nunca ouvi falá di tar sinhora. – respondeu a Mula-sem-cabeça.
Foi neste momento que chegou o Boitatá com seus grandes olhos de fogo e ouviu boa parte da conversa.
- Mi disse u meu amigu lubisome, qui é dama da terra dus gringus. Eli tamem num sabi pruque insinam as crianças a festejá um custume qui nãu é du povu brasilero.
Estavam nesta conversa animada quando chegou o Curupira. Como ele é o protetor das matas e da caça, trazia a carne para o churrasco que não deve faltar em qualquer festa. Chegou o Lobisomem avisando que antes do sol nascer ele teria de voltar para casa. Uns minutos depois, tocou uma corneta no meio do rio: era a Mãe d’água, a Uiara, que vinha numa canoa enfeitada com muitas flores brancas para participar da festa. O Negrinho do Pastoreio veio lá do Rio Grande do Sul montado num cavalo baio.
E prepararam tudo para a festa do Folclore no dia 22 de agosto. O terreiro estava lindo. O trabalho dos personagens folclóricos ficou perfeito. Faltava a luz para iluminar tudo, pois chegariam muitas crianças. A Mãe d’água deu a ordem:
- Dona Mula-sem-cabeça, acenda as tochas com o seu fogo!
- Sim, rainha das águas. – Ela obedeceu. O terreiro ficou claro como o dia. E começou a chegar a meninada. As crianças foram sentando e, curiosas, perguntavam, umas às outras, como seria o saci, o boitatá, o lobisomem. Elas nunca viram nenhum deles. Os acompanhantes das crianças organizam filas, dividiam-nas por idade e tamanho antes de abrir a cortina do palco. Todo mundo sentado, abriu-se a cortina e o Saci apareceu. As crianças bateram palmas e diziam: - Ele é igualzinho como nos livrinhos de histórias. – Vejam, o gorro vermelho e o cachimbo. É tudo igualzinho.
O Saci se curvou para agradecer e disse em voz alta:
- Mininada, vai cumeçá a festa du folclore! Pra iniciá, vem aí a Mãe d’água! – e estendeu o braço apontando para a Uiara, com seu vestido branco e azul, bordado com estrelas brilhantes. Ela cantou, lindamente, a canção de amor que enfeitiça os pescadores, levando-os para o fundo das águas onde ela mora. Depois foi a vez do Boitatá, grande cobra de fogo. Ele é o gênio protetor dos campos e carrega consigo o orgulho de ter sido citado pelo padre José de Anchieta, como personagem de mito indígena. Foi aplaudidíssimo.
O Curupira, com seus pés para trás, sentou no chão do palco e narrou as suas aventuras em defesa das matas e dos animais. - Muito bem! Gritavam as crianças. O mesmo fez o Lobisomem com relação a sua história. Era o oitavo filho de mãe que teve sete filhas, por isso ele virava lobisomem nas noites de lua cheia. As crianças ficaram com peninha dele. – Coitadinho! Murmuravam. Depois foi a vez do Negrinho do Pastoreio. A história dele é muito bonita, pois Nossa Senhora o salvou dos maus tratos que ele sofria na fazenda. Os olhos da garotada ficaram cheios de lágrimas de tanta emoção. – Ainda bem que Nossa Senhora cuida das criancinhas! – disse uma delas enxugando os olhos com a manga da blusa.
Conhecida a lenda de todos, imediatamente, o Saci anunciou a segunda parte da festa. Era o momento das cantigas e das danças. E como foi bonito ver as crianças, vestidas com roupas alusivas à data, cantando e dançando, mostrando a riqueza do folclore do Brasil.

19/06/06.
(Maria Hilda de J. Alão)

 

sábado, 18 de dezembro de 2021

DONA CORUJA SABICHONA (Cordel)

 

Numa noite quente enluarada
Reunida estava a bicharada
E como pra fazer não tinha nada
Iniciou-se uma acirrada discussão
Com gritos e firmeza na afirmação
Que era o nobre parente do leão
O morador da grande lua do céu.

A girafa esticando o seu pescoção
Disse não ser a sombra de um leão
Aquela que se via daqui do chão,
Parecia mais com a assombração
Do seu nobre antepassado Girafão.

Ora, não seja metida sua convencida,
Com sua ideia este rato não compactua
E veja se esta discussão não tumultua
Pois o bicho que vive lá na bela lua
Que tem a forma de um queijo de cuia
É o meu tataravô e toda sua família.

Grande coisa! Disse um chimpanzé
Se for por causa de forma eu garanto
E não será pra vocês grande espanto
Se a lua tem forma de grande banana
Quem é que nela mora? Quem? Quem?
É o macaco que o rabo sempre abana.

E a discussão prosseguiu acelerada
Até que uma turma de bichos enfezada
Antes de dar a querela por encerrada
Resolveu consultar a ave mais esclarecida,
A mais inteligente: a Coruja Sabichona.

E foi uma raposa vermelha espertalhona
Junto com uma arara azul falastrona,
Que se dirigiram para a grande árvore
Onde tudo vigiava placidamente
A mais sábia ave da floresta existente.

Senhora dona da sabedoria e da verdade,
Viemos consultá-la com toda seriedade
Sobre um assunto que gera contrariedade:
Quem é o ser que da lua é habitante?
Leão, rato, macaco ou uma girafa gigante?

Rindo respondeu a dona do conhecimento:
Raposa, espanta-me o seu desconhecimento
Na lua não mora bicho e muito menos gente
A condição de vida lá é inexistente:
Não há água nem ar, fique você ciente.

A sombra que daqui se vê é de montanhas
Não de bichos contadores de façanhas,
E se fosse permitido na lua vivermos
Não seria o rato nem a raposa charlatona,
Seria dona Coruja Sabichona. Ah, ah, ah.

12/06/13 

(Maria Hilda de J. Alão)

A CAIXA MÁGICA (cordel infantil)

 



Depois de muita patifaria
E de truques que fazia
Para pegar o rato Edevar
Pensou o gato Beraldo,
De porte avantajado,

Que só por meio de magia
De fato conseguiria
Abocanhar o pobre Edevar,
Que também vivia cansado
De fugir do terrível Beraldo.
 
Em busca de solução
Para resolver a situação,
Lá se foi o gato Beraldo,
Levando um pequeno fardo,
A procura de um mágico.

Depois de longa caminhada
Chegou Beraldo em Miau City,
Cansado e empoeirado,
E foi logo perguntando:
- Por acaso aqui existe

Um mágico sério e honesto
Que possa me ajudar
A dar um bom corretivo
Num rato sujo e funesto
De nome Edevar?
 
Então lhe foi indicado
Um mágico muito afamado,
O senhor gato Bertoldo
Que fazia qualquer acordo
Desde que lhe pagassem bem.

Chegando a casa do gato mágico
Beraldo contou o caso trágico
De como por várias vezes
Foi por Edevar humilhado.
- Só com a caixa mágica
Seu problema será resolvido.

Foi o que disse Bertoldo
Depois de receber o soldo.
Beraldo então recebeu
A tal caixa que lhe valeu
Trinta moedas de ouro.

Enquanto isso entre os ratos
Corria o que seria boato
Da tal de caixa mágica
Que traçaria a sorte trágica
Do pobre ratinho Edevar.

Dos ratos de Miau City
Ele recebeu mensagem secreta:
- Edevar fique alerta:
Segue o segredo da caixa do pateta.
 E chegou Beraldo com sua caixa.
 
Silenciosamente, na parte baixa
Do lugar onde vivia Edevar
Ajudado pelo gato Elival
Pôs a caixa e retirou o manual
Que ensinava como fazer
A engenhoca funcionar
E dentro dela prender
Aquele que era sua dor de cabeça:
O rato Edevar.

Lendo o esquisito manual
Dizia em forma de ritual:
- Cheiro de queijo parmesão,
Traga para dentro da caixa
Edevar, o rato bobão.

O rato, fazendo teatro,
Andando em câmera lenta
Entrou na caixa mágica
Fechando a abertura da frente.
Pronto. Estava feito.

Beraldo miou de felicidade.
Era só abrir e tirar de dentro
Aquele que era o centro
Do desgosto de um gato:
O ratinho que vivia no mato.

E lá foi bem de mansinho
O gato para tirar o rato
Da caixa mágica que lhe custara
A poupança que acumulara
Para a sua aposentadoria.
 
Ao abrir a caixa com afoiteza
E para sua grande surpresa
Dentro estava a Marquesa
Uma linda gambazinha
Que presenteou o gato Beraldo
Com seu asqueroso perfume.

Onde estava o rato Edevar?
Ele saiu pela abertura dos fundos
E ligeiro ganhou o mundo
Rindo do gato que além de tudo
Foi enganado por Bertoldo,
Mágico de meia tigela,
Que usava bota com fivela,
Casaco e chapéu de feltro.

De magia nada entendia
Fazia tipo só para surrupiar
De tipos como Beraldo
Tudo que tinham economizado
E aumentar seu patrimônio
Sem precisar trabalhar.

10/10/11

(Maria Hilda de J. Alão)

BRINCANDO COM A CACOFONIA

 

Elegante está a baratinha
Saia rodada riscadinha
Numa das mãos ela tinha
Uma bolsa douradinha.

Onde está a menina Suzi?
Perguntou tia Marlene.
Eu vi ela lá na praça
Respondeu a Marilene.

Eles não jogam como nós
Disseram rindo as meninas
São verdadeiros pernas de pau
O time deles nunca ganha.

Mamãe comprei dez balas.
Quanto pagou por cada?
Não foi porcada, mamãe,
Foram só as balas, ah, ah, ah.

Já não brigo com a rosa,
Amo ela de verdade.
Declarou o cravo à violeta,
Só quero paz no planeta.

Não foi preciso ajudar
O cego a rua atravessar
Já que tinha uma bengala
Que o podia auxiliar.

Eu ajudo, você me ajuda,
Uma mão lava outra
Nada mais justo.

  16/12/21

 (Maria Hilda de J. Alão)

SENHORA DONA CATACRESE

 


Mamãe eu quero saber:
O alho tem dente, ele morde?
O fogão tem boca, ele come?
A mesa tem perna, ela anda?
 
Diga-me, também, sem ficar brava,
A xícara tem asa, ela voa?
Filho, isso é coisa de dona Catacrese,
A distinta figura de linguagem
Do nosso rico idioma.

Ela brinca de fazer comparação
De objetos com partes do corpo humano,
Dos bichos e das aves também.

Ela ganhou vida depois do apagamento
Da etimologia da palavra,
Fazendo-a semelhante à metáfora,
Mas desprovida de poética. Coitada!

Veja menino, em hipótese alguma,
Tente dar alfafa aos cavalos do motor
Do carro zero quilômetro
Lá na garagem do seu avô.

Não quero que me pergunte
Se tendo cabeça o prego pensa,
Nem se o coração da floresta
Bate descompassado.

Nariz de avião não sofre de resfriado,
Olho de furacão não precisa óculos,
Louco é quem se atreve
A coçar as costas da cadeira.

Não diga nunca a ninguém
Que o piano abana a cauda
Lá na sala de música
Nem que cabeleireiro
Penteia o cabelo do milho.

Se pensa que pode ganhar
Dos braços da poltrona um abraço,
Pode esquecer seu sapeca,
Nada de televisão!

Você entendeu o que eu disse?
Abra o livro e estude
Porque no peito do pé eu sinto
Um formigamento estranho
Por ficar em pé falando
De tão importante figura.
 
Veja lá meu garotinho,
Quando nos falta um termo específico
Para designar um conceito
Tomamos outro por empréstimo.

Mamãe, foi tão boa a nossa conversa,
Você sabe de tudo um pouco
Agora, diga-me o que tem pra comer
Porque a barriga da minha perna
Está roncando de fome. Ahahahaha!

(Maria Hilda de J. Alão)

A LENDA DO FOGO

 



 A vovó estava atarefada na cozinha preparando os doces para a festa de aniversário do seu neto mais novo. Cinco anos completava o menino, e ele tinha pedido como presente um bolo de chocolate bem grande.

De repente a cozinha foi invadida por um bando de crianças para ver dona Zezinha preparar o grande bolo. Ela bem sabia que a intenção não era ver fazer o bolo, mas lamber a tigela depois que ela pusesse a massa na fôrma. Era assim todos os anos e ela sempre deixava um pouco de massa para a criançada se divertir.

Como morava numa cidade do interior de São Paulo, dona Zezinha tinha fogão à lenha e, como ela sempre dizia, todo o alimento feito no fogão à lenha fica bem mais gostoso. Fogão a gás só para ferver água. Enquanto a vovó batia a massa do bolo, Quitéria, a empregada da família, atiçava as brasas e testava a temperatura do forno. Tudo pronto. O bolo foi para o forno. As crianças lamberam a tigela e ficaram ali aguardando a retirada do bolo depois de assado.

Foi quando Pedrinho, o aniversariante, olhando a lenha ardendo perguntou:

- Vovó, como surgiu o fogo?

- É mesmo! – repetiram as crianças – A senhora conta pra gente?

- Ah, meninos! Existem muitas histórias a respeito do fogo. Tem história grega, alemã, mas eu vou contar uma que é relatada pelas tribos indígenas:

Os índios contam que seus antepassados só tinham para se aquecerem a luz do sol e por isso passavam frio e comiam os alimentos crus. Um índio, de uma tribo longínqua, conhecia o fogo, mas não o dividia com as outras tribos. A filha desse índio era a guardiã da chama que nunca se apagava.

Outra tribo, sabedora do fato, designou o índio mais esperto para descobrir o segredo e trazer o fogo para eles. Este índio vigiou por muitos dias a cabana onde o fogo ficava sempre aceso, até que a índia guardiã saiu para tomar banho no rio. Então ele se transformou numa ave e caiu no rio. A índia, penalizada, recolheu a ave e a levou para a cabana para secar as penas ao calor do fogo.

Quando as penas estavam secas, a ave voltou a ser índio e roubando uma brasa fugiu para a floresta, escondendo-se em uma gruta até que a guardiã do fogo desistisse de procurá-lo.

Percebendo que podia sair sem perigo, o índio transformou-se novamente em ave e, carregando a brasa no bico voou pousando num pinheiro. A brasa incendiou um ramo de sapé. Levando o ramo no bico, a ave voltou para sua tribo ficando a brasa entre as folhas secas. Com o vento, o fogo se espalhou pelo campo e durante muitos dias a mata ardeu em chamas. Vendo aquele fogaréu no mato, os índios de todas as tribos foram buscar brasas e ramos incendiados, levando para suas casas e, partir daí, gente, nunca mais o homem deixou o fogo se apagar.

- Na minha casa o fogo não fica sempre aceso. – disse Marieta, a amiguinha de Pedrinho.

- Para isso o homem deu tratos à bola inventando coisas para acender o fogo sempre que ele queira. – respondeu a vovó.

- Já sei. Ele inventou os fósforos, o isqueiro... – disse Carlinhos o irmão mais velho de Pedrinho.

- Isso mesmo. No começo eles acendiam o fogo batendo uma pedra na outra para gerar uma faísca e assim acender o fogo. Era muito trabalhoso e demorado – explicou dona Zezinha.

Enquanto a vovó falava o cheiro de bolo assado impregnava a cozinha e a casa toda, deixando a meninada com água na boca. E foi sob grande algazarra que Quitéria tirou o bolo fofinho do forno, colocando-o sobre a bandeja de prata para esfriar e receber a gostosa cobertura de chocolate com morangos.

- Vovó, está tão lindo o bolo! – exclamou Pedrinho.

- Viu, meu querido, se não fosse o fogo, adeus bolo de aniversário.

(Maria Hilda de J, Alão)

A LENDA DA CACHOEIRA

 


 

Depois de criar a Terra, Deus foi descansar um pouquinho. Quando estava bem descansado e bem disposto, Ele desceu e ficou por muito tempo observando o trabalho que fizera com  muito amor. Chamou um de seus anjos para Lhe fazer companhia e, daquela montanha muito alta, Deus olhou as florestas, riachos e rios, oceanos e mares e lagos e lagoas.

O anjo apontou as flores e os olhos de Deus brilharam de alegria. Eram tantas as cores e os perfumes que Deus parecia um menino escolhendo brinquedos. Os pássaros voando no espaço cantavam e Deus, pelo canto, identificava cada um deles dizendo ao anjo.

- Este é um canário, este um sabiá...

- Veja os bichos, Senhor! São maravilhosos. Aquele de listras pretas e brancas é o mais alto. Olhe aquele pequenino, todo branquinho de olhos vermelhos, como corre! Eu gosto dele.

Quando o anjo parou de falar e olhou para Deus, viu que Ele chorava. As lágrimas, descendo pela face do Senhor, caiam aos seus pés sendo absorvidas pela terra. Depois de um tempo formou-se uma pequena nascente que foi crescendo. O volume de água aumentou e, caindo do alto da montanha, formou a primeira cachoeira.

Os antigos dizem que toda vez que se descobre uma cachoeira é sinal que Deus esteve ali apreciando o seu trabalho e chorou diante de tanta beleza.

(Maria Hilda de J. Alão)

A LENDA DO BEM-TE-VI

 


 

 Era uma vez um rei que não permitia crianças no seu castelo. Nobre que tivesse filhos ali não podia morar. A razão dessa intransigência era que a sua rainha não podia ter filhos e por isso vivia triste pelos cantos do seu aposento. A tristeza era tanta que a rainha adoeceu. Médicos renomados foram chamados para cuidar dela. Tudo foi feito para que ela melhorasse, mas de nada adiantou. Um dos médicos chamou o rei e lhe disse:

- A rainha necessita de uma criança. É isso que a faz tão triste a ponto de adoecer.

- Ela não pode ter filhos. O que posso fazer para que ela se conforme com o fato?

- Majestade, por que não adota uma criança?

- Como? Onde encontrarei uma criança de sangue real para ser adotada?

- Eu sugiro que o senhor procure em reinos distantes. Talvez encontre.

E o rei mandou procurar. Todos os emissários enviados voltaram de mãos abanando. Nada de criança para adotar. E agora? Perguntava o rei ao seu ministro que também não encontrava solução para o problema. Um dia, em que se encontrava melhor de saúde, a rainha pediu que a levassem ao convento das freiras que ela não visitava há alguns anos. A rainha chegou e foi recebida alegremente pelas freiras e por um menino. A rainha quis saber se o convento se tornara abrigo para crianças, mas a madre superiora lhe disse que aquele menino era uma exceção.

- Pois é, majestade. Um dia de inverno nós encontramos o menino na porta do convento. Alguém o deixou com um bilhete que dizia: “cuidem dele, pois eu não tenho recursos para criá-lo.” Não havia assinatura e por isso não sabemos nada sobre os pais. Este fato aconteceu há cinco anos. A senhora chegou bem no dia do aniversário dele. Todos os anos nós fazemos uma festinha para ele.

- E como é ter uma criança entre vocês? – perguntou a rainha à madre superiora.

- É uma alegria total. Francisco é um anjo que Deus nos enviou.

- E quando se tornar adolescente que farão com ele, madre?

- Será enviado ao convento dos jesuítas para se tornar um deles.

A rainha ficou para a festinha do menino. Francisco logo se tornou amigo de Margarida, a rainha. Segurando-lhe a mão ele a levou ao imenso jardim do convento, onde costumava brincar, e a fez correr escondendo-se atrás dos troncos das árvores. Depois pediu a Margarida para tirar os sapatos e pisar na terra úmida como ele fazia; molhar os pés no pequeno lago de flores aquáticas; correr atrás de borboletas; colher flores para a capela do convento.

Madre Celeste, preocupada com a demora dos dois, saiu à procura deles indo encontrá-los sentados sob um imenso carvalho rindo a vontade. A freira, preocupada, ralhou com Francisco:

- Ora, Francisco, veja só o que fez! Olhe para os pés da rainha, estão sujos de terra. Ela é uma rainha, não pode fazer essas brincadeiras com ela.

- Por que não? Ela gostou. Não gostou, senhora?

- Gostei sim. Nunca me senti tão feliz. Este foi o melhor dia da minha vida. – disse a rainha recolhendo os sapatos do chão e foi caminhando descalça para a porta do convento segurando a mão do menino e rindo muito.

Na volta ao palácio, em sua carruagem, ela cantarolava a canção que o menino lhe ensinou:


- Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré deci.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré deci.

Chegando ao castelo foi recebida pelo rei que a olhava espantado por ela estar descalça e com o vestido sujo de terra. A rainha narrou os acontecimentos daquele dia. Falou da corrida na grama, da terra úmida sob seus pés e até das minhocas que ela pegou com Francisco para jogá-las aos peixinhos do lago. Margarida era outra pessoa. A alegria voltara a iluminar o seu rosto. Foi então que ela fez o pedido ao rei.

- Majestade, será que o menino pode ficar uns dias conosco?

- Ora, Margarida, ele é um plebeu...

- Não, senhor meu rei, ele é apenas uma criança.

A rainha ficou decepcionada com a atitude do rei. Sentindo remorso pela resposta grosseira dada à esposa, o monarca foi aos aposentos reais e, pedindo desculpas a Margarida, consentiu que o menino ficasse desde que não atrapalhasse a rotina do castelo. Os olhos de Margarida brilharam de felicidade. Agora sim, ela teria um filho nem que fosse só por uns dias.

Era o mês de dezembro. A rainha pediu a madre superiora que deixasse Francisco passar o natal e o ano novo no castelo. Sendo o pedido real atendido, o menino ganhou o direito de correr e brincar pelo castelo. Ele só não podia chegar perto da sala do trono. Essa era a ordem do rei. Faltavam uns dez dias para o natal e fazia muito frio, Francisco passava pelo corredor que levava à sala do trono quando viu o rei entrar e não fechar a porta. Ele veio silenciosamente e, pela porta entreaberta, olhou a sala do trono. Como era bonita! Pensava o menino. Procurou com os olhos, pela pequena abertura, o rei. No trono ele não estava. Devagarzinho ele empurrou a porta aumentando o espaço para a visão. Pronto! Ele viu o rei olhando, pela vidraça, o jardim do castelo coberto de neve. Parecia tão triste que o menino arriscou chamá-lo.

- Senhor rei!

- Que queres menino?

- Já que eu não posso entrar, será que poderia sair um pouquinho? Queria mostrar uma coisa para o senhor.

A voz de Francisco era tão suave que o rei não se zangou.

- Entra, menino...

Francisco entrou e foi direto para o trono. O rei ia pedir que ele desocupasse o assento real, mas a sinceridade e a pureza da criança impediram que as palavras ásperas saíssem de sua boca.

- O senhor rei já fez um boneco de neve?

- Não! Um rei não faz essas coisas. Tenho muitos deveres, coisas sérias que você não entende.

- E por que não vamos lá fora experimentar essa brincadeira? – disse Francisco já segurando a mão do rei e o puxando para fora da sala do trono.

O monarca acompanhou o menino. A princípio meio chateado com a insistência, mas ao chegar ao jardim gelado, como que por encanto a atitude do rei mudou.

- Vamos, menino! Ensine seu rei a fazer um boneco de neve.

Nesse exato momento chegavam à sala do trono os ministros e generais que foram convocados para uma reunião. Sentaram-se e esperaram. Passou uma hora e nada do rei. Duas horas, nada do rei. Todos ficaram apreensivos. Que teria acontecido? Perguntavam uns aos outros quando ouviram um gritinho. Parecia a voz do rei. Um dos generais levantou-se, abriu a pesada cortina da janela da sala, e o que ele viu no jardim o deixou de boca aberta. O rei e o menino terminavam de construir um boneco de neve, “o mais maior do mundo”, como dizia Francisco. Todos, agrupados diante da janela, ficaram mais espantados ainda quando o rei tirou o cachecol do pescoço e deu a Francisco. Em seguida ergueu o menino para que ele colocasse a peça no pescoço do boneco de neve.

Foi aí que o ministro das finanças abriu a janela e chamou o rei.

- Majestade, a reunião está atrasada...

- Ah, é verdade. Já estou indo...

Segurando a mão da criança, o rei entrou com os sapatos molhados pela neve e a cada marca deixada no chão reluzente ele dizia rindo ao menino.

- Meu pé é maior que o seu..

- Ah, h, ah, o meu é que é “mais maior”...

Entregando Francisco a Margarida, foi para a sala do trono sem se importar com o estado do manto real, molhado e amassado. Resolvidos os assuntos da reunião, o rei foi ao encontro da esposa para falar sobre os momentos de alegria que ele passou com Francisco e da ordem que deu: a partir de agora as crianças poderiam viver no castelo.

- Eu não disse, senhor meu esposo, que uma criança faz milagres?

E os dias que faltavam para o natal foram coroados de muita alegria com o casal real aprendendo que a felicidade está nas coisas simples da vida. A rainha deixou de ser triste, o rei passou a ser mais tolerante e sorria mais. Finalmente chegou o dia do natal. A árvore toda enfeitada estava carregada de presentes. Após a ceia Francisco, cansado do dia agitado que tivera, dormia no colo da rainha. O rei olhava a cena emocionado. Margarida parecia a mãe de Jesus segurando o menino. Então ele foi até a árvore de natal, pegou um envelope lacrado e o entregou a sua rainha dizendo:

- Querida, este é o seu presente de natal...

Margarida abriu e deu um grito.

- É verdade? Ele é nosso? Oh, meu Deus que felicidade! Você fez tudo sem eu saber. Meu filho, meu filho!

Anos se passaram e Francisco cresceu tornando-se herdeiro do trono do rei Teodoro.

(Maria Hilda de J. Alão)

8/01/12

(histórias que contava para meu neto)

MILAGRE DE UMA CRIANÇA

 


 

 Era uma vez um rei que não permitia crianças no seu castelo. Nobre que tivesse filhos ali não podia morar. A razão dessa intransigência era que a sua rainha não podia ter filhos e por isso vivia triste pelos cantos do seu aposento. A tristeza era tanta que a rainha adoeceu. Médicos renomados foram chamados para cuidar dela. Tudo foi feito para que ela melhorasse, mas de nada adiantou. Um dos médicos chamou o rei e lhe disse:

- A rainha necessita de uma criança. É isso que a faz tão triste a ponto de adoecer.

- Ela não pode ter filhos. O que posso fazer para que ela se conforme com o fato?

- Majestade, por que não adota uma criança?

- Como? Onde encontrarei uma criança de sangue real para ser adotada?

- Eu sugiro que o senhor procure em reinos distantes. Talvez encontre.

E o rei mandou procurar. Todos os emissários enviados voltaram de mãos abanando. Nada de criança para adotar. E agora? Perguntava o rei ao seu ministro que também não encontrava solução para o problema. Um dia, em que se encontrava melhor de saúde, a rainha pediu que a levassem ao convento das freiras que ela não visitava há alguns anos. A rainha chegou e foi recebida alegremente pelas freiras e por um menino. A rainha quis saber se o convento se tornara abrigo para crianças, mas a madre superiora lhe disse que aquele menino era uma exceção.

- Pois é, majestade. Um dia de inverno nós encontramos o menino na porta do convento. Alguém o deixou com um bilhete que dizia: “cuidem dele, pois eu não tenho recursos para criá-lo.” Não havia assinatura e por isso não sabemos nada sobre os pais. Este fato aconteceu há cinco anos. A senhora chegou bem no dia do aniversário dele. Todos os anos nós fazemos uma festinha para ele.

- E como é ter uma criança entre vocês? – perguntou a rainha à madre superiora.

- É uma alegria total. Francisco é um anjo que Deus nos enviou.

- E quando se tornar adolescente que farão com ele, madre?

- Será enviado ao convento dos jesuítas para se tornar um deles.

A rainha ficou para a festinha do menino. Francisco logo se tornou amigo de Margarida, a rainha. Segurando-lhe a mão ele a levou ao imenso jardim do convento, onde costumava brincar, e a fez correr escondendo-se atrás dos troncos das árvores. Depois pediu a Margarida para tirar os sapatos e pisar na terra úmida como ele fazia; molhar os pés no pequeno lago de flores aquáticas; correr atrás de borboletas; colher flores para a capela do convento.

Madre Celeste, preocupada com a demora dos dois, saiu à procura deles indo encontrá-los sentados sob um imenso carvalho rindo a vontade. A freira, preocupada, ralhou com Francisco:

- Ora, Francisco, veja só o que fez! Olhe para os pés da rainha, estão sujos de terra. Ela é uma rainha, não pode fazer essas brincadeiras com ela.

- Por que não? Ela gostou. Não gostou, senhora?

- Gostei sim. Nunca me senti tão feliz. Este foi o melhor dia da minha vida. – disse a rainha recolhendo os sapatos do chão e foi caminhando descalça para a porta do convento segurando a mão do menino e rindo muito.

Na volta ao palácio, em sua carruagem, ela cantarolava a canção que o menino lhe ensinou:


- Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré deci.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré deci.

Chegando ao castelo foi recebida pelo rei que a olhava espantado por ela estar descalça e com o vestido sujo de terra. A rainha narrou os acontecimentos daquele dia. Falou da corrida na grama, da terra úmida sob seus pés e até das minhocas que ela pegou com Francisco para jogá-las aos peixinhos do lago. Margarida era outra pessoa. A alegria voltara a iluminar o seu rosto. Foi então que ela fez o pedido ao rei.

- Majestade, será que o menino pode ficar uns dias conosco?

- Ora, Margarida, ele é um plebeu...

- Não, senhor meu rei, ele é apenas uma criança.

A rainha ficou decepcionada com a atitude do rei. Sentindo remorso pela resposta grosseira dada à esposa, o monarca foi aos aposentos reais e, pedindo desculpas a Margarida, consentiu que o menino ficasse desde que não atrapalhasse a rotina do castelo. Os olhos de Margarida brilharam de felicidade. Agora sim, ela teria um filho nem que fosse só por uns dias.

Era o mês de dezembro. A rainha pediu a madre superiora que deixasse Francisco passar o natal e o ano novo no castelo. Sendo o pedido real atendido, o menino ganhou o direito de correr e brincar pelo castelo. Ele só não podia chegar perto da sala do trono. Essa era a ordem do rei. Faltavam uns dez dias para o natal e fazia muito frio, Francisco passava pelo corredor que levava à sala do trono quando viu o rei entrar e não fechar a porta. Ele veio silenciosamente e, pela porta entreaberta, olhou a sala do trono. Como era bonita! Pensava o menino. Procurou com os olhos, pela pequena abertura, o rei. No trono ele não estava. Devagarzinho ele empurrou a porta aumentando o espaço para a visão. Pronto! Ele viu o rei olhando, pela vidraça, o jardim do castelo coberto de neve. Parecia tão triste que o menino arriscou chamá-lo.

- Senhor rei!

- Que queres menino?

- Já que eu não posso entrar, será que poderia sair um pouquinho? Queria mostrar uma coisa para o senhor.

A voz de Francisco era tão suave que o rei não se zangou.

- Entra, menino...

Francisco entrou e foi direto para o trono. O rei ia pedir que ele desocupasse o assento real, mas a sinceridade e a pureza da criança impediram que as palavras ásperas saíssem de sua boca.

- O senhor rei já fez um boneco de neve?

- Não! Um rei não faz essas coisas. Tenho muitos deveres, coisas sérias que você não entende.

- E por que não vamos lá fora experimentar essa brincadeira? – disse Francisco já segurando a mão do rei e o puxando para fora da sala do trono.

O monarca acompanhou o menino. A princípio meio chateado com a insistência, mas ao chegar ao jardim gelado, como que por encanto a atitude do rei mudou.

- Vamos, menino! Ensine seu rei a fazer um boneco de neve.

Nesse exato momento chegavam à sala do trono os ministros e generais que foram convocados para uma reunião. Sentaram-se e esperaram. Passou uma hora e nada do rei. Duas horas, nada do rei. Todos ficaram apreensivos. Que teria acontecido? Perguntavam uns aos outros quando ouviram um gritinho. Parecia a voz do rei. Um dos generais levantou-se, abriu a pesada cortina da janela da sala, e o que ele viu no jardim o deixou de boca aberta. O rei e o menino terminavam de construir um boneco de neve, “o mais maior do mundo”, como dizia Francisco. Todos, agrupados diante da janela, ficaram mais espantados ainda quando o rei tirou o cachecol do pescoço e deu a Francisco. Em seguida ergueu o menino para que ele colocasse a peça no pescoço do boneco de neve.

Foi aí que o ministro das finanças abriu a janela e chamou o rei.

- Majestade, a reunião está atrasada...

- Ah, é verdade. Já estou indo...

Segurando a mão da criança, o rei entrou com os sapatos molhados pela neve e a cada marca deixada no chão reluzente ele dizia rindo ao menino.

- Meu pé é maior que o seu..

- Ah, h, ah, o meu é que é “mais maior”...

Entregando Francisco a Margarida, foi para a sala do trono sem se importar com o estado do manto real, molhado e amassado. Resolvidos os assuntos da reunião, o rei foi ao encontro da esposa para falar sobre os momentos de alegria que ele passou com Francisco e da ordem que deu: a partir de agora as crianças poderiam viver no castelo.

- Eu não disse, senhor meu esposo, que uma criança faz milagres?

E os dias que faltavam para o natal foram coroados de muita alegria com o casal real aprendendo que a felicidade está nas coisas simples da vida. A rainha deixou de ser triste, o rei passou a ser mais tolerante e sorria mais. Finalmente chegou o dia do natal. A árvore toda enfeitada estava carregada de presentes. Após a ceia Francisco, cansado do dia agitado que tivera, dormia no colo da rainha. O rei olhava a cena emocionado. Margarida parecia a mãe de Jesus segurando o menino. Então ele foi até a árvore de natal, pegou um envelope lacrado e o entregou a sua rainha dizendo:

- Querida, este é o seu presente de natal...

Margarida abriu e deu um grito.

- É verdade? Ele é nosso? Oh, meu Deus que felicidade! Você fez tudo sem eu saber. Meu filho, meu filho!

Anos se passaram e Francisco cresceu tornando-se herdeiro do trono do rei Teodoro.

(Maria Hilda de J. Alão)

8/01/12

(histórias que contava para meu neto)

A Caixa Mágica (cordel)

CONTANDO CARNEIRINHOS (infantil)

  Eu acho tão engraçado A vovó contar carneirinhos Na hora de dormir. Na minha cabeça de criança Brotou a grande pergunta: E os ca...

Sorvete, Sorvetão (parlendas)