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sábado, 30 de abril de 2022

MEU TRENZINHO DE FERRO (poesia infantil)

 


Ah! Esse meu trenzinho de ferro
Correndo tão velozmente
No mundo da minha infância
Nos trilhos da minha imaginação.

Leva-me por várzeas e florestas,
Sobe e desce os morros do coração,
Invade vilas e cidades populosas,
Contando histórias glamorosas

De cavaleiros e grandes vilões,
De princesas lindas e bruxas malvadas,
Sobre faiscantes trilhos cantantes,
Ensinando sempre uma lição.

Corre meu imaginário trenzinho,
Corre porque tenho muita pressa
Vejo da janela o fim da infância,
E dessa fase nada quero perder.

Corre, corre meu trenzinho de ferro,
Corre que o implacável tempo urge,
Já vislumbro a Adolescência,
Nova estação desconhecida.

13/08/12
(Maria Hilda de J. Alão)

quinta-feira, 28 de abril de 2022

O CASAMENTO DO PÃO QUENTINHO (infantil)



O senhor Pão Quentinho
Vivia tão sozinho
Ao sair do forninho.
Até que um dia

A senhora Sofia
Sentindo dó do Pão Quentinho,
Resolveu arranjar pra ele
Uma gostosa companhia.

E foi na cozinha,
Batendo a nata branquinha
Do leite da vaquinha,
Que ela criou uma mocinha
Pra namorar o Pão Quentinho.

E lhe apresentou numa manhã,
Ao lado da xícara de café,
A mocinha fresquinha e amarela
Chamada dona Manteiga.

O Pão Quentinho, apaixonado,
Pediu a dama em casamento,
E ela, toda derretida, aceitou logo o pedido
Formando o mais gostoso casal:
Pão Quentinho e dona Manteiga fresquinha.

22/07/08
(Maria Hilda de Jesus Alão) 
(Histórias que contava para o meu neto)

NO REINO DOS BRINQUEDOS (cordel infantil)

 



No imaginário reino dos brinquedos
Onde não se pode guardar segredos
Nasceu em uma manhã belíssima
Um boneco que deixou ocupadíssima

A equipe de bonecas enfermeiras.
Histórias que diziam ser verdadeiras
Afirmavam que era sem par a beleza
Ao boneco dada pela mãe natureza.

De perfeição física e magnifica beleza
Conquistava a todos com sua pureza.
Podendo ser encarada como uma ofensa,
Preocupada a mãe do lindo boneco pensa,

Ao deus maior do reino dos brinquedos.
Consultando o mágico ela expõe seus medos
Perguntou se seria longa a vida do belo filho
Sim. Será longa e com extraordinário brilho

Desde que sua imagem jamais visse refletida
Ou teria a sanidade comprometida.
O tempo passou. Narciso, esse era o nome dele,
Era desejado por todos do reino, mas ele

Frio e soberbo a todos com desdém ignorava.
Desprezando uma boneca que muito o amava
Narciso despertou a raiva de todos os brinquedos
Que reunidos no lago à sombra dos arvoredos

Decidiram o que o boneco viveria grandes dores
E de um amor impossível sentiria os horrores.
Levado a beber no lago de água claríssima
Ao se debruçar viu o rosto de beleza raríssima.

Apaixonando-se imediatamente e perdidamente
Sentiu que aquela imagem amaria eternamente.
Passou dias e noites admirando a rara beleza
Até que veio a morrer de amor e muita tristeza.

Uma das deusas do reino penalizada transformou
Em flor amarela o boneco que muito amou
Seu reflexo nas águas de um lago limpíssimo
E por esse amor viveu um tempo curtíssimo.

28/04/2022
(Maria Hilda de J. Alão)
(Falando de mitologia grega com o meu neto)

 

terça-feira, 26 de abril de 2022

A CAIXA MÁGICA (cordel infantil)



Depois de muita patifaria
E de truques que fazia
Para pegar o rato Edvar
Pensou o gato Beraldo,
De porte avantajado,

Que só por meio de magia
De fato conseguiria
Abocanhar o pobre Edvar,
Que também vivia cansado
De fugir do terrível Beraldo.

Em busca de solução
Para resolver a situação,
Lá se foi o gato Beraldo,
Levando um pequeno fardo,
A procura de um mágico.

Depois de longa caminhada
Chegou Beraldo em Miau City,
Cansado e empoeirado,
E foi logo perguntando:
- Por acaso aqui existe

Um mágico sério e honesto
Que possa me ajudar
A dar um bom corretivo
Num rato sujo e funesto
De nome Edvar?

Então lhe foi indicado
Um mágico muito afamado,
O senhor gato Bertoldo
Que fazia qualquer acordo
Desde que lhe pagassem bem.

Chegando a casa do gato mágico
Beraldo contou o caso trágico
De como por várias vezes
Foi por Edvar humilhado.
- Só com a caixa mágica

Seu problema será resolvido.
Foi o que disse Bertoldo
Depois de receber o soldo.
Beraldo então recebeu
A tal caixa que lhe valeu

Trinta moedas de ouro.
Enquanto isso entre os ratos
Corria o que seria boato
Da tal de caixa mágica
Que traçaria a sorte trágica

Do pobre ratinho Edvar.
Dos ratos de Miau City
Ele recebeu mensagem secreta:
- Edvar fique alerta:
Segue o segredo da caixa do pateta.

E chegou Beraldo com sua caixa
Silenciosamente, na parte baixa
Do lugar onde vivia Edvar.
Ajudado pelo gato Elival
Pôs a caixa e retirou o manual

Que ensinava como fazer
A engenhoca funcionar
E dentro dela prender
Aquele que era sua dor de cabeça:
O rato Edvar.

Lendo o esquisito manual
Dizia em forma de ritual:
- Cheiro de queijo parmesão,
Traga para dentro da caixa
Edvar, o rato bobão.

O rato, fazendo teatro,
Andando em câmera lenta
Entrou na caixa mágica
Fechando a abertura da frente.
Pronto. Estava feito.

Beraldo miou de felicidade.
Era só abrir e tirar de dentro
Aquele que era o centro
Do desgosto de um gato:
O ratinho que vivia no mato.

E lá foi bem de mansinho
O gato para tirar o rato
Da caixa que lhe custara
A poupança que acumulara
Para a sua aposentadoria.

Ao abrir a caixa com afoiteza
E para sua grande surpresa
Dentro estava a Marquesa
Uma linda gambazinha
Que presenteou o gato Beraldo

Com seu asqueroso perfume.
Onde estava o rato Edvar?
Ele saiu pela abertura dos fundos
E ligeiro ganhou o mundo
Rindo do gato que além de tudo

Foi enganado por Bertoldo,
O mágico de meia tigela,
Que usava bota com fivela,
Casaco e chapéu de feltro
E de magia nada entendia.

Fazia tipo só para surrupiar
De tipos como Beraldo
Tudo que tinham economizado
E aumentar seu patrimônio
Sem precisar trabalhar.

10/10/11
(histórias que contava para o meu neto
(Maria Hilda de J. Alão)

sexta-feira, 22 de abril de 2022

O SONHO DO BONECO (poesia)

 



Na estante de muitas bonecas
Entre raquetes, bolas e petecas
Estava num cantinho apertadinho
Um boneco com sardas no rostinho.

Era rosado e se parecia com bebê
Desses que encantam quando se vê
O corpo macio como seda chinesa
Olhos redondos de azul turquesa.

Pensando ele vivia ali tão tristonho,
Pois desejava realizar o seu sonho
De escapar de tão horrorosa prisão
Jogando-se no ar e caindo ao chão.

Lendo os pensamentos do boneco
O gênio dos brinquedos Maneco
Apareceu em uma nuvem rosada
E com espalhafatosa gargalhada

Disse: desejos podem se realizar
Basta com fé pedir e em mim confiar.
O boneco muitíssimo emocionado
Questionou: tem preço condicionado?

Para a liberdade não há preço a pagar
Ela é o tesouro que todos devem herdar
Seja um humano, um animal ou um boneco.
Explicou o gênio dos brinquedos Maneco.

Liberte-me, quero ser de uma criancinha
Quero ouvi-la dizer que sou uma gracinha
Cansei de viver nesta estante e neste aperto
É como se no meu peito houvesse um espeto.

Nesse exato momento entrou uma menina
Que olhando a estante de baixo para cima
Disse: moço, eu quero aquele lindo boneco
Pediu ela ao gênio dos brinquedos Maneco.

Foi assim que o boneco macio como seda
Conheceu da liberdade a longa alameda
Nos braços daquela bela criancinha
Que o embalava dizendo: é uma gracinha.

20/04/22
(histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de J. Alão)

terça-feira, 19 de abril de 2022

A BORBOLETA MARIETA (história)


Um dia, em um belo jardim, a borboleta Marieta apaixonou-se pelo lindo cravo vermelho. 
O cravo ficou encantado com o amor da borboleta de asas com desenhos em ouro e prata. 
A borboleta voejava em torno do cravo com graça e alegria. Era um namoro de cores e perfumes que as outras flores jamais haviam visto outro igual.
Após um tempo, depois de juras de amor sincero, Marieta, a borboleta, partiu para outros jardins distantes deixando o cravo vermelho muito triste a sua espera.
Outras borboletas visitavam o cravo, mas ele só pensava na sua Marieta. À noite o sereno, com pena do cravo, descia suavemente e molhava suas pétalas dizendo:

- Amigo cravo, esqueça essa borboleta ingrata! Viva sua vida. Olhe ao seu redor e veja quantas outras borboletas querem beijá-lo. Não desperdice seu tempo.
Não adiantava falar. Ele não ouvia. Só Marieta estava no seu pensamento, nos seus sonhos.
O tempo passou e Marieta não voltava. Ela continuava a voar para jardins cada vez mais distantes até que um dia as abelhas resolveram expulsá-la.

- Não queremos mais essa borboleta enxerida disputando o pólen das flores conosco. – gritou a abelha rainha.
E todas as abelhas se juntaram e despacharam Marieta daquele jardim. Então ela resolveu voltar para o seu cravo vermelho. Voou de volta ao jardim onde fora muito feliz. Como tempo passou rápido, o belo cravo vermelho estava ressecado em sua haste que pendia para o chão. Marieta chorou. Ficou ali, pousada em uma margarida, olhando para o seu amado cravo vermelho.
Foi nesse momento que uma rosa amarela disse:

- Marieta, você é como os homens que têm uma fortuna nas mãos e a esbanja com frivolidades. Só depois de perder tudo é que se lembrou de alguém que a amava com sinceridade? Aqui você tinha pólen e amor, mas não bastava. Jogou tudo fora, arriscou e perdeu.
Marieta, envergonhada, voou para bem longe e nunca mais se ouviu falar dela.

05/09/10
(histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de J. Alão)

sexta-feira, 15 de abril de 2022

PACO PESCA PACU (parlenda)

 

Paco pesca pescada e pacu
Com um anzol de bambu.
De tanto pescar Paco pacu,
Partiu-se o seu anzol de bambu.

Bino bate na bigorna,
Galo cisca na rinha,
Galinha botou ovo de codorna
No galinheiro da rainha.

Sete patinhos atrás da pata,
Sete pacas saem da mata.
Quantas patas tem a pata
Atrás de si sem as das pacas?

Não sei se asso ou se frito
O peito gordo do pato,
Só sei que assado ou frito
Gostoso é o peito do pato.

Tira a bota, bota a bota,
Abre a porta, fecha a porta,
E lá ficou a velha bota
Escondida atrás da porta.

Tire da porta a trava,
Pra ela não travar.
Depois de a porta travar
Ninguém a pode destravar.

O gato mirrado
Do Pedro pirado,
Pediu um pirão
De peixe salmão.

26/02/08.
(Maria Hilda de J. Alão)

quarta-feira, 13 de abril de 2022

A CASINHA PERDIDA (história)

 


Era uma vez, no reino do Alfabeto, uma letrinha “A” que andava a procura de sua casa.
- Você viu a minha casinha? Ela tem o formato de uma palavra cuja porta sou eu.
- Não vi! – exclamou a letra “T”, alta e magra como um poste, que quis saber como uma porta pode perder a sua casa.
- Sabe! Foi por causa da letra “V”. Ela se transformou num vendaval, arrancando-me da minha casinha.
- Ih! Vai ser difícil, no meio de tantas letras e palavras, você encontrar a sua casa.
Mas a letra “X”, que tem o formato de tesoura, resolveu ajudar a letrinha “A”. E saíram as duas em busca da casinha perdida. Procuraram por todos os cantos do reino do Alfabeto, subindo e descendo, e nada encontraram. Cansadas, sentaram-se num “Travessão” (-) para descansarem. “A” e “X” estavam de olhinhos fechados, quase dormindo, quando um barulho as despertou.
- Será que encontraram a minha casinha?
- Amiga, não fique ansiosa! – avisou a letrinha “X”.
A letrinha “A” nem ouviu. Saiu correndo para o local de onde vinha a algazarra, seguida pela amiga. Chegaram e foram logo perguntando numa só voz:
- Acharam a casinha?
- Nada de casinha. – respondeu uma letra “D”, gorda como ela só.
É que o soberano do reino do Alfabeto havia feito um decreto doando todas as palavras que foram perdidas durante o vendaval.
- Procure sua casinha no meio desta bagunça! – disse a balofa letra “D” soltando forte gargalhada.
As demais letras começaram a escolher as palavras perdidas. Umas queriam a “fortuna”, outras a “beleza”, todas elas de significado vazio. Em pouco tempo o reino do Alfabeto ficou limpo. Todas as letras levaram as palavras perdidas para organizar o mundo da leitura. Mas e a letrinha “A” e a letrinha “X”? Coitadas. Estavam sentadinhas, lá no último parágrafo de um texto, quando a letra “M” avisou:

- No fim deste reino encantado,
Dorme num emaranhado,
Umas letras jogadas pelo vendaval
Dar uma espiada não faz mal.

E as duas letras correram para lá. Ao chegarem, as letras, que estavam dispersas, juntaram-se formando a palavra “MOR”.
- É a minha casinha! – gritava a letrinha “A” – É a minha casinha, e eu sou a sua porta. Encontrei, encontrei.
A letrinha “X”, emocionada, viu a porta se unir à casa, formando a palavra AMOR.
- Amiga letra “A”, a sua casa é tão linda. Agora eu entendo a sua aflição para encontrá-la. E também aprendi que AMOR é uma casa de aparência pobre, mas de um riquíssimo interior. Quando a letra “V”, do vendaval da vida, separar a porta da casa, todo esforço é válido para uni-las. Quero morar ao seu lado, amiga letra “A”.
Foi aí que a letra “X” teve uma ideia: formou o termo “AUXÍLIO” e convidou a gorda letra “D” a formar a palavra “CARIDADE” para viverem, sempre, ao lado do AMOR.
É por isso, crianças, que devemos seguir o exemplo da letra “A”. Procuremos sempre a casinha do AMOR porque é dentro dela que existe vida real.

24/02/08.
(histórias que contava para o meu neto).
(Maria Hilda de J. Alão)

A CASA DA TARTARUGA (história)

 





As crianças estavam reunidas no pátio da escola. Era hora do recreio e também de contar histórias. 

A professora, dona Estela, chegou e arrastou a cadeira para o meio da rodinha, formada por meninos e meninas, e começou a falar sobre a história que contaria para todos. Era a história da Branca de Neve e os Sete Anões. Luiza, uma das alunas de dona Estela, interrompeu pedindo:

- Professora, nós já conhecemos a história da Branca de Neve. Será que hoje a senhora não tem uma história diferente? Por exemplo: por que a tartaruga carrega a casa nas costas? Será que tem uma história dela?
A turma toda aplaudiu a ideia com gritos de isso mesmo, queremos saber a história da casa da tartaruga. A professora riu.
- Está bem, eu contarei. Quero silêncio absoluto.
E começou, em tom solene, a contar a história da casa da tartaruga.
- No tempo dos deuses do Olimpo, Zeus que era o chefão de todos eles, resolveu dar uma festa e convidar todos os animais. Assim foi feito. Chegou o dia da festa e lá estavam os animais vestidos a caráter. Então Zeus ordenou a Afrodite que fizesse a chamada para ver se não faltava ninguém.

A deusa, com o livro de chamada nas mãos, passou a chamar pelo nome os bichos marcando presente ou ausente. Depois de concluída a chamada, só a tartaruga estava ausente. O fato foi comunicado a Zeus que não gostou muito. Por que será que a tartaruga não compareceu à festa de Zeus? Era isso que perguntava o coelho para uma lebre. -Talvez ela não goste de festa. Respondeu a lebre.
Zeus, além de triste com a ausência da convidada, também estava curioso e resolveu descer a terra para saber o motivo da desfeita. Parando diante da casa da tartaruga ele chamou:
- Dona tartaruga! E ela saiu de dentro da casa. Vendo-se diante do chefe de todos os deuses ela tremeu. - que será que ele queria. Então, Zeus, com sua voz de trovão perguntou:

- Qual o motivo de sua ausência? Quando eu convido quero que estejam presente.
- Veja, Zeus, não quis depreciar o seu convite, mas eu gosto muito da minha casinha e dela só saio para procurar comida. Não me sinto bem em casa alheia. E Zeus ficou enfurecido com a resposta da tartaruga. Soltando raios e trovões ele sentenciou.
- A partir de agora eu te condeno a carregar a tua casa nas costas para onde quer que vás. Assim nunca mais rejeitarás um convite meu.
É por isso, crianças, que a tartaruga anda sempre dentro de casa. Concluiu a professora, bem na hora do sinal de volta à classe.
- Eu acho que Zeus pensou que ia castigar a tartaruga, mas ele acabou fazendo um grande favor pra ela. Pelo menos ninguém rouba a casa dela e ela pode se esconder todinha dentro dela. Disse a Mariana rindo muito.
E todos voltaram para a sala de aula gargalhando da observação de Mariana.

26/02/12
(histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de Jesus Alão)


 

terça-feira, 12 de abril de 2022

PARLENDAS (aula de 25/03/22)

 


Papagaio de pena dourada
Grita na mata de madrugada
Menina de boca fechada
Sempre será educada.

O cabelo de trancinha
É cabelo da Teresinha
Ela sempre o cabelo trança
Para brincar com as crianças.

Casinha de uma porta só
É a casa da senhora socó
Que fez o ninho com cipó
Para botar um ovo só.

25/03/22

(Maria Hilda de J. Alão)


segunda-feira, 11 de abril de 2022

O PÁSSARO E O MESTRE

 


Eram cinco horas da tarde, de um dia de verão escaldante, quando Jesus e seus discípulos chegaram a um morro onde havia muitas árvores. Eram oliveiras, as árvores que dão azeitonas. Jesus, cansado de andar, sentou-se à sombra de uma delas e, encostando-se no tronco, tirou as sandálias, esticou as pernas e, curvando-se, massageou os doloridos pés. Os seus apóstolos, chefiados por Pedro, confabulavam sobre o trabalho daquele dia. Foi estafante. Sermões, milagres e crianças, muitas crianças. A saúde de Jesus era a preocupação de todos. Pedro, com o olhar perdido no horizonte, lembrava de fatos acontecidos entre o Mestre e as crianças.

A presença de Jesus, em qualquer lugar da Galileia, atraía as crianças, e Pedro se perguntava de onde o Mestre tirava tanta energia para atendê-las. Ele sentava meninos e meninas em círculo e, no centro do círculo, ele, acomodado sobre um tapete, contava histórias da casa do seu pai. Depois brincava com elas. Jogos e cantoria eram os favoritos. Depois ele fazia desenhos na terra e perguntava:
- Quem sabe que bicho é este?
Foi num dia de muitas brincadeiras que, no meio da confusão de vozes, o Mestre ouviu a resposta a sua pergunta vinda do mais novinho dos meninos:
- É um tavalinho... um tavalinho.
Jesus, sorrindo, levantou o pequenino, sentou-o em seu colo para dar prosseguimento à brincadeira. A lembrança estampou um sorriso no rosto do discípulo. Mas as recordações alegres não foram suficientes para afastar, de Pedro, a preocupação com o bem-estar do Mestre.
- Ele precisa descansar. Não sei como aguenta. – resmungava ele.
- Pedro, não se esqueça: Ele é filho de Deus! – disse, enfático, Tiago, um dos seguidores de Jesus.
- Eu sei! Você reparou no semblante dele? Ele é de carne e osso como nós. – insistia o apóstolo.
- O melhor que se tem a fazer é deixá-lo sossegado. Não façamos barulho. Vamos parar com esta discussão sobre o trabalho de hoje para que ele possa dormir um pouco. – sugeriu André, outro apóstolo de Jesus.
Judas Tadeu, primo de Jesus, disse:
- Estou de acordo. Vamos nos calar. – repetiu “calar” duas vezes olhando para Bartolomeu (outro discípulo) que continuava falando sem parar.
Enquanto esta conversa acontecia, um pássaro, pousado num dos galhos da oliveira, começou a cantar como se quisesse alegrar e, ao mesmo tempo, amenizar o cansaço do Mestre. Eram trinados graves, agudos e médios. A voz do pássaro foi aumentando, aumentando. Jesus, maravilhado, ouvia o canto. Agora o seu rosto não tinha mais os sinais de fadiga. Ele ganhou um brilho, uma luz que só se vê na face de um santo. Em determinado momento, ele levanta os olhos e vê o cantor concentrado em sua melodia. Então Jesus começou a imitar o passarinho.
Os discípulos ficaram caladinhos. Só se ouvia o pássaro e o Mestre. E foram muitos minutos de disputa. Lá pelas tantas, Jesus parou, mas o pássaro continuou. Pedro, admirado, cochichou no ouvido de Tiago:
- Por que será que ele parou? Ele pode vencer o passarinho. Para quem derrotou doutores na sinagoga é muito fácil.
- Talvez não tenha mais fôlego para acompanhar a avezinha. Respondeu Tiago.
Jesus, que ouvira o cochicho de Pedro, disse sorrindo:
- Meu filho, cada um com seu talento. Minha garganta está seca. Mesmo que eu cantasse dia e noite, ele me venceria porque foi feito para cantar e eu para escutá-lo.
Os apóstolos ficaram de boca aberta. Que dizer diante de tanta sabedoria? Limitaram-se a olhar, com respeito e admiração, para aquele homem sábio, plácido e santo. As palavras dele ecoavam na mente de todos como um desafio, uma equação cujo resultado era sempre uma lição de vida.

04/02/08

(Histórias que contava para o meu neto)

(Maria Hilda de J. Alão.)

quinta-feira, 7 de abril de 2022

A FADA E O SAPO

 


                  Todas as noites uma fada ficava um tempão olhando para o céu. Sentada numa árvore ela contava as estrelas, observava as constelações, a estrela polar, o cruzeiro do sul e todas as estrelas que seus olhos mágicos podiam ver. Ficava maravilhada. Como é lindo! O espaço, para ela, era como um imenso veludo negro bordado com faiscantes diamantes. Um sonho.

Desejava poder viajar por este espaço levando a varinha de condão para fazer suas mágicas: saltar de estrela para estrela do jeito que se pula a amarelinha; unir estrelas com um traço para formar variados desenhos; fazer aparecer uma ponte ligando a Terra à Lua e levar sua casinha de vitória-régia para passar férias. Mas na Lua não existe água! Não tem importância, com a varinha mágica ela riscaria o solo e nasceria um belo rio. Estava concentrada nesses pensamentos quando uma vozinha a despertou:

- Sonhar é bom; com o possível é melhor ainda.

Era o velho sapo que vivia na margem do rio, e que, há muito tempo, vinha observando a fada sonhadora.

- Tens razão, mas sonhos possíveis e impossíveis fazem parte de mim. Por acaso não conheces as histórias de fadas, gnomos e outros seres imaginários? – perguntou ela.

- Conheço. Nesta minha longa vida eu já vi de tudo, mas o que eu quero dizer é que não se deve olhar só para cima. Experimente olhar para baixo, a beleza lá do alto está refletida aqui de forma diferente. Já prestou atenção no beija-flor; na orquídea; na vitória-régia onde você mora; no rio que serpenteia o verde da mata? Você não precisa viajar para o espaço a fim de realizar seu sonho. Veja as águas plácidas do rio!

A fadinha olhou e viu refletido, no espelho da água, o céu com toda a sua maravilha. Bateu suas asinhas de libélula e voou sobre a água ouvindo o sapo que dizia:

- Vamos menina, faça a sua mágica. Use a varinha de condão para viajar da forma que sonhou. Você tem aí o universo a sua disposição. Voe, salte, corra.

Ela voava e cantava, pulando de estrela para estrela sem tocar a água. Era o seu jogo da amarelinha. Fazia traços no ar, com a varinha, como se estivesse unindo as estrelas. A ela se juntaram todos os pirilampos e o rio tornou-se encantado com a magia das luzes do céu e da terra.

A alegria da fada e a luz dos pirilampos despertaram os bichos que se propuseram a divinizar a viagem da fadinha pelo universo que corria com as águas. Formou-se um afinado coral entoando a sinfonia da natureza. As árvores emocionadas choravam lágrimas de sereno que caiam no rio formando pequenos círculos, e os peixes não nadavam para não quebrar o encanto da cena. O canto prosseguia e cada nota emitida era uma nave espacial levando os sonhos da fadinha e de todos os viventes que, de uma forma ou de outra, passam algum tempo com os olhos pregados no céu tentando decifrar o mistério das estrelas.


11/05/06.
(Histórias que contava para o meu neto)

(Maria Hilda de J. Alão)


terça-feira, 5 de abril de 2022

BRINCANDO COM RIMAS

 


Quebra pedra Pedro Pedra
Se pedra Pedro não quebrar
Quem pedra quebrará?

Pintinho amarelinho
Saiu do ovo molhadinho
Sua mãe o agasalhou
E logo o pintinho secou.

Disse a menina Zuleima:
Fico triste se alguém teima
Que a letra H é um fonema.

Maçaneta, saleta
Sacristão toca sineta
Areia na ampulheta
Menino sem camiseta.

Roupa pouca, pouca roupa
Quem dinheiro poupa
Não terá roupa pouca.

Para paralelepipedar
Tenha paralelepípedos.

Tigre tigrado
Cabelo trançado
Vidro trincado.

Trocadilho trocado
Fez trocador trocafiar.

Trilha a trilha trilhador
Deixada pela trilhadeira
Para não errar a trilha
Trilha a trilha trilhador.

Rico e rica
O fósforo risca
O olho pisca
A rica arrisca
No olho a faísca
Que faz pisca-pisca.

Fia o fio a fiadeira
Tem carne na frigideira
Menino desce a ladeira
Em desabalada carreira
Enquanto o fio fia a fiadeira.

É hora da retreta
Soldado de boina preta
Toca o boi da cara preta
Menino faz careta
Ouvindo o som da clarineta.

Prego pregado
Menino afobado
Tirou o prego pregado
Pelo seu empregado.

Uma tranca tranca
Uma tranca destranca
O portão que tranca tem.

Tem um lá
Tem um cá
Se cá há um
Lá também há um.

Pinga pingo
Pingo pinga
No copo de pinga
Ginga a gringa
E pinga o pingo.

Tem caqui
Ou caca aqui?

Hera, era.
Se verde é uma hera
Passado é uma era
Se não sabe diz a Vera
Seu estudo já era.

05/04/22

(Maria Hilda de J. Alão)

 

segunda-feira, 4 de abril de 2022

PARLENDAS – (Rimas Infantis)

 



Era uma vez
Um, dois, três
Um calabrês
Irmão da Inês
Que jogava xadrez.

Se mente cai o dente,
Corre, corre seu Prudente
A procura do dente
Perdido entre as sementes.

Patos a nadar,
Pássaros a voar,
Subiu o balão
Perdeu-se no ar.

Mexe, mexe seu Tião,
O doce de mamão
Com o rabo do cão.

Cabeça de cão,
Tim, tim, balalão,
Gato ladrão
Não tem coração
Tim, tim, balalão.

Chora a menina bonita,
Por ser tão infeliz,
Com um lencinho de chita
Limpa os olhos e o nariz.

Tenente Prudente
Perdeu o dente
Quem o achou
Dê um passo à frente.

Cara de rato,
No pelo do gato
Tem carrapato.

Eu ladrilharia,
Tu ladrilharias
Só com vidraria
A Rua Alquimia.

06/12/11

(Maria Hilda de J. Alão)

 

sábado, 2 de abril de 2022

O MENINO E A FLOR


O menino viu no mato
Uma flor carmesim
Se fechando no momento
Do espetáculo do arrebol.

Tinha tanto mistério e por isso
Pensou o menino ter visto
A face de Jesus Cristo,
Terminando um largo sorriso,

Naquela rubra florzinha
Nascida no meio do mato.
Curioso, à flor ele perguntou:
- Quero saber de ti ó bela flor

Se estou certo ou errado:
Tu és, de Jesus, o santo rosto
Deixado neste verde mato
Para sorrir e muitas vezes chorar

Conforme as muitas ações
Dos ingratos filhos de Deus?
A brisa balançou a flor,
E rubra pétala se elevou.

Era a resposta esperada
Vinda da boca do Cristo
Confirmando a sábia leitura
Feita pela alma pura

Do menino que observava
O abrir e fechar das flores
Nascidas no meio do mato.
E seus ouvidos ouviram

Todas as harpas do mundo
Sinfonizando todos os cantos
Dos alegres pássaros do mato,
Enquanto subiam as pétalas

Da misteriosa flor carmesim,
Em hipnotizante balé
Que só a natureza compõe
Para encher os olhos de beleza,

E ligar a alma ao divino,
Pululando todos os dias
Diante dos olhos de quem
Ainda não aprendeu

A observar como o menino
Aquelas pequeninas flores
Vestidas de muitas cores
Nascidas no meio do mato.

01/01/06.

(historiazinha para criança)
Maria Hilda de J. Alão.

 

sexta-feira, 1 de abril de 2022

O BALÉ DAS JOANINHAS (poesia infantil)


 

Era dia de quarta-feira
De joaninhas uma fileira
Marchava de forma garbosa
Nas pétalas de branca rosa.

Fizeram da flor a sua praça,
Batiam as asinhas com graça
Como se quisessem ser admiradas.
As borboletas, nos galhos pousadas,

Comentavam sobre a beleza da rosa
E de como ela era generosa
Cedendo suas pétalas às joaninhas
Vermelhas com bolas pretinhas.

Mais pétalas na rosa se abriram,
E mais joaninhas rubras surgiram
Pousando na flor escolhida
Para o balé de beleza e de vida.

Outras rosas da mesma roseira
Sentindo inveja da companheira
Diziam: ela não é melhor do que nós
Por que estamos sempre sós?

Ouvindo tudo a roseira frondosa
Sacudiu-se muito raivosa
Fazendo voar sem destino,
Levadas pelo vento matutino,

Borboletas e todas as Joaninhas
Batendo rapidamente as asinhas
Deixando a rosa tão linda
Desolada por ver finda

A festa das alegres joaninhas
Por inveja das outras rosinhas.
Neste ponto o livro a menina fechou,
E uma lágrima pela sua face rolou.

(Maria Hilda de J. Alão)

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