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quarta-feira, 27 de julho de 2022

MINHA BONECA DE PANO (poesia infantil)

 


Esta é minha boneca Dora
De pano e recheada de palha,
Aos meus olhos ela é tão linda,
Outra não há, não senhora!

Os olhos negros são dois botões,
A boca é de feltro vermelho
Recortado e preso com maestria.
O corpo, amarrado com cordões,

Veste um vestido cor-de-rosa.
As pernas são bem costuradas
E tem nos pés uns sapatinhos
Que a deixam muito vaidosa.

Tem o bracinho direito enfeitado
Com pulseiras feitas de arame,
E as mangas bufantes realçam
O vestido na cintura apertado.

Nos cabelos de lã amarela
Eu fiz duas tranças lindíssimas,
E prendi cada uma com uma fita
Que comprei no bazar para ela.

Sentada numa cadeira de balanço,
Na cômoda do meu quarto,
Dora conversa comigo
E ri de mim quando eu danço,

E faço um montão de perguntas.
Ela me diz: “- Não tenhas pressa,
Deixa-te ficar mais um pouco criança
Vamos viver esta aventura juntas

Porque misterioso é o amanhã.
Juntemos tudo que a infância nos dá
Guardemos na sacolinha da lembrança
Como um precioso talismã”.

Boneca querida e companheira
Tanto eu aprendo contigo,
Sei que de ti irei me lembrar
Pelos anos da minha vida.

06/04/07.

(Maria Hilda de J. Alão)

sábado, 23 de julho de 2022

DONA BARATINHA (poesia infantil)

 


Lá vem a dona baratinha
Vestindo a sua sainha
Enfeitada com sinhaninha,
Na cintura apertadinha.

Vem rebolando garbosa,
Na cabeça uma pétala de rosa
E chapéu que a faz glamorosa,
Ó dona baratinha vaidosa!

Pisa firme com seu sapatinho
De verniz com um saltinho,
De braço dado com o baratinho
Vai dançar um fandanguinho,

No baile do arrasta pé,
Na velha fazenda de café
Que fica lá no sopé
Da montanha em Guaxupé.

E chegou dona baratinha
Formosa e maquiadinha,
À festa animada e lotadinha
De baratões e baratinhas.

E ela se pôs a dançar,
E não queria mais parar,
Pois a intenção era mostrar
A sua técnica de bailar.

Depois de muita pirueta,
Ela já estava um tanto zureta
Apoiada foi por um maneta
Baratão de calça violeta

Que a queda não pôde evitar
E do sapato o salto quebrar,
Dona baratinha se desesperar
Sentar no chão e muito chorar.

22/07/22

(Maria Hilda de J. Alão)

sexta-feira, 22 de julho de 2022

MEMEIA, A CENTOPEIA (poesia)

 

Lá vem Memeia, a centopeia,
Na cabeça tem uma ideia
Deixando-a triste e nervosa:
Quem levou seus sapatos cor-de-rosa?

Todos têm um laço de fita
Feito pela minhoca Rita,
As solas são de ouro do sol
Feitas pelo senhor caracol.

Neles bordou o gafanhoto,
De mão esquerda porque é canhoto,
As verdes folhinhas de murta
Com linha de grama curta.

As fivelas, feitas com amor,
Todas de botão de flor,
Pela cigarra Azulina
Num cantinho da campina.

E foi colado cada sapato,
Isso é verdade, é um fato,
Com resina vinda da colmeia
Para enfeitar os pés de Memeia.

Sumiram, ninguém sabe nem viu,
Os sapatos no mês de abril
Deixando descalça Memeia
Procurando entre as azaleias.

- Sorri Memeia lindinha!
Sou eu, o grilo, nesta banquinha
Munido de viola e de pandeiro
Sendo o cantor o meu velho companheiro,

O canário-da-terra soltando a voz.
Tem tambor de casca de noz
Para o esquilo fazer batucada
Entrando pela madrugada,

Em frenético rebolado
Para não ficar bicho parado
E assim restaurar a tua alegria,
Memeia, tristeza só dá agonia!

(15/11/05)
(Maria Hilda de J. Alão)

quinta-feira, 21 de julho de 2022

CACÓFATOS (infantil)

 


Pensando como ensinar
Para uma criança evitar
A forma feia de grafar
Que provoca risos ao falar

O vício de linguagem
Cacófato que vem
Do grego cacofonia
Muito usado no dia-a-dia

De quem fala português
E que do cacófato é freguês.
Para isso escolhi umas frases
Dos alunos do Bloco H. (cagá)

Neste dia que o céu está cinza (celta cinza)
De matemática há maratona
Entre a equipe Nico (penico)
E a equipe Dreira (pedreira)

A notícia que a TV havia dado (aviadado)
Era a mesma dos jornais de hoje:
O governo confisca gado de fazenda (cagado)
No pantanal do Mato Grosso.

Só negam é cacófato
Pois gera sonegam
A quem impostos não paga
E não adianta: Desculpe então (pintão)

Porque o couro do devedor
O governo arranca.
Os meninos da rua de cima,
Como fizeram na vez passada (vespa assada)

Ganharam a corrida de obstáculo
Desde então sempre são convidados (dentão)
Para todos os eventos esportivos.
Sendo Anna a mascote do grupo

Maria passou batom na boca dela (cadela)
E a menina Anna tão linda ficou
Que o Otto exclamou:
Meu coração por ti gela (tigela)

Despertando o ciúme em Maria
Que colocou a culpa nela (panela)
E despedindo-se disse: vou-me já (mijá)
Porque o céu está preto. (celta preto)

21/07/22

(Maria Hilda de J. Alão)

 

 



CORDELZINHO DE CRIANÇA (cordel)

 


Sou menina sonhadora
Sou uma criança feliz
O meu nome é Beatriz
Sou filha de dona Dora
E aos sete anos eu fiz
Uns versos sobre perdiz:

Livra-se a perdiz por um triz
De ser caçada e assada
Depois de depenada
Pelo Sebastião aprendiz
Que de cozinha não entendia
Mas sonhava ser um dia
Um chefe de gastronomia.

21/07/22
(Maria Hilda de J. Alão)

 

terça-feira, 12 de julho de 2022

A ESTRELA-DO-MAR (história infantil)





- Vovó, como nasceu a estrela-do-mar? – perguntou a menina Lúcia, uma garotinha de grandes olhos verdes e uma fantasia maior do que ela, apontando para uma estrela que jazia ressecada na areia da praia.
- Ah, filhinha! É uma história muito bonita.
- Conte para mim, vovó. – pediu a menina.
E a vovó Mariana começou:
- Num tempo muito antigo, quando ainda não existia gente no mundo, os astros do céu eram deuses. O deus Sol, a deusa Lua e tantos outros. Eles ficavam vagando pelo espaço sem ter muito que fazer. A deusa Lua, moça formosa, acompanhada pelo seu séquito de estrelas brilhantes, estava entediada. Nada de novo acontecia. Era sempre a mesma coisa. Uma das estrelas, a mais brilhante, vendo a tristeza da deusa disse:
“Por que não olha ao seu redor? Veja aquele planeta. Reparou que você gira em torno dele? Que o acompanha para um destino desconhecido? Espere o despertar do deus Sol e verá como ele é majestoso, de um azul que não existe em nenhum lugar da galáxia.”
E o deus Sol acordou. Iluminou o espaço e a deusa Terra. Então a deusa Lua voltou seus olhos para admirar a beleza do planeta Terra. Que bola maravilhosa! Toda azul girando no espaço. Ela queria ver mais. Então foi se aproximando mais e mais até quase tocar o planeta. Viu o mar. O seu olhar de deusa ficou extasiado. Apaixonou-se pelo gigante azul com espuma branca que mais parecia renda de um véu de noiva. Como se unir a ele? - Impossível, - disse a estrelinha brilhante -, o lugar dele é na Terra e o seu é aqui.
A tristeza tomou conta da deusa Lua. Começou a ficar minguante, outras vezes crescente como o sonho de se unir ao mar. Só a realização do seu sonho de amor a faria se renovar e se tornar cheia de vida e de felicidade. E lhe veio a ideia. Cresceu, cresceu tanto que tocou o corpo do seu querido Mar. Foi um momento de magia pura.
Toda a natureza se aquietou e ela sentiu o perfume do amado, recebeu a carícia das ondas e brilhou como nunca enquanto durou o longo beijo. Realizado o sonho, a deusa Lua foi se afastando do Mar e voltou ao seu lugar no espaço. Foi então que a estrelinha brilhante perguntou: “Por que não ficou com o seu amor?” Ao que a Lua respondeu:
“Minha missão é a de iluminar a escuridão. Eu sou a lanterna do céu. Mas deixei com meu amado a prova da minha paixão. Uma sementinha que logo eclodirá como uma belíssima estrela-do-mar, filha do nosso amor impossível.
- E foi assim, minha querida neta, que nasceu esta estrela, filha da Lua e do Mar. 

(histórias que contava para o meu neto)

(Maria Hilda de J. Alão)

terça-feira, 5 de julho de 2022

A DESOBEDIÊNCIA DO CÃOZINHO(história infantil)

 

Chuchuquinho era o quarto de uma ninhada de cinco cães da raça Labrador. Era lindo, tão lindo que os donos da casa, onde vivia com seus pais, resolveram que ele seria o cãozinho da filhinha mais nova.

A mãe de Chuchuquinho cercava os filhotes de todos os cuidados. Não se descuidava da alimentação, da limpeza e da educação da sua prole. Assim eles iam crescendo fortes, saudáveis e muito inteligentes. A mãe de Chuchuquinho ensinava a todos como respeitar os humanos e a natureza. O cãozinho ouvia, atentamente, os conselhos que sua mãe dava:
- Meus filhos, obedeçam a sua mãe, sempre. Estudem para ter conhecimento das coisas. Leiam muito, porque os livros são a fonte do saber. Se quiserem ser verdadeiros cães, aprendam a lutar por tudo que querem, sem ferir a sensibilidade dos outros. Aprendam a não pegar o osso que não lhes pertence. Sejam amigos de todos, incluindo os humanos.
E assim os cãezinhos iam crescendo entre brincadeiras e aprendizado. Um dia, a mãe de Chuchuquinho encontrou, na calçada, um livro de Geografia. Pegou-o, com os dentes, e o levou para casa. Chamou os filhotes e começou a folhear o livro.
Chuchuquinho foi o que mais se encantou como livro. Passava horas e horas lendo sobre rios e riachos, montanhas, mares e florestas. Ficou encantado. Como era o mais curioso dos cinco, se pôs a pensar:
- E se eu fosse conhecer tudo isso?
Lembrou-se das lições de obediência que sua mãe sempre dava. Ainda não era um cão adulto para sair por aí sozinho. Continuou lendo o livro. A curiosidade aumentava.
Um belo dia ele se aventurou. Afastou-se um pouco da casa onde vivia, e viu um panorama diferente. Muitos carros, tanta gente correndo pra lá e pra cá. Alguém pisou na sua patinha. Ganiu de dor. Assustou-se. Voltou para casa. A mãe o repreendeu:
- Não quero que saia de casa sem o meu consentimento! Se isso acontecer novamente ficará de castigo.
Chuchuquinho ficou triste. Queria tanto saber como era o mundo sobre o qual ele lera naquele livro. Um dia ele ouviu uma conversa dos donos da casa. O homem dizia para a mulher:
- Amanhã eu vou pescar no rio com uns amigos. Por isso quero que prepare a minha sacola com as coisas que preciso. Levarei o cão comigo porque pretendemos caçar alguma coisa.
Chuchuquinho já havia visto seu pai sair com o dono da casa e voltavam sempre com muitos pássaros mortos. Foi aí que ele bolou o plano. Esconder-se-ia na carroceria da caminhonete e quando chegasse no lugar da pesca ele desceria para explorar o mundo. Assim fez. E lá se foram o homem e seus amigos para a caça e pesca com o Chuchuquinho escondido numa caixa.
Assim que chegaram, tiraram os apetrechos de caça e pesca da caminhonete.
Chuchuquinho tremia pensando na possibilidade de ser descoberto. Ouviu o latido de seu pai. Percebeu que tinham se afastado. Saiu do esconderijo. Olhou a sua volta. Era só mato. Mas ele gostou do que viu. Tanto pássaro cantando, coelhos correndo, veado saltando, ficou encantado. Era mesmo como o livro dizia. Agora queria ver o rio. Andou um pouco mais mato adentro. Lá estava ele. Imenso, barulhento, mas ao mesmo tempo tão doce. A água transparente deixava ver os peixes nadando. Chuchuquinho até viu a sua imagem no espelho da água. Pensou:
- Até que eu sou um cão bonitinho. Também sou muito valente. Eu vou conhecer a geografia.
E continuou a caminhar. Chegou até a montanha. Olhou para cima e exclamou:
- Caramba, como é grande! É maior do que no livro.
Andou mais um pouco. Foi para o lado direito da montanha. O que ele viu o deixou deslumbrado. Era uma cachoeira. Branca, tão comprida que mais parecia um longo véu de noiva.
Já estava cansado de andar. Resolveu voltar para a caminhonete. Agora ele não sabia se estava no caminho certo. Já havia andado bastante e ainda não avistara o veículo. De repente, pumba, ele caiu numa armadilha de caçador que fez um tremendo barulho. Sua patinha ficou presa numa coisa, que ele não sabia o que era. Doía muito. Começou a ganir.
Passou um tempo e ele ouviu vozes e um latido de cão. Eram os homens felizes pensando que haviam capturado uma lebre. Quando chegaram mais perto, Chuchuquinho reconheceu a voz do homem e do seu pai. Aproximaram-se da armadilha para retirarem a pretensa lebre, quando o homem exclamou:
- Chuchuquinho, é você!
- au, au, au. Fez o Chuchuquinho, morto de medo.
Tiraram o cãozinho da armadilha, enfaixaram a sua patinha, depois de medicada com os primeiros socorros. Partiram para casa.
Chuchuquinho, tremendo de medo, olhava para o pai que nervoso dizia:
- Pensou na sua mãe, seu cãozinho maluco? Quando chegarmos você vai saber o que é bom pra tosse. Podia ter morrido se aquela armadilha pegasse no seu pescoço. Como pôde arriscar a vida por causa da curiosidade, seu desobediente? Eu sabia, eu sabia que um dia você ia fazer uma besteira.
Chegaram em casa. A mãe de Chuchuquinho veio correndo para encontrar o pai e falar do desaparecimento do cãozinho. Não foi preciso. Quando ela avistou o filho, correu para ele ganindo de alegria. Então o pai contou a história. A mãe disse severamente:
- De hoje em diante, você está proibido de chegar até o portão da casa sem que eu saiba. Ficará, duas semanas sem comer ossinho, uma semana sem brincar com seus irmãos na beira da piscina da casa, até aprender a obedecer.
Chuchuquinho dizia, entre lágrimas:
- Está bem mamãe, está bem mamãe...

Maria Hilda de Jesus Alão
(Histórias que contava para o meu neto)

sábado, 2 de julho de 2022

A CONFERÊNCIA ANUAL DOS SAPOS (história infantil)

 


Houve um tempo que os animais falavam e se portavam como gente. Foi nesse tempo que existiu um boi de grande beleza e muito elegante. Quando ele passava pelas trilhas da mata, os outros animais ficavam admirados.
- Que elegância! – exclamava o macaco extasiado com a vestimenta do boi e o seu porte atlético. Sim, meus amigos! O boi se vestia com tal bom gosto que gerava inveja. A calça bem esticada com vinco perfeito, a camisa branca por baixo do colete prateado, a casaca de talhe perfeito lhe caia bem e lhe dava um ar de nobreza, a cartola dourada bem aprumada entre os dois chifres e os sapatos. Ah! Os sapatos. Estes eram feitos de material especial e brilhavam tanto que ofuscavam os olhos dos bichos. Ninguém sabia o tipo do material, mas corria a boca pequena, entre os outros bois, que os sapatos foram feitos em Paris por um boi sapateiro que, em visita ao Brasil ainda não descoberto por Cabral, tornou-se muito amigo do nosso boi. Que ele era um boi de alta estirpe não se pode negar.

Foi num desses passeios pela mata que o boi se aproximou do rio. Fazia sol forte e o calor aguçava a sede. Justamente naquele dia realizava-se A Conferência Anual dos Sapos, evento de grande prestígio sempre aguardado com ansiedade. O falatório era grande, mas ao verem aquele boi elegantíssimo bebendo água no rio, fez-se silêncio total, até o vento parou. Quando terminou de beber, o boi tirou, do bolso do colete, um lenço branquíssimo com as iniciais do seu nome bordadas no canto direito, e enxugou os beiços. Os sapos se rederam a beleza daquele imenso boi. Foi nesse instante que o sapo, presidente da conferência, disse com desprezo:
- Grande coisa! Se eu quisesse seria igual a ele...
O primeiro secretário da Conferência Anual dos Sapos, olhando sério no olho do presidente disse-lhe:
- Não seja bobo. Veja o tamanho do boi! Ele é imenso. Quanto a você... – e riu baixinho da estatura do sapo presidente.
- Caro presidente, sabe como se chama este seu desejo de ser igual ao boi? Não? Não sabe? Inveja pura. Um dos sete pecados capitais condenado por aquele que nos criou. – disse-lhe, enfática, uma sapinha com um jeitinho de ser muito inteligente.
- Ora, isso tudo é bobagem. Eu vou mostrar a vocês como é fácil.
Os sapos fizeram um círculo e no centro ficou o sapo invejoso que começou a inchar para ficar do tamanho do boi. Volta e meia ele perguntava aos companheiros:
- Já estou como ele...?
- Não. Ainda falta muito... – respondiam os sapos.
E o sapo foi estufando, estufando, estufando... e já estava quase estourando quando uma sapa, já bem velhinha, gritou:
- Pare com isso, seu tolo! Que pensa que está fazendo? Se estufar mais um pouco explodirá como uma bomba. Será que vale a pena? Seja você mesmo sem invejar a condição física de outro animal. Ele é um boi, você é um sapo e ponto final.
O presidente da Conferência Anual dos Sapos, muito envergonhado, parou de estufar, mergulhou na água do rio para não ouvir os risos e comentários dos outros sapos que aplaudiam a sapa velhinha que, além de lhe salvar a vida, deu-lhe uma lição de moral extensiva ao gênero humano.
Crianças, em todas as circunstâncias da vida, sejam sempre vocês mesmos.

(histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de J. Alão)

A CIGARRA E A FORMIGA (história infantil)

 



A vovó entrou na sala e viu o netinho com os olhos pregados em um livro de história:
- Que história está lendo, meu filho? – perguntou a vovó.
- A cigarra e a Formiga. – respondeu o menino.
- É uma boa história. – disse a vovó.
- Sabe, vovó, eu não entendo porque a cigarra tem de pedir ajuda para a formiga. A senhora não acha que ela poderia trabalhar?
- Acho sim, mas eu te contarei como tudo começou:
- Ela era uma formiga muito trabalhadeira. Passava os dias cortando folhas para guardar em sua despensa pensando no inverno que logo chegaria. Assim era a formiga Maricota. Maricota tinha uma vizinha que também trabalhava muito. Era a cigarra Sofia. Nos encontros de todas as manhãs elas se cumprimentavam sorridentes:
- Bom dia, Maricota!
- Bom dia, Sofia!
Lá iam as duas para o trabalho estafante de carregar folhas.
- Ainda bem que você pode voar Sofia. – dizia Maricota imaginando que se ela pudesse voar como a cigarra quanta folha não traria para sua casa.
- Pois é! Eu posso voar, mas não tenho a sua força. Veja! eu só carrego um pedacinho de folha e fico muito cansada. - Respondia a cigarra Sofia.
Como nesse tempo Deus ainda não havia designado função para cada bicho, as duas criaturinhas, assim como os outros animais, trabalhavam demais.
- Amiga Maricota, eu estou muito cansada. Acho que não nasci para este trabalho. – reclamava a cigarra.
- Eu não sinto cansaço. Veja quantas idas e vindas eu dou durante o dia e à noite ainda organizo o estoque de comida para o inverno. – afirmou a formiga.

E era a pura verdade. Maricota era incansável. Às vezes carregava coisa com o dobro do seu tamanho. Dava gosto ver a força de Maricota. Um dia Deus, revisando a sua criação, viu as duas, Maricota e Sofia, trabalhando sem parar. Ele ficou pensativo. Minutos depois chamou um anjo e ordenou:

- Desça e diga à formiga que a função dela é a de trabalhar muito, ser precavida para não passar necessidade. Já para a cigarra, diga-lhe que a função dela é a de cantar por todo o verão para alegrar os outros animais.
- Senhor, e o trabalho? A cigarra não precisa mais trabalhar? – perguntou o anjo.
- Tudo depende dela. – respondeu o Senhor.
- Então ela pode cantar e trabalhar? – insistiu o anjo.
- Sem dúvida. – respondeu pacientemente Deus.

O anjo desceu para dar o recado do Senhor. A formiga ficou satisfeita e disse que assim faria. Já a cigarra disse ao anjo que se a função dela era a de cantar para alegrar seus companheiros, ela só faria isso. Trabalhar? Não, ela não se cansaria mais. Ouvindo a resposta da cigarra para o anjo, a formiga disse:
- Não se esqueça do inverno, Sofia. É preciso guardar para ter, e só se tem alguma coisa com muito trabalho. Só cantoria não enche barriga.
- E é por isso que a cigarra canta no verão e no inverno ela não tem casa nem comida e vai pedir ajuda a vizinha Maricota. - completou a vovó.

(histórias que contava para o meu neto)

(Maria Hilda de J. Alão)

A CANÇÃO DO CAVALINHO (poesia infantil)

 



Passa imponente sem rédeas,
Livre como Deus o fez
Tirando de suas patas o toque
Ploc, ploc, ploc.

É a canção de carinho
Que escreve o cavalinho
Com seu trotar de mansinho
Pelas pedras do caminho.
Ploc, ploc, ploc.

Sua marcha tem objetivo
Por isso o seu porte altivo.
Relincha para todos feliz,
Seus olhos são só alegria
E a vila aplaudindo diz:

Cantemos todos juntos,
De juízes a seus adjuntos,
A canção do cavalinho,
Ploc, ploc, ploc.

E lá se foi para o verde prado
Atrás dos seus companheiros
O cavalinho compositor,
Deixando o canto de liberdade
Ecoando nos corações,
Ploc, ploc, ploc.

(Maria Hilda de J. Alão)

 


sexta-feira, 1 de julho de 2022

A BOCA, AS MÃOS, O ESTÔMAGO E OS PÉS (História infantil)

 


Havia uma grande disputa entre a boca, as mãos, o estômago e os pés. Os pés diziam: somos superiores porque carregamos vocês e todo o resto do corpo.

- Vejam, -dizia um dos pés – além de carregar vocês, eu ando, pulo, corro, salto, subo e desço levando um grande peso.

- Grande coisa! – exclamou o Estômago – Se eu não distribuir os alimentos pelo corpo, quero ver vocês, pés, saírem do lugar, seus convencidos!

- Será que dá para parar com esta disputa boba! – interrompeu a Boca nervosa. - Se eu não mastigar e engolir a comida, você, Estômago, não faz nada além de roncar de fome. Imagine se alguém engolisse os alimentos inteiros, sem mastigar, o que faria? Eu até sei. Você sentiria azia, teria congestão, enjoo e vomitaria tudo. Percebeu por que eu sou mais importante?

- Pode ficar calada, dona Boquinha! Nós, as duas Mãos, somos superiores. Nós somos o máximo. Importância em nós é o que não falta.

- Por que está dizendo isto? – indagou o Estômago.

- Ora, meu caro amigo! São as mãos que plantam, colhem, preparam os alimentos e os levam até a dona Boca faladora para que ela os mastigue e os entregue, de mão beijada, para você, querido Estômago. Também lavamos, costuramos, acariciamos, oramos, e damos remédio para você, meu amigo, quando está doentinho. Lembra da última crise de azia que você teve? Pois eu me lembro de você gritando desesperado: - Estou pegando fogo, estou pegando fogo... E quem o socorreu? Nós, as mãos, dando-lhe um remedinho para aliviar o seu mal. Por isso fique bem quietinho e deixe de ser exibido, tá bom?

Depois de pensar muito, entre um ronco e outro, o Estômago chegou a conclusão que as Mãos estavam cobertas de razão.

- Vocês estão certas, amigas. O alimento é o combustível que faz movimentar a máquina humana. Vocês ouviram amigos, pé direito e pé esquerdo? – perguntou o estômago dando um ronquinho.

- É verdade, querido amigo Estômago. Todos os membros do corpo humano são importantes. – disseram os dois pés que já sentiam câimbras por causa do tempo que estavam ali, parados, discutindo sobre quem é mais ou menos importante.

E, para terminar a discussão, a Boca, sorridente, beijou as amigas Mãos que fizeram uma massagem nos seus dois amigos, os Pés e foi aplaudida pelo senhor Estômago com um belo ronco.

(Histórias que contava para o meu neto.)

(Maria Hilda de J. Alão)

 

A AVENTURA DE KITO E BRISA (História)

 


Eu sou um cãozinho vira-lata. Meu nome é Kito. Vocês podem dizer que é um nome esquisito, mas eu gosto dele. Gosto de ouvir o meu dono, o menino Ricardinho, gritar:
- Kito, pega a bola! Corre Kito... Vem comer Kito...!
Nós moramos numa rua perto da praia, e quando chegam as férias escolares, eu e Ricardinho passamos boa parte do dia na areia. Conheço todos os seus amigos e, dentre eles, o meu preferido é o Paulinho. Ele tem uma cadelinha branca da raça poodle, de pelo macio, linda como eu nunca vi outra igual. Enquanto meu dono e seus amigos jogam bola, eu exploro a praia na companhia de Brisa. Este é o nome da beleza de cadelinha. Numa tarde ensolarada, enquanto todos jogavam a mais animada das partidas de futebol, eu e Brisa resolvemos caminhar para mais longe. 
Queríamos conhecer toda a extensão da praia. Fomos tão longe que nem o meu faro aguçado conseguiu encontrar o caminho de volta. Estávamos perdidos. Eu não fiquei preocupado. Sabia que meu dono sairia a minha procura e, tinha mais, estar ao lado de Brisa não é estar perdido, é estar “achado” e feliz.
Exploramos aquele trecho de praia desconhecido para mim. Brisa mostrava uma preocupação fora do comum. Para tentar acalmá-la, eu contava as minhas aventuras ao lado de Ricardinho. Ela ria e, ao mesmo tempo, perguntava:
- Será que eles vêm? Eu estou com fome...!
Ela estava com fome. As palavras caíram no fundo do meu coração. Eu não podia deixar a dama, que estava em minha companhia, passar por uma situação como esta. Então resolvi caminhar mais um pouco deixando a cadelinha deitada na areia à minha espera. O meu instinto de explorador me dizia que era preciso procurar alguma coisa. Os banhistas costumam deixar restos de sanduíches na areia. Não encontrei nada. Aquele trecho da praia não era frequentado. Voltei.
Deitei-me ao lado da minha amiga, que choramingava tristemente. Comecei a latir forte e alto na esperança de que Ricardinho e Paulinho pudessem ouvir.
- Eles não ouvirão, fomos longe demais... – disse Brisa chorosa.
Como não sou de desistir facilmente, continuei com os latidos. Parei por uns segundos para lamber o focinho da minha amiga e, desta forma, dizer a ela: “eu estou aqui, não tenha medo.” O céu começara a escurecer. Calculei que eram mais de seis horas da tarde. Logo ficaria escuro como breu. Sou corajoso, não tenho medo do escuro. E Brisa? Será que ela temia o escuro? Perguntei a ela:
- Quem disse que eu tenho medo do escuro? Não seja bobo, Kito!
- E se tivermos de passar a noite aqui? – insisti em perguntar.
- Nada demais. Basta que nos afastemos do mar. A noite a maré costuma subir e, se nos molharmos, vamos sentir muito frio.
Sábias palavras. Concordei com ela. Então fizemos um acordo: latir juntos. Assim fizemos. Ainda havia um pouco de claridade quando ouvi a voz do meu dono:
- Kitooo! Aqui menino! Kitooo...
Foi felicidade demais. Primeiro: ia voltar para casa; segundo: ganhei tantos beijos (lambidas) de Brisa que fiquei apaixonado. Corremos, eu e Brisa, na direção da voz e, quando avistamos nossos donos, pulamos para seus braços. Na volta para casa ouvi uma boa reprimenda de Ricardinho:
- Onde já se viu! Isso não se faz com ninguém! Por que foi para tão longe? Consegue imaginar o susto que me deu? Nunca mais faça algo parecido...
Eu pedi desculpas lambendo-lhe o rosto até que ele dissesse:
- Chega! Já entendi. Nunca mais fará isso, não é?
Antes de me despedir de Brisa, ouvi os dois meninos combinando uma partida de futebol para a tarde do dia seguinte. Brisa piscou o olho para mim como a dizer: “amanhã estaremos correndo pela areia da praia.”

(Maria Hilda de J. Alão)

A Caixa Mágica (cordel)

CONTANDO CARNEIRINHOS (infantil)

  Eu acho tão engraçado A vovó contar carneirinhos Na hora de dormir. Na minha cabeça de criança Brotou a grande pergunta: E os ca...

Sorvete, Sorvetão (parlendas)