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segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

O SACI E A MULA PRETA


(Personagens do folclore brasileiro)


Venha para cá, ó Risoleta.
Sente-se nesta banqueta
Pois contarei uma historieta
Do velho saci perneta.

Que ninguém com ele se meta
Já enfrentou o boi da cara preta
Fazendo tremenda mutreta
Fez o lobisomem mudar a careta.

De cachimbo na boca vai o perneta
Tentar dançar com a mula preta
O curupira, danado como o capeta,
Chamou o homem da capa preta.

O boitatá disse: esse erro não cometa,
Porque o homem da capa preta
Da luta é tremendo faixa preta.
Soltando seu fogo violeta

Foi o boitatá falar com o perneta
Para que esquecesse a mula preta.
Cachimbo na boca como chupeta
O saci disse: Não se intrometa,

Sou livre, faço o que me dá na veneta.
E soou bem alto a clarineta
Ao entrar na dança a mula preta
Valsando no terreiro como borboleta.

E vibrou no ar o som da trombeta
Era a mula sem cabeça espoleta
Que vinha dar uma muleta
Para que o saci perneta

Pudesse cumprir a etiqueta
Dançando com a mula preta
Ao som de bela cançoneta
Cantada pelo boto rosa de jaqueta.

E assim, pequena Risoleta
Terminou o baile do saci perneta
Com os personagens ao som da clarineta
Girando como roleta.

07/12/17

(Maria Hilda de J. Alão)

A XÍCARA E A CANECA

 

Objetos da Casa.

A xícara e a caneca, que estavam no centro da mesa, começaram uma discussão. Dizia a xícara:
- Eu tenho asa e quero voar.
- Amiga, deixe de bobagem. Eu também tenho asa e não voo nem desejo.
- Então por que nos fizeram com essa asa?
- Eu não sei, mas penso que essa coisinha que está em nós é para que possam nos pegar para tomar café.
- Eu não acredito em você caneca. Eu tenho asa e quero voar, eu quero voar e pronto.
A discussão continuava firme. Um copo, que estava sobre a pia, cansado daquele falatório gritou:
- Deixa de falar besteira. A caneca tem razão. Vocês não podem voar.
Na verdade essa coisinha que está colada ao lado de cada uma não é asa. Por não ter um nome definido, alguém decidiu chamá-la assim inspirado nas aves. Sabe como se chama isso, minha querida xícara? Catacrese! Catacrese! Ouviu?
Enfatizando a palavra catacrese, o copo começou a rir e a dizer bem alto debochando da pobre xícara:
- A xícara tem catacrese, a xícara tem catacrese. Ela pensa que é asa, ela pensa que é asa. Ah, ah, ah, ah.
Não adiantou a explicação do copo porque a teimosa continuou a dizer:
- Pode rir de mim, pode dizer que eu tenho essa tal de catacrese, eu quero voar e vou voar!
E foi se arrastando até a borda da mesa. Parou. Olhou em volta apreciando o panorama da cozinha. Fez um gesto de quem ia se jogar no ar. A caneca desesperada pedia:
- Não faça isso, amiga! Vai virar um monte de caquinhos e irá parar na lata de lixo. Por favor, xícara, volte para o meio da mesa. Volte pelo amor de Deus!
Foi nesse momento de grande suspense que a dona da casa entrou na cozinha e olhando para a mesa perguntou:
- Quem deixou a xícara na beirada da mesa?
E a mulher pegou a xícara colocando-a no centro da mesa ao lado da caneca que ainda tremia de susto.
- Viu, teimosa? Por um triz não se esborracha no chão. Nós não temos asa, temos catacrese como disse o copo. E para com essa ideia boba de voar, tá bom?

(Maria Hilda de J. Alão)

06/12/17
(Histórias que contava para o meu neto)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

CARNAVAL NA FLORESTA (história)



Era tempo de carnaval entre os homens. Na floresta o clima era o mesmo. Os bichos, orientados pelo macaco Cachoeira, estavam se preparando para três dias de folia. Escolheram o hipopótamo Zezé para ser o rei Momo, a esposa do pavão para ser a rainha do carnaval. As fantasias estavam prontas. Foram feitas com folhas, pétalas de flores e cipós. Os bichos aproveitavam tudo que a mata podia fornecer para enfeitar o carnaval. Os ensaios, à beira da lagoa, já estavam no fim.

Dois dias antes do carnaval, Cachoeira e o hipopótamo Zezé, distribuíram as fantasias. A jaguatirica ganhou uma fantasia de havaiana, a onça, uma de odalisca, o coelho Tico, uma de pirata, a anta Antelina, uma de princesa e a esposa do jacaré Formoso, uma de sereia. E assim todos estavam devidamente fantasiados. Um velho elefante, fugido de um circo, ficou incumbido de tocar o trombone para anunciar o início do baile. Assim foi feito.

Os bichos se organizaram em grupos e deram a cada grupo o nome de Bloco. Tinha o boco da macacada, o bloco da coelhada, o bloco da jaguatiricada, o bloco da onçada e assim por diante. Os pássaros eram responsáveis pela música, acompanhados pela bateria de casca de coco feita pela família do macaco Tição. E começou o baile carnavalesco para todos os bichos da floresta. Gambás mascarados se rebolavam ao som da música alegre. As cobras faziam o papel de comissão de frente, serpenteando mais pareciam havaianas dançando o ula-ula.

Lá num canto da mata, as jaguatiricas formavam o bloco mais animado. Elas cantavam e pulavam com muita animação. O bloco dos macacos-prego estava tão bonito na sua fantasia de dama antiga, feita com folhas de palmeira, que a coruja, lá do alto da árvore disse:

- Merecem ganhar um prêmio. O rei Momo e a rainha do carnaval não deixavam a bicharada esmorecer. Na manifestação artística dos bichos prevaleciam a ordem e a elegância.

O Criador, olhando lá do céu, ficou muito feliz de ver a união e o amor entre os bichos numa simples festa de carnaval.
– É assim que eu quero ver toda a minha criação! – exclamou Deus.

O calor estava forte e foi dada a ordem de servir a bebida por um grupo de chimpanzés que fazia as vezes de garçons. Era água de coco fresquinha. E assim chegou o terceiro dia. A madrugada já estava no fim quando os bichos deram por terminado o carnaval da floresta, e saíram à procura do macaco Cachoeira para agradecer os dias de divertimento sadio que ele lhes havia proporcionado. Chamaram pelo companheiro de folia e nada. Onde estaria o macaco Cachoeira? E foram entrando por um bananal e lá estava ele deitado numa esteira feita de folhas de bananeira. A turma de bichos começou a rir, a rir do tamanho da barriga do Cachoeira. Foi aí que o papagaio Paco cantou:

- Olha o Cachoeira
Atrás da bananeira
Comeu tanta banana
Agora dorme na esteira.

E todos foram para casa deixando o Cachoeira dormindo no bananal.
- Ele merece. – foi o que disse, com alegria, o hipopótamo Zezé.

31/01/07.

(Maria Hilda de J. Alão)

(Histórias que contava para o meu neto)

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

TRAVA-LÍNGUAS (Trava-Língua)

 



A tia da lagartixa lixa e picha.
Se a tia lixa e picha,
A lagartixa picha e lixa.

Perguntei ao pássaro:
Tu palras?
Sim, eu palro e palrarei.
Se não pudesse palrar
Jamais palraria.

Pedro Pedra, Pedra Pedro.
Botou Pedro uma pedra
Na rua de São Pedro
Que não precisa de pedra.

Sabiá cantarolará
Na mata pela manhã
Porque à noite
Jamais cantarolaria.

O tempo triplicaria
Se pudesse triplicar
Ele passa não triplica
E jamais triplicará.

Um relógio tiquetaquearia
Dois relógios tiquetaqueariam.

Frade, freira
Freira, frade
Vai a freira à feira
Vem da feira o frade.

18/01/2022

(Maria Hilda de J. Alão)


MEU CACHORRO TOTÓ (poesia)

 


Meu cachorro Totó
Não gosta de ficar só
Ele mora com a vovó
Na rua do cafundó.

É muito sapeca o Totó
Corre atrás da vovó,
Levantando do chão o pó
Latindo como ele só.

Gosta muito de mocotó
O meu cachorro Totó,
Amigo da gatinha filó
Que adora um pão-de-ló.

Quando visito a vovó
Ela conta história de faraó,
De mocinho e esquimó
E faz tanto barulho o Totó

Que não ouço uma palavra só
Das histórias da minha vovó.
Brincar comigo quer Totó.
Morde as pedras do meu dominó,

Puxa a cortina de filó,
Persegue o galo carijó,
Esconde o tênis do Jó,
Rasga o jornal do seu Feijó

Tudo para ganhar minha atenção
E com ele correr sem direção
Para o mundo da imaginação
Este cãozinho do meu coração.

13/09/12

(Maria Hilda de J. Alão)

A FESTA DO LEÃO (cordel infantil)

 




Conta a história dos bichos
Que houve grande bochicho
Na festa do real casamento
Do rei de toda a floresta,
O leão de juba caída na testa.

Cada bicho trouxe presente,
De acordo com suas posses,
E iam depositando aos pés
Do noivo sentado num canapé
Que agradecia com reverência.

A festa, perfeita em harmonia,
Decorria em grande alegria.
O casal dançava alegremente
Ao receber o último presente
Das mãos de um assistente
Do general da tropa de elefantes.

Presente rico nunca vira assim,
Todo entalhado em marfim,
Uma estatueta do rei Leonino
Do tempo em que era menino.
Eis que surge serpenteando

A serpente convidada atrasada,
Ricamente vestida e penteada,
Na boca uma rosa prateada.
Parando diante do rei Leonino
Disse enfática: Esta rosa é o mimo

Para o rei de todos os leões, Leonino,
Em comemoração a real união.
Não tome isso como bajulação,
Mas poderia o meu amado rei,
Receber o presente de minha boca,

Esta linda e rica rosa barroca?
Entre os convidados correria louca,
Por que queria dona Serpentina,
Que veio lá dos confins da colina,
Que o nubente de sua boca recebesse

O presente que ela dizia ser de coração?
O tigre disse: há segundas intenções.
Cauteloso o rei Leonino respondeu:
Agradam-me todos os presentes,
Entregues de forma comovente,

Mas prefiro receber com os pés.
Da tua boca não quero ouro
Nem a linda rosa prateada.
Não fique aborrecida, chateada,
Saiba que não sou bobo nem nada,

Por que me arriscaria a uma dentada
De uma cobra que se julga esperta?
E lá se foi a serpente Serpentina
Envergonhada de volta a sua colina.

27/02/12

(Maria Hilda de J. Alão)

A GALINHA AMARELA (poesia)


 

A galinha amarela
Não vai para a panela
Porque o galo carijó,
Esperto como ele só,

Levou a coitadinha
Pro mato longe da cozinha.
Canta a galinha amarela,
O galo fez um ninho pra ela.

Logo haverá ovo branquinho
E pintinho amarelinho
Piando: piu, piu, piu, piu.
E será feliz, com certeza,

Graças à esperteza
Do galinho carijó,
A galinha amarela
E os pintinhos dela

Morando no ninho,
Feito com carinho,
No mato, longe da cozinha.

13/07/08

(Maria Hilda de J. Alão)

 

domingo, 16 de janeiro de 2022

A APOSTA (poesia)

 

Apostavam o Sol e o Vento
Quem mais rápido faria
Tirar o grosso casaco
O moço que pela estrada corria.

Primeiro o Vento ventou
Com tanta força que depenou
As aves e as árvores desfolhou,
Casas sua violência derrubou.

O moço fortemente o casaco segurou
E o Vento cansado e injuriado
Com forte rajada assegurou
Não ser capaz de tal aposta vencer.

É sua vez, disse o Vento ao Sol,
Espero que com dignidade se porte
Quero ver se de fato é o mais forte
Por isso lhe desejo boa sorte.

O Sol, abrindo largo sorriso disse:
Não preciso de sorte, isso é sandice,
Segurar o casaco é pura tolice
Veja só a minha façanhice.

E as três horas da tarde
Daquele dia de forte verão
O belo Sol sem coração
Elevou tanto a temperatura

Fez no solo imensas rachaduras
E no ar despejou tanta secura
Que o moço que na estrada corria
Sentiu que com o casaco derreteria

De tanto suar não sobreviveria
E a longa distância não venceria
Daquele grosso casaco se livraria
E assim o calor aliviaria.

Vendo o casaco voar pelos ares
O Sol disse rindo ao Vento:
Caro amigo tome tento
Para vencer é preciso talento.

16/01/2022

(Maria Hilda de J. Alão)

sábado, 15 de janeiro de 2022

O INVERNO E A PRIMAVERA

 


O senhor Inverno estava feliz.
Dias gelados, muita neve, chuva e vento.
Ele, lá do alto, olhava para a Terra
E via as pessoas vestidas com grossos casacos,

Tremendo de frio, andando apressadas
Para chegarem as suas casas
E se aquecerem ao calor do fogo.
Os bichos não saiam de suas tocas.

Dava até para ouvir o ronco do urso
No seu longo sono invernal.
As árvores, sem a roupagem de folhas,
Pareciam esqueletos balançando ao vento.

O céu era cinzento e o azul
Escondia-se nas grossas nuvens.
O sol batalhava para aparecer,
Mesmo que fosse por uma brechinha

Entre as pesadas nuvens.
O senhor Inverno passeava pela Terra
Fiscalizando o seu trabalho.
Não tendo moradia certa,

Ele passa um tempo num continente
E outro tempo em outro. É assim que ele vive.
Um dia, depois de gelar tudo, ele foi descansar.
Adormeceu. Quando acordou e olhou para baixo

Não acreditou no que via.
O sol estava no meio do céu azul
Sorrindo e aquecendo tudo,
Flores coloridas e viçosas estavam por todo lado.

As árvores vestiam roupa nova
De folhas tenras de um verde-dourado.
Os animais viviam seus romances de amor
Para perpetuar a espécie.

Os humanos substituíram as grossas roupas
Por outras mais leves.
As crianças, nos parques, escolas e quintais,
Brincavam e cantavam modinhas infantis

Batendo os pés e palmas para ritmar.
- Oh! Quem ousou fazer semelhante estrago!
-Vociferou, lançando uma rajada de vento gelado,
O senhor Inverno.

E procurou com seus olhos de gelo.
Encontrou. Era a deusa Primavera.
Ele queria reclamar, advertir,
Dizer a ela que não podia ir chegando

E invadindo seu espaço sem pedir licença.
Quando ia abrir a sua bocarra gelada,
A jovial Primavera desfez o nó do lenço
Que tinha no seu regaço, e dele saíram

Milhões de borboletas coloridas.
A Primavera, no seu vestido branco vaporoso,
Cantava e dançava a sinfonia da vida.
O senhor Inverno ficou apaixonado.

Percebendo o sentimento do Inverno,
A Primavera disse a ele que era impossível,
Embora ela se sentisse atraída por ele:
- Eu sou só alegria, calor e vida,

Você é só frio e tristeza. - disse ela.
O Inverno nada disse, sabia que ela tinha razão.
Agradecida pelo amor do senhor Inverno,
Ela lhe deu uma semente com a recomendação:

- Plante no gelo esta semente
E quando nascer a flor branquinha
Saberá que estou pensando em você.
E lá se foi o senhor Inverno
Para um outro continente
Deixando sua amada reinando absoluta.

23/09/2009

(Maria Hilda de J. Alão)


 

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

A BRINCADEIRA DAS LETRINHAS (história)

 


A aula havia terminado. Em algazarra, as crianças foram saindo da sala. A professora guardou, cuidadosamente, os livros no armário de aço, trancou a porta e se retirou fechando a sala de aula.

Chegou a noite. Dentro do armário de aço livros, cadernos e lápis dormiam. De repente um barulho. O livro de Gramática despertou. Ele era muito tagarela. Também, com aquela porção de letras só podia ser tagarela.

- Pessoal! É hora de acordar! – gritou ele.

As letras despertaram esfregando os olhos cheios de sono.

- O que aconteceu? – perguntou a letrinha A bocejando.

- Não aconteceu. Vai acontecer. – disse o livro sacudindo todas as páginas.

- Ai! Para de se chacoalhar senão eu caio da página. – reclamou irritada a letrinha Z a última do alfabeto da Língua Portuguesa.

- Desculpe! Não fiz por mal. Foi só para acordar todo mundo. – disse o livro rindo baixinho.

- Afinal, qual o motivo dessa bagunça toda? – perguntou, com sua voz de trovão, a letrinha X.

- Não é bagunça. É que eu pensei em fazer uma surpresa para as crianças amanhã. Pensei numa brincadeira que vai fazer a turma quebrar a cabeça só pensando.

- E que brincadeira é essa? – quis saber a letrinha C.

- Eu pensei assim: e se algumas letrinhas se embaralhassem, outras se duplicassem para formar uma palavra! As crianças terão de organizar as letras para saberem qual é a palavra. Não é uma ideia legal? – terminou todo eufórico o livro.

- Taí! Gostei da ideia. – afirmou a letrinha Q balançando o rabinho.

- E qual é a palavra? – perguntou a letrinha K.

- A palavra eu já escolhi, e afirmo que não é das mais fáceis. Vou começar chamando a letrinha D, e a seguir, as outras que formam a palavra escolhida.

- D se apresentando, comandante. – disse, fazendo continência, a letra D.

- Como faremos quando surgir a mesma letra duas vezes? – perguntou a letrinha D.

- Bem! Aí nós pediremos ajuda ao nosso amigo lápis. – respondeu o livro.

O lápis, que até o momento não dissera nada, ficou todo assanhado. Ele ia participar da brincadeira. Ele ia duplicar as letras da palavra difícil que o livro inventara. E o livro continuou a chamar as letras que, depois de todas arrumadinhas, resultou na palavra abaixo.

DORAPAPEPILELE

- Ih! Será que as crianças vão acertar? É uma confusão... Eu não sei o que está escrito aí. – disse, fazendo careta, a letrinha B.

- Eu sei. É tão fácil! Vocês é que não prestam atenção. – contestou a letrinha V.

- Eu protesto! Onde já se viu escrever palavras misturando as letras. Já pensou se os livros fossem escritos dessa forma? Coitadas das crianças. Isso não se faz... – protestou a letrinha U.

- Chega de conversa. Já fizemos a nossa parte, agora vamos dormir. Amanhã nós saberemos se as crianças são espertas ou não. – falou a letrinha T.

E o livro de gramática, agradecendo, fechou as páginas para que as letrinhas dormissem porque, pela manhã, elas teriam muito que fazer.

- Vovó, eu já sei qual é a palavra...

- Guarde para você. Não vá estragar a brincadeira do livro de gramática.

15/05/08

(Maria Hilda de J. Alão)

(Histórias que contava para o meu neto).

VERBOS QUE SÃO TRAVA-LÍNGUAS

 


Os trava-línguas fazem parte das manifestações orais da cultura popular, são elementos do nosso folclore, como as lendas, os acalantos, as parlendas, as adivinhas e os contos. O que faz as crianças repeti-los é o desafio de reproduzi-los sem errar. Entra aqui também a questão do ritmo, pois elas começam a perceber que, quanto mais rápido tentam dizer, maior é a chance de não concluir o trava-línguas. Esse tipo de poema pode ser um bom recurso para trabalhar a leitura oral, com o cuidado de não expor alunos com mais dificuldades. É nessa leitura que melhor se observa o efeito do trava-línguas e, dependendo da atividade, passa a ser uma brincadeira que agrada sempre. Há verbos da LP que são verdadeiros trava-línguas. Tentem conjugar os verbos, relacionados abaixo, falando rapidamente:


Verbo Cantarolar

Eu cantarolarei,
Tu cantarolarás,
Ele cantarolará,
Nós cantarolaremos
Vós cantarolareis
Eles cantarolarão.

Eu cantarolaria
Tu cantarolarias
Ele cantarolaria
Nós cantarolaríamos
Vós cantarolaríeis
Eles cantarolariam

Verbo Tagarelar

Eu tagarelaria
Tu tagarelarias
Ele tagarelaria
Nós tagarelaríamos
Vós tagarelaríeis
Eles tagarelariam.

Verbo Desatarraxar

Eu desatarraxaria
Tu desatarraxarias
Ele desatarraxaria
Nós desatarraxaríamos
Vós desatarraxaríeis
Eles desatarraxariam

Verbo tiquetaquear

Eu tiquetaquearia
Tu tiquetaquearias
Ele tiquetaquearia
Nós tiquetaquearíamos
Vós tiquetaquearíeis
Eles tiquetaqueariam

Verbo pintalgar (pintar-se de cores variadas)

Eu pintalgarei
Tu pintalgarás
Ele pintalgará
Nós pintalgaremos
Vós pintalgareis
Eles pintalgarão

Verbo triplicar

Eu triplicarei
Tu triplicarás
Ele triplicará
Nós triplicaremos
Vós triplicareis
Eles triplicarão

Eu triplicaria
Tu triplicarias
Ele triplicaria
Nós triplicaríamos
Vós triplicaríeis
Eles triplicariam

Verbo vascularizar (relativo a vasos sanguíneos)

Eu vascularizaria
Tu vascularizarias
Ele vascularizaria
Nós vascularizaríamos
Vós vascularizaríeis
Eles vascularizariam

Verbo descaracterizar (perder a característica)

Eu descaracterizaria
Tu descaracterizarias
Ele descaracterizaria
Nós descaracterizaríamos
Vós descaracterizaríeis
Eles descaracterizariam

14/12/2011

(Maria Hilda de J. Alão)

VAGALUME (cordel infantil)



Vagalume acende a luz 
Parece estrela a voar 
Criança corre atrás dela 
Com vontade de pegar. 

Voa, voa vagalume
Com a luzinha a brilhar 
Ilumina essa menina 
Que não cansa de sonhar.
 
 Se eu pudesse mudar 
Queria ser vagalume 
Para o mundo iluminar 
Com o clarão do meu lume, 

Voa, voa vagalume!

 25/07/11

 (Maria Hilda de J. Alão)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

O CORDEL DO DENTE DE LEITE

 

Pedrinho era um menino
Filho de Maria e Firmino,
Tinha maravilhosa saúde
Ser obediente era sua virtude.

Jogava bola, corria muito,
E era o seu grande intuito
Vencer seu belo cão pastor
Por quem tinha muito amor.

Sentado no chão de terra batida
Ele pensava que numa subida
Venceria o esperto Adamastor
Aquele esbelto cão pastor.

Outras vezes sentado no balanço
Se via gritando: corre que eu lanço!
A bola nova do irmão mais velho
Pedindo aos santos do evangelho

Proteção para que a bola linda
Não virasse, no meio da berlinda,
Uma carcaça de couro triturado
Pelos dentes do cão habituado

A ganhar sempre do pequeno.
Um dia, brincando ao sereno,
Sentiu balançar um dentinho.
Gritou desesperado Pedrinho:

Corre mamãe vou perder um dente!
Disse a mãe, criatura tão paciente:
Perder dente nessa idade é natural
Com um puxão eu resolvo esse mal.

Pedrinho esperneou, chorou de medo:
No meu dente ninguém põe um dedo.
O pai disse com calma e diplomacia:
Filho, eu quero ver no seu rosto alegria,

Vou levá-lo ao senhor dentista
Em resolver problema um especialista.
Chegando os dois à grande sala de espera,
Foram recebidos pela assistente Vera.

Choramingando Pedrinho dizia:
Essa dor será a grande agonia,
Não quero tirar meu dentinho,
Pois ficará na boca um buraquinho.

Foi aí que aquele esperto dentista
Dando uma de grande artista
Mostrou ao menino a figura de um bicho.
Tentando vencer aquele capricho.

Sabes que bicho é este aqui na figura?
Pedrinho respondeu com toda candura:
Sim. É um grande elefante dentuço.
Sei, pois a revista do meu irmão eu fuço.

Sorrindo o dentista na parede afixou
A figura do elefante e perguntou:
Sabes por que ele tem dentes grandes?
Não. Pergunte ao meu irmão Alexandre.

O elefante não quis tirar o dente que balançava
Como você ele gritava e aos santos clamava:
Não posso perder meu dentinho
Pois na boca não quero um buraquinho.

Contando a história o boticão preparava
E ao menino interessado ele perguntava:
Queres ter dentes iguais aos do elefante?
Não. Respondeu Pedrinho balbuciante.

Então abra essa bela boquinha
Que eu quero dar uma espiadinha.
Boca aberta e o boticão na mão
Lá se foi o dentinho num safanão.

E foi assim que história terminou
Do menino que um dia acreditou
Que o elefante tem dente comprido
Por não ter tirado o dente amolecido.

(Maria Hilda de J. Alão)

27/12/17

(Histórias que contava para o meu neto)

 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

A MENINA E A BONECA

 


Olhos grudados na vitrine da loja, uma pequena menina olhava uma boneca luxuosa, vestida de cetim, cabelos louros e grandes olhos azuis. Dedinho na boca, a pequena remoía o desejo de pegar aquele lindo brinquedo e sair mostrando para suas amiguinhas. Elas morreriam de inveja. - Que boneca rica...! - diria uma. Outra, despeitada, repetiria: - Vou ganhar uma igualzinha... Estava tão embevecida que tomou um susto quando o homem da loja disse: - Cai fora malandrinha!

Só então voltou à realidade de sua vida. Olhou suas roupas rasgadas, pés descalços e sujos, sentiu o estômago gritar de fome, lembrou-se das noites de frio, da solidão, dos abusos. Sua pequena cabeça não entendia porque ela não era como aquelas meninas que via passeando pelas ruas, acompanhadas dos pais, sorvete na mão e recebendo cuidados da mãe.

Afastou-se da vitrine com lágrimas nos olhos, mas ainda lançou um olhar na direção do rico brinquedo que ficou lá, olhando para ela como a desafiá-la. Foi juntar-se as outras crianças, como ela, sem esperanças. Chorou muito, lembrando do brinquedo e de como o homem a expulsara de lá. Ela não fizera nada, só estava olhando, pensava a coitadinha. Na sua inocência pediu a Deus que lhe desse uma boneca como aquela, no Natal, e uma mãe.

Dormiu na sarjeta. No dia seguinte, ela não lembrava como acontecera, acordou num lugar que sua cabecinha identificou como um hospital. Uma mulher bonita e sorridente cuidava dela. Olhou em volta procurando as amiguinhas de infortúnio. Não viu nenhuma. Queria perguntar, saber como fora parar ali e onde estava a Neguinha que ela considerava uma irmã mais velha. Sua voz não saía. Olhou para si admirada. Estava limpa, roupa nova, cama quente. - Cama! - pensou. Desde que se conhecera como gente dormia pelas calçadas. Não conhecia pai nem mãe, não tinha uma casa. Agora estava ali, cuidada e sem sentir fome.

Neste momento entra uma moça radiante, parecia estar envolta em uma luz branca, trazendo nas mãos um pacote. Aproximou-se dela e, sorrindo, disse:

- É seu. Vamos, abra!

Quando abriu o embrulho, os olhinhos arregalaram-se.

- Meu Deus, que coisa maravilhosa! Exclamou. - É pra mim...?

- Sim! - respondeu a moça. – Seu pedido foi atendido. É a sua boneca... Gostou?

- É linda - disse a menina com os olhinhos marejados - é a mais bonita que já vi...

A felicidade envolveu a pequenina que sorrindo abraçou a mulher em sinal de gratidão e, finalmente, perguntou - Onde estou? Como vim parar neste hospital?

Sorrindo, a moça lhe respondeu:

- Aqui não é um hospital, é o Céu! Esta - apontou para a mulher sorridente - é sua mãe.

 



(Maria Hilda de J. Alão)

 (Histórias que contava para o meu neto)

 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

A FORMIGA E O COELHO

 


Uma formiga estava com muita sede e, como não havia água por ali, ela resolveu ir a uma fonte que ficava um tanto distante. Caminhou muito e, cansada, chegou à beira da fonte. Meio tonta de sede, a formiga caiu na água. Estava quase se afogando quando um coelho, que também bebia na fonte, empurrou uma folha para dentro da água. A formiga subiu na folha e, agradecida, disse:

- Amigo coelho, hoje você salvou a minha vida. Um dia eu retribuirei.

- Ora, amiga formiga, sua amizade será uma retribuição. Não custa nada ajudar nas horas de dificuldade. – respondeu o coelho indo para sua toca aos saltos.

Tempos depois, andando pelo mato, a formiguinha avistou um caçador preparando uma armadilha para pegar o coelho. Na armadilha tinha o que o coelho mais gostava: cenoura. Uma cenoura grande, amarelinha e fresquinha. Que tentação! O coelho só aguardava a saída do homem para avançar e devorar aquela apetitosa cenoura. 
A formiga, prevendo o triste fim do coelhinho, não teve dúvida. Subiu no sapato do homem e entrando pela perna da calça deu-lhe uma tremenda ferroada na perna, fazendo-o gritar de dor. Com o susto ele deixou a armadilha cair fazendo um tremendo barulho e espantando o coelhinho que fugiu para bem longe.
Dias depois, lá na fonte, a formiga e o coelho encontraram-se e, felizes, comemoraram a vitória do fraco sobre o forte.

01/05/09

(Maria Hilda de J. Alão)

(Histórias que contava para o meu neto)

CONCERTO PARA UMA FORMIGA

  

Uma formiga tinha como vizinha uma cigarra cantadeira. Ela passava o tempo todo viajando com sua violinha presa nas costas por um cipó fino. À noite voltava para casa cansada e ia logo dormir. 

A formiga trabalhava o dia inteiro suprindo sua casa de comida para se alimentar durante o inverno. Um dia a cigarra chegou mais cedo em casa e viu a formiga carregando uma folha, bem maior do que ela, para dentro da casa.

- Olá vizinha! – exclamou a cigarra. – Ainda trabalhando?

- Sim. Preciso me preparar para o inverno que vem aí. Haverá muita neve e eu não poderei sair para procurar alimento.

- Bem, como eu cheguei mais cedo gostaria de cantar para a vizinha. Pode ser?

- Pode sim. – respondeu a formiga sem parar o seu trabalho.

E a cigarra cantou e tocou sua violinha lindamente. Terminado o trabalho de guardar as folhas na sua casinha, e como a cigarra continuasse a cantar, a formiga se pôs a ouvir atentamente o canto. Era um verdadeiro concerto.

- É lindo demais. – disse a formiga – Eu nunca parei para ouvir música. Não sabia que era tão maravilhosa. Agora eu pergunto a você, amiga cigarra: já se preparou para o inverno quando não puder voar por aí por causa do vento, da chuva e da neve? O que comerá? Como se esquentará quando estiver tiritando de frio nas noites geladas?

- Sabe que eu nunca pensei nisso, amiga.

- Pois devia. Cantoria é coisa boa, mas não enche barriga nem aquece o frio.  Quem não pensa no amanhã chora.

- Mas a amiga pode me socorrer num momento de aflição, não pode?

- Posso, sim, a começar de agora. Como ainda há luz do sol, vou ensiná-la a trabalhar para suprir a sua casa e ficar prevenida. Todo o dia, pela manhã, sairemos juntas para labutar e, à tardinha, você cantará para mim. Certo?

E assim fizeram. O inverno chegou. A formiga não tinha com que se preocupar. A fartura reinava em sua casa. A cigarra, como seguiu o conselho da amiga, também não tinha preocupações com a fome e o frio. Quando a noite caía e a neve forrava o chão de branco, a cigarra, na sua casinha confortável, cantava e tocava a sua violinha alegrando a vizinha formiga que aprendeu a dosar trabalho com um pouco de diversão.


07/01/22

(Maria Hilda de J. Alão)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

O REI MANDOU DIZER (parlenda)

 



Queria ter a baratinha
Uma saia franzidinha
Para parecer uma fadinha
Dos contos da carochinha.

Parlenda, parlendinha
Vamos todos parlendar
O seu Rei mandou dizer
Que a Princesa vai cantar.

Roda, roda Isadora
Que é chegada a hora
O rei já foi embora
O que será de nós agora?

Passa dois, passa três
Cavalo francês
Alcança com altivez
A torre do xadrez.

O Marquês calabrês
E o Conde irlandês
Cantam em polonês
Pois não sabem português.

Sapato, sapatinho
Sapatinho carmesim
Os cabelos da Yasmin
Tem perfume de jasmim.               
                                                                                                                          
06/01/22

(Maria Hilda de J. Alão)


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Sorvete, Sorvetão (parlendas)