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segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

A ABELHA BELINHA E O URSO DUM DUM (história)

 



            Belinha era uma abelhinha operária que, junto com as companheiras, trabalhava muito na fabricação de mel. Mas a colmeia, a qual pertencia Belinha, tinha um problema. Toda vez que a colmeia estava cheia de mel, vinha o homem espantava as abelhas com uma fumacinha e levava tudo deixando as abelhas sem casa. A rainha já não sabia mais o que fazer. Foi aí que Belinha fez uma sugestão:

- E se fôssemos construir nossa casa lá no fundo da floresta aonde o homem não pode ir?

- Boa idéia! Exclamou a rainha concordando.

            E lá se foram voando, para o meio da grande floresta, as abelhas e sua rainha. Chegaram.
Escolheram uma árvore bem alta que, de tão antiga, tinha o tronco cheio de nós, e alguns dos nós eram ocos, bons para a construção da colmeia. Começaram o trabalho. Belinha não parava servindo de exemplo para as outras abelhas. Sem parar o trabalho, ela dizia para as amigas que ali estavam livres do homem e não seria preciso mudar mais.
Dias depois a colmeia estava pronta. As abelhas coletavam néctar das flores para a produção de mel. Tudo corria tranquilamente quando ecoou no ar uma voz que era mais um zumbido.

­ - Ó de casa!

Uma das abelhas guardiãs, pondo a cabeça para fora da colmeia, perguntou:
- Quem é?

- É o marimbondo, seu vizinho de árvore. Preciso falar com a responsável.

Belinha se apresentou, perguntando:

- Estou aqui. Qual é o assunto?

- Senhora dona abelhinha, agora que já estão instaladas precisam tomar cuidado com o urso Dum Dum. Ele adora mel e, quando por aqui aparece, come tudo... Não reparou que não há outras abelhas por aqui? Todas foram embora porque toda vez que a colmeia estava cheia de mel, Dum Dum vinha e comia tudo deixando as pobrezinhas sem teto.

- E por que o urso tem este nome de Dum Dum? – perguntou ela.

- É porque ele é tão pesado que quando pisa no chão faz: dum dum dum dum.

Belinha agradeceu ao marimbondo e entrou com a carinha triste e pensativa.

- Viemos para cá fugindo do homem, agora tem um urso...

Foi falar com a rainha para, juntas, encontrarem uma solução. Fizeram reuniões e mais reuniões e a única solução a que chegavam era a mudança.

              Naquela noite Belinha não conseguia dormir só pensando no trabalho que tiveram para construir a colmeia e por causa de um urso teriam de abandonar tudo e procurar outro lugar. Ela não ia permitir. Estava envolvida nesses pensamentos quando surgiu a idéia.

- É isso! Isso mesmo! Como não pensei antes! – exclamou entrando para dormir.

Mal o dia clareou, Belinha foi à presença da rainha para expor a sua ideia. A soberana das abelhas perguntou:

- Tem certeza que vai dar certo?

- Sim, majestade, certeza absoluta. Esperemos o urso aparecer.

            Lá pelas nove horas da manhã chegou o urso Dum Dum farejando tudo sentindo o perfume saboroso do mel. Olhou para o tronco e, vendo a colmeia no oco da árvore, ficou em pé para arrancá-la com as suas garras. Neste momento todas as abelhas se puseram em guarda na porta da colmeia. Belinha, cheia de coragem, falou bem alto:

- Bem-vindo, caro urso Dum Dum! Nossa colônia está feliz em conhecer tão valente morador da floresta.

- Deixe de bobagem abelhinha! Eu quero o mel que está nesta sua casa. – disse o urso com o seu vozeirão fazendo as abelhas tremerem.

- Calma! Vamos fazer um acordo. Todos os dias nós lhe daremos dois favos de mel e você não destruirá a nossa casa. – propôs Belinha.

- Eu não preciso ficar em pé e me esticar todo para pegar os favos? – perguntou Dum Dum.

- Não. Você senta no chão e nós jogamos os favos no seu colo. – respondeu Belinha.

- Oba! Eu não gosto de me espichar para pegar nada. – reclamou o urso.

            E assim foi feito. Todos os dias Dum Dum ganhava favos de mel enquanto as abelhas, seguindo o plano de Belinha, construíam outra colmeia bem perto da copa da árvore para se instalarem definitivamente. E quando acabasse o mel da primeira colmeia, o urso que fosse procurar onde ele bem quisesse, porque mel da colmeia de Belinha ele nunca mais provaria, já que urso adulto e gordão não sobe em árvores.

            E assim terminou a história com todas as abelhas felizes, pois, graças a inteligência de uma delas, nunca mais ficariam sem teto.

 (histórias que contava para o meu neto).
(Maria Hilda de J. Alão)

AS SEMENTES DA MAÇÃ (história)

 


- Vovó, você me dá uma maçã!
- Dou sim, meu menino.
A vovó pegou a maçã, lavou-a muito bem, partiu a fruta em duas partes e começou a tirar as sementes. O netinho, muito atento, perguntou:
- Por que as frutas têm caroços, vovó?
- Os caroços são sementes, este é o nome correto, mas pode chamar de caroços. Como eu ia dizendo, os caroços são a garantia de continuidade das árvores frutíferas ou não. Assim: eu pego este carocinho, abro um buraquinho na terra, ponho ele lá dentro, jogo terra por cima e vou regando com água fresca. Passado um tempo brotará um novo pé de maçã, uma nova macieira e com isso a garantia de não faltar a fruta pra ninguém. Você entendeu?
- Sim, vovó. – respondeu o menino dando uma mordida na maçã.
- É assim com qualquer fruta? – perguntou ele.
- Não meu filho. Nem todas as frutas têm caroço, mas essas, antes de ficarem velhas, produzem uma muda, ou seja, uma árvore pequenina para ser plantada em outro lugar e dar origem a uma grande carregada de frutos.
- A senhora conhece alguma fruta que não tem caroço?
- Conheço, sim! O abacaxi, a banana, o coco... – e foi interrompida pelo menino.
- Vovó, já pensou se acabassem todas as frutas! Coitado do macaco, não teria banana pra ele comer.
- E nem pra nós, né meu queridinho! – exclamou a vovó ajeitando os óculos no nariz.
- Sabe, meu filho, esta nossa conversa me fez lembrar do tempo de Jesus quando ele esteve entre nós.

           O menino pôs os cotovelos sobre a mesa, com as mãos segurando o queixo para ouvir atentamente a história. E a vovó começou:
- Jesus caminhava muito pelas estradas, pelos montes e cidades. Foi num dia de muito calor, quando ele estava no monte, que aconteceu um fato interessante. Ele andava sempre acompanhado de seus discípulos, preparando-os para seguirem os seus passos. Lá pelo meio-dia, Jesus foi descansar à sombra de uma oliveira e os discípulos trouxeram o almoço para ele. Eram frutos, pão, mel e a água fresca que brotava da terra. Todos comiam silenciosamente. Não se ouvia um barulhinho. Os pássaros ficavam por ali, rodeando. Sabiam que o mestre estenderia a mão com pedaços de pão convidando-os: - Venham! E eles se apressavam, pousavam no braço de Jesus para comer as migalhas. O vento balançava os cabelos do mestre que, concentrado, tirava os caroços das frutas e os guardava no bolso da sua túnica. Depois de dormir um pouco, ele se levantou e começou a jogar as sementes, que tinha no bolso, em várias direções. Pedro, um dos apóstolos, perguntou:
- Mestre, por que jogas as sementes em várias direções se podes deixá-las aí no chão aos teus pés?
- Pedro, se eu deixar as sementes aqui, não poderei repartir o alimento com bichos e homens. As árvores nasceriam somente neste espaço. Alguns teriam comida, e os outros? Por isso espalho para todos os lados, porque comer é um direito de todos. Devemos repor o que tiramos da terra, plantar onde não existem frutos, grãos, ervas e tudo que possa saciar a fome. Eu te digo, Pedro, se arrancares uma árvore, planta três vezes três. Deixa atrás de ti uma floresta de ações em benefício dos que virão.

           O menino estava com olhar fixo no espaço, talvez imaginando Jesus com a mão cheia de sementes jogando no ar. O vento levando muitas delas, os pássaros comendo algumas para depois depositá-las, com auxílio das fezes, em pontos de difícil acesso. A vovó olhava para o netinho enternecida. Pegou a mãozinha dele e cantarolou sorrindo:
- Tá na hora de acordar... acorda menino!
- Vovó, que história linda. Acho que vou fazer o mesmo com estes caroços que você tirou da minha maçã, com os caroços da laranja e...o caroção do abacate não dá pra jogar assim do jeito de Jesus. Esse eu vou plantar na praça aí em frente.
- É isso, meu menino, siga sempre os exemplos do mestre.

(Maria Hilda de Jesus Alão)
(histórias que contava para o meu neto)

 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

O ANIVERSÁRIO DA SARDINHA (história infantil)


          Estava chegando o dia do aniversário da Sardinha. No fundo do mar os peixes, pequenos e grandes, estavam preocupados com a festa que pretendiam dar para a amiga querida. O Robalo consultou o mestre Peixe-Espada que, por sua vez, consultou a Corvina e finalmente chegaram a um consenso. A festa aconteceria na casa da Dona Baleia porque havia um enorme salão de águas claras.
         E começou a correria para preparar os comes e bebes, escolher vestimentas de lustrosas escamas, maquilagem marinha e tudo mais que uma festa requer.
Na hora estipulada, foram chegando os convidados. A aniversariante, feliz, sorria para todos e agradecia os presentes que recebia. A festa transcorria na maior harmonia, até que, de repente, chegou o Tubarão que não fora convidado para a festa.
Os peixes ficaram em polvorosa. Foi um corre daqui, esconde ali, e o Tubarão sem entender nada.
              Neste momento a Sardinha, cheia de coragem, aproximou-se do Tubarão e disse:
- Senhor Tubarão, sabe que não foi convidado para esta festa por causa da sua fama de mau. Sei que veio aqui para comer muito, porque os peixes indefesos estão todos juntos.
Antes que faça isso, gostaria de convidá-lo a cantar “Parabéns para Sardinha” com sua bela voz de barítono, e dançar comigo a primeira valsa. Aceita?
Antes que o Tubarão respondesse, a orquestra de camarões começou a afinar os instrumentos.
- Aceita? – perguntou novamente a Sardinha.
Diante da simpatia e sinceridade da aniversariante, o Tubarão, vermelho de vergonha, exclamou:
- Aceito, dona Sardinha!
          A essa altura os peixes estavam voltando para a festa, desconfiados, claro. Mas quando viram o Tubarão cantando com seu vozeirão “Parabéns pra Sardinha...”, fizeram um coral cujas vozes chegaram à tona da água despertando a curiosidade dos pássaros marinhos que perguntavam uns aos outros:
- Será que tem festa no fundo do mar?

MORAL: Uma boa conversa e um bom entendimento evitam uma boa briga.
(histórias que contava para o meu neto)
 (Maria Hilda de J. Alão)

MARIETA (versinhos de criança)

 



Senta aqui, ó Marieta,
Nesta fina banqueta
Quero que me prometas
Tocar nesta corneta
Canção pro saci perneta.

Não deixe que se meta
O boi da cara preta
Fazendo sua mutreta
Para entrar sem careta
O lobisomem na retreta,

Tocando sua trombeta
Pra dançar de muleta
O curupira com a mula preta.
Isso é coisa do capeta!

Vem o boitatá como cometa
Fazendo no chão uma valeta
Solta um fogo violeta
Ao ouvir o som da clarineta
Em dupla com a corneta.

Isso não é coisa de veneta,
Até criança deixa a chupeta,
E faz do pezinho baqueta
Batendo em dura caixeta
Lá no fundo da saleta;

Porque toca a Marieta
Uma folclórica cançoneta
Emocionando a Julieta
Com a chave na maçaneta
Da porta da Antonieta
Na casa da Rua Baioneta.

Maria Hilda de Jesus Alão
(Versinhos para crianças)

VERSINHOS DA INFÂNCIA (poesia)

 




Sapinho pula, pula,
Cri, cri, cri faz o grilo.
Porco por que essa gula,
Fuçando o tacho de milho.

II

Voa, voa besouro,
Das asas de puro ouro
Pra dentro da caixinha
Da titia Mariquinha.

III

Come mano Rufino
A salada de pepino
Já que o gato Lelé
Comeu o teu filé.

IV

Lá, lá, lá, lé, lé, lé
Você pisou no meu pé
Doeu, doeu, doeu
Olha a bolha que nasceu!

V

Vê crocodilo,
Que é aquilo?
É um esquilo
De meio quilo.

VI

Lá vai a centopeia
Levando um cento de pés
Pra dançá, dançá
No baile do tracajá.

VII

Limoeiro que dá limão
Eu sou tão pequenina
Não te alcanço com a mão,
Joga teu fruto no chão.

VIII

Colher de pau, pau, pau,
Bate o mingau, gau, gau
E na cabeça do homem
Que tem a cara de mau.

09/11/05.
Maria Hilda de Jesus Alão


 

HISTÓRIAS DA INFÂNCIA (poesia infantil)

 


Corre do capeta, do saci-pererê,
Saudosas histórias do vovô Benê
Contadas ao final do dia
Quando o sol se escondia.

Tinha contos de fada e de bruxa,
A velha feia e corcunda Cachucha
Vestindo manto de seda pura
Assombrando a noite escura.

Depois sentávamos na tosca roda.
Alguém puxe aquela corda,
Façam girar o carrossel,
Espantem os pássaros em escarcéu!

De passar anel nós vamos brincar,
Mulher do padre é o último que chegar.
Quero ver bola no chão e pipa no céu,
Naquela poça d’água, um barco de papel.

Vovô virava criança.
De uma menina puxava a trança
De outra escondia a boneca,
E quando jogava peteca

Vovó gritava: velho sapeca
É hora da sua soneca!
Quantas histórias a vida escreveu,
Quantos personagens ela concebeu,

Mas o vovô da nossa infância
Rompe do tempo a distância
Chegando num tapete de luz
Lembrando a figura de Jesus.

11/06/06.
Maria Hilda de Jesus Alão

 

sábado, 26 de novembro de 2022

BORBOLETINA, A FADA DAS MENINAS (história infantil)

 


          Lili era uma linda boneca que vivia numa vila de Bonecolândia, um país do Planeta Imaginação. Ela morava numa casinha simples, cercada por um jardim bem cuidado onde sua mãe plantava rosas, margaridas e violetas. As borboletas eram presenças constantes no jardim. Pretas, brancas, amarelas, azuis, elas davam um toque de sonho fantástico ao jardim da casa de Lili. A boneca era obediente, ajudava sua mãe nas tarefas domésticas e, quando terminava, ela ia ajudar seu pai a envernizar os tamancos que ele fabricava. Ela era feliz, mas muito solitária.

          Não tinha amiguinhos porque morava muito longe da vila.
Às vezes ela acompanhava o pai quando ele ia vender a sua produção de tamancos. Via as outras bonecas e bonecos brincando na rua, mas nunca chegava perto para participar das brincadeiras. Assim era a sua vida. Um dia, depois do jantar, o pai e a mãe de Lili se puseram a observar a filha brincando com os bichinhos feitos com a sobra da madeira dos tamancos.
- Nossa filha é tão linda! – falou o pai orgulhoso.
- É mesmo. Pena que seja tão sozinha! – suspirou a mãe.
- Quanto a isso não podemos fazer nada. A venda dos tamancos rende pouco e por isso não podemos morar na vila. – Concluiu o pai com tristeza.
          Numa noite, em que o céu estava cheio de estrelas e a lua cheia sorria para o mundo, Lili sentou-se na cadeirinha de balanço, que o pai fez para ela, pegou seus brinquedos de madeira e, dentre eles, escolheu a borboleta que ela mais gostava. Ficou olhando para ela dizendo:
          - Pena que não pode falar, não pode voar, nem pode brincar! – deu um longo suspiro. Balançou a cadeira e ouviu o que lhe parecia uma voz:
- “Li...li, boneca linda, tu serás muito feliz.” - Ela imaginou que fosse a voz do vento batendo nas folhas, mas no dia seguinte, a mesma hora, ela ouviu novamente a voz repetindo as mesmas palavras. Lili ficou assustada, contou para os pais. Imediatamente o pai retirou a cadeira da varanda, colocando-a dentro da casa em frente a janela. No outro dia a boneca, no mesmo horário, sentou-se na cadeira. Pronto! Lá estava a voz dizendo a mesma coisa:
         - “Li...li, boneca linda, tu serás muito feliz.” – Só que desta vez a boneca viu, pairando no ar, um ser parecido com a borboleta de madeira que ela gostava tanto. O ser, batendo as asas, falou:
- Não tenha medo bonequinha! Eu sou Borboletina, a fada que atende às meninas.
- E o que você quer? Sabe que me assustou muito?
- Desculpe, minha querida, eu não sou de assustar ninguém. – disse sorrindo a fada das meninas.
- É verdade. Você é uma borboleta diferente. Tem uma carinha de boneca, um corpo igual ao meu, a diferença são estas asas azuis transparentes nas suas costas. Você é muito bonita!
          Sorrindo a fadinha puxou de uma das asas uma varinha que tinha uma estrela na ponta e perguntou para Lili qual era o seu maior desejo.
- O meu maior desejo é ter uma amiguinha para eu brincar com ela. – respondeu.
A fada bateu com a ponta da varinha numa pedra e a transformou numa bola de cristal. Pegou a bola, passou a mão sobre ela, disse algumas palavras e a depositou no colo da boneca dizendo:
- Este é meu presente. Com esta bola você terá seus desejos satisfeitos. É só pensar e passar a mão que a bola a levará aonde quiser. Para voltar é a mesma coisa. Passe a mão e pense na sua casa em Bonecolândia.
          A fada das meninas desapareceu num rastro de estrelas faiscantes deixando a boneca com a bola na mão. Lili guardou o presente e foi dormir. No dia seguinte ela fez todo o seu trabalho da casa, ajudou o pai com os tamancos e quando chegou a noite ela foi sentar no mesmo lugar levando a bola. Enquanto os pais conversavam no quarto, ela passou a mão sobre a bola e pensou:
- Quero ir para um lugar diferente para encontrar uma amiga.
          Zaz! A bola se iluminou e Lili sumiu indo parar numa casa muito grande. Para ela era como se fosse a casa de um gigante. Ela sabia que não estava na sua terra. Começou a caminhar pela casa olhando os móveis tão diferentes e tão grandes. Viu uma cama e pensou no tamanho da boneca que dormia nela. Chegou a uma porta que se abria para um quintal imenso e perguntou:
          - Tem alguém aí?
E uma voz, sua conhecida, respondeu:
- Venha Lili, venha!
Ela foi em frente e sob um caramanchão de primaveras estava a fada Borboletina segurando pela mão uma criança. Ela apresentou a menina.
- Lili, esta é a Mariazinha uma menina de carne e osso que deseja ter como amiga uma boneca e ande e fale. Mariazinha, esta é Lili, a boneca que anda e fala e deseja ter uma amiga.
          As duas se abraçaram. Passaram um bom tempo brincando. Lili tirou do bolso do seu vestido a borboleta que mais gostava e a deu de presente para Mariazinha e recebeu dela um lindo colar para o seu pescoço. Já estava na hora de ir embora e Borboletina disse para Lili:
- De agora em diante você e Mariazinha serão amigas. Mas é preciso contar aos seus pais para que possa vir a este lugar que se chama Terra e brincar o tempo que quiser.
          Lili contou. Os pais não queriam consentir porque não conheciam a tal de Terra. Como poderiam deixar sua filha querida ir para um lugar desconhecido? Não isso eles não fariam. Foi preciso a interferência de Borboletina que deixou com eles uma outra bola de cristal por onde eles monitorariam a boneca e a avisariam da hora de voltar. Por muito tempo a boneca e a menina foram amigas. Mas a menina cresceu e já não queria mais brincar com ela. Lili aprendeu a conhecer os humanos e a viajar pela Terra, e quando uma amiga crescia e não a queria mais ela procurava outra. E como nunca mais ficou sem amiga foi feliz para sempre.

(Maria Hilda de J. Alão)
(histórias que contava para o meu neto)

terça-feira, 15 de novembro de 2022

A MAQUIAGEM DO SAPO LELÉ (cordel infantil)



Na beira da azulada lagoa
Toda tarde um sino soa:
Venham, venham que é hora,
E bicho nenhum ignora,

De muitos gritos e risadas
De tapas e muitas patadas
Só para ver o sapo Lelé
Tentando tirar do pé o chulé.

Ser um belo rei ele sonha
Da sua aparência tem vergonha
E não ouve o amigo sapo Felipe:
Sapo não vira rei nem príncipe!

Determinado a realizar o sonho
Chegou à lagoa todo risonho
O sapo que queria ser belo.
Pôs um chapéu amarelo

E esmagando um fruto vermelho,
Lembrou do amigo e do conselho,
E sem piscar iniciou a maquiagem
Pensando em grande homenagem.

Esfregou todo o corpo e a cara,
Os bichos gritavam: para, para!
Mas Lelé não estava nem aí
Dizendo: quero ser bonito, e daí?

Terminada a horrível maquiagem
A coruja que vivia entre a folhagem
Disse: Olhe-se no espelho da água
E de mim não guarde grande mágoa:

Está feio, pior do que era antes.
Beleza e títulos não são importantes
Importante é ser você mesmo, Lelé.
Emergindo da água, Chico o jacaré

Disse, lamentando a escolha do sapo:
Não vejo no amigo um único fiapo
Do amigo Lelé que eu conhecia
E esta figura vermelha deprecia

Os sapos verdes desta lagoa.
A fala de Chico não foi à toa
E para terminar a triste aventura
Lelé livrou-se da horrível pintura

Mergulhando na lagoa cristalina
Voltando com a amiga Durvalina
Na forma em que Deus o criou.
Perdão, amigos! Ele lamuriou.

Moral: Não queira ser aquilo que você não é ou passará vexame.

15/11/22
(Maria Hilda de J. Alão) 
(histórias que contava para o meu neto)

NINA E RICO (cordel infantil)

REVIVER A INFÂNCIA

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

MEQUETREFE, O BONECO (poesia infantil)

 


Mequetrefe, o boneco de pano,
Jogado na caixa de papelão
Onde se deixa todo ano
Brinquedos de segunda mão.

Carrinhos, bonecas e bolas
Moram na caixa até o Natal
Quando os levam como esmolas
Para a favela do canal.

Meninos vêm pelos caminhos
Rotos, pesinhos pisando o duro chão,
E escolhem, pobrezinhos,
Os brinquedos da caixa de papelão.

Guia-lhes os rápidos passos
O sonho, a infantil ilusão
De bola no pé ou boneca nos braços
Ainda que o estômago peça pão.

Levaram tudo ou quase tudo,
Meninas e meninos da favela.
Sobrou o boneco de gorro pontudo
Vestido com roupa amarela.

E a última menina a chegar
Não tinha mais que cinco anos
Dava pulinhos para alcançar
A boca da caixa e sem danos

Ver se brinquedo havia dentro dela.
Tombada a caixa a menina entrou,
Saiu levando para sua casa na favela
Mequetrefe, o único que sobrou.

27/11/06.

(histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de J. Alão)


sábado, 12 de novembro de 2022

NINA E RICO (cordel infantil)



Diziam no reino dos bichos,
Em altos brados e cochichos,
Que Nina, a cobra feiticeira,
Todas as noites de sexta-feira

Rastejava na direção do buraco
Onde vivia um rato meio fraco
E sonhava alegre a cobra Nina
Abocanhar o ratinho na surdina.

Mas os falatórios e os cochichos
Espalhados pelas bocas dos bichos
Chegaram aos ouvidos do ratinho
Que era fraco, mas muito espertinho.

Pensando em escapar de tal destino
Rico, o rato, murmurava: É desatino
Mas enfrentarei de peito a situação
E se tudo der certo será a salvação.

E numa noite escura de sexta-feira
De bote preparado estava a feiticeira
Defronte a entrada da toca de Rico
Que tremendo enfrentou o risco

De ser abocanhado imediatamente
Dizendo: Nina, indubitavelmente,
Você é a mais esperta das cobras
Sei porque conheço as suas obras.

Mas de que obras falas grande tolo?
No me venhas querer fazer rolo
Pois estou aqui para o banquete
Antes que sumas como um foguete.

E foram chegando bichos curiosos
Para testemunharem atenciosos
O desfecho de disputa tão perigosa
Entre o ratinho e a cobra ansiosa.

Rico disse, falando forte e bem alto:
Uma corrida em direção ao planalto.
Nina pensou: Vai ser fácil, moleza.
Dou-lhe um bote certeiro de surpresa

E esse rato atrevido já era. Fim do Rico
Nem choro nem vela, nem triste eu fico.
Enquanto planejava o seu bote certeiro
Ela não viu o ratinho Rico sorrateiro

Saindo da toca em desabalada carreira
E parando esbaforido na enorme clareira
Disse: Adeus Nina, cobra feia e perigosa
Reconheça que foi uma derrota amargosa.

E a partir desse dia, Nina, a cobra feiticeira
Que vigiava Rico nas noites de sexta-feira
Aprendeu a grande lição que a vida ensina:
Nem sempre o forte vence o fraco.

07/11/22
(Maria Hilda de J. Alão)

REVIVER A INFÂNCIA (poesia infantil)

 


Quero reviver minha infância
Lembrar da boneca de pano
Que eu vestia com elegância
Com vestidos feitos todo ano

Pela avozinha tão saudosa.
Eu quero reviver as folias,
O cravo brigou com a rosa
E todas as infantis cantorias.

Saudade do grande terreiro
Da corrida dentro do saco
E quem chegasse primeiro
Recebia de prêmio um naco

Do enorme bolo de chocolate
Ou um belo Diamante Negro
Cujo sabor se media em quilate.
Saudade do grande amigo Pedro

E de quando ele forte gritava:
Sai de baixo que lá vai chumbo
Mirando a porta do gol alertava:
Bola na rede e batam o bumbo

Pois chutador melhor que eu não há.
Ríamos, corríamos e chorávamos
A doce infância jamais passará
Era assim que nós pensávamos.

Hoje, debruçada na janela dos anos,
Vêm-me aos olhos o mágico cenário
Dessa infância tão boa sem danos,
Como um presente extraordinário.

12/11/22
(Maria Hilda de J. Alão)

 

terça-feira, 18 de outubro de 2022

DIA DAS CRIANÇAS (poesia)

 


Quando ouço os risos
Imagino muitos guizos
Pequenos, bem pequeninos
Soando no céu e por isso,

Sei que são os espíritos
Das inocentes crianças
Que nos ensinam a amar,
Pois adulto é tão carente,

Incapaz de compreender
A simplicidade da vida.
Singelas e feitas de luz
Para elas não há embaraços

Ao exprimirem a verdade,
Como um mestre elas ditam,
Com a didática da alma,
Para o adulto escrever

E ao mesmo tempo saber
Que para ter uma vida feliz
Ouça a sua criança
Com paciência e amor.

02/10/11

Maria Hilda de J. Alão

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

AS LETRINHAS II (Poesia infantil)




A letra Ó rechonchuda
Ficou zangada e bicuda
Quando a letra A abelhuda
Veio conferir sisuda
Se ela é mesmo barriguda
A, e, i, o, u.

A letra J é tão magrela
Igual a vara de marmelo
E com o pingo na cabeça
Mais parece um cogumelo
A, e, i, o, u.

A letra U é uma bela obra
Parece mais uma cobra
Fazendo uma manobra
Criando uma dobra
Com duas pontas pra cima
A, e, i, o, u.

A letra F é esquisita
Parece forca à primeira vista
Ela precisa de um estilista.
A letra W nada mais é que a M
Caindo de pernas pro ar
Das páginas de uma cartilha.
A, e, i, o, u.

A letra A uma escadinha
Que ninguém pode subir
Disse a letra I a sorrir
Se alguém duvidar é só tentar
Que no chão vai se esborrachar.
A, e, i, o, u.

13/01/12
(Maria Hilda de J. Alão)
(ensinando o netinho)

ANA MARIA E A ESTRELA (história infantil)

  


            Ana Maria era uma menina de sete anos. Tinha tranças negras, olhos castanhos e uma imensa imaginação que sua mãe, muitas vezes, precisava pôr um freio. Aninha, era assim que todos a chamavam, amava tudo e todos. Era carinhosa, conversava com gente, com os bichos, com as plantas, com os pássaros sempre contando, para eles, coisas que a sua fantasia criava.
            A família de Aninha morava numa casa antiga, um sobrado pintado de branco com janelas azuis e uma varanda que circundava todo o andar superior. Do lado direito do pavimento superior ficava o quarto das crianças.
            Depois que seus irmãos adormeciam, Ana Maria sentava-se no chão do quarto, diante da vidraça da janela e, apontando o dedinho para o céu, contava as estrelas. Daquele pedaço de céu que ela avistava do seu quarto já havia contado todas as estrelas. Sabia quantas tinha, conhecia as suas cores, a intensidade do brilho. Sabia tudo. Conversava com elas. Quando alguma das estrelas piscava, Aninha sorria imaginando que, mesmo tão distante, ela ouvira e entendera tudo que foi dito. E ia dormir feliz.
            Numa noite de mau tempo, céu encoberto, muita chuva, Aninha não pôde ver as estrelas. Tudo estava escuro. Então ela se ajoelhou diante da sua cama, pôs as mãos em posição de oração e pediu:
- Estrelas do céu, hoje eu não posso vê-las e sendo assim vou só falar. Espero que o barulho dos trovões não atrapalhe e que vocês possam me ouvir.
E com sua fértil imaginação ela contou tudo que fizera pela manhã e à tarde antes de cair o temporal. Finalizando a conversa ela pediu:
- Se alguma de vocês, estrelinhas, me ouviu, mande uma resposta.
            O dia amanheceu ensolarado. Do temporal não havia nenhum sinal. A mãe de Ana Maria vistoriava o jardim em torno da casa quando viu uma nova planta. Chamou a menina e perguntou:
- Aninha, você plantou alguma coisa aqui?
Ana Maria assomando à janela e olhando para baixo respondeu:
- Não, mamãe... E que planta é?
- Brinco-de-princesa, a flor que você gosta.
              E a imaginação de Aninha bateu asas. Ela havia falado, uma vez, para a estrelinha piscante que amava aquele tipo de flor, parecia um brinco de verdade. Muitas vezes, ela e as amiguinhas, iam para a praça da cidade e, no jardim, colhiam a flor. Amarravam, nos cabinhos, um barbante e as penduravam nas orelhas como brincos.
            Então as estrelas ouviram a sua conversa, mesmo com o barulho dos trovões, e deixaram o sinal na forma de uma planta. O pé de flor cresceu. Ana ficava, horas e horas, olhando para o presente das estrelas e pensando como seria bom se uma delas viesse visitá-la. Naquela noite, antes de se deitar, Aninha deu boa noite para as estrelas e para o pé de brinco-de-princesa.
Dormiu. Sonhou que uma estrela brilhante com uma cauda de diamante desceu do céu e ficou pairando diante da janela do seu quarto, convidando-a para sair. A menina, entre a surpresa e a certeza, sorriu para a estrela dizendo:
- Eu sabia que um dia você viria me visitar!
Então a estrela, alegre que só ela, disse:
- Suba na minha cauda para uma viagem mágica.
            Ana Maria obedeceu. A estrela subiu rápida. Aninha olhou para baixo e viu a sua casa bem pequenina. A estrela subia mais e mais. Agora estavam sobre o oceano iluminado pelo sol. Baleias, golfinhos e as aves marinhas saltavam e planavam como se dançassem um balé cuja música só eles ouviam. Como era lindo o mar! Parecia estar todo coberto de ouro. Passaram por praias que eram verdadeiro paraíso e a menina aproveitou para pegar uma concha cor-de-rosa. Viu as montanhas nevadas; os pinguins; as focas; os leões-marinhos; os ursos polares, os esquimós entrando e saindo dos seus iglus. Que coisa maravilhosa! A menina agitava os braços e dizia aos gritos:
- Lindo, lindo, lindo...!
A estrela continuou levando Aninha. Agora estavam no deserto.
- Camelos, eu nunca havia visto um. Como são grandes! Olha a corcova deles! Olha lá um oásis! Olha quantos pés de tâmara!
E num voo rasante da estrela a criança apanhou algumas tâmaras com a mão direita, guardando-as no bolso do seu avental.
– Pena que não tem praia...! - arrematou penalizada.
- Olha ali as pirâmides! A esfinge! É o Egito! Olha o Taj Mahal! – gritava admirada.
            Já anoitecia e a estrela levou a menina para uma enorme floresta. A Lua, sabedora da aventura, aumentou seu clarão para iluminar a densa mata e os segredos que ela guarda. Aninha viu uma oncinha dormindo ao lado da mãe. Viu um ninho de papagaio com a mamãe abrigando os filhotinhos sob as asas quentinhas; os jacarés dormindo na margem do grande rio; a jiboia pesadona se escondendo no mato rasteiro; a jaguatirica oculta atrás de uma moita; um macaquinho abraçado a sua mãe; sapos e grilos. E aquela imensa flor que boiava na água do rio? - É a vitória-régia - explicou a estrela.
Ela deu um grito quando viu uma criaturinha da cara dourada sentada no galho da árvore centenária. A estrela lhe disse que era o mico-leão-dourado e que ele estava em extinção por culpa dos homens.
- Que lugar é este? Perguntou Ana Maria.
- É a floresta amazônica brasileira. – respondeu a estrelinha.
- Como é grande e linda! Acho que eu levaria toda a vida para conhecê-la. – disse a menina.
            A estrela concordou. Agora era hora de voltar. Ana Maria beijou a estrela e agradeceu a viagem. Já estavam perto da casa. A estrela, cuidadosamente, colocou a menina no batente da janela ajudando-a entrar no quarto. Pôs a criança na cama e acariciando seu rosto se despediu. Ana Maria sentindo a carícia abriu os olhos. Era sua mãe dizendo:
- Acorda filha, já está na hora da escola. Foi bom o seu sonho?
            Ana disse que sim, mas quando levantou o travesseiro lá estava a concha que ela pegara na praia paradisíaca. Lembrou-se das tâmaras. Pegou o seu avental branco e lá estavam elas no bolso direito. Fora mesmo um sonho? Ponha a sua imaginação para funcionar e vá para onde você quiser.

15/11/06.
(Maria Hilda de J. Alão)
(histórias que contava para o meu neto) 

A SUGESTÃO DA ESTRELA (história infantil)

 



           O Todo-Poderoso, depois de criar a Terra, subiu ao céu, sentou-se numa nuvem e de lá ele se pôs a apreciar a sua obra. Nada tinha defeito: o mar, os rios, as florestas, os bichos, os insetos, as flores e os pássaros. Tudo estava harmônico. Cansado de observar e não ver defeitos, Deus subiu para sua morada que fica lá nos confins do Universo.
           Passados sete dias ele voltou. Sentou-se na mesma nuvem e olhou para baixo. Nada havia mudado. Deus, franzindo a testa, disse para a estrela que o acompanhava:
- Toda a obra está perfeita. Eu penso que não será preciso corrigir nem acrescentar nem tirar nada. Qual a sua opinião?
- Senhor, com todo o respeito, há uma falha na criação...
- Como? Qual foi o erro que eu cometi? – perguntou Deus.
- O som. Veja tudo é belo, belíssimo, mas tudo é mudo, mudíssimo... – respondeu a tímida estrelinha companheira do Pai Celeste.
           O Senhor, olhando com mais atenção, concordou, em parte, com a estrela dizendo não ser uma falha, um esquecimento, sim. A estrela continuou falando:
- Veja, Senhor, aquele canário ali na árvore. Ele é perfeito, mas se tivesse som alegraria a floresta... e o rio ali adiante, se tivesse som... é só uma sugestão...
- É verdade. Um pássaro mudo não serve para nada, um rio mudo... É como uma flor sem perfume. – Concordou o Senhor.
           E, a partir daquele instante, Deus deu o dom da voz aos seres da sua criação, de acordo com a espécie de cada um, por causa da sugestão de uma estrelinha observadora. E é por conta desta história que o pinto pia, o gato mia, o cão ladra, a galinha cacareja e o galo canta. Entendeu, menino?
- Entendi, vovó!
Então vá terminar a sua lição de português sobre as vozes dos animais.

01/01/07.
(histórias que contava para o meu neto).
(Maria Hilda de J. Alão)

LUZ DA MANHÃ (Cordel infantil)

 



(A menina que virou princesa)

Era uma vez, num palácio sombrio,
Uma menina que morava sozinha
Num quarto atrás da cozinha,
Pois era escrava a coitadinha,

De uma rainha muito malvada.
Luz da Manhã era o seu nome.
Doente, ela passava frio e muita fome.
Nos poucos momentos de descanso,

Para aliviar tal tormento, ela comia
Umas folhas que brotavam verdinhas
Na água corrente e límpida do riacho,
Um quilômetro floresta a dentro.

A idade de Luz da Manhã variava
Entre quatorze ou dezesseis anos,
Ninguém sabia ao certo,
Era o que ela aparentava.

A rainha megera observava
Que o castigo que aplicava
De nada adiantava
Pois a menina melhorava

Da forte tosse que incomodava
O sono dos outros empregados.
Com a falta de boa alimentação
O mal deveria piorar, pensava a bruxa.

Mal sabia a desnaturada
Que outros empregados do castelo,
Com muita pena de Luz da Manhã,
Escondiam pães, nozes e avelãs

Nos bolsos dos seus aventais
E antes de se dispersarem
Cada um para os seus afazeres
Deixavam tudo num cesto de vime,

Escondido num buraco da parede do quarto,
Para que a infeliz menina,
Ajudada por eles e pela planta,
Pudesse se livrar do mal para sempre.

Luz da Manhã crescia e a cada dia
Ficava mais rosada e mais bela
Com grandes olhos azuis
E longos cabelos cor de mel

Despertando a inveja e o rancor
Daquela rainha sem alma,
Que a expulsou do sombrio palácio,
Para aquela floresta fria e nevoenta

Com uma trouxa de roupas e mais nada.
O tempo foi passando e Luz da Manhã
Ainda vivia no mato junto com alguns bichos
Que se tornaram seus grandes amigos.

Um deles, um lobo velho de cor cinzenta,
Foi quem abrigou a menina em sua toca.
A princípio ela sentiu medo, mas o animal,
Tranquilizando-a, disse que não lhe faria mal.

Um macaco tornou-se seu grande amigo.
Se ficasse ao lado dele ela não correria perigo, dizia.
Além de presentear a amiga com tudo que comia
Ensinou-lhe a diferenciar as boas frutas das nocivas.

Aprendendo com os bichos, ela não passou fome,
Nem sentiu frio. Solidão? Estranho esse nome.
Vivia sempre cercada de amigos sinceros.
Numa tarde de sol muito bonita,

E na companhia do amigo macaco,
Ela se aproximou do riacho onde nasciam
Aquelas folhas verdinhas e gostosas
Que a sua tosse curou. Ficou ansiosa

Porque dali dava para avistar as torres
Do grande palácio dos horrores,
Sua casa por um tempo e ela queria
Esquecer para sempre o dia

Em que se embrenhou pela mata
Numa época de chuva e muito frio.
Pensativa olhava a água do riacho
Quando ouviu homens falando

Em tom nervoso e pesaroso.
Aproximando-se cautelosamente
E por entre os galhos observando
O motivo de tal confusão.

Foi então que viu um belo moço caído,
Por homens preocupados rodeado.
Ela foi chegando de mansinho,
Sem fazer nenhum barulhinho,

Mas o macaco assustado
E com medo dos cavalos,
Gritou subindo rapidamente
Num alto pé de carvalho.

Ao avistar Luz da Manhã entre as folhas,
Um dos homens, com um chapéu em forma de bolha,
Aproximou-se e perguntou como podia
Tão bela jovem estar ao meio-dia

Naquela floresta tão distante do seu castelo.
Supunha ele estar diante de uma princesa
Tal era a suavidade e a beleza
Da moça desconhecida.

Luz da Manhã contou sua história.
Era uma vida sem glória,
Mas vivia muito feliz ali
Entre macacos, lobos e javalis.

Quis saber quem era o jovem
Estirado, imóvel ali no chão.
-É um príncipe de bom coração,
Filho do poderoso rei João

Que nada teme nem urso nem leão.
Ele sofre de um mal que ninguém conhece
Tosse muito e desfalece
E, ao acordar, não reconhece

Quem o ajudar tenta.
Médicos já foram mais de setenta
Nenhum capaz de descobrir
A causa de tanto tossir.

Respondeu o homem de chapéu de bolha.
Apanhando de uma árvore a folha
Ele se pôs a abanar o jovem desmaiado
Para que se sentisse ventilado.

Luz da Manhã contou ao homem
Que um dia sofrera de mal igual,
E graças a um vegetal,
De cor verde magistral,

Recuperou a saúde
E que ela, amiúde,
Faz dessas folhas refeição.
Com todo respeito e admiração

O homem pediu à moça
Que o levasse até a planta,
E sua ansiedade era tanta
Que ele tropeçou caindo numa poça

De lama negra e fétida.
Segurando a mão do macaco,
Luz da Manhã acompanhou o homem
E com ele chegou ao riacho coberto

De folhas tenras verdejantes.
Perguntando insistentemente
Ele obteve a resposta finalmente:
Era aquela a planta milagrosa

Que livrou a moça do mal terrível.
Recolhendo punhados da erva
O homem foi até o belo rapaz
Que parecia dormir em paz.

Chamou os companheiros
E pedindo uma faca
Improvisou uma maca
Para levarem de volta ao castelo

O doente jovem e belo.
Lá chegando contaram ao rei João
O fato acontecido na floresta.
Sentindo partido seu coração

O rei pediu a um grupo de soldados:
- Tragam essa moça a minha presença
Para que me ajude a libertar de tal doença
Julian meu amado filho.

Horas depois o grupo voltou
Trazendo a jovem temerosa
De voltar aos dias terríveis
Vividos em outros tempos.

Luz da Manhã foi recebida
Pelo rei e pela rainha,
E nesse breve encontro
Ela sentiu grande simpatia

Pelo generoso casal real.
Os dias foram passando
E, com os cuidados da rainha
E de Luz da Manhã, o príncipe
Foi se recuperando do mal de tossir.

Todos os dias soldados iam ao riacho,
E em cestos traziam para o palácio
A milagrosa planta que virava
Grande prato de salada crua

Que o príncipe devorava com satisfação.
Numa tarde, quando ajudava a rainha
A enrolar lãs e linhas, Luz da Manhã
Contou que não conhecia seus pais,

Não sabia o lugar de seu nascimento
Nem como fora parar no castelo sombrio.
Ela percebeu que a rainha ficou triste.
-Majestade, eu disse alguma coisa errada?

Perguntou a menina assustada.
-Não, minha filha, não...
Mas não pôde esconder a lágrima
Que caiu morna na palma de sua mão.

Luz da Manhã soube da triste história,
Da longa busca sem vitória
Pela princesinha desaparecida
Aos dois anos de vida.

A rainha secou os olhos,
Deixou o cesto de linhas
E foi até a sala do trono
Onde estava o rei em pleno sono.

Chamou o marido que assustado
Perguntou o que ela queria.
Segurando a mão do rei João
Ela disse com toda a emoção:

- Já reparou nos olhos de Luz da Manhã?
São iguais aos da nossa Miriam.
Estou com um pressentimento,
Por isso peço que mande investigar
A origem desta menina e como ela foi parar

No castelo de Serafina megera.
Depois desse pedido o rei João
Mandou chamar o soldado Salomão
Especialista na investigação

De qualquer caso dito perdido.
Com as ordens do rei ele partiu.
Percorrendo várias estradas
Chegou a um vilarejo distante

E foi perguntando confiante
Se ali teria aparecido,
Há uns quatorze anos,
Uma linda menina

De olhos da cor do céu
E cabelos cor de mel.
Vinte moedas de ouro
Tinha ele na bolsa de couro
Para pagar regiamente
Qualquer informação convincente.

Foi aí que alguém disse
Que isso era sandice,
Tanto tempo se passou
E a criança já evaporou.

Saindo do meio do ajuntamento,
Uma senhora com esquisito paramento,
Segurando pela rédea um jumento
Pediu para falar naquele momento.

Fale senhora com clareza
Para que eu diga à realeza
Que cumpri a ordem dada
E que de mentira não tem nada

A sua informação. – disse Salomão.
- Foi num mês de quente verão
Que passou por aqui um gigante,
Vindo não se sabe de onde,

Procurando o castelo da rainha Serafina.
Ele trazia uma criança envolta
Em rica manta de veludo
Onde bordado havia um escudo

Com duas lanças e um coração.
Salomão ficou muito sisudo
Pensando: aquele era o escudo
Da família do rei João.

Continuou a mulher falando
Sobre o gigante e a criança.
- Soldado não tenha esperança
Porque a maldade da rainha é tanta

Que, talvez, tenha feito desaparecer
Aquele pequenino ser.
Salomão ligou os fatos:
- Nossa! Quatorze anos exatos...

Se fosse como ele pensava
A princesinha estaria agora
Com uns dezesseis anos de idade.
Seria Luz da Manhã a princesa?

Depois de tal informação
O experiente soldado Salomão
Entregou à mulher a bolsa de couro
Com as vinte moedas de ouro.

Voltou ao castelo cavalgando
Num cavalo que parecia voar.
Levantando poeira no ar
Parou estafado diante do castelo

Esperando a ponte descer,
E antes do completo escurecer
Estava narrando ao rei João
Todo o conteúdo da informação.

Então o rei valente decidiu
Ir pessoalmente ao castelo
Da rainha má Serafina,
Para esclarecer o mistério

Da origem de Luz da Manhã.
Nem bem rompeu o dia,
Vestindo uma armadura dourada,
Partiu o rei com seus duzentos soldados.
Depois de alguns dias, todos cansados,

Chegaram ao castelo sombrio.
Serafina ficou amedrontada
Ao ver diante de si o rei João
Que, em tom ameaçador, exigia

Que lhe dissesse quem era
A moça que, sem piedade,
Ela enviou para o meio da floresta.
O suor banhava a testa enrugada

Da malvada Serafina
Que outro jeito não teve
Senão pedir a um serviçal
Que fosse buscar a manta

Guardada no fundo de um baú.
Foi com aquela manta
Que Luz da Manhã lhe foi entregue
Pelo gigante Mussaregue.

O rei chorou ao ver a manta.
Então aquela menina da floresta
Era Miriam, a sua amada filha,
Levada para ser escravizada

Por tal criatura desprezível.
Antes de partir levando a manta
O rei passou a ordem:
- Libertem todos os escravos!

Um dos escravos, respeitosamente,
Disse ao rei que Serafina
Mandara prender covardemente
Augusto, o rei daquele lugar,

Tomando seus bens e suas terras
Escravizando a todos sem piedade.
João, imediatamente,
Enviou o soldado Clemente

Para libertar os prisioneiros.
Devolvendo a Augusto o seu reino,
Tornou-se amigo e aliado.
Os dois, em comum acordo,

Baniram Serafina para um lugar pantanoso
Onde vivem corvos e jacarés.
Por toda a sua vida viveria
Sem o luxo do castelo sombrio
Aprendendo que não se deve fazer aos outros
Aquilo que não quer para si.

Enviando à frente um mensageiro
Para comunicar a todo reino
A grande descoberta feita,
Voltou para casa o pai feliz
Para abraçar e beijar a princesinha.

25/10/10
(Maria Hilda de J. Alão)
(histórias que contava para o meu neto)

FESTA NO INTERIOR (Folclore)

 



Eu vou contar pra você,
Ó menina,
Uma bela historinha,
Ó menina,
Ocorrida no interior de Minas,
Ó menina!
Era lá o mês de agosto
Quando, por seu gosto,
A Mula-sem-cabeça
E seu amigo Saci Pererê,
Encontraram-se pra ir a uma festa
No interior da floresta.

Era o Dia Nacional do Folclore:
E que ninguém implore,
Foi logo avisando o Caipora,
Pra se vestir diferente,
Porque aqui, felizmente,
É festa do folclore brasileiro.

Eu vou contar pra você,
Ó menina!
Cobra Norato falou bem alto:
Que ninguém se vista de bruxa,
Nem de Velho do Saco europeu,
Aqui é Brasil, ora puxa...!
Vamos receber, vindo de Minas,
Lá na Região Sudeste,
O nosso amigo Chibamba,
Que, por ser fantasma,
Nem roupa ele veste.

Eu vou contar pra você,
Ó menina,
Festa como essa nunca eu vi,
Beleza de canto e dança só aqui.
A Cabra-Cabriola, filha do Nordeste,
Dançando com o Papa Figo,
Chama pra beber, o Barba Ruiva,
O sumo extraído da uva,
E a Mãe D’Água pede um pente
Para os cabelos pentear.

O Zumbi provoca a Cuca
Pra cantar um desafio,
Enquanto o Boi-Tatá se diverte
Num gostoso arrasta pé.
Eu vou contar pra você,
Ó menina,

Vi o lobisomem uivando pra lua,
A Mulher da Meia Noite chegando,
E, finalmente, pra completar,
Chegou o Negrinho do Pastoreio,
O ilustre convidado da festa
Que aconteceu na floresta.
Foi a mais bela, ninguém contesta!

Eu vou contar pra você,
Ó menina,
Podemos definir o folclore
como um conjunto de mitos e lendas,
passado de geração para geração,
Nascidos da imaginação das pessoas.
Muitas destas histórias
deram origem às festas populares,
que ocorrem pelos quatro cantos do país.

20/06/08
(Maria Hilda de J. Alão)

(aprendendo nomes de personagens do folclore brasileiro)

terça-feira, 13 de setembro de 2022

A SEREIA RAIO DE LUAR (história infantil)

 




               Três príncipes disputavam a mão da bela sereia Raio de Luar, filha do rei das águas do mundo, o Rei Tritão. Os príncipes vieram, cada qual, de um oceano diferente. O príncipe Hector, valente e bonito, era do Oceano Atlântico, o príncipe Manus, sábio e de uma cultura invejável, era do Oceano Pacifico e o príncipe Stratus, atleta de físico perfeito, era do Oceano Índico.
              Para que um deles fosse escolhido seria preciso passar por uma prova, e o vencedor se casaria com a sereia princesa. Para a realização do evento, o rei mandou preparar uma enorme arena na frente do seu palácio de mais de dois mil metros de comprimento e quinhentos metros de altura, todo construído com pérolas e conchas cor-de-rosa peroladas que reluziam, sob a água claríssima, quando o sol ficava bem em cima do mar observando os seus habitantes.
               Chegou o tão esperado dia. O dia em que um dos três príncipes ganharia a mão de Raio de Luar. A arena estava lotada, e, se tudo corresse bem, os súditos seriam convidados para a festa do casamento. Um tubarão tocou uma espécie de concha gigante anunciando a chegada do rei acompanhado de sua corte e de sua filha Raio de Luar. O soberano sentou-se no trono tendo a sua direita a princesa, linda como uma deusa.
           O primeiro a chegar foi o príncipe Hector, do Oceano Atlântico, montando um cavalo-marinho gigante acompanhado por seu batalhão de peixes-espadas. Ele vestia um traje verde feito de algas entrelaçadas com corais multicoloridos o que o tornava mais bonito ainda. Raio de Luar sorriu para ele. Logo atrás, em companhia de alguns delfins, veio o príncipe Manus vestindo uma túnica branca que lhe foi enviada por uma das deusas do Olimpo. A princesa sorriu e acenou para ele. 
               O último a chegar foi o príncipe Stratus, do Oceano Índico, montado em sua baleia branca. Ele vestia um saiote de algas enfeitado com sargaços que balançavam a cada passo que dava, fazendo aparecer o calção, tecido em tela de ouro, presente de sua mãe. Pondo-se em frente ao trono real, Stratus curvou-se saudando o rei, a princesa e todos os nobres presentes. A princesa o presenteou com o seu mais belo sorriso. Aplausos, muitos aplausos da plateia que já o havia escolhido como favorito.
            Os três príncipes fantásticos tomaram assento nas cadeiras douradas, reservadas para eles, pois ia começar o espetáculo dos peixes-palhaços, contratados para divertir o rei e a corte enquanto aguardavam a hora da prova. Após a saída dos peixes-palhaços, entraram as medusas, lindas, com suas roupas transparentes, tendo como destaque a bela Melusina, primeira bailarina do grupo. Elas começaram a bailar, com graça, a música, cujos acordes lembrava a “Dança da Fada Açucarada”, composta e executada pelos peixes-trombeta. Depois da apresentação das medusas, era a vez das moreias. Elas serpenteavam uma dança que ficou eternizada no fundo do mar como: “a dança do ventre das moreias”. O espetáculo continuou com um enorme polvo fazendo malabarismo com ouriços do mar, até que o responsável pelo cerimonial do palácio anunciou que era hora de começar a prova.
            Quando os três príncipes se preparavam para dar início às provas, a concentração foi quebrada por um burburinho vindo dos espectadores. É que havia adentrado ao recinto um moço de rara beleza. Tinha cabelos negros e longos, trançados com muita habilidade, o que lhe dava um ar de guerreiro. O rosto bonito lembrava o de Narciso da lenda grega. Os olhos, de um verde irisado, pareciam hipnotizar a todos. Seu corpo atlético, pontilhado com escamas brilhantes que tremeluziam à luz do sol, arrancava suspiros das jovens sereias. Vestia uma calça bufante que se estreitava nos tornozelos deixando aparecer os pés, parecidos com pés humanos, mas feitos de barbatanas, diferentes dos outros príncipes que, da cintura para baixo, eram semelhantes às sereias.
            Os três príncipes ficaram sérios. O rei, levantando-se do trono, perguntou-lhe:
- De qual Oceano você vem, meu jovem?
- Majestade, eu venho das águas geladas do Oceano Ártico.
- Por que está aqui se não foi convidado?
- Majestade, eu ouvi falar do torneio e fiquei curioso, pois no meu país é o rei que escolhe o marido de suas filhas. O escolhido não precisa passar por prova alguma.
- Você é da realeza?
- Não, majestade! – respondeu ele.
             Mediante essa resposta o rei mandou que se iniciasse a prova que se dividia em duas partes. A primeira era a retirada do tridente sagrado que o deus do Olimpo lançara no mar bem na frente do palácio. O rapaz que conseguisse retirá-lo estaria apto para executar a segunda parte que era esticar o arco mágico e lançar a flecha a uma distância determinada pelo rei. E o primeiro candidato, Hector, tentou arrancar o tridente fazendo uma força incrível e não conseguiu. Tentou a segunda parte da prova e tendo fracassado, retirou-se envergonhado.
             Diante do fracasso do príncipe Hector, Manus e Stratus, desmotivados, desistiram da prova. O forasteiro, cujo nome era Nemister, pediu licença ao rei para tentar as duas fases da prova, mas fez questão de esclarecer que não era candidato à mão da sereia princesa. Então, ele saltou para a arena e espalmando o tridente, o retirou do chão e, antes de depositá-lo aos pés de Raio de Luar, fez um discurso onde exaltava a beleza da princesa e a bondade do rei o que deixou a sereia emocionada. O chefe do cerimonial aproximou-se com um estojo de madrepérola nas mãos e, de dentro dele, retirou o arco mágico entregando-o a Nemister e dizendo a distância que o rei determinou para o lançamento da flecha. O moço pegou o arco e, juntando a destreza à força, o estirou arrancando da plateia um “Oh” de admiração.
              Porém, quando lançou a flecha a mil metros como mandara o rei, os espectadores deliraram. Foi um grito só: “Ele merece a mão da princesa, ele merece a mão da princesa...”. A arena foi invadida pela multidão de seres marinhos fazendo um barulho ensurdecedor.   Com os olhos, Raio de Luar procurava o estrangeiro na multidão e não o viu mais. Ele partiu sem dizer nada. A princesa entristeceu. Nem sua amiga Melusina conseguia fazê-la sorrir. A imagem do jovem não saia de sua cabeça.  O rei Tritão, diante do estado emocional da filha, mandou que procurassem Nemister por todos os mares do planeta Terra. Meses depois a equipe de busca voltou sem nenhum resultado. 
               O mago da corte, em reunião com o rei, aconselhou-o a casar a princesa apesar do fracasso do torneio. A princesa disse ao pai que só casaria com Nemister. Diante da intransigência da filha, o rei tomou uma decisão: mandou que procurassem o misterioso Nemister na terra. E, para essa tarefa, foram designadas as sereias que, em noites enluaradas, seduzem com seus cantos, pescadores e tripulantes de barcos em rios e mares na tentativa de encontrar o amado da princesa que até hoje por ele espera no fundo do mar.

04/06/07. 
(Histórias que contava para o meu neto).
(Maria Hilda de J. Alão)

sábado, 27 de agosto de 2022

DONA BARATINHA VAI SE CASAR (poesia infantil)



Mimi, a baratinha,
Está querendo se casar.
Assobia, assobia
Chama o padre Zé Maria

Pro casamento realizar.
E depois pra festejar
Será preciso um fogueteiro
Pra foguete ele soltar.

E a música para animar?
Convide para cantar
A cantora popular
A baratinha Lucimar.

Comida não faltará,
Fome ninguém passará,
Além de almoço ajantarado
Haverá doce e salgado.

A baratinha já avisou
Que esforços não poupará
Pra trazer dois cozinheiros
Que conheceu em janeiro.

São dois baratões japoneses,
Famosos entre os franceses
Pelos pratos deliciosos
E os petiscos curiosos.

São os irmãos Sushi e Sashimi.
Sushi prepara o peixe e o shari
Pra Sashimi fazer o sushi
E com as sobras Sushi fará sashimi.

Haverá pastel de vento,
De Sushi o grande invento,
Preparado com talento
Pra servir no casamento.

E será uma confusão de “mi”
Os convidados gritando em mi:
“Seu” Sushi me dê sashimi!
“Seu” Sashimi me dê sushi!

23/05/08
(Maria Hilda de J. Alão)

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

A REVOLTA DO DICIONÁRIO (história infantil)

 



          Era noite. Na biblioteca da escola, em cima de uma mesa, estavam uma pilha de livros de gramática e um pesado dicionário. Na mesa, ao lado, um porta-lápis e várias réguas, tudo bem arrumadinho. Em frente das mesas ficavam as estantes com muitos livros. A estante preferida das crianças era a que guardava os livrinhos de história infantil. Essa ficava bem perto da mesa onde repousavam os livros de gramática e o dicionário. Silêncio total na vasta sala de leitura. A iluminação da rua, através das vidraças, lançava uma tênue claridade no ambiente. De repente um soluço. Um lápis, cuja cabeça era enfeitada com uma borracha vermelha, perguntou:

- Quem está chorando?

- É o dicionário. Ele está muito tristinho. – respondeu um dos livros de gramática.

- Qual é a razão do choro? – perguntou uma régua amarela muito curiosa.

- É por causa das crianças. – respondeu o livro de história infantil Branca de Neve lá do seu cantinho na estante em frente à mesa que abrigava o dicionário chorão.

- Mas as crianças cuidam bem de nós. Não vejo motivo para essa choradeira. – resmungou um dos livros de gramática.

- Não é isso, meu amigo! – exclamou o livrinho de história infantil. – É que as crianças, doravante, não precisarão dele e não mais o chamarão carinhosamente de “Pai dos Burros”.

- Ora, isso não acontecerá! Não será exagero da parte do dicionário? – questionou o livro de gramática da terceira série.

- Que nada, meu querido livrinho! Foi decretado que falar errado é o certo.

- Como assim? Perguntou assustado o livro de gramática da quarta série.

- Por exemplo: - começou a explicar o livrinho de história infantil. – de acordo com o decreto você pode falar: “nóis vai na praia”, “nóis pega o ônibus”, “nóis come os doce” que está tudo certo.

- Que coisa feia! Mas eu tenho certeza que as professoras não concordarão com esse absurdo, portanto a criança não se expressará dessa forma.

- As professoras não podem fazer nada. A ordem vem de cima, de gente que se diz entendida em português. Entendeu agora por que chora o dicionário? Ele sabe o destino dessas crianças, coitadas. Falar “nóis jogou bola depois da aula”, “as menina chegou atrasada na crasse” é como dar uma paulada na cabeça. – finalizou o livrinho de história infantil Branca de Neve.

O dicionário parou de soluçar e, fazendo um esforço grande devido ao seu peso, ergueu-se sobre a mesa e começou a discursar.

- Caros amigos, - começou ele revoltado, - nós, instrumentos de alfabetização, estamos fadados a desaparecer. Sim! Se o errado é o certo, o nosso prazo de validade já venceu, e material vencido vai para o lixo. Precisamos lutar a fim de que as crianças tenham um futuro digno. Que elas possam ser alfabetizadas com dignidade. Que saibam se expressar corretamente porque o idioma é a identidade de um povo.

Todos os livros, lápis e réguas da biblioteca aplaudiram calorosamente a fala do dicionário. Mas como em todo lugar sempre tem um engraçadinho, a biblioteca também tinha o seu. Um lápis de cor azul já descascado de tanto ser mordido pelas crianças:

- É isso aí, dicionário! – gritou entusiasmado. – falou pouco, claro e bonito. Ainda bem que você não usou as palavras difíceis que tem aí escondidinhas nas suas páginas, ah, ah, ah, ah.

Já era madrugada quando todos foram dormir. Antes de se acomodar para o merecido descanso, o lápis de cor azul, não se sabe como, conseguiu ficar de cabeça para cima e, com sua ponta fininha, escrever no papel que forrava a mesa:

- Abaixo a incompetência dos “filólogos”, tudo por um ensino digno. Ah, ah, ah, pensam que é só o dicionário chorão que sabe palavra difícil? Eu, lápis, também sei. Viram o que escrevi? Filóloooogoooooo. Gracinha!!!

25/05/11.
(histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de J. Alão)

 

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