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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

PEDRO PEDRA E A BRUXA (cordel infantil)

 



No tempo da carochinha
Morava em uma vilazinha
Um menino muito valente
Que de um fato era ciente

Que na mata vivia uma bruxa
Feia, malvada e gorducha
Que tinha o mau costume
De afiar do facão o gume

Para assustar os meninos.
Um dia, evitando os felinos,
O menino que era valente
Mas também inconsequente

Entrou na mata sem se dar conta
Da seta que a estrada aponta
Levava o incauto caminhante
À casa da bruxa Violante.

Feliz, o menino de nome Pedro
Correu e subiu em um cedro
Desceu ao ver uma goiabeira,
Cheia de frutos em uma clareira.

Para ela correu todo lampeiro
Sentindo no ar o doce cheiro
Daquelas goiabas amarelinhas.
E gritando são todas minhas

Subiu, sentando-se em um galho
Recolhendo as frutas sem atrapalho
Quando ouviu um som rouquenho
Que dizia: Pedro fome eu tenho

Desça e me dê uma frutinha
Pois sou uma fada boazinha.
Pedro tremendo de medo
Respondeu: o fruto é azedo.

Mas a bruxa malvada Violante
Tinha na cabeça a ideia brilhante
De pegar o menino de surpresa
E levar amarrada a sua presa

Lá para as bandas do ribeirão
Onde fervia o enorme caldeirão
Na fogueira feita no chão.
Pedro pensou: é uma aberração

Preciso de ideia, uma solução
Para sair dessa grande armação.
Lembrou-se que Violante dizia
Ser bruxa versada em poesia

E que não existia ninguém capaz
De vencê-la, passa-la para trás.
Então Pedro disse em alto tom:
Você diz que tem um dom

De compor versos, que é poetisa
E que nem de inspiração precisa.
Levará as frutas que peguei
Se fizer versos com a palavra lei.

A bruxa pensou e deu uma risada
Ajeitando a velha saia amassada.
Começando uma rouca ladainha
Violante disse tanta abobrinha

Igual a quem de poesia nada sabe.
Pedro ria dizendo: que o céu desabe.
A bruxa repetiu o pedido infame:
Dê-me um fruto, pois tenho fome.

A promessa não foi cumprida
Não recitou a poesia prometida
Se eu descer você me pega
E para o caldeirão me carrega.

Mas como sou um menino esperto
Quero propor-lhe em campo aberto:
Feche os olhos e fique parada
Repetindo sem parar, sem errar

A cantilena que vou lhe ensinar
Para ganhar as frutas que desejar.
Percebendo êxito nesta proposta
De pegar o menino ela aposta

Que fará tudo que ele mandar.
Fechando os olhos pôs-se a cantar
Pensando no velho caldeirão
Cozinhando o menino Pedrão.

Então repita rápido sem parar:
Quebra pedra Pedro Pedra
Se pedra Pedro não quebrar
Quem pedra quebrará?

Violante iniciou a lengalenga
Muito atrapalhada e capenga.
Errando tudo estava temerosa
Da fuga da presa ao fim da prosa.

Violante, repetindo sem parar,
A cantilena pôs-se a rodopiar.
Pedro aproveitou o momento
Para terminar seu tormento.

Desceu da árvore rapidamente
E caminhando cautelosamente
Afastou-se daquele espetáculo
Antes que surgisse um obstáculo.

Ao longe olhou para trás e viu
Que a bruxa numa nuvem sumiu
Furiosa por ter sido enganada
E não ter a grande fome saciada.

23/02/22

(Maria Hilda de J. Alão)
(Histórias que contava para o meu neto)


domingo, 20 de fevereiro de 2022

AS DUAS PANELAS (história)

 

Cansada de viver sobre o fogo cozinhando sem parar, uma panela de ferro propôs a uma de barro que fugisse daquela casa. A panela de barro desculpou-se dizendo:

- Acho mais sábio ficarmos por aqui.

- Não seja boba! Nesse caso continuaremos a ser exploradas e queimadas todos os dias de nossas vidas. – assegurou a panela de ferro que continuava a tentar a de barro para acompanhá-la na arriscada aventura.

- Imagine nós duas em outro lugar, outra casa, onde seríamos tratadas com delicadeza, viveríamos em uma prateleira limpa de um armário envidraçado, sem fogo, cinzas e colheres violentas dentro de nós. Imagine, imagine! – insistia a panela de ferro.

Pensando em sua fragilidade e nos perigos da viagem a panela de barro disse:

- Amiga, você tem a pele dura. Pobre de mim! Como poderei aguentar mudança tão brusca se a minha pele é tão frágil?
- Não se preocupe! Eu a protegerei durante a viagem.

Convencida pela panela de ferro, a panela de barro concordou com a fuga.
Antes do amanhecer as duas entraram na carroça do dono da casa, que todas as manhãs levava o leite fresquinho para a cidade vizinha. Acomodada entre um barril e a panela de ferro, a de barro estava confortável. 

E começou a viagem pela estrada esburacada. A carroça corria. Era solavanco aqui, solavanco ali até que o barril perdeu o equilíbrio rolando para fora da carroça e junto foram as duas panelas. A de barro virou um monte de cacos, a de ferro sofreu grandes arranhões. Depois de alguns minutos e com a carroça já bem distante, a panela de ferro chamou pela de barro:

- Amiga, você está bem?
- Não! Sou apenas um montão de cacos. Eu te falei da fragilidade da minha pele. Eu preferia estar naquele fogão cozinhando, cozinhando sem parar, porém inteira. Quem deixa o certo pelo duvidoso sofre as consequências.

Abandonada na estrada, foi assim que terminou a triste aventura da panela de ferro que não queria mais cozinhar.

12/05/13

(Maria Hilda de J. Alão)

 (histórias que contava para o meu neto)

sábado, 19 de fevereiro de 2022

O PINGO D' ÁGUA

 


Todos os dias a vovó arrumava a cozinha: lavava a louça, guardava no armário, secava a pia e depois ia fazer o seu tricozinho.

Naquele dia seria a mesma coisa se não fosse um fato: ela não fechou a torneira da pia direito.

A cozinha estava silenciosa. As crianças estavam na escola. Na sala o som da televisão indicava que a vovó fazia seu tricô assistindo a novela da tarde tendo deitado aos seus pés um pachorrento gato angorá.

Enquanto isso acontecia, lá na pia de mármore da cozinha, um pingo d’água vinha, vagarosamente, lá do fundo do cano. Ele chegou à boca da torneira e ficou pendurado olhando o ambiente. Paredes revestidas com azulejos claros, a geladeira branca com bilhetes das crianças presos à porta com imãs, uma mesa espaçosa com suas seis cadeiras, armários e o fogão ao lado da pia. Curioso ele pensava:

- Como é diferente aqui fora. Tudo é claro e bonito. Acho que vou descer para conhecer melhor este lugar.

Mas quando ele olhou para baixo e viu a altura, tremeu de medo. Se caísse acabaria esborrachado e seria tragado para aquele enorme buraco que era o ralo da pia. E agora? Ele já estava cai-não-cai. A pia, com pena do pobre pingo, sugeriu:

- Por que não pede ajuda a sua mamãe torneira?

O pingo aceitou o conselho e pediu:

- Mamãe, não me deixe cair... eu estou com tanto medo...

E a torneira, cuidadosa como todas as mamães, fez: Glub – engolindo o curioso pingo d’água evitando o acidente.

 31/10/06.

 (Maria Hilda de J. Alão)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

UM SAPATO PRO SACI (folclore)

 


Meu amigo saci-pererê
Pra você calçar com classe
Fiz este lindo sapato
Das pétalas do girassol.

Quero ver na sua face
O sorriso matreiro
De personagem fuzarqueiro
Pensando como é engraçado

Um saci pulando no mato
Trazendo no único pé
Uma coisa amarela
Chamada de sapato.

Venha pra festa do folclore,
De colete aberto no peito
Com seu gorro vermelho
E o seu calção riscadinho.

Não esqueça do cachimbo
Pra fazer muita fumaça
E assim espantar
Pernilongo e muriçoca.

Não faça arte pelo caminho
Pro sapato não estragar,
Não sujar o gorro todinho
Sua mãe uma fera vai ficar.

Agora eu estou terminando
Uma tiara pros cabelos
Da minha querida Uiara,
Trançada com flores claras

Combinando com o vestido azul,
Que a lenda fez pra ela.
Enquanto os pássaros trinam
Suas eternas cantilenas

Do rio vou seguindo a corrente
Para passar horas a fio
Saboreando intensamente
Histórias contadas ou escritas,
Do rico folclore do Brasil.

19/08/06.

(Maria Hilda de J. Alão)

O GNOMO VERDINHO (história)

 


Um homem andava pelo jardim da sua casa olhando as plantas e as flores quando viu, no galho de uma árvore, um casulo.

- Nossa! Que coisa feia! – exclamou, já levantando a mão para jogar o casulo no chão e esmagá-lo com o pé. Neste momento ele ouviu uma voz fininha que o chamava.
- Moço, moço!
Com a mão suspensa no ar ele procura o dono da voz. Não viu ninguém. Outra vez o chamado.
- Moço, eu estou aqui no galho da roseira.

Ele se virou, e lá estava sentado no mais forte galho, apoiando o corpo no terceiro espinho, um gnomo verdinho com um sorriso bondoso estampado na cara.

- Quem és tu criatura esquisita? – perguntou espantado.
- Sou um gnomo de jardim – respondeu a criaturinha.
- O que faz um gnomo de jardim?
- Eu protejo as plantas e os bichinhos que moram nelas.
- E o que é que eu tenho com isso?
- Nada, moço. Eu reparei que você ia destruir o casulo e...
- É uma coisa muito feia e o bicho que mora aí dentro deve ser horroroso. – disse o homem interrompendo o gnomo.
- Agora ele é feio.
- Que quer dizer com agora? – questionou o homem.
- É que está chegando a hora do milagre, da explosão da beleza. – respondeu o gnomo verdinho irritando o homem.
- Ora, deixe de besteira! Uma coisa feia como esta será sempre uma coisa feia. Não há milagre que possa mudar isto.
- Bem se vê que você não conhece a natureza. – insistiu o gnomo – Que tal você voltar a este jardim antes de o sol se esconder?
- E por que eu faria isto?
- Venha! Valerá a pena, eu garanto. – afirmou o gnomo.

O homem foi para casa pensando que, por causa da conversa com o gnomo, ele se esqueceu de arrancar o casulo do galho. Antes do sol se esconder o homem chegou. O gnomo estava a sua espera com o seu sorriso no rosto.
- Oi, moço, eu estou aqui no mesmo lugar!
- Então, o que é que vai acontecer agora? – perguntou, impaciente, o homem.
- Sente-se e fique olhando aquela coisa que você acha feia, e por pouco não acabou com ela.

O homem sentou. Ficou olhando para o casulo no galho da árvore. O gnomo dizia:
- Preste bem a atenção. Olhe com a alma. Pensamentos puros para participar do milagre.

O casulo começou a se abrir, bem devagarzinho, quase não dava para se perceber. De repente: Bum! O homem ficou extasiado quando se deu a explosão e de dentro daquilo saiu uma maravilhosa borboleta de asas azuis com detalhes dourados e negros. Ela voou. Não era um voo, era a dança da vida com evoluções que eram verdadeiras preces de agradecimento. O homem estava encantado, até ouviu, no bater das asas da borboleta, um hino de louvor cantado por seres invisíveis, os anjos do jardim. Ficou imaginando que se ele tivesse esmagado o casulo, jamais veria um espetáculo como aquele. Não sentiria aquela emoção, a emoção de ver uma vida desabrochar. Neste instante, interrompendo os seus pensamentos, o gnomo disse:

- Viu como é a natureza? Ela é sábia. Faz coisas que a mente humana não é capaz de entender.
Enquanto o gnomo falava, apareceu uma revoada de borboletas, em torno do homem, como um presente por ele não ter destruído um ser da natureza. Ele, de braços abertos, rodopiou junto com as borboletas.
Virou criança. O gnomo ficou feliz por ter ajudado o homem a entender a importância de todos os seres na natureza. E voltou para a sua casinha na árvore com a certeza do dever cumprido.

15/06/06.

Maria Hilda de J. Alão.

(histórias que contava para o meu neto.)


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A MENINA E O MAR

 


Pisando a areia com graça
A menininha falava ao mar:
- Tu mais pareces uma praça
Feita pra criança brincar.

As ondas são carrosséis,
Os pássaros pipas no ar
Feitas de brancos papéis
Pra tua grandeza exaltar.

Agora inalo teu perfume,
Provo teu gosto salgado,
E digo sem queixume:
Sabes a bife malpassado!

Olha, tu tens uma estrela
Por certo a pegaste do céu
Ou tiveste a vontade de tê-la
Satisfeita por um ventaréu

Derrubando a estrelinha
Na tua água clara e morna
Pra ser a tua filhinha,
E enfeite que adorna

A fina areia da praia.
Cantas como gondoleiros
Remando seus barcos na raia
Rompendo os nevoeiros

Dos meus sonhos infantis.
Corro. Deixo as marcas dos pés.
Oh, brancas ondas gentis
Levem meus passos ao convés

Do barco da minha infância
Ancorado em águas de saudade crua,
E não me importa a distância
Desde que eu possa ver a lua!

Dos olhos do mar, de pupilas claras,
Caíram lágrimas cristalinas
E dissipando todas as neblinas
Transformaram-se em pérolas raras

Rolando até os pés da menina.
E antes de continuar seu caminho
Guardou na bolsa pequenina
O presente dado com tanto carinho

Pelo rei, o mar sem fim,
Para que dele não se esqueça
E que sempre seja assim
Uma criança e feliz permaneça.

27/08/06.

(Maria Hilda de J. Alão)


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

AS MENTIRAS DA BARATA. (poesia)

 


A Barata diz que tem
Um perfume de roseira.
É mentira da Barata
O perfume é de sujeira.

A Barata diz que tem
Um nariz muito elegante.
É mentira da Barata
O nariz dela é de elefante.

A Barata diz que tem
Um castelo bem bacana.
É mentira da Barata
Ela tem é uma cabana.

A Barata diz que tem
Um lindo colar de prata.
É mentira da Barata
O colar dela é de lata.

A Barata diz que dorme
Numa cama de alto luxo.
É mentira da Barata
Ela dorme é no chão sujo.

A Barata diz que tem
Brincos que ninguém tem.
É mentira da Barata
Nem orelhas ela tem.

27/02/2010

(Maria Hilda de J. Alão)

A TROMBA DO ELEFANTE (história)

 

Num tempo muito distante, os elefantes não possuíam tromba como os de hoje. Tinham um nariz curto e redondo e eles só podiam comer o alimento que encontrassem no chão. Às vezes eles olhavam para as árvores, só olhavam porque não tinham como alcançar frutos ou folhas novas dessas árvores. Como seria bom comer diretamente das árvores sem precisar sujar o nariz de terra, pensavam os elefantes mais velhos. E assim iam vivendo os elefantes de nariz curto e redondo.

Anos depois, nasceu um elefantinho. Todos correram para ver o bebê. Ele era igualzinho aos outros, nariz curto e redondo. A mãe, orgulhosa do seu filhote disse:

- Um dia meu filho fará a diferença. Dele nascerá uma nova raça de elefantes.

As outras mamães elefante riam dela e diziam que era maluca talvez cega. Que raça diferente poderia vir daquele elefantinho de nariz curto e redondo igualzinho a qualquer outro? Pergunta uma mamãe elefante que teve seu filhote levado por caçadores. O bebê elefante cresceu um pouco e como toda criança era curioso demais. A mãe o cercava de cuidados, mesmo assim ele escapava e se embrenhava pela mata cheirando tudo que encontrava pelo caminho.

Foi numa dessas escapadas que o bebê elefante se viu diante de uma árvore enorme. Olhou para cima. Quanta folha nova verdinha. E aquelas bolas amarelas? Que seriam? Frutos! É isso. Ele já as vira pelo chão todas sujas de terra ou esmagadas pelas patas dos bichos. Lembrou-se da recomendação da mãe para que não as comesse. Aquelas frutas amarelas nos galhos da árvore despertou seu apetite. Alcançá-las como? Elefante não sobe em árvore. Então ele pôs as patas dianteiras no tronco da árvore e balançou do jeito que seu pai fazia. A árvore nem se mexeu. Ele tentou com a testa, nada. Uma coruja, que estava no alto da árvore, disse rindo:

- Você é só um bebê e esta árvore tem mais de 300 anos. Volta para sua mãe, criança, isso é coisa para elefante adulto.

O bebê elefante, ainda olhando para as folhas tenrinhas e os frutos amarelinhos, desejou de todo coração.

- Eu queria ter um nariz bem comprido para chegar até onde está a frutinha amarelinha, pois de água se enche a minha boquinha.

E a voz subiu para o céu indo além das estrelas onde morava a deusa dos desejos. Ela olhou para baixo e viu o filhotinho com as patas dianteiras apoiadas no tronco da velha árvore olhando para o alto. Parecia estar em estado de graça. A deusa ficou comovida com a inocência do bebê. Abrindo os braços e flutuando no espaço ela profetizou:

- Assim será, bebê elefante. De hoje em diante teu nariz será comprido e se chamará tromba.

E o nariz do bebê cresceu. Cresceu tanto que ele alcançou uma folha verdinha do primeiro galho da velha árvore. Ele voltou para casa o mais rápido que pôde. Depois desse acontecido, nunca mais nasceu um elefante de nariz curto e redondo. O bebê fez a diferença como disse sua mãe. Dele nasceram todos os elefantes de tromba.

10/03/12



 (Maria Hilda de J. Alão)

 (histórias que contava para o meu neto)

BRINCADEIRAS DA INFÂNCIA (Cordel infantil)

 


Brincadeira é cultura
E também tem tradição,
Símbolo de educação
Retrata a infância passada
Na memória fixada
De meninos e meninas.

MENINO

O menino é jogador
Do futebol popular,
Corredor de bicicleta
Que aprendeu a andar
Nos tenros anos de vida.
Laçador de pipa no ar
Mais hábil do lugar.
Rei das bolas de gude,
Do pião riscando o chão,
De correr com seu cão,
Fazer bolas de sabão,
Disputar corrida de saco
Pular muro, subir em árvore,
Comer salsicha no pão.

MENINA

Brincar com bonecas,
Pratinhos e panelinhas,
Fazer comida de mentirinha,
Pular a amarelinha,
Fingir ser professora
Das bonecas e bonecos
Arrumadinhos em fila
Na mesa grande da sala.
Falar com a boneca de pano,
Fazer penteados diferentes
Nas que ganha todo ano.
Correr de bicicleta à tarde
Competindo com os garotos,
Pegar joaninha nas flores
Meninas, são uns amores.

11/01/12
(Maria Hilda de J. Alão)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

A COBRA E O RATINHO(cordel infantil)



A COBRA PARA O RATINHO

Se eu pudesse beijaria
Você mimoso ratinho
E que alegria me daria
Se fosse meu amiguinho.

O RATINHO RESPONDENDO

Não seja exibida e atrevida,
Cobra de rato não é amiga,
Em mim só vê a comida
Que lhe encherá a barriga.

A COBRA PARA O RATINHO

Ah, meu fofo ratinho querido,
Ouça meu sibilo em sustenido,
Ssssssssss...suave e tão lindo
E em curto tempo estará dormindo.

O RATINHO RESPONDENDO

Por que será que todo bicho,
Seja de pena ou de rabicho,
Pensa que todo rato é burro,
E que assobio, canto ou urro
Fará dele um bom prato
Para saciar a fome de fato?
Para uma cobra sou caricato,
Mas em esperteza não sou novato.

A COBRA PARA O RATINHO

Eu sou uma cobra repentista,
Deste lugar a maior artista
E não há animal que resista
Ao meu chamado hipnotista.
Não se afaste! Fique aí parado,
Para ser por mim hipnotizado,
Mesmo que demore o dia inteiro,
Pegá-lo-ei num bote certeiro.

O RATINHO RESPONDENDO
E SE AFASTANDO DA COBRA

Não seja tão convencida,
Sua astúcia pode ser vencida,
Muita lição ensina a vida
Sua pretensão está perdida
Porque sou um rato do mato,
Já trapaceei até o feroz gato.
Tchau cobra, do papo cansei,
Adeus! Fui, vazei.

17/06/11
(Maria Hilda de J. Alão)
(histórias que contava para o meu neto)

UMA HISTÓRIA DE ASSOMBRAÇÃO (cordel infantil)




Na sala a mesa estava posta
Do jeito que a criançada gosta.
Tinha suco, sanduíche e pipoca,
Pinhão, pé-de-moleque e paçoca.

Era noite escura de sexta-feira,
Dia em que, queira ou não queira,
O tio João tinha um compromisso,
Depois de pescar com a vara de caniço,

Contar histórias de medo e de terror
Para os filhos do seu irmão Alaor.
Ele chegava rindo muito contente
E dizia: quero ver quem é inteligente,

Forte e muito corajoso
Que não trema nem fique choroso
Com a história que contarei
Da moça que eu encontrei

Num dia festivo de carnaval.
Dona Lenita, amarrando o avental,
Serviu sanduíche e o gelado suco,
E seu Alaor, deixando o jogo de truco,

Veio sentar-se ao lado da filha Eleonora
Para ouvir a história assustadora,
Que seu irmão João inventara
Da moça que se chamava Clara.

E o tio João começou a contar:
Numa noite de carnaval saí pra dançar
E, ao passar perto do denso milharal
Da fazenda do senhor Durval,

Vi aquela formosa e delicada moça
Preparando-se para pular a grande poça
De água para não molhar os lindos pés.
Então eu desci do meu cavalo pangaré

E, gentilmente, peguei a moça nos braços
Livrando-a do grande embaraço.
Sentindo meu coração bater forte
Pensei: eu sou um homem de sorte.

Foi aí que eu, curioso, perguntei
O nome daquela que parecia filha de rei.
Meu nome é Clara! Disse com voz suave
Movimentando os braços como divina ave.

De onde vem e pra onde vai a donzela?
Perguntei com muita cautela.
Eu venho da minha nova casa
Disse fazendo longa pausa.

Ah, meu Deus, que voz tinha a menina!
Meu coração era só adrenalina.
Então eu fiz o convite atrevido:
Quer dançar este carnaval comigo?

Ela disse sim e, montados no meu pangaré,
Fomos ao baile carnavalesco do Clube da Maré.
E dançamos juntinhos marchas e sambas
E eu tentando na dança imitar os bambas

Só para conquistar aquela moça divinal.
Ela me olhava com um olhar anormal
E a mim pareceu
Olhar de quem já morreu.

Mas eu estava, pela moça, enfeitiçado
E mesmo que eu fosse açoitado
Ainda assim com ela queria ficar,
E nos seus braços a noite toda dançar.

Lá pelas três da madrugada
O vento, em grande rajada,
Prenunciou o temporal
Em que se acabaria a noite de carnaval.

Então Clara agitada me pedia:
Queria voltar para casa da tia
Antes que a chuva forte caísse.
E eu, no que depois considerei burrice,

Insisti para ficarmos mais um pouco:
A chuva passa logo, pois o tempo é louco
E sairemos com o sol ao amanhecer o dia.
Assustado, vi que nos olhos de Clara ardia

Uma chama de maldade infernal.
Então pensei: para onde foi o olhar angelical?
Aparentado do mundo toda calma
Disse: senhorita do fundo de minha alma

Juro que não quis contrariá-la ou ofendê-la.
Vamos partir, pois outro dia quero vê-la.
O tempo de repente se transformou
Raios, trovões e chuva na terra ele derramou.

Então eu disse a bela senhorita:
Não fique tão ansiosa, tão aflita.
Montemos no meu pangaré Alcazar
Ele seguirá o caminho que eu indicar.

Disse ela: Não é preciso um cavalo:
Ouça bem o que eu falo,
Sigamos pelo milharal
Minha casa não é tão longe afinal.

Eu tremi. Sabia que depois da plantação
De milho do senhor Durval da Conceição
Não havia casas, só o velho cemitério
Onde almas penadas vagavam pelo necrotério.

Clara entrou milharal adentro. Eu fiquei parado.
Senti como se alguém estivesse ao meu lado
Empurrando-me para dentro da plantação.
Os pés de milho pareciam grande assombração,

Um polvo com longos tentáculos de aço
Tentando me dar fantasmagórico abraço.
O temporal crescia. Eu como doido corria
E ao mesmo tempo em que rezava eu pedia:

Clara, espere por mim! Está escuro não vejo nada.
Ela não respondia. Da minha vista sumira a danada.
Corvos levantaram voo na noite tormentosa,
A curta distância um canto em voz lamentosa.

Finalmente saí da plantação de milho
Todo sujo parecendo um velho andarilho.
E lá estava o velho cemitério de muro branco,
De medo quase fiz xixi na calça, sou franco,

Ao ver Clara entrando sem abrir o portão.
Então ela era uma assombração?
Era ali a nova casa a que ela se referiu?
Saí dali correndo. Seu Amarildo quando me viu

Assustado perguntou o que havia me acontecido
Para eu estar todo enlameado, enegrecido.
De vergonha contei uma história de assalto
Onde lutei bravamente rolando pelo asfalto.

Observador como era o velho Amarildo disse rindo,
Mais um que foi dançar com a defunta, e agora fingindo
Vem com essa conversa de assalto. Pensa que sou bobo?
Ah, ah, ah, caiu direitinho na boca do lobo.

Deu sorte - disse ele -, de não ter visto a tia.
Se vem a megera não estaria vendo a luz do dia.
E foi assim meus sobrinhos que seu tio João
Dançou, num carnaval, com uma bela assombração.

Depois que a história terminou
Seu Alaor não aguentou:
- Irmão! Ah, ah, ah, eu queria ver a sua cara
Depois de dançar com a defunta Clara.

20/03/11

(Maria Hilda de J. Alão)
(histórias que contava para o meu neto)


sábado, 12 de fevereiro de 2022

AS LETRINHAS (poesia)

 



A letra Ó rechonchuda
Ficou zangada e bicuda
Quando a letra A abelhuda
Veio conferir sisuda
Se ela é mesmo barriguda
A, e, i, o, u.

A letra J é tão magrela
Igual a vara de marmelo
E com o pingo na cabeça
Mais parece um cogumelo
A, e, i, o, u.

A letra U é uma bela obra
Parece mais uma cobra
Fazendo uma manobra
Criando uma dobra
Com duas pontas pra cima
A, e, i, o, u.

A letra F é esquisita
Parece forca a primeira vista
Ela precisa de um estilista.
A letra W nada mais é que a M
Caindo de pernas pro ar
Das páginas de uma cartilha.
A, e, i, o, u.

A letra A uma escadinha
Que ninguém pode subir
Disse a letra I a sorrir
Se alguém duvidar é só tentar
Que no chão vai se esborrachar.
A, e, i, o, u.

13/01/12

(Maria Hilda de J. Alão)

(ensinando o netinho)


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

O MENINO E O MACARRÃO (poesia infantil)





Eu adoro macarrão
E nunca rejeito, não
Um prato bem cheio
Com carne assada no meio.

Pode ser o espaguete
Que faz a mana Suzete
E também o talharim
Da cantina do Delfim.

O gostoso Gravatinha
Com o molho da vovozinha
Digo sempre quero mais
Uma porção não me satisfaz.

Macarrão é coisa boa
Não digo isso à toa
Prove o gostoso caracol
Ao molho de carne moída,

Ou experimente o pene
Com molho à bolonhesa
E no intervalo solene
O rigatoni da tia Vanessa.

O macarrão parafuso
Às vezes me deixa confuso
Quando mamãe o põe à mesa
Não sei se faço a proeza

De usar palito japonês
Feito da madeira do ipê
Ou se uso a chave de fenda
Para a macarronada estupenda.

11/02/22

(Maria Hilda de J. Alão)
(Para o neto que adora macarrão)


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

A ROSA DESPETALADA (história)

 


Um dia, uma borboleta se apaixonou por uma lindíssima rosa. A flor ficou emocionada, pois o pó das asas da borboleta formava um extraordinário desenho em ouro e prata. Aquela era a borboleta mais bela que a rosa já vira. Quando a borboleta, voando, aproximou-se da rosa e disse que a amava, a flor ficou vermelha de emoção e aceitou o amor da borboleta. Foram dias de felicidade. A encantadora borboleta jurava amor e fidelidade à linda rosa e a rosa jurava amor e fidelidade à borboleta.

Tempos depois a borboleta partiu com a promessa de voltar logo. Dias se passaram e nada. A rosa sentia muita saudade da borboleta e por isso ficava horas e horas suspirando. Numa tarde de verão, a borboleta voltou. A rosa, ao vê-la, disse choramingando:

- É isso o amor e fidelidade que me jurou? Partiu e me deixou só, abandonada, enquanto voava para beijar dona Gerânio, dona Margarida e todas as flores que encontrou pelo caminho e só voltou porque foi expulsa por dona Abelha que já não aguentava mais a sua presença. Pena que ela não lhe deu uma boa ferroada.

A borboleta, rindo do ciúme da rosa, respondeu:

- E você? Pensa que eu não sei? Assim que me afastei o senhor Vento veio sorrateiro acariciar as suas pétalas, o senhor Zangão voava ao seu redor dizendo-lhe coisinhas ao ouvido. Besourinhos e joaninhas cortejavam você. E a noite? Quem era aquele que descia do céu e a cobria com gotas de cristal? Era o senhor Sereno. E quando as outras flores perguntavam você respondia feliz que era a prova de amor mais molhada do mundo. E o senhor Sol que lhe dava quentes abraços durante o dia? Por acaso pensou em mim?

Pobre rosa! Sem palavras, ela viu a borboleta voar e ir jurar amor eterno ao senhor Cravo Amarelo, seu amigo de longa data. A indiferença da borboleta deixou a rosa amuada gerando uma briga entre ela e senhor Cravo Amarelo. Foi embaixo de uma sacada de onde a rosa saiu sem algumas pétalas que foram levadas pelo senhor Vento como lembrança dessa história.

10/04/13

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto)

 

A IDEIA DA CENTOPEIA (poesia infantil)

 



Centopeia tem uma ideia
De ver o cravo e a rosa
Numa disputa nervosa
Para agradar a plateia.

Vieram seus amiguinhos,
Para ver a luta anunciada:
Minhoca e caracolzinho,
A joaninha pintada,

Gafanhoto e sua turma,
As formigas cortadeiras
Chegando uma a uma,
Sentando-se em cadeiras.

Centopeia alegre anunciou
A briga do cravo e da rosa:
Agitada a plateia gritou
Um oh! em polvorosa.

Que venham os briguentos,
Exclamou a juíza centopeia,
Que esperar já não aguento,
Esta luta será uma epopeia.

Primeiro entrou o cravo
Exalando seu perfume
A plateia gritou: Bravo!
Pois era esse o costume.

Depois veio a linda rosa
Com pétalas exuberantes
Cheirosa e vaporosa
Das flores a mais cativante.

E a briga não começava.
A plateia estava muda,
A amanhã avançava,
Será que a situação muda?

Perguntou o gafanhoto.
Nesse momento se viu
O cravo que era canhoto
Dar a mão à rosa de abril

Tirando-a para uma dança.
Ninguém deve brigar,
Pois a paz só se alcança
Quando o amor vigorar.

O cravo não briga com a rosa
Ela não fica despetalada
Porque flor tão formosa
É para ser amada, respeitada.

Disse o cravo à plateia
Que o aplaudia com fervor.
Mostrando à centopeia
Que sua ideia foi um horror.

Maria Hilda de J. Alão

25/11/17

(histórias que contava para o meu neto).

 

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

BRIGA DE GATO GRANDE (cordel infantil)

 


Vou contar pra vocês
A história de era uma vez
Uma briga que aconteceu
Entre três gatos grandes,
Zunga, Zambeu e Zaqueu.

Amigos eram os três
Até ganharem do dono
Cada um uma sardinha
Aberta e sem espinha.

Zaqueu invejoso que era
Achou maior que a dele
A sardinha do amigo Zunga,
E fazendo estardalhaço
Quis tirar do outro o petisco
Com suas unhas de aço.

Zambeu entrou na confusão
Dizendo: vou comer sozinho
Estes peixes fresquinhos
E não há enfezadinho
Que possa me impedir.

Num canto, afastadinho,
Estava sentado um gatinho,
Filhote mimoso de Zaqueu
Que a tudo assustado assistia,
E para aquilo solução não via.

A disputa entre os gatos piorou.
Do bate-boca os três partiram
Para patadas e unhadas
Com pelos arrancados voando
E fortes miados no ar ressoando.

Enquanto a confusão rolava
Entendeu o mimoso gatinho
Ser as sardinhas o motivo
Daquela disputa sem freio
E ele acha muito feio

Três adultos que deviam ser
Para os mais novos exemplo,
Rolando pelo chão aos berros
Deixando de lado a amizade
Por causa de um simples peixe.

O gatinho, como toda criança,
Encontrou rápido a solução
Para acabar com a confusão:
Era só fazer desaparecer
O objeto da desunião.

Chamou seus dois amiguinhos,
Filhos de Zunga e Zambeu
E outra coisa não deu:
Cada um pegou uma sardinha
E, longe dos briguentos,
Comeram sem apoquentação

Os peixes da imensa discórdia.
Uma pausa na desarmonização,
Viu e gritou o gato Zaqueu:
Gente, o peixe desapareceu!
Foi então que perceberam

Os filhotes, seus encantos,
Lambendo todos as patinhas
E entenderam que as sardinhas
Já não mais lhes pertenciam.
Envergonhados os três gatos

Desculparam-se através de miados
E foram para o alto de um telhado
Refletir sobre a lição ensinada:
Quem tudo quer tudo perde,
Por três mimosos gatinhos.

11/06/11

(histórias que contava para o meu neto)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

A BRUXINHA SEM VASSOURA (cordel infantil)

 


 Em história de faz de conta

Nada mais nos desaponta
Do que uma feia bruxinha
Sem a sua vassourinha.

Assim era a bruxa Ritinha,
Usava os poderes que tinha
Para fazer o bem e não o mal
Para gente ou animal.

Da vassoura não precisava
Porque na imaginação ela voava,
Pois era uma bruxinha tão boa
Igual a qualquer pessoa.

Apesar de boa amigos não tinha
A pequena bruxa Ritinha,
Que um dia teve a grande ideia
De convidar uma centopeia

Para uma festança na floresta.
Foi na hora que ela fazia seresta
Que um lobo apareceu
E dizendo que não entendeu

Porque uma bruxa feinha
Não tinha uma vassourinha
Para voar como andorinha
E usava aquela carrocinha

Para viajar pela floresta.
Pondo a mãozinha na testa,
Respondeu a bruxinha ao lobo:
- Ora, não seja tão bobo

Esta minha carrocinha
É como uma capelinha,
Um alegre e calmo abrigo
Para quem é meu amigo.

O lobo, rosnando ferozmente,
Disse de forma eloquente:
- Bruxa feia não tem amigo,
Não entrarei nesse seu abrigo

Eu tenho um enorme medo
Pois sei que não é brinquedo
A mágica de uma bruxa má,
É o castigo pior que há.

Triste e muito decepcionada,
A bruxinha ficou calada
E voltou para sua carrocinha
Uma verdadeira belezinha.

A festa foi cancelada
E os bichos da mata fechada
Até ficaram com pena
Daquela bruxa pequena.

Indo para a sua toca no mato
O lobo pisou num artefato
Ficando preso uivou por socorro
Que ultrapassou o cume do morro

Chegando aos ouvidos de Ritinha
Que entrou em sua carrocinha
Partindo aceleradamente
Para atender ao oponente

Que dela não queria a amizade
Oferecida com tanta sinceridade.
A bruxinha libertou o lobão
Que sentiu um aperto no coração

Ao ver que enganam as aparências
E entre muitas reticências
Pediu perdão a bruxinha
Dizendo que no mundo não tinha

Nada que pagasse aquela atitude
E que a bondade não é virtude
Só de quem é bonito e perfeito.
E espalhando pela mata o feito

O lobo convidou alguns bichos
Que chamaram outros entre cochichos,
Para a festa sonhada pela bruxinha,
Que de tão boa outra não tinha.

Chegaram bem na hora da ceia
E perguntaram à bruxa feia
Se seus amigos podiam ser
E se ela podia esquecer

O desprezo e a grosseria do lobo
Que percebeu o quanto era bobo
Por tanto tempo ignorar a pessoa
De Ritinha, a bruxinha boa.

A festa foi realizada
Da forma como foi sonhada
Com amigos e muita alegria
Findando na mata a monotonia.

(Maria Hilda de J. Alão)

09/01/12
(Histórias que contava para o meu neto)

 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A TARTARUGA CABEÇUDA (cordel infantil)



Uma tartaruga-de-pente

Resolveu muito de repente
Viajar pelos mares do mundo,
Pois era seu desejo profundo
Deixar de ser perseguida
E ter extinta a longa vida.

Nadou muito sem descanso
Até que encontrou uns gansos
Que vinham do Canadá.
Fazendo muito blá, blá, blá,
Pousaram no mar para descansar
E também para perguntar

Para onde estava indo a tartaruga
Porque eles estavam em fuga
Do inverno da sua terra natal.
Este é um momento emergencial,
Disse o ganso líder à tartaruga,
Precisamos de águas mais quentes

Para que não sintamos tanto frio.
Sou Quaquá e este bando eu chefio.
A senhora tartaruga tem um nome?
Tá viajando por que tem fome,
Ou porque dos mares é turista?
Talvez seja uma tartaruga artista!

Quem me dera fosse esse o motivo.
Não sabe o amigo como eu vivo.
Apresento-me. Meu nome é Cabeçuda
Porque minha opinião nunca muda
Seja ela certa ou errada não importa.
Sei que o amigo muito frio não suporta

E eu cansei de ser por estranhos caçada,
Por montes de lixo no mar ser embalada.
Por isso viajo procurando tenazmente
Um mar limpo e seguro onde finalmente
Eu possa viver livre e despreocupada
Sem ter minha liberdade ameaçada,

Correndo o risco de virar de repente
Para as madames um belo pente,
No Amazonas uma tartarugada
Servida a uma turma muito animada,
Ou minha carapaça de escamas marrons
Ser a armação dos óculos do garçom.

(Maria Hilda de J. Alão)

03/04/12

(Histórias que contava para o meu neto)

VAMOS BRINCAR DE PÁ? (poesia)

 



Quem tem capa da chuva escapa
Da cana sai a garapa
Menino o livro encapa
Pão torrado na chapa

Pneu careca derrapa
Camelô foge do rapa
Feminino de sapo é sapa
Põe a bola na caçapa

Se perdido use o mapa
Cuidado que a seda esfiapa
Arroz cozido demais empapa
Sair de fininho é à socapa

Menina a roupa esfarrapa
Das provas pulou uma etapa
Mimi mora na Lapa
Já cansei de tanto pá.

(Maria Hilda de J. Alão)

28/11/17

(brincadeiras com meu neto)

A VASSOURA E O PANO DE CHÃO



Era uma vez uma vassoura que vivia atrás de uma porta. A coitada não era usada como antes. Estava velha e a dona da casa já não precisava tanto dela. Um dia, muito triste, a vassoura resolveu desabafar com o pano de chão que estava pendurado em um prego.
- Pois é amigo! Um dia eu cheguei nesta casa e tinha muito chão para varrer. Lavava o imenso quintal, vasculhava as paredes, deixava quartos, salas e banheiros brilhando de tão limpos. Agora, meu amigo, eu sou nada. Veja o meu fim, a minha decadência.

- É, dona vassoura – disse o pano de chão – o tempo passa e chega o dia da aposentadoria. Olhe para mim, eu já estou quase me aposentando. Já estou desfiando nas laterais, tenho um pequeno furo no meio, estou encardido, logo serei substituído por outro novinho em folha.
- Não estou me referindo ao estado de conservação, estou falando de ser deixada de lado, de substituída por um tal de aspirador de pó, essa máquina infernal, barulhenta, sem história, sem tradição.

- Mas dona vassoura, isso não é bom? A senhora pode descansar, ficar quietinha aí no canto sem ter que trabalhar tanto.
- Não, meu amigo. Não posso parar. Tenho de cumprir a minha sina.
- Amiga, não fique angustiada. Ninguém pode negar o seu valor na história. Sabe que você representa o poder feminino de efetuar a limpeza de elementos negativos dos ambientes?
- Eu sei meu amigo. Por isso as minhas ancestrais eram feitas de ramos de louro, arruda, manjericão, alecrim, alfazema. As donas de casa juntavam todas as ervas ou escolhiam uma que amarravam em torno de um galho construindo uma vassoura perfumada para purificar o ambiente.

- Isso é tão bonito, dona vassoura! – exclamou o pano de chão comovido.
- É, meu amigo, mas existe o lado oposto.
- Lado oposto? Que lado é esse?
- Antigamente diziam que nós, as vassouras, éramos avião de bruxas e que elas viajavam pelos ares montadas em vassouras. A partir dessa crendice a vassoura ficou com má fama.
- Cruz credo amiga! Mas as vassouras faziam parte do folclore de alguns países, não verdade dona vassoura?
- Sim, meu caro! Dos romanos aos chineses. Éramos colocadas atrás de uma porta com o cabo para baixo para que a visita indesejável fosse embora rapidinho.
- Aposentadoria não é o fim do mundo, dona vassoura. Veja quanta coisa boa vocês fizeram, ao passo que o aspirador de pó não tem um currículo igual ao seu. Você ainda tem serventia.
E o pano de chão deu uma risadinha ao ouvir a voz da dona da casa dizendo para a empregada:

- Maria hoje nós vamos limpar o quarto das crianças.
- Sim senhora. Vou buscar o aspirador de pó.
- Não. Traga aquela vassoura que está atrás da porta do quartinho e o pano de chão que está pendurado no prego.
- O pano de chão muito alegre disse para a vassoura:
- Viu dona vassoura? A nossa serventia não termina nunca. Aspirador de pó não pode lavar o chão como você nem secá-lo como eu.

(Maria Hilda de J. Alão)

08/12/17

(Histórias que contava para o meu neto)

A Caixa Mágica (cordel)

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Sorvete, Sorvetão (parlendas)