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sábado, 27 de agosto de 2022

DONA BARATINHA VAI SE CASAR (poesia infantil)



Mimi, a baratinha,
Está querendo se casar.
Assobia, assobia
Chama o padre Zé Maria

Pro casamento realizar.
E depois pra festejar
Será preciso um fogueteiro
Pra foguete ele soltar.

E a música para animar?
Convide para cantar
A cantora popular
A baratinha Lucimar.

Comida não faltará,
Fome ninguém passará,
Além de almoço ajantarado
Haverá doce e salgado.

A baratinha já avisou
Que esforços não poupará
Pra trazer dois cozinheiros
Que conheceu em janeiro.

São dois baratões japoneses,
Famosos entre os franceses
Pelos pratos deliciosos
E os petiscos curiosos.

São os irmãos Sushi e Sashimi.
Sushi prepara o peixe e o shari
Pra Sashimi fazer o sushi
E com as sobras Sushi fará sashimi.

Haverá pastel de vento,
De Sushi o grande invento,
Preparado com talento
Pra servir no casamento.

E será uma confusão de “mi”
Os convidados gritando em mi:
“Seu” Sushi me dê sashimi!
“Seu” Sashimi me dê sushi!

23/05/08
(Maria Hilda de J. Alão)

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

A REVOLTA DO DICIONÁRIO (história infantil)

 



          Era noite. Na biblioteca da escola, em cima de uma mesa, estavam uma pilha de livros de gramática e um pesado dicionário. Na mesa, ao lado, um porta-lápis e várias réguas, tudo bem arrumadinho. Em frente das mesas ficavam as estantes com muitos livros. A estante preferida das crianças era a que guardava os livrinhos de história infantil. Essa ficava bem perto da mesa onde repousavam os livros de gramática e o dicionário. Silêncio total na vasta sala de leitura. A iluminação da rua, através das vidraças, lançava uma tênue claridade no ambiente. De repente um soluço. Um lápis, cuja cabeça era enfeitada com uma borracha vermelha, perguntou:

- Quem está chorando?

- É o dicionário. Ele está muito tristinho. – respondeu um dos livros de gramática.

- Qual é a razão do choro? – perguntou uma régua amarela muito curiosa.

- É por causa das crianças. – respondeu o livro de história infantil Branca de Neve lá do seu cantinho na estante em frente à mesa que abrigava o dicionário chorão.

- Mas as crianças cuidam bem de nós. Não vejo motivo para essa choradeira. – resmungou um dos livros de gramática.

- Não é isso, meu amigo! – exclamou o livrinho de história infantil. – É que as crianças, doravante, não precisarão dele e não mais o chamarão carinhosamente de “Pai dos Burros”.

- Ora, isso não acontecerá! Não será exagero da parte do dicionário? – questionou o livro de gramática da terceira série.

- Que nada, meu querido livrinho! Foi decretado que falar errado é o certo.

- Como assim? Perguntou assustado o livro de gramática da quarta série.

- Por exemplo: - começou a explicar o livrinho de história infantil. – de acordo com o decreto você pode falar: “nóis vai na praia”, “nóis pega o ônibus”, “nóis come os doce” que está tudo certo.

- Que coisa feia! Mas eu tenho certeza que as professoras não concordarão com esse absurdo, portanto a criança não se expressará dessa forma.

- As professoras não podem fazer nada. A ordem vem de cima, de gente que se diz entendida em português. Entendeu agora por que chora o dicionário? Ele sabe o destino dessas crianças, coitadas. Falar “nóis jogou bola depois da aula”, “as menina chegou atrasada na crasse” é como dar uma paulada na cabeça. – finalizou o livrinho de história infantil Branca de Neve.

O dicionário parou de soluçar e, fazendo um esforço grande devido ao seu peso, ergueu-se sobre a mesa e começou a discursar.

- Caros amigos, - começou ele revoltado, - nós, instrumentos de alfabetização, estamos fadados a desaparecer. Sim! Se o errado é o certo, o nosso prazo de validade já venceu, e material vencido vai para o lixo. Precisamos lutar a fim de que as crianças tenham um futuro digno. Que elas possam ser alfabetizadas com dignidade. Que saibam se expressar corretamente porque o idioma é a identidade de um povo.

Todos os livros, lápis e réguas da biblioteca aplaudiram calorosamente a fala do dicionário. Mas como em todo lugar sempre tem um engraçadinho, a biblioteca também tinha o seu. Um lápis de cor azul já descascado de tanto ser mordido pelas crianças:

- É isso aí, dicionário! – gritou entusiasmado. – falou pouco, claro e bonito. Ainda bem que você não usou as palavras difíceis que tem aí escondidinhas nas suas páginas, ah, ah, ah, ah.

Já era madrugada quando todos foram dormir. Antes de se acomodar para o merecido descanso, o lápis de cor azul, não se sabe como, conseguiu ficar de cabeça para cima e, com sua ponta fininha, escrever no papel que forrava a mesa:

- Abaixo a incompetência dos “filólogos”, tudo por um ensino digno. Ah, ah, ah, pensam que é só o dicionário chorão que sabe palavra difícil? Eu, lápis, também sei. Viram o que escrevi? Filóloooogoooooo. Gracinha!!!

25/05/11.
(histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de J. Alão)

 

A RAPOSA E O GALO CARIJÓ (história infantil)

 


        O dia ainda não havia raiado e uma raposa perambulava pelas redondezas de um terreiro quando viu, no galho de uma árvore, um galo carijó cantando bem alto, có,có, cocoricó. Ao ver aquela ave tão gorda e bonita, a raposa decidiu que o seu café da manhã seria aquele belo galo carijó. Ela sentou-se e, olhando para o galo pousado no galho, disse:
 
- Sua voz é maravilhosa! Quando entoa a nota dó parece um deus do Olimpo. E esse seu peito estufado, ah, lembra-me a figura de Apolo. Mas como eu sou meio surda, peço que desça dessa árvore e cante para mim e bem pertinho de mim.
O galo, que não era bobo nem nada, respondeu:

- Eu canto para despertar os homens. Canto para anunciar o raiar do dia. Se canto alto, aboletado no galho dessa árvore, é para que todos, sem exceção, ouçam a minha voz.

- Ora, seu galo carijó, os homens se queixam do barulho que você faz acordando a todos nas madrugadas frias. A mim você não incomoda, pelo contrário, eu aguardo ansiosa a madrugada só para ouvir sua bela voz de tenor. Vamos, desça! Venha cantar só pra mim!
Para responder à raposa, o galo entoou um canto que dizia:

- Có, có, cocoricó!
A raposa é muito esperta,
Mas o galo é muito mais
Voo rasante, pouso em galhos
Isso raposa não faz.

A raposa, fingindo-se de simpática e paciente, respondeu com versos que inventou na hora:

- Vamos galinho cantor
Neste terreiro brincar.
Teu canto em ré, mi, fá
Parece de um canário a trinar. 
Foi aí que o galo respondeu cantando muito alto:

- Có, có, cocoricó,
Dona raposa manhosa
Teu pelo é uma formosura,
Tua voz uma doçura,
Mas se eu daqui descer
Sei bem o que pode acontecer.

E o canto insistente do galo, acordou os cães da fazenda que, farejando a raposa, invadiram o terreiro pondo em fuga a invasora que queria ter como café da manhã o belo e gordo galo carijó.

30/06/11
(Histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de J. Alão)

domingo, 21 de agosto de 2022

História- A Revolta das Cenouras - 1° e 2°Ano-Prof° Letícia.


(História escrita por Maria Hilda de J. Alão e publicada no seu livro de histórias infantis: Dona Baratinha não Casou à pag. 12)

A Fábrica de Ovos de Páscoa - Adaptação da história de Maria Hilda de Je...



(História escrita por Maria Hilda de J. Alão, publicada no livro de histórias infantis da autora: A Princesa Sofia à pag. 37.)

O Gato que Queria ser Tigre [Vovó Miloka]


(História escrita por Maria Hilda de Jesus Alão e publicada no livro da autora "Os Bichos Contando suas Histórias" pag. 76)

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

A MISSÃO DO ANJO SERAFIM (história infantil)

 



                  Entre os anjos do céu havia um que se chamava Serafim e que era um anjo de primeira grandeza, mas, era meio da esquerda. Vivia fazendo brincadeiras com os amiguinhos. Puxava as trancinhas das anjinhas, prendia as asas dos outros anjos com pregadores transparentes, fazia “buuuuuuu” para assustar São Pedro, na portaria do céu, e colocava nuvens na Lua para apagar o brilho. Mas, mesmo sendo peralta, era muito querido do anjo Guardião, responsável pela ala em que viviam os anjos.

Um dia Deus chamou o Guardião à Sua sala. Os megafones do céu retumbaram:
- Atenção, senhor Guardião dos anjos, compareça à sala do Altíssimo!

Esse chamado foi repetido várias vezes. O Guardião tomou conhecimento. Arrumou a sua vestimenta, aprumou as asas, ajeitou a auréola de luz da sua cabeça, iluminou o rosto com um sorriso e lá se foi para a sala do Pai.

Chegou. A porta, entreaberta, mostrava o brilho da magnificência de Deus. Bateu timidamente. A voz grave veio lá de dentro:

- Entre, meu filho!

O Guardião entrou e viu na face do Pai toda a bondade, toda a placidez que existe no universo. Então ele disse:

- Pai, estou aguardando suas ordens!

O Pai o chamou para perto de si e, sorridente, cochichou algo ao seu ouvido. Depois disse enfático:

- Que se cumpra!

Enquanto isso, na ala dos anjos havia um forte burburinho. O que seria que Deus queria conversar com o anjo Guardião? Neste momento entra o Guardião, muito sério. - Crianças, o Senhor destinou uma tarefa para um de vocês. Não será fácil porque a tarefa não será no céu, será na Terra.

Ouviu-se, em uníssono, o “oh” dos anjos. Realmente será uma missão quase impossível. Humanos não são fáceis. E o anjo? Qual deles estava designado para essa tarefa? Mais uma vez, ouviu-se a voz do Guardião:

- O anjo escolhido por Deus é o anjo Serafim. – Nesse momento a falange fez: - “chiiiiiiiiiii!” - eles não botavam fé no pobre do Serafim. O Guardião continuou a falar:

- O anjo escolhido tem a missão de salvar as baleias dos mares da Terra e tem sete dias para fazer o trabalho.

Um anjo curioso perguntou:

- Por que Deus quer que sejam salvas as baleias?

- Porque elas fazem parte do equilíbrio do ecossistema do planeta. Cada animal, cada planta, cada macro e micro organismos são um elo da corrente. Rompido um elo, todo o sistema desaba. O ecossistema da Terra já está quase falido porque o homem não sabe cuidar da casa que Deus lhe deu.

E Serafim desceu para a Terra para cumprir sua missão. Assustou-se com o movimento de carros, tossiu com o ar poluído, viu a devastação das matas, a erosão do chão, tremeu diante da poluição das águas e até chorou quando viu a enormidade de lixo boiando em rios e mares. Já estava no terceiro dia. Partiu para o oceano para conhecer as baleias.
Ficou com o coração partido ao ver aqueles barcos com homens arpoando os enormes animais.

Ficou pairando no ar imaginado como ele, tão pequenino, poderia salvar aquele imenso animal, caçado por outro de menor porte. Já estava no sexto dia e ele ainda não sabia como fazer para salvar as baleias. Voltou para a terra. Ficou invisível no cais, vendo e ouvindo as pessoas. Foi neste momento que chegou um grupo indignado com aquela matança. - Veja, - dizia uma mulher – a baleia azul, a baleia orca e a cachalote, já tiveram diminuída a sua população nos oceanos. E ficaram contando as baleias mortas que eram descarregadas no cais.

Então Serafim teve uma ideia. Aproximou-se do grupo e soprou no ouvido de uma das pessoas, a ideia:

- Pessoal, já sei como vamos acabar com isso!

- Como? – perguntou um homem alto e forte.

- Vamos partir para o mar em barcos, botes, seja lá o que for, com megafones no último volume, ficaremos na frente do baleeiro e só sairemos quando eles desistirem. Se algum de nós morrer, será por uma causa justa. Vamos atrapalhar essa caçada.

E assim foi feito. Embora não tenham acabado, totalmente, com a mortandade de baleias, ela diminuiu um pouco. Foi muito trabalho. Muita luta com os países que defendem a pesca sem limites das baleias.

Isto aconteceu no sétimo dia da missão de Serafim. Feliz ele voltou para o céu. Toda a falange estava em festa. Tinha sido cumprida a ordem de Deus. O anjo Guardião entregou a medalha de “honra ao mérito” a Serafim, sob os aplausos de todos. Depois da recepção, o Guardião pegou Serafim pela mão e foi subindo com ele para a esfera mais alta do céu, onde habita o Pai, porque, a partir daquele instante, Serafim tornou-se um dos anjos que estão à direita de Deus.

(histórias que contava para o meu neto).
(Maria Hilda de J. Alão)

A LENDA DA HARPIA (lendas)

 


           Para o poeta grego Homero, o fundador da poesia épica nascido em local desconhecido presumidamente entre os séculos 11 e 7 a.C., apesar de sete cidades gregas reivindicarem tal honra, a harpia Celeno, ou Podargéia, uniu-se a Zéfiro para dar origem aos cavalos de Aquiles, que voam no ar com os ventos; já para os poetas alexandrinos (que polvilhavam sua poesia com explicações técnicas e científicas, com alusões sábias e observações eruditas que exigiam do leitor conhecimentos aprofundados para a sua compreensão) e também para os latinos, elas eram colocadas entre os gênios infernais, confundindo-se frequentemente com as Fúrias dos romanos, ou Erínias dos gregos, três divindades maléficas (as irmãs Alecto, Megera e Tisifone) que presidiam a todos os crimes. Mas as Harpias aparecem com maior destaque, sobretudo, nas lendas relacionadas com Fineu, rei da Trácia que se tornou cego por vontade de Zeus (Júpiter).

                  O mito principal dessas divindades confunde-se com a história de Fineu, sobre quem pesava a seguinte maldição: toda a comida que fosse colocada à sua frente seria carregada pelas Harpias, que inutilizavam com seus excrementos aquilo que não pudessem levar com elas. Segundo a versão mais conhecida, Fineu era o rei da Trácia, região histórica do sudeste da Europa, banhada, a leste, pelo mar Negro e pelo estreito do Bósforo; ao sudeste, pelo mar de Mármara; e ao sul, pelo estreito do Dardanelos e pelo mar Egeu.

               O soberano também era adivinho, mas por ter abusado das faculdades proféticas que possuía, acabou deixando Zeus (Júpiter) aborrecido, e por isso foi castigado com a perda da visão, passando a ser perseguido pelas Harpias. Estas cuidavam de lhe roubar a comida, ignorando os servos que tentavam afugentá-las, e quando o infeliz soberano já estava prestes a morrer de fome, os Argonautas chegaram ao seu reino e as venceram, deixando-as vivas diante da sua promessa de que não mais atormentariam o soberano, e de que se recolheriam a uma caverna na ilha de Creta.

Maria Hilda de J. Alão

terça-feira, 16 de agosto de 2022

A LANTERNA MÁGICA (história infantil)

Existiu um homem que era viajante. Vendedor de tralhas, ele só viajava à noite entre uma cidade e outra. Os amigos censuravam o hábito dizendo que as estradas eram perigosas e que ele poderia ser assaltado.

O homem, porém, não dava ouvidos aos conselhos. Dizia a todos que possuía uma lanterna mágica e com ela nunca ficaria na escuridão durante suas viagens. A lanterna mágica, segundo ele, iluminava quilômetros de estrada e nunca se apagava porque era abastecida com o melhor óleo do mundo. O óleo de baleia.

Depois de vender toda a mercadoria que trouxera, o homem se preparou para voltar para a sua cidade. Arrumou seus pertences em uma mala e, por baixo da roupa bem dobrada, ele colocou a bolsa com o dinheiro que ganhara vendendo as suas tralhas. Esperou a noite chegar. Despediu-se dos amigos e partiu levando a lanterna mágica que iluminava tudo.

Andou muito. Faltavam uns dois quilômetros para chegar a sua cidade quando começou uma forte ventania. Levantando a poeira da estrada e limitando a visualização do caminho, o vento apagou a lanterna mágica. O homem ficou desesperado. Logo se lembrou dos fósforos que carregava no bolso da calça.

Foi riscando e o vento apagando. Quando parecia que o vento tinha dado uma trégua, ele puxou o último palito de fósforo e riscou. Assim que aproximou a chama do fósforo da lanterna mágica, uma forte lufada de vento apagou o palito.

Preocupado, o homem tateou no escuro procurando um lugar para sentar e aguardar o dia amanhecer. Finalmente a manhã chegou. O vendedor olhou a sua volta procurando a mala com seus pertences e a bolsa de dinheiro. Não encontrou nada. Só a lanterna apagada que para ele mais perecia um mostrengo sem utilidade.

Então percebeu que durante a ventania ele fora roubado. Com esse acontecimento ele aprendeu duas lições: não existe magia para dominar a força da natureza e sensato é aquele que sabe ouvir conselhos. Assim ele voltou para casa com a lanterna mágica na mão e sem dinheiro no bolso.

(Histórias que contava para o meu neto)

(Maria Hilda de J. Alão)

A DOR DE DENTE DO URSO (história infantil)

 


Ai. Eu tenho um espinho no dente
Ai. Quem puder retirar que entre de sola
Ai. De frutos darei uma sacola,
Ai. Pra quem curar esta dor de dente.

Era assim que gemia um enorme urso marrom no meio da floresta. Os outros bichos tinham pena, porém não se arriscavam.

- Coitado! Queria muito ajudar, mas eu tenho medo porque sou tão pequeno e para alcançar o espinho preciso entrar em sua boca. – dizia um coelho branco.
- Eu também tenho medo, - disse uma anta – nunca se sabe o que pode um urso fazer. Ele já não come há dias. Sinto muito, mas não posso ajudar.
- Acho que desse jeito ele não vai parar de gemer. É certo não fazermos nada? – perguntou a raposa vermelha.

- Será que somos tão covardes? Como saber se o urso atacará quem o aliviar da torturante dor? – perguntou o leão de juba negra.

- Pelo sim ou pelo não, é melhor não arriscar. Se fosse você faria o quê? – perguntou a prudente coruja.

O leão não respondeu. O urso continuava a gemer com sua forte dor, quando chegou um caçador. Ao ver o urso, ele preparou a arma para atirar, mas percebeu que o animal gemia e não esboçou nenhum movimento de ataque. Alguma coisa estava fazendo aquele urso sofrer muito. O urso, deitado no chão, parecia não ter notado a presença do homem. Gemia e se contorcia muito. O caçador se aproximou medroso, e oculto por um tronco, olhou, e viu espetado na gengiva do urso um grande espinho. Saiu do seu esconderijo e chegando mais perto arriscou: ele pôs a mão na cabeça do urso. Nenhuma reação brusca. Neste instante um macaco exclamou:

- Meu Deus! – e cobriu os olhos com uma das mãos para não ver o urso atacar o homem. Silêncio total na mata. O caçador, devagar, mesmo tremendo abriu a boca do urso e com uma ferramenta, puxando de uma só vez, arrancou o espinho que causava tanta dor ao bicho. O animal soltou um urro que se ouviu muito além da floresta. Ficou ali, deitado, aliviado. Já não havia mais dor. O caçador, ainda receoso, acariciava a cabeça do urso. Em dado momento o urso se levantou. Ouviu-se, em uníssono, um “oh” de preocupação pela vida do homem. O vento parou e todos os bichos fecharam os olhos para não ver. Quando abriram, a cena era inusitada. Aquele enorme urso lambia, agradecido, o rosto do caçador. Depois, afastou-se silencioso para o meio da floresta. Então a bicharada explodiu em aplausos para o caçador, exaltando a sua coragem, a sua humanidade, a sua sabedoria e a sua fé. O caçador partiu emocionado, e depois desse acontecimento nunca mais caçou animal algum.

(histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de J. Alão)

A DISCUSSÃO DOS TALHERES (história infantil)

 

Garfo, faca e colher estavam numa gaveta discutindo um assunto sério: quem era o melhor
e o mais útil no mundo dos homens. A faca, vaidosa, dizia:
- Eu facilito a vida do homem. Corto coisas enormes que ele jamais poderia utilizar ou comer sem a minha ajuda.
O garfo, muito metido, disse com empáfia:
- Sem mim os homens teriam de usar os dedos para levarem os alimentos à boca, e como esquecem de lavar as mãos engoliriam tanta bactéria que teriam indigestão bacteriana.
- Você sabe por que o homem comia com os dedos?
- Não. – disse o garfo.
- Porque achavam que o alimento era sagrado e por isso devia ser comido com os dedos.
- Mas sem lavar as mãos, não é dona faca? Eu continuo dizendo que sou a ferramenta indispensável na mesa dos humanos.
A faca, nervosa, retrucou:
- Deixa de ser burro, garfo tonto. Garfo sem faca é o mesmo que relógio sem ponteiro, um não funciona sem o outro. Eu sou talher mais antigo da história! Fui feita de pedra e servia para a caça e defesa. Depois passei a ser feita de bronze, isso numa outra época.
- Eu sei, seu bobo enxerido, que o homem oriental usava pauzinho à guisa de garfo, feito de bambu e tinha um nome engraçado, hashi. Isso você não sabia. Sabia? Sei, também, que apesar de você ser antigo só chegou ao mundo ocidental no século XI, na Itália. Você foi criado pelos gregos e adotado no século VII pelo Império Bizantino.

Na Inglaterra, até o início do século XVII você era considerado utensílio efeminado.
- Não fale assim de mim, dona faca. – choramingou o garfo - Eu não sou efeminado. Eu nasci para facilitar, não para complicar. Eu sei tudo isso que você falou. Sei que ainda hoje, entre os orientais, permanece o uso dos pauzinhos. Com os pauzinhos o homem demorava muito tempo para comer. Cada vez que ele pegava uma porção para levar à boca, caía tudo de volta para o prato. Comigo não. Ele me enche de comida e eu atafulho a sua boca.
- Você, seu garfo, é malvado porque incita o homem a comer demais e muito rápido. O costume de comer muito e rápido é prejudicial à saúde. Os pauzinhos são uma forma de disciplinar a alimentação. Aos poucos e devagar. Com eles não se pode pegar um bolão de comida
.- Não adianta, dona faca, sem esse garfinho aqui o homem é nada vezes nada.
- Ora, não seja convencido! - exclamou a faca – às vezes você machuca a boca das pessoas.
- Ah, é!? E você que corta os dedos das crianças.
- Só das crianças desobedientes. Eu ouço sempre as mães dizendo:
- Crianças não brinquem com facas.
E o garfo exultante acrescentou:
- Viu, viu como eu sou mais útil do que você? Eu nunca ouvi uma mãe dizer: - Não peguem o garfo, crianças! Ah, ah, ah, eu sou bom demais!!!
- Pode rir seu bobo. – disse a faca amuada – o seu deboche não me atinge, porque eu sei que você também é perigoso nas mãos das crianças.
E a discussão continuou. A colher, que estava quietinha lá no seu cantinho, numa das divisões do porta-talher, interferiu:
- Dá licença!
- Pois não, dona colher – disse o garfo.
- Vocês estão nessa discussão boba de quem é melhor, quem é mais útil sem pensar que somos um conjunto. Deus permitiu que o homem tivesse a inspiração para nos criar e fazer de nós o pai, o filho e o espírito santo das cozinhas. Somos a tríade que facilita o trabalho de preparar e ingerir os alimentos. A minha história é meio nebulosa. Foram encontrados, em escavações, objetos semelhantes a mim, provavelmente, com mais de vinte mil anos. Sei que os gregos antigos utilizavam a colher de pau para preparar e comer os alimentos. Como vocês podem ver a minha história não é tão interessante quanto as suas. O que tenho certeza é que já fomos objetos rústicos, hoje somos mais modernos. Somos feitos de metal, plástico e madeira. Somos até joias feitas em ouro e prata. Mas a nossa função é a mesma, desde que surgimos na civilização: ajudar o homem na sua alimentação.
Nós somos a união, e a união faz a força. Lembrem-se que um é complemento do outro. E se é para se gabar de utilidade, eu quero fazer uma pergunta:
- Diante de um fumegante prato de sopa, quem é o mais útil? Ah, ah, ah, ah, peguei vocês.

(histórias que contava para o meu neto).

(Maria Hilda de J. Alão)

A DANÇA DA FADA AZUL (história infantil)

 


- Venham! Venham ver a Fada Azul! – gritava Maria Luiza, de seis anos, para seus dois irmãos menores, correndo na direção do jardim da casa.

- Eu não estou vendo nenhuma Fada Azul. – reclamou Serginho, o irmão de quatro anos.
- Eu também não! – exclamou, choramingando, Marcinho o outro irmão de apenas três anos.
- Ora! “É preciso usar os olhos da alma para tudo que não está visível”. Não é assim que
a vovó diz quando a gente pensa que não vê aquilo que muito se deseja? Então! Andem! Vamos fechar os olhos de fora e abrir, bem abertos, os olhos da alma para apreciar a beleza das flores deste jardim e assim estaremos preparados para receber a Fada Azul. Aspirem, com toda a força de seus pulmões, o ar e sintam o perfume das flores: huuum... sentiram?
- Eu senti, eu senti, maninha...! – gritou alvoroçado o Marcinho.
- Ponham a mão em forma de concha na orelha para ouvir melhor o canto dos passarinhos.
- Por que, maninha? – perguntou o Serginho.
- Porque se você ouvir bem o canto dos passarinhos, também ouvirá a voz da Fada Azul. – respondeu a menina.
- E precisa fazer tudo isto para ouvir a voz de uma fada?
- Vamos logo, deixa de tanta pergunta. – apressou ela.
E os três irmãos fecharam os olhos e ouviram os passarinhos, entre as árvores, entoando uma sinfonia de louvor à natureza. Depois de alguns minutos, Maria Luiza perguntou aos dois.
- Então? Ouviram os passarinhos?
- Eu ouvi, mas Fada Azul que é bom eu ainda não vi... – respondeu o Serginho fazendo cara de quem não acredita em nada.
Enquanto as crianças conversavam, algo acontecia no canteiro das hortênsias azuis, azuis como o céu de um conto de fadas. Um bando de fadinhas, todas vestidas de branco e de asas translúcidas, faziam um zunzum que terminou por chamar a atenção das crianças.
- Eu não disse! As fadas chegaram...! – exclamou Maria Luiza sorrindo feliz da vida. – Eu ouvi o barulho delas.
- Eu também... – confirmou o Marcinho.
- Eu também ouvi, parecia zumbido de abelha... – disse o Serginho rindo.
E o bando de fadinhas batia as asas sobre o canteiro de hortênsias declamando uma estrofe que assim dizia:

“Deus criou as flores: branca, amarela e azul,
E deu a todas agradáveis odores.
E, aos pássaros cantores,
O dom de cantar os amores
Em louvor a nossa rainha a Fada Azul.”

Terminada a declamação, aconteceu uma explosão de luz surgindo, deslumbrante, a Fada Azul. Trajava um finíssimo vestido azul salpicado de pedras preciosas, suas asas transparentes brilhavam a luz do sol como se fossem de cristal. No manto esvoaçante estavam bordadas, com o mais fino fio de ouro, as flores existentes no jardim da casa. As crianças estavam maravilhadas. Correram para o canteiro de hortênsias a fim de dar boas-vindas à fada que sorria para elas de braços abertos.
E ali, ao redor das hortênsias, a Fada Azul falou do seu mundo:
- O luar é furta-cores, a neblina é como um véu de noiva, as nuvens são camas macias para o descanso de fadas e elfos. O vento é só um sopro que não desarruma os cabelos. O sol é um grande espelho que reflete a inocência dos sonhos das crianças. A chuva é só um orvalho que dá de beber as plantas.
- Que mundo encantador! Eu posso ir até ele quando eu quiser? – perguntou o Marcinho.
- Meu mundo é de todas as crianças, e qualquer uma delas pode visitá-lo. Basta que tenha o coração puro e os olhos da alma bem abertos. – respondeu a fada, encostando a varinha mágica na cabeça do menino.
- Eu reparei que o seu manto é enfeitado com flores diferentes. Por que não tem hortênsia? – perguntou Maria Luiza.
- Querida, em meu manto eu carrego todas as flores da terra, mas as hortênsias, elas são do céu das fadas, assim como é o arco-íris de chocolate, os pássaros de alfenim, a tartaruga de jujuba e tantas outras personagens que se inventa na infância. Muitas vezes, ao olhar o céu, você vê tufos de nuvens que se parecem com hortênsias, saiba que aqueles tufos são as verdadeiras hortênsias e estas aqui - apontou a fada para o canteiro -, são cópias feitas pela mamãe Natureza. Entendeu, pequenina?
E girando no ar, começou a executar uma dança elegante, acompanhada pela música dos sininhos das fadinhas vestidas de branco. O pé da fada tocava as flores com tanta delicadeza que elas nem se moviam. Os passarinhos, pousados nos arbustos do jardim, abriram as asas e, juntando-as à frente, mais pareciam mãos postas em oração, as abelhas interromperam o seu trabalho, as formigas fizeram fileiras como um exército, tudo para assistirem a dança da Fada Azul.
No auge da dança, um bando de elfos, com roupa verde e gorro vermelho, saiu do meio das hortênsias lançando no ar o pólen das flores do jardim que se transformava em minúsculas estrelinhas coloridas. O espetáculo estava simplesmente divino.
As crianças, envolvidas pela magia da Fada Azul, só perceberam que já era tarde quando a mãe as chamou. O encanto foi quebrado e tudo desapareceu. Então os irmãos fizeram um pacto.
- Não contaremos a ninguém. Esse é o nosso segredo. – afirmou Maria Luiza.
- Ora, maninha! E quem iria acreditar na Fada Azul? As pessoas grandes não acreditam.
– disse o Serginho fazendo uma cara muito séria.
- Mas nós acreditamos. – respondeu a menina. E fazendo cócegas no irmão foi entrando, na maior alegria, para o jantar que já estava à mesa esperando por eles.

(histórias que contava para o meu neto.)
(Maria Hilda de Jesus Alão)

 

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

A CORRIDA DA LEBRE (cordel infantil)

 



No tempo em que bicho falava
Correu pela mata uma história,
Que ninguém acreditava,
De determinação e de glória
Era o lobo que os fatos contava

Para animais adultos e filhotes.
O silêncio, entre os ouvintes, reinava
Quando um leão de grande porte,
Interrompeu a narrativa
Exigindo do velho lobo

Que agilizasse a narração,
Pois ele não era bobo
E sabia da fama de mentiroso
Do lobo contador de casos.
- Amigo leão, não fique em alvoroço

Findarei a história dentro do prazo.
E retomou o lobo a falação
Cuidando em ser muito claro
No desenrolar da ação
Da lebre e seu preparo.

Contava a lebre para a tartaruga
Que ela treinava todo dia,
Simulando desesperada fuga,
Mesmo quando chovia
Subindo e descendo montanha,

Da olimpíada ela queria participar
Ser vencedora da campanha,
E a coroa de louro ganhar.
E continuou o lobo a dissertar
Sobre as façanhas da lebre atleta

Que corria, corria sem se cansar,
Vencer no Olimpo era a sua meta.
Chegou a época das disputas no Olimpo
E lá estava a lebre bem treinada
Ela sabia que ali se jogava limpo,

E que a qualquer deslize seria eliminada.
Continuou o velho lobo a contar:
Chegou o dia da maior corrida
A lebre pensou: vou abafar
Esta é a corrida da minha vida.

E foi dada a largada
Para a sonhada corrida.
A lebre bem preparada,
Hidratada e nutrida
Saiu em carreira desabalada,

Segundo ela, venceu o guepardo,
Fato que deixou incomodada
A onça amiga do leopardo
E foi realizado da lebre o sonho
A coroa de louro sua cabeça enfeitou

Deixando o guepardo tristonho,
Vendo perdido o que mais desejou.
Lobo, você é desprovido de memória,
Disse o leão coçando a juba com a unha,
A verdade verdadeira é contraditória,

Do fato eu fui testemunha.
Essa lebre atleta da sua história
Foi vencida pela tartaruga Vicência
Provando que pra se chegar à vitória
É preciso honestidade e persistência

E não usar de trapaça
Para vencer o adversário.
Calma e muita raça
Igual da tartaruga Vicência
Que enquanto dormia a lebre

Ela continuou a sua marcha
Chegando ao final vitoriosa
E a lebre que queria ser célebre
Saiu muito envergonhada
Ficando muito abalada,

Aprendeu a grande lição
Que é preciso abnegação
Caráter e muita honestidade
Em tudo que se faz na vida
Mesmo sendo celebridade
Para ser muito querida.

(histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de J. Alão)

 

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