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segunda-feira, 28 de março de 2022

OS PINGOS DE CHUVA (história)




Bem além da estratosfera, onde Deus guarda o relâmpago, o trovão, o vento e a água que evapora com o calor do sol, um santo estava concentrado fabricando chuva, porque recebeu pedidos das crianças da Terra, preocupadas com a seca destruindo tudo. Ele fazia pingo por pingo para formar a chuva e ia armazenando todos numa imensa caixa d’água. Depois de tudo pronto é só abrir as torneiras para cair a água abençoada.
O santo terminou o trabalho e, muito feliz, disse:
 
- Meus pinguinhos, está na hora de atender a todos os pedidos recebidos. Quero que cada um de vocês faça o seu trabalho corretamente. Não quero enchente, tudo deve ser calmo para não prejudicar as pessoas. Entenderam?
- Sim, meu santo. – responderam todos juntos.
O santo caminhou em torno da caixa d’água olhando atentamente para ver se não faltava nada, se todos os pingos de chuva estavam organizados para caírem um após o outro, quando ouviu um psiu. Virou-se e viu que quem chamava era um dos pingos do lado esquerdo da caixa d’água. Muito atencioso, o santo perguntou:
- Deseja alguma coisa?
- Sim, meu santo! Eu não quero ir. – disse o pingo timidamente.
- Por quê? – perguntou o santo.
- Veja a altura. Quando eu cair daqui, vou me esborrachar na terra. Eu gostaria de ser vapor, virar nuvem e ficar vagando pela atmosfera.
- Mas para que a chuva seja completa não pode faltar um pingo, compreende?
Pacientemente, o santo falou da importância da chuva, mas o pingo de chuva continuava irredutível. O santo, para não atrasar mais a entrega da chuva, pediu permissão ao Pai para mostrar ao pingo a situação da Terra. Dada a permissão, o santo abriu o portal do céu deixando ver todo o universo. Com um poderoso telescópio focalizou a Terra. Chamou o pingo de chuva e ordenou:
- Olhe para o planeta e veja como tudo está seco.
- É mesmo, meu santo. Veja aquele enorme país do continente americano. As regiões norte e nordeste tão ressequidas, o chão todo rachado, rios e lagos secos, os bichos com tanta sede e fome. Ah, meu santo, eu não aguento.
- Então, meu querido pingo de chuva, vai se unir aos seus companheiros?
- Sim, meu santo, mesmo que eu me caia dessa altura, eu me uno aos meus amigos. Pode dar a ordem.
E o santo ordenou:
- Ventos, avancem!
E começou a ventania na Terra. Vieram os raios e os trovões abrindo o caminho para a entrada triunfante da chuva. Ela caiu forte no chão seco. Era como se cada pingo dissesse um ao outro:
- Sai da frente que eu quero chegar primeiro.
 
As plantas pareciam bocas sedentas do precioso líquido. Os lagos eram como taças se enchendo de vinho puro até a borda. Os rios pareciam veias recebendo injeção de sangue novo. O chão se vestiu de verde. A atmosfera ficou transparente, limpa da poluição. E a terra exalou seu perfume para agradecer ao céu o milagre do renascimento que vem junto com os pingos de chuva.

(Maria Hilda de J. Alão.)

(histórias que contava para o meu neto)



MAMÃE (poesia)

 


Mamãe eu estou aqui
Com a cara suja de bolo
Para te dar um beijo e um abraço
Neste dia de muita alegria.

Não tenho presente de loja
Porque ainda sou pequenina,
Mas o meu coração é tão grande
Que cabe mamãe inteirinha.

Se eu fosse grande
Pegaria mamãe pela mão
E a levaria ao parque de diversão
Para brincar na roda gigante.

Depois iríamos até praça,
Comemorar esse dia de graça
Com pipoca, algodão doce
E um belo cachorro-quente.

Pular corda, brincar de roda,
Correr atrás do cachorro,
Subir correndo o morro
Para pegar a pipa que cai.

Depois uma brincadeira legal
Pentear os cabelos da boneca,
Fazer comidinha na caneca
Inventando um grande almoço

Para nós duas em alvoroço
E não te deixar lavar a louça.
Depois de tanta brincadeira
Alegres voltaríamos para casa

Eu te poria para dormir cantando:
- Dorme mãezinha do meu coração,
Que os anjos estão rezando
Pedindo a Jesus com devoção

Que te faça muito feliz.
Este seria o meu presente
Que daria a minha adorada mãezinha
Neste sagrado DIA DAS MÃES.

(Maria Hilda de J. Alão)

sexta-feira, 25 de março de 2022

O CÃOZINHO FELPUDO



No meu peito o coração batia,
De alegria as mãos eu contorcia
Em saber que a caixa continha
O presente da minha vida.

Era branco, macio e tão peludo,
Olhos vivos muito inquietos.
Farejava tudo, lambia tudo,
Era o meu cãozinho Felpudo

Cuidava dele com carinho.
Meu pai até fez um carrinho
Para eu levar ao parque
Aquela bolinha de pelos

Que atendia aos meus chorosos apelos
Quando no quarto de castigo eu estava,
Por traquinagem ou desobediência.
Ele vinha dócil e com sua paciência

Ouvia, silencioso, as minhas queixas,
Lambia as lágrimas do meu rosto
Como a dizer: pra quê desgosto?
O tempo leva tudo, nada deixa.

Quando do castigo mamãe me tirava
A alegria na casa reinava.
Eu corria, cantava e pulava corda
Acompanhando Felpudo pela borda

Da velha piscina de forma ovalada.
Depois mergulhávamos na água tratada,
E nadando de uma extremidade a outra
Apostávamos quem era o mais rápido.

Com uma toalha branca eu secava Felpudo
Penteava seu pelo com pente de tartaruga
Depois, com o espelho da vovó na mão,
Mostrava a sua carinha perguntando: Gostou?

De cinco hoje eu tenho dez anos,
E na alma uma esperança grande
De encontrar o meu cãozinho Felpudo
Levado por um velho barbudo.

19/01/07

(Maria Hilda de J. Alão)

segunda-feira, 21 de março de 2022

CANTO DE PÁSCOA (poesia)




Adulto: - Diz-me tu criancinha,
O que viste pelo caminho?

 

Criança: - Vi Jesus ressuscitado,

Tendo anjos por testemunhas,

Subindo ao céu numa nuvem,

Deixando pra nós a esperança

De sermos adultos melhores.

 

Adulto: - Feliz és tu, ó criança,

De olhos abençoados,

Tal é tua pureza d’alma

Que pra ti foi reservado

O espetáculo do milagre

De ver surgir das sombras

O filho de Deus poderoso.

 

Criança: - Glória ao cordeiro da paz!

Seja ele nosso companheiro

Nas brincadeiras com bonecas,

Ou nos jogos de bola na escola.

Ele será para nós a ponte firme

Para chegarmos ao outro lado

Do caminho que vamos percorrer,

Depois de passada a infância.

 

Cantemos todos em louvor

Ao nosso amigo Jesus

Neste lindo domingo de Páscoa,

Porque na nossa imaginação

Ele está com sua família,

Servindo ao Pai e a Mãe

O pão do seu grande amor.

Todos: - Feliz Páscoa!

 

03/04/07.

 

(Maria Hilda de J. Alão)

 


 

 

A FÁBRICA DE OVOS DE PÁSCOA (história)

 

 


Quando bateu meio-dia no relógio da fábrica de chocolate, os coelhos pararam o trabalho. Era hora do almoço. Foram todos para o refeitório comentando sobre a produção de ovos. Um dizia que estava atrasada, outro achava que estava até adiantada e que os ovos seriam entregue antes da data marcada.

 Depois do almoço retornaram ao trabalho. Religaram as máquinas e a principal, um tacho enorme que distribuía o chocolate derretido pelas fôrmas, não funcionou. Foi um alvoroço. E agora? Chamaram o coelho mecânico para reparar o defeito. Ele chegou e, com os óculos na ponta do nariz, franziu as sobrancelhas e fez “hum...hum”.

- Qual é o defeito?  Perguntou o coelho Záz-Trás, chefe da fábrica.

- Quebrou a peça que faz girar o tacho e não temos outra no almoxarifado para substituí-la. – respondeu o mecânico.

- Então a entrega dos ovos de páscoa será atrasada. Isso não pode acontecer. Meu Deus! Que decepção para as crianças! – dizia, andando pra lá e pra cá, o coelho chefe.

A notícia espalhou-se pelo mundo dos bichos. Todos correram até a fábrica para oferecer ajuda. Outra peça, para fazer o tacho funcionar, só depois da Páscoa. Os bichos se reuniram para encontrarem a solução do problema.

- Que tal escolher os bichos mais fortes para fazer girar o tacho gigante? – propôs o macaco Lelé.

- É mesmo! Boa ideia, Lelé! – exclamou uma coruja pousada no galho da árvore sob a qual a reunião acontecia. E continuando ela disse:

- Vejam, esses bichos fortes farão o trabalho da peça danificada. Será um pouco mais lento, mas é melhor que ficar todo mundo parado. Concordam?

- Aprovado, Sarita! Você é uma coruja muito sábia. – disse o coelho Zás-trás, andando pra lá e pra cá com as duas patinhas da frente nos bolsos do macacão.

- E que bichos são esses? – perguntou a avestruz Maricota, pondo as asas na cintura e abanando o rabo.

- Ora, bolas! Os elefantes! Quem mais poderia ser? – era o leão Jubinha quem falava com sua voz de trovão.

A proposta foi posta em votação sendo aprovada por unanimidade. Quem iria falar com o rei dos elefantes? E se era para falar com um rei, que tal um outro rei? E os bichos elegeram Jubinha o seu representante. O leão, acompanhado do seu exército, partiu para o território dos elefantes. Eles não podiam parar nem para comer senão a Páscoa ficaria sem os tradicionais ovos de chocolate.

Chegaram com o sol se escondendo no horizonte para dar lugar às estrelas e lua cheia.

 - Quem vem lá? – perguntou o elefante vigia dos portões do reino dos elefantes.

- É Jubinha, o rei dos leões. Preciso falar com o rei Trombino! É um assunto urgente. – respondeu o leão rei.

O vigia deixou seu posto e sumiu na escuridão. Minutos depois ele voltou e abriu o portão mandando que Jubinha entrasse com sua comitiva, acompanhando-os até a presença do enorme elefante marrom com uma coroa de marfim na cabeça.

- Que traz aqui o meu amigo rei Jubinha das terras dos leões vermelhos? – perguntou alegre o rei Trombino.

 - Majestade, um sério problema está acontecendo e os coelhos estão precisando da nossa ajuda. Da ajuda de todos. Por isso eu estou aqui.

E relatou o problema ao rei Trombino, sentado no enorme trono de ouro e marfim. Depois que Jubinha terminou de falar, o rei deu a ordem:

- Que se apresente o general das tropas terrestres!

E apareceu um elefante fortíssimo com as presas de marfim brilhantes curvadas para dentro. Tinha, realmente, um porte de general de potente exército.

 - Meu caro general Elefa, quero que escolha os melhores dos melhores soldados da tropa para uma missão importantíssima. – ordenou o rei Trombino.

- Majestade, que missão é esta? – perguntou curioso o general.

- Vamos ajudar a salvar a Páscoa das crianças. – respondeu o rei contando tudo ao general Elefa.

Feita a escolha dos soldados, partiram para a fábrica de ovos lá no coração da floresta de chocolate. Chegaram e logo em seguida pegaram no trabalho pesado. Ninguém reclamava. Os outros bichos revezavam-se entre embalar e colocar nas caixas a produção de ovos.

Os coelhos não sabiam como agradecer aos companheiros tanta solidariedade. Mas eles sabiam que cada ovo representava um ato de amor dos bichos pela raça humana.

- Ora, deixem os agradecimentos para as crianças. Aqueles sorrisos e aqueles gritinhos são as gratificações que esperamos. Nós estamos muito felizes em poder ajudar. Poder fazer a nossa parte neste nosso mundinho. Embora sejamos bichos imaginários e ainda por cima de chocolate, temos sentimentos. – disse o general Elefa piscando o olho para Jubinha e, aproveitando a saída da fôrma de um ovo de bom tamanho, pegou-o com a tromba e, glub, o engoliu rapidamente.

- E assim foi salva, naquele ano, a Páscoa das crianças pelos bichos que pensavam como gente e tinham atitudes de gente.

- Vovó, então esta história aconteceu na floresta de chocolate? – perguntou o menino para a sua avó.

- Sim, meu filho! Na páscoa tudo é de chocolate, até as histórias. – respondeu sorrindo a vovó que terminou a narrativa dizendo:

- Feliz Páscoa a todos e, em especial, para as crianças. Que elas cresçam felizes e solidárias como os bichos desta história e, como eles, façam a sua parte no mundo para que ele seja melhor. Que elas saibam que estão nos planos de Deus para fazer da Terra um paraíso.

 24/03/07.

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto)



sábado, 19 de março de 2022

O MENINO CANTOR (cordel infantil)

 


No tempo de Jesus na Terra
Viveu o menino Matheus Serra
Perambulando pelas vielas
E punha sebo nas canelas

Ao ver a brigada romana,
Que passava toda semana,
Recolhendo o imposto
Que causava desgosto

Ao povo de Jerusalém.
Matheus, não se sabia bem,
Se tinha pai, mãe ou irmão
Nem como perdeu uma mão.

Segundo os comerciantes
Foi em tarde de sol brilhante
Que o menino brincava
No moinho e tirou a trava

Da roda que fazia a moenda
Do moinho da velha fazenda
Girar para moer trigo e milho.
Foi aí que a mão do andarilho

Matheus ficou presa nos dentes
Da roda provocando o acidente.
O tempo passou e o menino,
Continuou, como era o seu destino,

Vagando por entre as tendas.
Correu um boato entre as vivendas
Que em Jerusalém, no dia seguinte,
Chegaria Jesus cuja presença era um acinte

Para o povo invasor de Jerusalém.
Chegou o dia e a expectativa foi além
Do esperado. Uma multidão seguia
O Mestre que acenava e sorria.

Matheus estava curioso e foi chegando
Perto do Mestre que continuava falando:
Deixai vir a mim as criancinhas
Por que elas são umas gracinhas

E eu as amos como meu Pai me ama.
E tendo na mão uma verde rama
O menino perguntou: Posso cantar?
O canto tem o dom de agradar.

Estava um falatório quando alguém gritou
E do meio da multidão vociferou:
Eu o proíbo de cantar: disse o soldado.
E se teimar será por mim fustigado.

Tremendo de medo o menino falava:
Quero cantar para o Mestre uma seresta.
Nenhum argumento ao soldado abalava.
Homenagem só a César em dia de festa.

O que pode cantar essa criatura sem mão?
Perguntou o soldado de corpete salmão.
Ao que respondeu o senhor Jesus:
Tudo com a graça do Pai que o conduz.

Levantando-se do seu assento na serra
Jesus pegou na mão de Matheus Serra:
Cante filho quero ouvir este instrumento
Que será neste dia o maior acontecimento.

A multidão alvoroçada calou-se.
Matheus diante de Cristo postou-se
E cantou com sua voz angelical
Uma belíssima canção celestial.

O Mestre de olhos cerrados e mãos postas,
Ouvia cada nota e letra compostas
Por aquele menino privado de uma mão
Mas com a graça de Deus no coração.

19/03/22

(Histórias que contava para o meu neto)

(Maria Hilda de J. Alão)



quarta-feira, 16 de março de 2022

O GATO DE COSTAS

 


Eu vou contar pra vocês
Uma história engraçada
De uma menina estudante
Que não sabia desenhar.

Nem árvore nem casa,
Tudo saía errado.
O pato tinha bico torto,
O cachorro três patas,

O papagaio parecia galinha,
O sol uma bola rasgada,
E na lua faltava um pedaço.
Ela ficava danada

Quando alguém dizia:
Você não desenha nada!
Então ela abria a maleta
Pegava a sua caneta

Fazia alguns garranchos,
E se perguntavam o que era
Ela dizia: são arcanjos.
Também desenhava bolas

E chamava de borboletas,
Com as asas em forma de argolas,
Depois cantava uma musiqueta
Sobre uma amarela borboleta.

Mas um dia um menino
Pediu à menina o favorzinho
De desenhar um lindo gatinho
Pra ele colar no seu caderninho.

Ela pediu um prazo,
E lhe entregaria sem atraso
O desenho encomendado.
Chegou o dia combinado,

Entregue foi o gato desenhado.
Que é isso - Perguntou o menino -
É um bujão de gás com bigodes?
Não é um gato nem um bode.

Ora, meu amiguinho,
Este é o meu melhor traçado.
Vamos fazer uma aposta?
Estou esperando a resposta!

Pergunte a quem passar
Se nessa rabiscaria
Alguém visualizaria
A figura de um gato.

O primeiro a passar respondeu:
Parece o mapa do inferno.
Não colocaria no meu caderno.
Assegurou o segundo.

A menina ficou triste,
Chorosa ela disse:
Tudo isso é doidice
Verdadeira paspalhice.

Será que ninguém pode ver
Desenhado nesta folha de papel,
Que num caderno será exposta,
Um lindo gato de costas?

14/01/11

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto)

 

terça-feira, 15 de março de 2022

MAIS VALE UM BOM EXEMPLO (cordel infantil)

 



Viveu, num tempo passado,
Um homem muito abastado
Casado e com uma filha,
Dono de fazendas de milho

E muito severo com a menina.
Dizia sempre para a criança:
- Guarde em sua lembrança:
Seja séria e honesta na vida

Para que não fique perdida
Nem pelo desgosto envolvida.
Mas esse pai tão dedicado
E pela criança adorado,

Na verdade não agia
Conforme o que era pregado
E remorso ele não sentia.
Foi em um dia de leilão
Que caiu e rolou pelo chão

A máscara de homem correto
Ao buscar ele vantagem
Cometeu uma picaretagem
Prejudicando outro fazendeiro,

Não tão rico quanto ele,
Fazendo-o perder dinheiro.
Tudo isso aconteceu
Na frente da filha que entendeu

Ser o pai um homem desonesto,
E o que ensinava não praticava.
Durante a viagem de volta
Disse o pai à decepcionada filha

- Seja honesta e não engane
Jamais o seu semelhante.
- Ora, meu pai, como eu poderei
Ser honesta e que futuro terei

Se o exemplo que hoje me deu
Apagou do cérebro meu
As palavras que sempre ouvi?
Preferia que nada dissesse

E que bons exemplos me desse
Para construir meu futuro.
O pai reconheceu o seu impuro
Modo de ensinar à filha

E o remorso era uma gargantilha
A lhe apertar o pescoço
E uma voz, em som estiloso,
Cantava dizendo ao seu ouvido:

“Mais vale plantar um bom exemplo
Do que semear trilhões de palavras
Ecoando em vazio templo,
Levadas pelo vento e pelo tempo.”

30/09/11

(Maria Hilda de J. Alão)
(Histórias que contava para o meu neto)

 

domingo, 13 de março de 2022

A FESTA DA GRAMÁTICA

 




Um dia dona Gramática resolveu dar uma grande festa. Queria reunir todos os membros da Língua Portuguesa. Convite feito, convite aceito. No dia marcado foram chegando os componentes da Fonética, da Morfologia, da Semântica, da Sintaxe e da Estilística e já foram formando seus grupos. Todos vestidos a caráter. Dona Gramática estava feliz com o evento. Como é bom ver os filhos reunidos em concordância.

O baile estava animadíssimo. O Ditongo dançava com a Divisão Silábica muito disputada pelo Tritongo e pelo Hiato. O Radical conversava com a Raiz enquanto observavam o animado jogo de palavras entre o Sinônimo e o Antônimo. A Conjunção, que havia bebido um pouco, não sabia se era coordenativa ou subordinativa, foi preciso a intervenção da Interjeição para acabar com a dúvida. O grupo das Vogais desafiava o das Consoantes.

O Substantivo estava numa dura queda de braço com Adjetivo, tudo num clima de amizade. O Artigo Masculino namorava, lá no cantinho escuro, com o Artigo Feminino que determina a palavra Felicidade para que ela seja eterna. A Derivação batia um papo com a Composição. Falavam das suas formações. A Derivação se acha importante porque é formada por sufixação, prefixação, parassíntese e derivação regressiva. A Composição também tem seu orgulho ora ela é justaposta, ora é aglutinada. A Oração Sem Sujeito fofocava com Oração Reduzida, o Objeto Direto deu uma rasteira no Agente da Passiva e saiu com a Regência Nominal em clima de Prosódia e Ortoépia. A Onomatopeia rodopiava pelo salão. O Eufemismo tentava suavizar as palavras para dizer à Hipérbole o quanto ela dança mal. O Pleonasmo dizia à Antítese que só acreditava naquela festa porque estava vendo com “seus próprios olhos”. A Reticência dava uma de cantora, mas era tão desafinada que o Cacófato veio correndo para calar “a boca dela”.

Lá pelas tantas, a Gramática ouviu um rumor parecido com uma discussão. Correu para o canto de onde vinha o alarido e chegou a tempo de ver e ouvir o Verbo gritando:

- Eu vou falar, eu quero falar.

A Gramática interferiu.

- Meu filho qual é o problema?

Nesse momento já havia parado a música e todos estavam aglomerados em torno da Gramática e do Verbo.

- Desde que eu cheguei nesta festa que ouço vocês contando vantagem. Um é isso, outro é aquilo. Porque um é melhor e o outro pior. Droga! Nós somos uma família. Pertencemos ao mesmo idioma, sendo assim um não pode ser melhor que o outro. Nenhum brilha mais que o outro.

Foi nesse momento que o Verbo Auxiliar aplaudiu:

- Bravo companheiro. É isso aí. Onde já se viu uma coisa dessas. Já pensou se cada elemento de um idioma começasse a dizer que é o tal? Seria uma Babel.

Todos ficaram calados. E o Verbo, muito nervoso, continuou a falar com sua potente voz:

- Senhores, nós somos um exército composto por soldados talhados na forma de palavras. Lutamos numa guerra eterna para não perder a nossa identidade, para não deixar o invasor nos assimilar e implantar o seu idioma. Apesar da nossa vigilância vem a infame influência e planta uma palavrinha aqui, outra ali e quando abrirmos os olhos já não haverá um idioma, somente um dialeto. É preciso ensinar as crianças, desde cedo, a amar a língua. Como fazer? Ensinando-as a falar e escrever corretamente.

- Vejam os erros de concordância nas redações, isso é só uma parte, sem contar a incompreensão de textos e outras coisas mais. Tudo isso por conta do mau ensino. E vocês ficam aí discutindo bagatelas.

O verbo sentou e chorou. Dona Gramática, pensativa, admitia o erro no ensino da língua.

A festa que começara animada voltou aos “tempos primitivos” e foi preciso um “Imperativo” na tentativa de restaurar a alegria. A orquestra de letrinhas, que parara de tocar, começou a recolher os instrumentos que estavam no chão. E para que não houvesse mais confusão o Sujeito subiu numa cadeira e gritou.

- Aí pessoal, vamos agitar porque essa festa não está mais “manera”, parece um cemitério, pô. Os “manos” vieram aqui dançar e levar um “lero” legal.

- Vejam que falei gírias, também uso a forma culta, isso foi só para mostrar como é belo esse idioma que tem palavras para designar qualquer coisa. Procurem por aí a palavra saudade, ninguém tem, só nós.  Tem mais pessoal, na festa da dona Gramática não há lugar para se discutir problema de ensino, aqui é o lugar da união de todos para formarmos um só corpo. Discutir ensino de gramática, isso é lá com “seu” Ministro.

Todos concordaram e o Sujeito saiu balançando o esqueleto pelo salão à procura de uma Flexão Adjetiva para um giro numa folha de caderno.

(Histórias que contava para o meu neto)

(Maria Hilda de J. Alão)

sexta-feira, 11 de março de 2022

UM GATO NO ESPELHO (história)



 Um gato, parado diante do espelho do quarto de sua dona, discutia com sua imagem refletida.

- Quem é você? Pensa que vai tomar o meu lugar nesta casa? Miauuurur! Aqui não vai ficar. Dormir no meu cestinho nem pensar.
Também não terá os carinhos da menina Lili. Pode sair! Já! Olha, eu já mandei! Sai daí valentão imitador! Miauuurur! Estou ficando nervoso. Olha só o meu pelo todo arrepiado.
O bichano, todo eriçado e com o corpo curvado, partiu para cima da imagem dando uma testada no espelho que doeu bastante. Como o outro bichano não saiu nem se abalou, ele resolveu desafiá-lo para um duelo.

- Não adianta ficar me imitando o tempo todo. Vamos duelar, briga de gato pra valer! Pode ser aqui ou no telhado. O vencedor fica na casa. Miauuurrur!
Uma aranha, que morava atrás da cortina do quarto, cansada de ouvir o falatório do gato, saiu e pendurada num fio de sua teia se pôs a apreciar o teatro que o gato fazia com sua imagem refletida no espelho. Estava engraçado. O gato pulava, arrepiava-se, miava, arreganhava os dentes para a imagem como se estivesse diante de um inimigo.

A princípio a aranha se divertiu. Um tempo depois ela já estava sentindo a agulhada de sua consciência que dizia: não ria da ignorância alheia. O gato não sabia que aquele outro gato era ele mesmo. Foi aí que ela tomou uma atitude correta.

- Olá amigo bichano! Por que está tão bravo assim?

- É que apareceu este gato estranho para tomar o meu lugar. – disse ele sacudindo o rabo com força fazendo uma careta para a imagem.

- Amigo, amigo! Este que você vê aí é você mesmo. O amigo está diante de um espelho. Veja, se eu esticar o meu fio mais um pouco eu vejo outra aranha que sou eu mesma.

- Dona aranha, mas que confusão é esta? – perguntou o bichano.

- Não tem confusão nenhuma. Veja! – e esticando o fio de sua teia, aranha apareceu no espelho gritando para o gato:

- Olha eu aí! Tá vendo? É a minha imagem. Eu não vou brigar com ela pensando que ela quer a minha casa. É isso amigo. É o seu reflexo no espelho.

- Então este sou eu...eu? Meu Deus! Não sabia que eu era assim! – perguntava de boca aberta o bichano.

- Claro! É você mesmo. – respondeu a aranha contente.

- Todos os gatos são iguais a mim? – quis saber.

- Não. Todos os animais são diferentes uns dos outros. Para dar um exemplo: tem gato todo branco, malhado, preto e branco, grande, pequeno e assim por diante. Isso vale para todos os seres existentes na natureza. Se tudo fosse igual, já imaginou o quanto monótono seria o mundo? – respondeu a aranha.

Então o gato, já mais calmo, começou a olhar mais atento para o espelho. Levantou a pata da frente, a imagem repetiu o gesto. Abriu a boca imitando um tigre, a imagem fez o mesmo. Ele gostou do que viu e disse para a aranha.

- Obrigado amiga aranha por ter me esclarecido. Eu nunca havia me visto num espelho, daí a minha ignorância.

- Adeus amigo bichano! Não fique muito tempo diante do espelho. - disse ela rindo e escalando, lentamente, o fio da teia para voltar a sua casa atrás da cortina do quarto.

Faça como a aranha. Não ria, esclareça.

10/10/07.

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto.)

O GATO DESAFIANDO O CÃO (Cordel Infantil)

 

Cansado de dormir o dia inteiro,
Numa fazenda do sertão mineiro,
Resolveu do nada o gato matreiro
Desafiar o cão tido como bagunceiro.

Foram para o meio do terreiro os dois,
Pulando por cima das cacas dos bois,
O gato pensando no que comeria depois
E o cão dizendo: gato bobo, ora pois.

Sentaram-se cada um em uma cadeira,
Com suas violinhas feitas de madeira,
Começando o desafio com uma zoeira
Que mais parecia serra de madeireira.

Para assistir a perigosa brincadeira
Veio o macaco trazendo uma bandeira,
A Coruja prateada que mora na aroeira
E Mimi, a velha gata alcoviteira.

O gato, dedilhando a desafinada viola,
Dizia que cão valente é coisa de gabola
Que ele, gato, é esperto e tudo controla
E quando ele rosna tem cão que rebola.

O cão respondeu: A mim você não enrola.
Por que disparas como tiro de pistola
Ao ouvir minha voz se descontrola
Entrando por aquela portinhola?

E foi pela noite adentro o desafio.
Todos cansados diziam ser desvario.
Quem é mais valente é papo sombrio
Essa cantilena está me dando calafrio,

Disse o macaco: não vejo benefício
Em continuar com esse desafio
Por que guardar esse ódio doentio
Que faz da alma um terreno baldio?

Abraçam-se o cão e o gato matreiro
E foi saindo o macaco todo lampeiro
Dizendo: volto feliz para o coqueiro
Pois acabei com aquele salseiro.

30/11/17

(Maria Hilda de J. Alão)
(histórias que contava para o meu neto)

 

segunda-feira, 7 de março de 2022

DOM RATÃO NA MANSÃO (cordel)



Chegou de mala e cuia Dom Ratão
Aos portões da nobre mansão,
E foi entrando cauteloso, sorrateiro,
Através do imenso terreiro.

Aproveitando a saída do cozinheiro,
Invadiu a cozinha como um guerreiro
Indo se entrincheirar lá no canto
Do armário que era um espanto

De tanta comida parecia um empório.
Ficou bem quietinho o finório
Esperando a noite chegar ao auge,
Pois é no silêncio que um rato age.

Dom Ratão cansado adormeceu.
Sonhou que o armário era só seu
Até convidou Ritinha, a sua ratinha,
Para saborear de tudo que tinha.

Sonhando Dom Ratão murmurava:
Sorte tamanha eu não esperava
Ritinha, minha linda, meu amor,
Sinta deste queijo o sabor.

De repente um som monstruoso
Acabou com o sonho dengoso
De Dom Ratão e da rata Ritinha.
Era Hércules, o gato, que vinha

Expulsar da cozinha o intruso.
Não, não ficarei confuso,
Preciso de um plano para escapar
Aqui não dá para eu morar.

Na primeira distração do gato ele saiu,
E em desabalada carreira se viu
Voltando para a casa pobre no escuro
Em cuja despensa só existe pão duro.

10/01/07

(Maria Hilda de J. Alão)
(Histórias que contava para o meu neto)

sábado, 5 de março de 2022

A ABELHINHA (infantil ecológica)

 

Abelhinha aonde tu vais?
Vou fabricar mel nos laranjais,
Lá nas nuvens espaciais,
Aqui tem gente demais

Devastando os mananciais.
Logo não haverá mais flores
Para exalar seus odores,
Nem pólen, néctar e cores,
Nem água para aliviar os calores,

Só tortura e muitas dores.
Verás a natureza em estertores,
Os bichos serão sofredores
Por causa de humanos traidores.


05/12/05.
(Maria Hilda de J. Alão)

DOM RATÃO NÃO GOSTA DE PÃO (cordel)


Sou um rato de fina classe
E não há ninguém que passe
A perna para me enganar.
Pão não é a minha praia,

Além de duro ele engorda
Quem mandou eu vir morar
Nesta casa de gente pobre.
Agora estou de malas prontas

De mudança para aquela mansão,
Ali em frente à casa do sacristão.
No armário tem queijo parmesão
Salame, toucinho e pastelão.

Não pensem que é no porão
Que vou morar, não senhores.
É num canto da larga cozinha,
Atrás do armário dos vinhos

Porque eu sou dom Ratão
Um rato de fino paladar.
Com tantas iguarias vou engordar,
Mas já pensei como a gordura evitar.

Farei do escorregador das crianças
Montanha pra minhas escaladas,
Da borda da piscina uma pista
Pra minhas noturnas caminhadas.

Vida como esta é tudo que desejo
Não me critiquem, pois mal não vejo,
Em querer comer do bom e do melhor,
Porque pão duro é o que há de pior.

09/01/07

(Maria Hilda de J. Alão)
(Histórias que contava para o meu neto)


quarta-feira, 2 de março de 2022

O RATO CAIPIRA (cordel infantil)

 

Eu vou contar pra vocês
A história de dois ratos
Que é a mais pura verdade:
Um vivia no campo
E outro na cidade.

O rato do campo convidou
O rato grã-fino da cidade
Para conhecer a sua casa
E viver um dia de felicidade
Fartando-se de comida boa.

Lá chegando o convidado
Ficou tão decepcionado
Com o banquete oferecido,
Pelo novo amigo, o rato caipira,
Só grãos e pão amanhecido.

Nada disse o convidado,
Mas resolveu que ia humilhar
Aquele rato caipira
Que não sabia recepcionar
Um rato chique da cidade.

Depois de muito mal comer
O rato chique convidou
O caipira que não rejeitou
Para juntos irem à cidade
Só assim o pobre saberia

O que é uma amizade
E também ser anfitrião
Oferecendo um banquetão
Com tudo que há de bom
Na cozinha de dona Zoraide.

Chegaram tarde os dois.
Na casa do rato chique
Tinha comida de todo jeito
Até queijo de Moçambique
Para comerem depois.

O rato caipira a tudo elogiava:
tudo é tão fairto, tão bão.
Mi adiscurpe amigão
Si li dei nacos de duro pão
Purque num sô chique cuma ocê.

Já se dispunham a comer
Quando um homenzarrão,
Com um pontapé, abriu a porta.
Os dois se puseram a correr
Para escapar da enorme bota.

Quando se fez silêncio,
Voltaram os dois amigos
Para a cozinha de Laurêncio,
Um cozinheiro antigo
Daquela nobre residência.

E o fato se repetiu:
Na mão uma vassoura
Laurêncio entrou grunhindo:
Onde tu estás rato atrevido?
Sei que trouxeste um amigo.

Aparece, pois tenho a vassoura
E com esta grande tesoura
Cortarei os teus bigodes.
Comigo tu não podes
Vou te ensinar a não roer,
Toda vez que eu abastecer
A despensa da cozinha,
Os alimentos caríssimos
Que só gente consome.

Vê se desaparece, some!
O pobre rato caipira tremia
Diante daquela situação.
Então ele disse ao rato chique:

Amigo, qui confusão
Pra ocê cumê um pedaço di pão!
Perfiru cumê grãus i pão duro
Na santa paz du sinhô
Du qui sê cuma ocê chique

Cumendo queijo di Moçambique
I ficar tremilicando
Toda veiz qui esse home
Entra fazeno um baruião.
Desse jeito ocê morri di fome.
Perfiru a simplicidade
A viver nessa fairtura cum medo.

Lá se foi o rato caipirinha
De volta ao seu amado campo
Onde vivia em fartura
Sem que nenhuma criatura
Aplicasse-lhe tanta tortura.

18/09/11
(Maria Hilda de J. Alão)
(histórias que contava para o meu neto)

 

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