Também não terá os carinhos da menina Lili. Pode sair! Já! Olha, eu já mandei! Sai daí valentão imitador! Miauuurur! Estou ficando nervoso. Olha só o meu pelo todo arrepiado.
O bichano, todo eriçado e com o corpo curvado, partiu para cima da imagem dando uma testada no espelho que doeu bastante. Como o outro bichano não saiu nem se abalou, ele resolveu desafiá-lo para um duelo.
- Não adianta ficar me imitando o tempo todo. Vamos duelar, briga de gato pra valer! Pode ser aqui ou no telhado. O vencedor fica na casa. Miauuurrur!
Uma aranha, que morava atrás da cortina do quarto, cansada de ouvir o falatório do gato, saiu e pendurada num fio de sua teia se pôs a apreciar o teatro que o gato fazia com sua imagem refletida no espelho. Estava engraçado. O gato pulava, arrepiava-se, miava, arreganhava os dentes para a imagem como se estivesse diante de um inimigo.
A princípio a aranha se divertiu. Um tempo depois ela já estava sentindo a agulhada de sua consciência que dizia: não ria da ignorância alheia. O gato não sabia que aquele outro gato era ele mesmo. Foi aí que ela tomou uma atitude correta.
- Olá amigo bichano! Por que está tão bravo assim?
- É que apareceu este gato estranho para tomar o meu lugar. – disse ele sacudindo o rabo com força fazendo uma careta para a imagem.
- Amigo, amigo! Este que você vê aí é você mesmo. O amigo está diante de um espelho. Veja, se eu esticar o meu fio mais um pouco eu vejo outra aranha que sou eu mesma.
- Dona aranha, mas que confusão é esta? – perguntou o bichano.
- Não tem confusão nenhuma. Veja! – e esticando o fio de sua teia, aranha apareceu no espelho gritando para o gato:
- Olha eu aí! Tá vendo? É a minha imagem. Eu não vou brigar com ela pensando que ela quer a minha casa. É isso amigo. É o seu reflexo no espelho.
- Então este sou eu...eu? Meu Deus! Não sabia que eu era assim! – perguntava de boca aberta o bichano.
- Claro! É você mesmo. – respondeu a aranha contente.
- Todos os gatos são iguais a mim? – quis saber.
- Não. Todos os animais são diferentes uns dos outros. Para dar um exemplo: tem gato todo branco, malhado, preto e branco, grande, pequeno e assim por diante. Isso vale para todos os seres existentes na natureza. Se tudo fosse igual, já imaginou o quanto monótono seria o mundo? – respondeu a aranha.
Então o gato, já mais calmo, começou a olhar mais atento para o espelho. Levantou a pata da frente, a imagem repetiu o gesto. Abriu a boca imitando um tigre, a imagem fez o mesmo. Ele gostou do que viu e disse para a aranha.
- Obrigado amiga aranha por ter me esclarecido. Eu nunca havia me visto num espelho, daí a minha ignorância.
- Adeus amigo bichano! Não fique muito tempo diante do espelho. - disse ela rindo e escalando, lentamente, o fio da teia para voltar a sua casa atrás da cortina do quarto.
Faça como a aranha. Não ria, esclareça.
10/10/07.
(Maria Hilda de J. Alão)
(histórias que contava para o meu neto.)
(histórias que contava para o meu neto.)
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