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segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

O PRESENTE DE PAPAI NOEL

 



Um quarto pobre mobiliado com móveis velhos. Em duas camas, duas meninas dormiam placidamente. Os olhos fechados se movimentavam. Estavam sonhando. 

A primeira menina tinha, entre os braços, bem apertadinha contra o peito, uma velha boneca de pano. A outra menina, da mesma forma que a primeira, abraçava um coelho tão surrado que já havia perdido uma das orelhas.  

É véspera de Natal. O sino da igrejinha bateu doze vezes. Hora da missa do galo. Tão profundo é o sono que as duas crianças não ouvem nem o sino da igreja nem os sininhos do trenó do Papai Noel apressado para entregar os presentes de todas as crianças do mundo.
Depois de algumas horas, novamente os sininhos do trenó soaram e ele aterrissou suavemente atrás da casa das meninas. Papai Noel desceu e, com dois pacotes nas mãos, circulou ao redor da casa a procura da chaminé para entrar. Como a casa era de gente muito pobre não havia lareira e se não havia lareira estava explicada a ausência de chaminé. 

Papai Noel parou e ficou olhando, procurando uma maneira de entrar na casa para deixar os presentes muito especiais. Papai Noel não bate nas portas.

Foi aí que surgiu a fada madrinha das duas irmãs. Com sua varinha de condão ela abriu, silenciosamente, a janela do quarto das meninas Luciana e Larissa. Papai Noel, sem fazer ruído algum, subiu e entrou. Depositou os presentes, um ao lado de cada cama. Depois posou de leve a mão na cabeça de Luciana e disse alguma coisa que não deu para ouvir. Agradecendo a ajuda da fada, Papai Noel subiu no trenó e partiu para terminar seu trabalho. Ainda havia muito presente para ser entregue.

O dia clareou. Luciana, oito anos, e Larissa, seis anos, acordaram:

- Bom dia, maninha! – disse a irmã mais velha para a mais nova que bocejando retribuiu a saudação.
Saltaram da cama e quase pisaram nos presentes deixados pelo Papai Noel. Ao verem os pacotes elas gritaram com toda alegria de seus coraçõezinhos:

- Ele veio, ele veio.

Depois sentaram na cama, cada uma com seu pacote. Abriram.  Com os olhos brilhantes e arregalados de tanta felicidade, elas murmuravam baixinho:

- É a boneca... é a boneca...

Como Papai Noel soubera do desejo das irmãs? Elas não escreveram para ele como faziam as crianças ricas do reino. Elas nem sabiam ler e escrever!  Fora só um pedido feito em pensamento quando uma estrela caía do firmamento. Era um pedido secreto, ninguém podia saber. O quarto, naquela manhã de Natal, estava diferente. Parecia mais iluminado que de costume. Um perfume suave impregnava o ambiente.

Depois de arrumarem as camas, as duas foram ter com os pais levando os seus presentes de Natal:
- Mamãe e papai vejam as lindas bonecas que o Papai Noel deixou para nós.

E mostravam, sacudindo, as bonecas de pano novinhas e feitas com esmero. Pai e mãe abraçaram as meninas e, numa prece, agradeceram a dádiva.

Depois do almoço de Natal, como era de costume, vestindo suas melhores roupas, a família partiu para a visita anual ao hospital infantil.  As famílias mais abastadas levavam presentes para os pequenos doentes. As mais pobres e sem recursos para comprar presentes, faziam algo melhor que qualquer presente do mundo. Elas iam de quarto em quarto conversando com as crianças, contavam histórias e todos interagiam com os personagens. Cantavam e simulavam dançar segurando as mãozinhas sem que fosse preciso o doentinho sair do leito.
Foi em um desses quartos que Luciana e Larissa encontraram a pequena Mariana. As duas entraram e logo estavam as três brincando com aquelas esplêndidas bonecas de pano.  As enfermeiras ficaram surpresas com a melhora de Mariana. Ela não falava nem ria desde que ali chegara. A forte pneumonia a deixara muito fraca, sem forças para nada. Foi uma tarde maravilhosa. Eram quase seis horas quando uma das enfermeiras anunciou o término da visita.

  Antes de deixarem o quarto de Mariana, Luciana perguntou:

- Que presente você ganhou?

- Não ganhei nada. Sempre foi assim. Entra Natal e sai Natal e eu fico sem presente. Meu pai disse que é porque somos pobres. – respondeu a menina de sete anos, cujos pais trabalhavam na lavoura do rei ganhando quase nada.

As duas irmãs ficaram emocionadas, por pouco não chegaram às lágrimas. Disfarçaram para que a outra não percebesse e foram atrás dos pais que as esperavam ao final do longo corredor do hospital. As duas irmãs falaram baixinho com os pais. Depois voltaram apressadas para o quarto de Mariana. Só Luciana entrou. A menina dormia tranquila. Com todo o cuidado para não acordá-la, Luciana colocou a sua boneca de pano entre os braços da doente e foi saindo fechando a porta de mansinho. Segurando a mão de Larissa, que ficara do lado de fora do quarto, correram felizes para os pais. Ao chegarem a sua casa, a irmãzinha mais nova disse:

- Maninha! O que é meu é seu. Nós repartiremos tudo, até a boneca.

A fada madrinha que acompanhava todo o desenrolar da história, abençoando as duas meninas disse:

- Ninguém é tão pobre que não possa dar nada.

 
(Histórias que contava para o meu neto)

 (Maria Hilda de J. Alão)

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