Todas as noites uma fada ficava um tempão olhando para o céu. Sentada numa árvore ela contava as estrelas, observava as constelações, a estrela polar, o cruzeiro do sul e todas as estrelas que seus olhos mágicos podiam ver. Ficava maravilhada. Como é lindo! O espaço, para ela, era como um imenso veludo negro bordado com faiscantes diamantes. Um sonho.
Desejava poder viajar por este espaço
levando a varinha de condão para fazer suas mágicas: saltar de estrela para
estrela do jeito que se pula a amarelinha; unir estrelas com um traço para
formar variados desenhos; fazer aparecer uma ponte ligando a Terra à Lua e
levar sua casinha de vitória-régia para passar férias. Mas na Lua não existe
água! Não tem importância, com a varinha mágica ela riscaria o solo e nasceria
um belo rio. Estava concentrada nesses pensamentos quando uma vozinha a
despertou:
- Sonhar é bom; com o possível é melhor
ainda.
Era o velho sapo que vivia na margem do
rio, e que, há muito tempo, vinha observando a fada sonhadora.
- Tens razão, mas sonhos possíveis e
impossíveis fazem parte de mim. Por acaso não conheces as histórias de fadas,
gnomos e outros seres imaginários? – perguntou ela.
- Conheço. Nesta minha longa vida eu já
vi de tudo, mas o que eu quero dizer é que não se deve olhar só para cima.
Experimente olhar para baixo, a beleza lá do alto está refletida aqui de forma
diferente. Já prestou atenção no beija-flor; na orquídea; na vitória-régia onde
você mora; no rio que serpenteia o verde da mata? Você não precisa viajar para o
espaço a fim de realizar seu sonho. Veja as águas plácidas do rio!
A fadinha olhou e viu refletido, no
espelho da água, o céu com toda a sua maravilha. Bateu suas asinhas de libélula
e voou sobre a água ouvindo o sapo que dizia:
- Vamos menina, faça a sua mágica. Use a
varinha de condão para viajar da forma que sonhou. Você tem aí o universo a sua
disposição. Voe, salte, corra.
Ela voava e cantava, pulando de estrela
para estrela sem tocar a água. Era o seu jogo da amarelinha. Fazia traços no
ar, com a varinha, como se estivesse unindo as estrelas. A ela se juntaram
todos os pirilampos e o rio tornou-se encantado com a magia das luzes do céu e
da terra.
A alegria da fada e a luz dos pirilampos
despertaram os bichos que se propuseram a divinizar a viagem da fadinha pelo
universo que corria com as águas. Formou-se um afinado coral entoando a
sinfonia da natureza. As árvores emocionadas choravam lágrimas de sereno que
caiam no rio formando pequenos círculos, e os peixes não nadavam para não
quebrar o encanto da cena. O canto prosseguia e cada nota emitida era uma nave
espacial levando os sonhos da fadinha e de todos os viventes que, de uma forma
ou de outra, passam algum tempo com os olhos pregados no céu tentando decifrar
o mistério das estrelas.
11/05/06.
(Histórias que contava para o meu neto)
(Maria
Hilda de J. Alão)
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