A argumentação da mulher não adiantou. O homem embrenhou-se no mato em busca do cervo gordo para o jantar. Quando estava perto do território dos cervos ele avistou um, jovem e gordo, pastando despreocupadamente. O caçador afastou-se para preparar o arco e a flecha. Foi andando para trás sem prestar atenção ao terreno onde pisava. Parou. Preparou o arco e flecha, apontou e, ao dar mais um passo para trás, caiu em um buraco fundo. E agora? Como sair dali? Gritar não adiantava, estava muito longe de sua casa. Sem saber que atitude tomar, ele sentou-se no chão olhando para cima. Só via as copas das árvores antigas e um pedacinho do céu. Estava frio demais naquele buraco. As horas foram passando e nada. Não ouvia passos de gente nem barulho de animais. Lembrou-se das palavras da esposa. Ah! Se ele tivesse ouvido não estaria naquela estranha situação.
Para surpresa do caçador, o macaco começou a puxar os cipós, emaranhados entre os galhos da enorme árvore, e foi jogando todos para baixo. Um dos cipós caiu no buraco e por mais que o homem se esticasse não consegui alcançá-lo. Que desespero! O macaco continuava lá, no alto da árvore, olhando o esforço do caçador para sair da situação perigosa em que se metera. De repente o animal desceu da árvore fazendo muito barulho e desapareceu. O caçador sentou-se e chorou. Chorou muito. Era o primeiro natal que passaria longe da família e o pior é que não tinha como avisar ninguém.
O dia já estava chegando ao final. Um forte barulho alertou o caçador. Rapidamente ele ficou em pé e pediu fervorosamente, “Deus, salve a minha vida...”, ao ver, na borda do buraco, uma grande pedra prestes a rolar para dentro e mais surpreso ficou ao ver que o macaco guinchava como se quisesse dizer alguma coisa e fazia força empurrando a pedra para dentro do buraco. O caçador encostou-se na parede e fechou os olhos com força imaginando o impacto da pedra nas suas pernas. A pedra caiu quase tocando seus pés. Ele abriu os olhos e o macaco estava lá pulando e guinchando muito alto parecia dar instruções. O homem levou uns bons minutos para entender. Depois, mais calmo, foi empurrando a pedra para o canto onde o cipó, jogado pelo macaco, estava pendurado. Subindo na pedra e usando toda a sua força para dar um salto ele alcançou o cipó saindo do buraco no momento em que começava a escurecer.
(Maria Hilda de J, Alão)
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