Powered By Blogger

segunda-feira, 21 de março de 2022

CANTO DE PÁSCOA (poesia)




Adulto: - Diz-me tu criancinha,
O que viste pelo caminho?

 

Criança: - Vi Jesus ressuscitado,

Tendo anjos por testemunhas,

Subindo ao céu numa nuvem,

Deixando pra nós a esperança

De sermos adultos melhores.

 

Adulto: - Feliz és tu, ó criança,

De olhos abençoados,

Tal é tua pureza d’alma

Que pra ti foi reservado

O espetáculo do milagre

De ver surgir das sombras

O filho de Deus poderoso.

 

Criança: - Glória ao cordeiro da paz!

Seja ele nosso companheiro

Nas brincadeiras com bonecas,

Ou nos jogos de bola na escola.

Ele será para nós a ponte firme

Para chegarmos ao outro lado

Do caminho que vamos percorrer,

Depois de passada a infância.

 

Cantemos todos em louvor

Ao nosso amigo Jesus

Neste lindo domingo de Páscoa,

Porque na nossa imaginação

Ele está com sua família,

Servindo ao Pai e a Mãe

O pão do seu grande amor.

Todos: - Feliz Páscoa!

 

03/04/07.

 

(Maria Hilda de J. Alão)

 


 

 

A FÁBRICA DE OVOS DE PÁSCOA (história)

 

 


Quando bateu meio-dia no relógio da fábrica de chocolate, os coelhos pararam o trabalho. Era hora do almoço. Foram todos para o refeitório comentando sobre a produção de ovos. Um dizia que estava atrasada, outro achava que estava até adiantada e que os ovos seriam entregue antes da data marcada.

 Depois do almoço retornaram ao trabalho. Religaram as máquinas e a principal, um tacho enorme que distribuía o chocolate derretido pelas fôrmas, não funcionou. Foi um alvoroço. E agora? Chamaram o coelho mecânico para reparar o defeito. Ele chegou e, com os óculos na ponta do nariz, franziu as sobrancelhas e fez “hum...hum”.

- Qual é o defeito?  Perguntou o coelho Záz-Trás, chefe da fábrica.

- Quebrou a peça que faz girar o tacho e não temos outra no almoxarifado para substituí-la. – respondeu o mecânico.

- Então a entrega dos ovos de páscoa será atrasada. Isso não pode acontecer. Meu Deus! Que decepção para as crianças! – dizia, andando pra lá e pra cá, o coelho chefe.

A notícia espalhou-se pelo mundo dos bichos. Todos correram até a fábrica para oferecer ajuda. Outra peça, para fazer o tacho funcionar, só depois da Páscoa. Os bichos se reuniram para encontrarem a solução do problema.

- Que tal escolher os bichos mais fortes para fazer girar o tacho gigante? – propôs o macaco Lelé.

- É mesmo! Boa ideia, Lelé! – exclamou uma coruja pousada no galho da árvore sob a qual a reunião acontecia. E continuando ela disse:

- Vejam, esses bichos fortes farão o trabalho da peça danificada. Será um pouco mais lento, mas é melhor que ficar todo mundo parado. Concordam?

- Aprovado, Sarita! Você é uma coruja muito sábia. – disse o coelho Zás-trás, andando pra lá e pra cá com as duas patinhas da frente nos bolsos do macacão.

- E que bichos são esses? – perguntou a avestruz Maricota, pondo as asas na cintura e abanando o rabo.

- Ora, bolas! Os elefantes! Quem mais poderia ser? – era o leão Jubinha quem falava com sua voz de trovão.

A proposta foi posta em votação sendo aprovada por unanimidade. Quem iria falar com o rei dos elefantes? E se era para falar com um rei, que tal um outro rei? E os bichos elegeram Jubinha o seu representante. O leão, acompanhado do seu exército, partiu para o território dos elefantes. Eles não podiam parar nem para comer senão a Páscoa ficaria sem os tradicionais ovos de chocolate.

Chegaram com o sol se escondendo no horizonte para dar lugar às estrelas e lua cheia.

 - Quem vem lá? – perguntou o elefante vigia dos portões do reino dos elefantes.

- É Jubinha, o rei dos leões. Preciso falar com o rei Trombino! É um assunto urgente. – respondeu o leão rei.

O vigia deixou seu posto e sumiu na escuridão. Minutos depois ele voltou e abriu o portão mandando que Jubinha entrasse com sua comitiva, acompanhando-os até a presença do enorme elefante marrom com uma coroa de marfim na cabeça.

- Que traz aqui o meu amigo rei Jubinha das terras dos leões vermelhos? – perguntou alegre o rei Trombino.

 - Majestade, um sério problema está acontecendo e os coelhos estão precisando da nossa ajuda. Da ajuda de todos. Por isso eu estou aqui.

E relatou o problema ao rei Trombino, sentado no enorme trono de ouro e marfim. Depois que Jubinha terminou de falar, o rei deu a ordem:

- Que se apresente o general das tropas terrestres!

E apareceu um elefante fortíssimo com as presas de marfim brilhantes curvadas para dentro. Tinha, realmente, um porte de general de potente exército.

 - Meu caro general Elefa, quero que escolha os melhores dos melhores soldados da tropa para uma missão importantíssima. – ordenou o rei Trombino.

- Majestade, que missão é esta? – perguntou curioso o general.

- Vamos ajudar a salvar a Páscoa das crianças. – respondeu o rei contando tudo ao general Elefa.

Feita a escolha dos soldados, partiram para a fábrica de ovos lá no coração da floresta de chocolate. Chegaram e logo em seguida pegaram no trabalho pesado. Ninguém reclamava. Os outros bichos revezavam-se entre embalar e colocar nas caixas a produção de ovos.

Os coelhos não sabiam como agradecer aos companheiros tanta solidariedade. Mas eles sabiam que cada ovo representava um ato de amor dos bichos pela raça humana.

- Ora, deixem os agradecimentos para as crianças. Aqueles sorrisos e aqueles gritinhos são as gratificações que esperamos. Nós estamos muito felizes em poder ajudar. Poder fazer a nossa parte neste nosso mundinho. Embora sejamos bichos imaginários e ainda por cima de chocolate, temos sentimentos. – disse o general Elefa piscando o olho para Jubinha e, aproveitando a saída da fôrma de um ovo de bom tamanho, pegou-o com a tromba e, glub, o engoliu rapidamente.

- E assim foi salva, naquele ano, a Páscoa das crianças pelos bichos que pensavam como gente e tinham atitudes de gente.

- Vovó, então esta história aconteceu na floresta de chocolate? – perguntou o menino para a sua avó.

- Sim, meu filho! Na páscoa tudo é de chocolate, até as histórias. – respondeu sorrindo a vovó que terminou a narrativa dizendo:

- Feliz Páscoa a todos e, em especial, para as crianças. Que elas cresçam felizes e solidárias como os bichos desta história e, como eles, façam a sua parte no mundo para que ele seja melhor. Que elas saibam que estão nos planos de Deus para fazer da Terra um paraíso.

 24/03/07.

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto)



sábado, 19 de março de 2022

O MENINO CANTOR (cordel infantil)

 


No tempo de Jesus na Terra
Viveu o menino Matheus Serra
Perambulando pelas vielas
E punha sebo nas canelas

Ao ver a brigada romana,
Que passava toda semana,
Recolhendo o imposto
Que causava desgosto

Ao povo de Jerusalém.
Matheus, não se sabia bem,
Se tinha pai, mãe ou irmão
Nem como perdeu uma mão.

Segundo os comerciantes
Foi em tarde de sol brilhante
Que o menino brincava
No moinho e tirou a trava

Da roda que fazia a moenda
Do moinho da velha fazenda
Girar para moer trigo e milho.
Foi aí que a mão do andarilho

Matheus ficou presa nos dentes
Da roda provocando o acidente.
O tempo passou e o menino,
Continuou, como era o seu destino,

Vagando por entre as tendas.
Correu um boato entre as vivendas
Que em Jerusalém, no dia seguinte,
Chegaria Jesus cuja presença era um acinte

Para o povo invasor de Jerusalém.
Chegou o dia e a expectativa foi além
Do esperado. Uma multidão seguia
O Mestre que acenava e sorria.

Matheus estava curioso e foi chegando
Perto do Mestre que continuava falando:
Deixai vir a mim as criancinhas
Por que elas são umas gracinhas

E eu as amos como meu Pai me ama.
E tendo na mão uma verde rama
O menino perguntou: Posso cantar?
O canto tem o dom de agradar.

Estava um falatório quando alguém gritou
E do meio da multidão vociferou:
Eu o proíbo de cantar: disse o soldado.
E se teimar será por mim fustigado.

Tremendo de medo o menino falava:
Quero cantar para o Mestre uma seresta.
Nenhum argumento ao soldado abalava.
Homenagem só a César em dia de festa.

O que pode cantar essa criatura sem mão?
Perguntou o soldado de corpete salmão.
Ao que respondeu o senhor Jesus:
Tudo com a graça do Pai que o conduz.

Levantando-se do seu assento na serra
Jesus pegou na mão de Matheus Serra:
Cante filho quero ouvir este instrumento
Que será neste dia o maior acontecimento.

A multidão alvoroçada calou-se.
Matheus diante de Cristo postou-se
E cantou com sua voz angelical
Uma belíssima canção celestial.

O Mestre de olhos cerrados e mãos postas,
Ouvia cada nota e letra compostas
Por aquele menino privado de uma mão
Mas com a graça de Deus no coração.

19/03/22

(Histórias que contava para o meu neto)

(Maria Hilda de J. Alão)



quarta-feira, 16 de março de 2022

O GATO DE COSTAS

 


Eu vou contar pra vocês
Uma história engraçada
De uma menina estudante
Que não sabia desenhar.

Nem árvore nem casa,
Tudo saía errado.
O pato tinha bico torto,
O cachorro três patas,

O papagaio parecia galinha,
O sol uma bola rasgada,
E na lua faltava um pedaço.
Ela ficava danada

Quando alguém dizia:
Você não desenha nada!
Então ela abria a maleta
Pegava a sua caneta

Fazia alguns garranchos,
E se perguntavam o que era
Ela dizia: são arcanjos.
Também desenhava bolas

E chamava de borboletas,
Com as asas em forma de argolas,
Depois cantava uma musiqueta
Sobre uma amarela borboleta.

Mas um dia um menino
Pediu à menina o favorzinho
De desenhar um lindo gatinho
Pra ele colar no seu caderninho.

Ela pediu um prazo,
E lhe entregaria sem atraso
O desenho encomendado.
Chegou o dia combinado,

Entregue foi o gato desenhado.
Que é isso - Perguntou o menino -
É um bujão de gás com bigodes?
Não é um gato nem um bode.

Ora, meu amiguinho,
Este é o meu melhor traçado.
Vamos fazer uma aposta?
Estou esperando a resposta!

Pergunte a quem passar
Se nessa rabiscaria
Alguém visualizaria
A figura de um gato.

O primeiro a passar respondeu:
Parece o mapa do inferno.
Não colocaria no meu caderno.
Assegurou o segundo.

A menina ficou triste,
Chorosa ela disse:
Tudo isso é doidice
Verdadeira paspalhice.

Será que ninguém pode ver
Desenhado nesta folha de papel,
Que num caderno será exposta,
Um lindo gato de costas?

14/01/11

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto)

 

terça-feira, 15 de março de 2022

MAIS VALE UM BOM EXEMPLO (cordel infantil)

 



Viveu, num tempo passado,
Um homem muito abastado
Casado e com uma filha,
Dono de fazendas de milho

E muito severo com a menina.
Dizia sempre para a criança:
- Guarde em sua lembrança:
Seja séria e honesta na vida

Para que não fique perdida
Nem pelo desgosto envolvida.
Mas esse pai tão dedicado
E pela criança adorado,

Na verdade não agia
Conforme o que era pregado
E remorso ele não sentia.
Foi em um dia de leilão
Que caiu e rolou pelo chão

A máscara de homem correto
Ao buscar ele vantagem
Cometeu uma picaretagem
Prejudicando outro fazendeiro,

Não tão rico quanto ele,
Fazendo-o perder dinheiro.
Tudo isso aconteceu
Na frente da filha que entendeu

Ser o pai um homem desonesto,
E o que ensinava não praticava.
Durante a viagem de volta
Disse o pai à decepcionada filha

- Seja honesta e não engane
Jamais o seu semelhante.
- Ora, meu pai, como eu poderei
Ser honesta e que futuro terei

Se o exemplo que hoje me deu
Apagou do cérebro meu
As palavras que sempre ouvi?
Preferia que nada dissesse

E que bons exemplos me desse
Para construir meu futuro.
O pai reconheceu o seu impuro
Modo de ensinar à filha

E o remorso era uma gargantilha
A lhe apertar o pescoço
E uma voz, em som estiloso,
Cantava dizendo ao seu ouvido:

“Mais vale plantar um bom exemplo
Do que semear trilhões de palavras
Ecoando em vazio templo,
Levadas pelo vento e pelo tempo.”

30/09/11

(Maria Hilda de J. Alão)
(Histórias que contava para o meu neto)

 

domingo, 13 de março de 2022

A FESTA DA GRAMÁTICA

 




Um dia dona Gramática resolveu dar uma grande festa. Queria reunir todos os membros da Língua Portuguesa. Convite feito, convite aceito. No dia marcado foram chegando os componentes da Fonética, da Morfologia, da Semântica, da Sintaxe e da Estilística e já foram formando seus grupos. Todos vestidos a caráter. Dona Gramática estava feliz com o evento. Como é bom ver os filhos reunidos em concordância.

O baile estava animadíssimo. O Ditongo dançava com a Divisão Silábica muito disputada pelo Tritongo e pelo Hiato. O Radical conversava com a Raiz enquanto observavam o animado jogo de palavras entre o Sinônimo e o Antônimo. A Conjunção, que havia bebido um pouco, não sabia se era coordenativa ou subordinativa, foi preciso a intervenção da Interjeição para acabar com a dúvida. O grupo das Vogais desafiava o das Consoantes.

O Substantivo estava numa dura queda de braço com Adjetivo, tudo num clima de amizade. O Artigo Masculino namorava, lá no cantinho escuro, com o Artigo Feminino que determina a palavra Felicidade para que ela seja eterna. A Derivação batia um papo com a Composição. Falavam das suas formações. A Derivação se acha importante porque é formada por sufixação, prefixação, parassíntese e derivação regressiva. A Composição também tem seu orgulho ora ela é justaposta, ora é aglutinada. A Oração Sem Sujeito fofocava com Oração Reduzida, o Objeto Direto deu uma rasteira no Agente da Passiva e saiu com a Regência Nominal em clima de Prosódia e Ortoépia. A Onomatopeia rodopiava pelo salão. O Eufemismo tentava suavizar as palavras para dizer à Hipérbole o quanto ela dança mal. O Pleonasmo dizia à Antítese que só acreditava naquela festa porque estava vendo com “seus próprios olhos”. A Reticência dava uma de cantora, mas era tão desafinada que o Cacófato veio correndo para calar “a boca dela”.

Lá pelas tantas, a Gramática ouviu um rumor parecido com uma discussão. Correu para o canto de onde vinha o alarido e chegou a tempo de ver e ouvir o Verbo gritando:

- Eu vou falar, eu quero falar.

A Gramática interferiu.

- Meu filho qual é o problema?

Nesse momento já havia parado a música e todos estavam aglomerados em torno da Gramática e do Verbo.

- Desde que eu cheguei nesta festa que ouço vocês contando vantagem. Um é isso, outro é aquilo. Porque um é melhor e o outro pior. Droga! Nós somos uma família. Pertencemos ao mesmo idioma, sendo assim um não pode ser melhor que o outro. Nenhum brilha mais que o outro.

Foi nesse momento que o Verbo Auxiliar aplaudiu:

- Bravo companheiro. É isso aí. Onde já se viu uma coisa dessas. Já pensou se cada elemento de um idioma começasse a dizer que é o tal? Seria uma Babel.

Todos ficaram calados. E o Verbo, muito nervoso, continuou a falar com sua potente voz:

- Senhores, nós somos um exército composto por soldados talhados na forma de palavras. Lutamos numa guerra eterna para não perder a nossa identidade, para não deixar o invasor nos assimilar e implantar o seu idioma. Apesar da nossa vigilância vem a infame influência e planta uma palavrinha aqui, outra ali e quando abrirmos os olhos já não haverá um idioma, somente um dialeto. É preciso ensinar as crianças, desde cedo, a amar a língua. Como fazer? Ensinando-as a falar e escrever corretamente.

- Vejam os erros de concordância nas redações, isso é só uma parte, sem contar a incompreensão de textos e outras coisas mais. Tudo isso por conta do mau ensino. E vocês ficam aí discutindo bagatelas.

O verbo sentou e chorou. Dona Gramática, pensativa, admitia o erro no ensino da língua.

A festa que começara animada voltou aos “tempos primitivos” e foi preciso um “Imperativo” na tentativa de restaurar a alegria. A orquestra de letrinhas, que parara de tocar, começou a recolher os instrumentos que estavam no chão. E para que não houvesse mais confusão o Sujeito subiu numa cadeira e gritou.

- Aí pessoal, vamos agitar porque essa festa não está mais “manera”, parece um cemitério, pô. Os “manos” vieram aqui dançar e levar um “lero” legal.

- Vejam que falei gírias, também uso a forma culta, isso foi só para mostrar como é belo esse idioma que tem palavras para designar qualquer coisa. Procurem por aí a palavra saudade, ninguém tem, só nós.  Tem mais pessoal, na festa da dona Gramática não há lugar para se discutir problema de ensino, aqui é o lugar da união de todos para formarmos um só corpo. Discutir ensino de gramática, isso é lá com “seu” Ministro.

Todos concordaram e o Sujeito saiu balançando o esqueleto pelo salão à procura de uma Flexão Adjetiva para um giro numa folha de caderno.

(Histórias que contava para o meu neto)

(Maria Hilda de J. Alão)

sexta-feira, 11 de março de 2022

UM GATO NO ESPELHO (história)



 Um gato, parado diante do espelho do quarto de sua dona, discutia com sua imagem refletida.

- Quem é você? Pensa que vai tomar o meu lugar nesta casa? Miauuurur! Aqui não vai ficar. Dormir no meu cestinho nem pensar.
Também não terá os carinhos da menina Lili. Pode sair! Já! Olha, eu já mandei! Sai daí valentão imitador! Miauuurur! Estou ficando nervoso. Olha só o meu pelo todo arrepiado.
O bichano, todo eriçado e com o corpo curvado, partiu para cima da imagem dando uma testada no espelho que doeu bastante. Como o outro bichano não saiu nem se abalou, ele resolveu desafiá-lo para um duelo.

- Não adianta ficar me imitando o tempo todo. Vamos duelar, briga de gato pra valer! Pode ser aqui ou no telhado. O vencedor fica na casa. Miauuurrur!
Uma aranha, que morava atrás da cortina do quarto, cansada de ouvir o falatório do gato, saiu e pendurada num fio de sua teia se pôs a apreciar o teatro que o gato fazia com sua imagem refletida no espelho. Estava engraçado. O gato pulava, arrepiava-se, miava, arreganhava os dentes para a imagem como se estivesse diante de um inimigo.

A princípio a aranha se divertiu. Um tempo depois ela já estava sentindo a agulhada de sua consciência que dizia: não ria da ignorância alheia. O gato não sabia que aquele outro gato era ele mesmo. Foi aí que ela tomou uma atitude correta.

- Olá amigo bichano! Por que está tão bravo assim?

- É que apareceu este gato estranho para tomar o meu lugar. – disse ele sacudindo o rabo com força fazendo uma careta para a imagem.

- Amigo, amigo! Este que você vê aí é você mesmo. O amigo está diante de um espelho. Veja, se eu esticar o meu fio mais um pouco eu vejo outra aranha que sou eu mesma.

- Dona aranha, mas que confusão é esta? – perguntou o bichano.

- Não tem confusão nenhuma. Veja! – e esticando o fio de sua teia, aranha apareceu no espelho gritando para o gato:

- Olha eu aí! Tá vendo? É a minha imagem. Eu não vou brigar com ela pensando que ela quer a minha casa. É isso amigo. É o seu reflexo no espelho.

- Então este sou eu...eu? Meu Deus! Não sabia que eu era assim! – perguntava de boca aberta o bichano.

- Claro! É você mesmo. – respondeu a aranha contente.

- Todos os gatos são iguais a mim? – quis saber.

- Não. Todos os animais são diferentes uns dos outros. Para dar um exemplo: tem gato todo branco, malhado, preto e branco, grande, pequeno e assim por diante. Isso vale para todos os seres existentes na natureza. Se tudo fosse igual, já imaginou o quanto monótono seria o mundo? – respondeu a aranha.

Então o gato, já mais calmo, começou a olhar mais atento para o espelho. Levantou a pata da frente, a imagem repetiu o gesto. Abriu a boca imitando um tigre, a imagem fez o mesmo. Ele gostou do que viu e disse para a aranha.

- Obrigado amiga aranha por ter me esclarecido. Eu nunca havia me visto num espelho, daí a minha ignorância.

- Adeus amigo bichano! Não fique muito tempo diante do espelho. - disse ela rindo e escalando, lentamente, o fio da teia para voltar a sua casa atrás da cortina do quarto.

Faça como a aranha. Não ria, esclareça.

10/10/07.

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto.)

A Caixa Mágica (cordel)

AS DUAS CARTAS

  Faltavam duas semanas para o encerramento das aulas e as crianças do Grupo Escolar Cristo Rei tinham aulas de recreação. Todos estava...

Sorvete, Sorvetão (parlendas)