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sábado, 18 de dezembro de 2021

UM NATAL DE ALEGRIA

 

 A maioria das pessoas precisa ouvir palavras de carinho e há vezes em que essas palavras são ditas no exato momento em que o desespero quer se instalar na alma. Por isso, crianças, eu vou contar a história de um desses momentos.

Numa cidade da Europa, onde a neve cai no natal, morava uma família composta de pai, mãe e três filhos. O menino mais velho era esperto e muito observador. Na semana do natal parecia que o céu tinha resolvido despejar nas ruas toda a neve acumulada. O frio era intenso e as crianças não podiam sair às ruas para brincar.

O pai do menino organizava trabalhos para manter as crianças ocupadas.

- Crianças – dizia ele - vão embalar os presentes dos velhinhos do asilo.

E a algazarra começou com as crianças apostando quem terminaria primeiro. Findaram o serviço com todos os pacotes acomodados na enorme sacola de tecido. O jantar estava pronto, mas a mãe das crianças, mesmo com a nevasca, atravessou a rua para visitar o vizinho, um senhor de mais de setenta anos que morava só e não estava bem de saúde.

- Eu penso que o mal do nosso vizinho é a solidão. Ele não fala da família. Não sei se tem filhos, esposa ou outro parente qualquer. – comentava a mulher.

- Ora, mamãe, por que não perguntou.

- Não quero que ele pense que estou me intrometendo em sua vida.

Já estávamos no dia 23 de dezembro quando o tempo deu uma melhorada. Apareceu um sol fraco que não aquecia nada nem ninguém. Foi o suficiente para as crianças saírem de casa para fazer boneco de neve e patinar na rua congelada. A casa do vizinho continuava fechada. Será que o homem não viu o sol? Perguntava para si mesmo o menino mais velho. Foi então que lhe veio a ideia. Chamou os irmãos e juntos começaram a fazer um grande boneco de neve no jardim do vizinho. O boneco ficou pronto. Gorro vermelho na cabeça, cachecol no pescoço e os dois braços de gravetos pareciam querer abraçar a casa do velhinho.

Dia 24 de dezembro. A manhã era de um sol brilhante e um pouco mais quente. A neve no chão já dava mostras de lento derretimento. A casa do velhinho continuava fechada.

- Puxa! E eu pensei que ele gostaria do boneco que nós fizemos pra ele! – disse o menino mais velho à sua irmãzinha com um quê de tristeza na voz. De repente a porta da frente da casa do velhinho se abriu. Ele olhou para o boneco no jardim e disse emocionado.

- É o mais lindo boneco que já tive no meu jardim desde que o meu filho desapareceu.

O velhinho começou a falar sobre o filho desaparecido.

- Foi por conta da separação. Depois que eu e minha esposa nos separamos, ela levou meu filho e nunca mais eu tive notícias dele. O menino perguntou:

- O senhor acredita em Deus?

- Ah, meu filho! Acho que ele não gosta de mim. Eu pedi, pedi tanto, mas ele não me atendeu.

- O senhor não pode perder a fé. O tempo de Deus não é igual ao nosso. E tem mais: talvez não fosse a hora certa, por isso Deus não atendeu aos seus pedidos. Na noite de Natal nevava muito. Na casa de Charles era só alegria, mas o menino pensava no vizinho solitário. Ele gostara tanto do boneco de neve, pensava o menino, quem sabe se eu o convidasse ele viria para cear conosco. Foi falar com os pais:

- Filho, talvez ele não queira vir. - disse-lhe a mãe.

- Vamos tentar mamãe! - insistiu Charles.

Finalmente a mãe concordou. Bateram na porta da casa do velhinho solitário. Ele abriu e cumprimentou a mãe de Charles, passou a mão na cabeça do menino e os acompanhou. Antes de entrarem na casa de Charles, três casas a frente, chegavam visitas. Charles disse:

- Olhe mamãe, visitas para a senhora Caroline.

Pararam para observar. Saiu do carro, primeiro uma moça elegante com duas crianças, depois um rapaz de 30 e poucos anos.  Eles olharam para os três. Foi então que o rapaz perguntou:

- Senhor Richard Solomon?

- Sim. -  respondeu o velhinho.

- Sou seu filho. - Papai, eu o procurei todos esses anos e nunca consegui descobrir onde você vivia. – dizia o rapaz chorando e abraçando o velhinho.

- Vovô! Gritavam simultaneamente o casal de crianças.

Charles e a mãe, muito felizes, entram em casa.

Com o rosto colado no vidro da janela da sala, o menino viu o vizinho entrar acompanhado do filho, da nora e dos netos. Agora ele não sofreria mais de solidão. E o menino murmurou.

- Esse é o tempo e a hora certa. Feliz Natal!

(Maria Hilda de J. Alão)

O REI QUE NÃO GOSTAVA DE DOCES

 


Num tempo que já vai longe, havia um reino governado por um rei muito triste. O seu palácio era pintado com tinta cinza, o manto real era de seda cinza, o céu, que ficava acima do palácio real, era coberto de nuvens cinzentas. O rei tinha fechado o seu reino e o seu coração para a alegria não entrar. Para as crianças tudo era proibido. Elas não podiam cantar nem dançar nem correr, tinham de ficar caladas andando nas pontas dos pés para não incomodar o rei.

O rei proibiu que fabricassem doces, balas, bolos e todas as guloseimas que as crianças adoram. E quando alguém perguntava o porquê da proibição, ele respondia: "crianças

fazem algazarra quando comem doces." - e por isso ele dizia enfático: - "detesto doces!". Ficava na janela do palácio, horas e horas, olhando as crianças sentadas no chão da praça conversando bem baixinho para não perturbar o seu sossego. Depois se recolhia ao quarto real com os olhos vermelhos como se tivesse chorado.

Era neste reino que morava a menina Lisandra com sua cadelinha Lilica. Toda manhã a menina levava a cadelinha para passear pelas ruas do reino e quando estavam chegando perto do castelo do rei, ela dizia:

- Lilica, não pode latir correndo atrás dos passarinhos, ouviu!

A cadelinha balançava a cabeça, dando sinal de que entendera a recomendação. Que lugar silencioso! Parecia um imenso deserto. Um dia, já cansada disso, Lisandra foi conversar com a fada Lilás que era sua amiga. Ela queria saber o motivo da tristeza do rei. A fada Lilás contou a história. O rei estava casado há muito tempo e não tinha filhos. O seu sonho era ter muitos filhos correndo pelo castelo, muita risada, muita brincadeira, mas esta alegria a vida não lhe deu, e, assim sendo, ele resolveu decretar a lei do silêncio para as crianças e a proibição de tudo que as elas mais gostam. Então era isto.

Foi de Lisandra a ideia. Já que não podiam brincar no reino que tal brincar em outro lugar bem longe. De repente as crianças começaram a desaparecer. Era sempre depois que elas voltavam da escola. Depois de um tempo, os pais começaram a se preocupar. Aonde iam as crianças depois das aulas? As queixas chegaram ao palácio. O rei, intrigado, chamou seu primeiro ministro e perguntou:

- Onde estão as crianças?

- Majestade, ninguém sabe. Elas, simplesmente, sumiram. – respondeu o ministro temeroso, pensando nos seus cinco filhos que também sumiam e voltavam à noitinha, sérios e compenetrados, sem dizer onde estiveram.

- Então mande apurar. Eu quero saber o que está acontecendo. – ordenou o rei.

E assim foi feito. O ministro foi à presença do rei com a resposta:

- Majestade, as crianças, todas incluindo os meus filhos, depois das aulas e de cumpridas as tarefas, elas vão, sorrateiras, para a floresta.

O rei ouviu calado. Levantou-se do trono, e disse ao ministro:

- Amanhã eu quero ir até a floresta. Preciso ver o que está acontecendo.

Assim foi feito. Quando o rei chegou ficou admirado. Dentro da floresta verdadeira havia outra floresta toda feita de chocolate. As árvores, as frutas, as flores, os pássaros, os bichos, os rios, córregos e riachos, tudo era de chocolate. As pedras eram feitas de torrão de açúcar mascavo com gotas de chocolate, assim como os morros e as montanhas. Foi a fada Lilás quem fez a mágica. O rei ficou parado vendo a alegria das crianças. Elas corriam, riam alto e comiam os frutos de chocolate. Para beber era só se agachar, e com um canudinho, sugar o chocolate quentinho do rio. Depois foram brincar de roda. Cantaram uma canção que fez cair lágrimas dos olhos do rei.

Onde eu moro tem um rei
Que impôs a solidão
Proibindo doces e brincadeiras
Ele é um bicho papão.

Neste momento elas ouviram uma voz forte, era o ministro:
- Sua majestade, o Rei. – e bateu com a ponta de espada furando o chão de chocolate da floresta. As crianças ficaram em silêncio. O rei se aproximou, ainda tinha uma lágrima no canto do olho, e disse:

- Continuem, continuem... é muito bonita a canção.

Lisandra, com todo o respeito, chegou perto do rei e com o seu lencinho de seda na mão pediu:

- Senhor rei, posso secar esta lágrima que está no canto do seu olho?

- Pode sim, menina.

E Lisandra secou a lágrima real. Depois, tomando o rei pela mão, o levou para conhecer a floresta de chocolate. O rei subiu e desceu morros, bebeu chocolate do rio, subiu na goiabeira e saboreou uma gostosa goiaba de chocolate branco. Correu atrás de uma borboleta de jujuba com os olhinhos de chocolate. Descobriu, no meio do capim açucarado, um leão de chocolate com a juba de creme de amêndoas; uma cobra listrada de chocolate marrom e branco; um coelho branquinho, de açúcar, com olhos de amendoim com cobertura de chocolate. A guarda do rei estava preocupada e os soldados diziam uns aos outros: "você viu como o rei mudou?" Já não estava triste. Pela primeira vez eles viram um sorriso no rosto do monarca. Quando se cansou de tanta brincadeira, o rei pediu silêncio, ele ia falar.

- Crianças, a partir deste momento, eu devolvo a vocês o direito de brincar, sorrir e cantar muito e comer muito doce. Quero muita alegria, quero fazer parte do mundo infantil, embora eu seja um rei um tanto velho.

As crianças bateram palmas, e fizeram uma roda em torno do rei cantando uma nova canção.

Chegou a hora da folia
Nosso rei restaurou a alegria
Xô tristeza, vá embora,
É aqui que a felicidade mora.

E, a partir daquele momento, o rei abriu as portas do palácio para as crianças do seu reino que lhe deram a felicidade que ele tanto desejava.

(Maria Hilda de J. Alão)

A GIRAFA LINGUARUDA

 


Hoje contarei uma cômica história
Acontecida num tempo de glória
Em que os animais da floresta
Falavam e a vida era uma festa.

É a história de uma girafa faladeira
Que morava ao lado de uma azinheira
Passa horas criticando os outros bichos,
Com outras girafas vivia aos cochichos.

Curiosa, esticando seu pescoção,
Espiava sem nenhuma discrição
A vida da família do chimpanzé,
Das aves que moravam num tripé

Espetado bem no meio do rio.
A girafa tinha o vício doentio
De contar o que via e o que não via
Mesmo sabendo que o fato abalaria

A amizade que entre os bichos existia.
Ria do falar, do andar e da calmaria
Da preguiça com filhote nas costas
E os outros animais faziam apostas:

Um dia a girafa dar-se-á muito mal
Ficará só sem que nenhum animal
Queira a sua companhia ou ser amigo
E isso, na floresta, é um grande perigo.

Numa tarde, quando a sede ela saciava,
À beira da lagoa azul onde costumava
Beber o grande elefante e sua manada.
Mais uma vez soltou a língua a danada

Falando e rindo da comprida tromba.
O elefante disse: De mim ninguém zomba.
A girafa: Foi só uma leve brincadeira
Não se irrite, não grite, não faça zoeira.

Nesse momento uma cobra saiu da lagoa
- Ora, pensei ser uma imensa canoa.
Disse a linguaruda da girafa sem pensar.
Canoa? Essa a cobra não vai aguentar.

Disse o macaquinho para o seu pai.
Quieto! Muita falação confusão atrai.
E a cobra continuou sua caminhada
Dirigindo-se para uma baixada.

A girafa continuou a debochar
Berrando muito e rindo sem parar:
- Lá vai a cobra canoa e rebolosa.
A bicharada ficou em polvorosa

Porque a cobra parou e virou a cabeça
Dizendo: - Ora, girafa não me aborreça,
Cobra não rebola, cobra é muito elegante,
Você é inconveniente, um bicho irritante,

Por isso tem poucos amigos nesta floresta.
O macaco em um galho com a mão na testa
Dizendo: - Não é que a cobra tem razão.
Essa girafa precisa de uma boa lição.

Os bichos, todos reunidos em frente à lagoa,
Chamaram a girafa: Venha. -disse a leoa.
Nossa conversa é nobre e você tem sorte.
As brincadeiras não há bicho que as suporte,

Ninguém fala ou ri da girafa, você sabe.
Se há problemas venha a nós e desabafe.
Poderíamos rir do seu imenso pescoço,
Dos chifres que nas pontas tem um caroço

E de outras coisas que uma girafa tem.
Somos amigos. Vivamos a vida sem
Crítica, sem falação ou deboche,
Saiba que ninguém aqui é fantoche.

E tem mais, a cobra não é rebolosa,
Ela rasteja com graça, é sinuosa,
Tem beleza e muita altivez
Do jeito que o Senhor a fez.

E para encerrar essa nossa reunião,
Saiba que é verdade de todo coração
Queremos que se integre ao nosso grupo
Por isso ofereço-lhe o lugar que ocupo.

A girafa envergonhada e arrependida
Fez um belo discurso de despedida
Pedindo perdão a todos que ofendeu
Nunca mais faria aquilo, ela prometeu.

30/01/18

(Maria Hilda de J. Alão)

(histórias que contava para o meu neto)

O GATO RICO

 


Conta o livro de história
Que um tal gato de botas
Obteve grande vitória
Contando muitas lorotas
Para um bobo marquês,
Beneficiando seu dono
E assim viver de vez
No luxo, sem abandono.

Já o gato deste conto
É totalmente diferente.
Muito rico ao ponto
De ornar do palácio a frente
Com pequenos ratos de ouro
Para os gatos pobres afrontar,
E dizer que não havia tesouro
Que ao dele pudesse se igualar.
Os outros gatos do lugar
Olhavam-no com desdém,
E passavam horas a criticar

As atitudes do gato Moquém.
Muito gordo e vaidoso
Vivia inventando moda,
Pois bicho ocioso
É como carro sem roda
Não serve para nada,
Dizia Serafina, a gatinha,
Que por ele era apaixonada.
Um dia, em que nada a fazer tinha,
Moquém chamou um empregado
E deu uma ordem estranha:
Procure e diga que pago bem
Àquele que sem patranha

Possa meu palácio cobrir
Com uma cúpula de cristal
Para eu não mais sentir
O odor desses gatos sem sangue real.
E lá se foi triste o empregado
Atrás de um engenheiro arquiteto.
Para um gato de focinho achatado
Ele contou do patrão o sonho do teto.

A notícia correu como o vento
Alvoroçando o longínquo vilarejo,
E do fato tomou conhecimento
O gato Kané que veio com seu cortejo
Ofertar seus serviços por pagamento
Em ouro e não precisava ser adiantado.
Para seus ajudantes um acampamento,
Ele exigia, bem limpo e climatizado.

Chegaram ao palácio dourado
E foram recebidos com alegria
Por Moquém, o dono da casa.
Iniciou-se o trabalho de cobertura
Do palácio com cristal da Bohemia
Que seria excelente abafadura,
Melhor que alvenaria,
Para impedir que o odor

De qualquer outro gatinho,
Considerado ser inferior,
Chegasse às narinas do gato riquinho.
Os outros gatos, a distância,
Observam aquela obra preconceituosa
E do gato rico a imensa arrogância
Ao dizer a todos: está tão formosa
A cúpula que cresce da noite pro dia.

Em sete dias o trabalho findou.
A cúpula sobre o palácio reluzia.
Kané seus ajudantes despachou
Dizendo a Moquém que logo voltaria
Para receber o que lhe era devido.
E o gato foi para sua tesouraria
Contar o ouro que seria dividido
Entre Kané e seus operários.

Moquém tremeu da cabeça aos pés.
O seu lindo tesouro centenário
Havia desaparecido através
Da mais esperta gatunaria.
Mais zangado ele ficou
Ao saber, por um cristaleiro,
Que a cúpula era pura vidraria,
E que fora vítima de um trapaceiro.

Por sua ostentação foi castigado
Moquém o gato presunçoso.
Ficou pobre e muito assustado,
Trabalho pediu a outros gatos,
Aprendendo de modo doloroso
A lição que vida ensina:
Hoje eu tenho e faço tudo que quero,
Amanhã nada tenho, sou um zero.

(Maria Hilda de J. Alão)

O CAÇADOR E O NATAL

 


Era dia de Natal. O dia amanheceu frio com uma fina garoa que molhava lentamente o corpo e a alma. Na casinha, perto da floresta, a família acordara e o pai, um hábil caçador, depois de tomar o café, pegou seu arco e flecha e disse para a esposa:
- Hoje eu pegarei um gordo cervo para o nosso jantar.
- Marido, hoje é dia santo! Dia do nascimento de Nosso Senhor Jesus. Deixe os bichinhos em paz. Nós temos tantos alimentos, não precisamos de mais.

A argumentação da mulher não adiantou. O homem embrenhou-se no mato em busca do cervo gordo para o jantar. Quando estava perto do território dos cervos ele avistou um, jovem e gordo, pastando despreocupadamente. O caçador afastou-se para preparar o arco e a flecha. Foi andando para trás sem prestar atenção ao terreno onde pisava. Parou. Preparou o arco e flecha, apontou e, ao dar mais um passo para trás, caiu em um buraco fundo. E agora? Como sair dali? Gritar não adiantava, estava muito longe de sua casa.  Sem saber que atitude tomar, ele sentou-se no chão olhando para cima. Só via as copas das árvores antigas e um pedacinho do céu. Estava frio demais naquele buraco. As horas foram passando e nada. Não ouvia passos de gente nem barulho de animais. Lembrou-se das palavras da esposa. Ah! Se ele tivesse ouvido não estaria naquela estranha situação.

 Como no inverno escurece cedo, bateu a preocupação. Ele não podia passar a noite ali. Precisava pensar em uma solução. Mas que solução? Ele não tinha nada que pudesse usar para sair do buraco. As paredes do buraco eram escorregadias. Escalar era impossível. Pensou nas palavras do padre da aldeia: “os animais também são filhos de Deus e nós, os humanos, devemos respeitá-los e protegê-los...”. O homem começou a rezar pedindo ajuda ao céu. Ainda não havia terminado a oração quando percebeu uma movimentação na copa da árvore que ele avistava lá do fundo do buraco. Seria gente? Será que outro caçador ouvira seus gritos? Que nada! Era só um macaco que pulava entre os galhos. O animal subiu mais alto e, por entre as folhas, se pôs a observar o homem dentro o buraco.
- Meu Deus, ajude-me! Dê-me forças para sair daqui!

Para surpresa do caçador, o macaco começou a puxar os cipós, emaranhados entre os galhos da enorme árvore, e foi jogando todos para baixo. Um dos cipós caiu no buraco e por mais que o homem se esticasse não consegui alcançá-lo. Que desespero! O macaco continuava lá, no alto da árvore, olhando o esforço do caçador para sair da situação perigosa em que se metera. De repente o animal desceu da árvore fazendo muito barulho e desapareceu. O caçador sentou-se e chorou. Chorou muito. Era o primeiro natal que passaria longe da família e o pior é que não tinha como avisar ninguém.

O dia já estava chegando ao final. Um forte barulho alertou o caçador. Rapidamente ele ficou em pé e pediu fervorosamente, “Deus, salve a minha vida...”, ao ver, na borda do buraco, uma grande pedra prestes a rolar para dentro e mais surpreso ficou ao ver que o macaco guinchava como se quisesse dizer alguma coisa e fazia força empurrando a pedra para dentro do buraco. O caçador encostou-se na parede e fechou os olhos com força imaginando o impacto da pedra nas suas pernas. A pedra caiu quase tocando seus pés. Ele abriu os olhos e o macaco estava lá pulando e guinchando muito alto parecia dar instruções. O homem levou uns bons minutos para entender. Depois, mais calmo, foi empurrando a pedra para o canto onde o cipó, jogado pelo macaco, estava pendurado. Subindo na pedra e usando toda a sua força para dar um salto ele alcançou o cipó saindo do buraco no momento em que começava a escurecer.

Quando chegou em casa já estava escuro. A temperatura caíra tanto que já havia pequenas formações de gelo sobre a relva. A família, preocupadíssima, o recebeu de braços abertos. O caçador contou tudo o que ocorreu com ele. A esposa, muito séria, disse:
- Eu lhe disse que hoje é um dia santo e que nós temos muitos alimentos. Para quê tirar a vida de animais só para satisfazer a gula? Veja que Deus usou um animal para atender as suas preces.
- Verdade. Eu reconheço e nunca mais caçarei qualquer bicho.
Para o caçador aquele foi um Natal de aprendizado, de fé e de reconhecimento. Deus atende as nossas preces utilizando-se dos mais inusitados meios. Saibam crianças que o Pai celeste não desampara seus filhos. Feliz Natal!

(Maria Hilda de J, Alão)

UMA ÁRVORE DE NATAL DIFERENTE

 


        As crianças da quarta série estavam agitadas. O Natal se aproximava e elas faziam planos sobre os presentes que  pediriam ao Papai Noel. A professora ajudava na redação das cartas, mas enfatizava que o amor é o maior e melhor presente que existe. Ela dizia isto porque todo o ano, na época do Natal, levava as crianças para visitar o asilo dos velhinhos instalado na mesma rua onde ficava a escola. Essa visita costumava acontecer uma semana antes do término das aulas. Cada aluno levava um presente para os idosos. Podiam levar roupa, doces, livros, discos, tudo que pudesse dar alegria a um velhinho ou velhinha.

       Chegou o dia da visita. A professora, D. Noemi, reuniu as crianças e pediu a ajuda dos inspetores de alunos para transportar os presentes. Chegaram ao asilo. O salão estava preparado para a festinha de Natal que era um grande almoço, cantos, ouvir histórias e depois a entrega dos presentes. Era um quadro comovente ver as crianças abraçando aqueles idosos que choravam lembrando, quem sabe, de filhos e netos. À Aninha coube entregar um presente para D. Cora, a interna mais velha do asilo, um xale de lã azul pontilhado com pedrinhas brilhantes. A velha senhora recebeu o presente e, sorrindo, disse:

- Recebi um pedaço de céu estrelado das mãos de um anjo. Sabe minha filha: o que eu mais queria era ver uma árvore de natal inteirinha iluminada, mas uma árvore de verdade, não essas feitas de plástico. – disse beijando as mãos de Aninha.

       Depois de terminada a festa as crianças foram se reunir no gramado em frente à escola, porque Aninha ficara sensibilizada com o que dissera D. Cora.

- Como vamos arranjar uma árvore de natal de verdade e tão grande que possa ser vista da janela do quarto de D. Cora? – perguntou Marquinhos.

- Eu acho que não podemos fazer nada, Aninha... – disse Letícia desanimada.  

- Podemos improvisar. Vocês não repararam no jardim do asilo? Lá tem uma árvore alta, embora não seja um pinheiro, mas acho que serve. É só colocar os enfeites, as lâmpadas e acender. – disse o Pedrinho, um menino de óculos com cara de inteligente.

- É, sabidinho! E quem vai subir pra colocar tudo isso? E se a gente cair e se machucar? Como fica? – questionou o Marquinhos.

- É! Então eu não sei como fazer... – respondeu Pedrinho.

E as crianças ficaram discutindo se subiam ou não na árvore quando ouviram um psiu. Olharam para um lado e para o outro e não havia ninguém. Outra vez o psiu.

- Psiu, aqui na grama, crianças. Olhem para baixo.

       Era um grilo falante saído de um cantinho do gramado, onde nascem florezinhas bem pequeninas semeadas pelo vento e pelos pássaros. Ele ficara curioso com aquela reunião e se pôs a escutar a conversa. Sabia que era feio ouvir a conversa dos outros, mas, esperto como era, percebeu logo que havia um problema e resolveu ajudar no que pudesse. As crianças contaram tudo ao grilo.

- Gente! Isso não é uma coisa impossível. Se iluminar é o grande problema deixem comigo. Só quero que me mostrem a árvore. – pediu.

       As crianças correram, acompanhadas pelo grilo, para a entrada do asilo. Apontaram a árvore e, saltitando, ele disse:

- Na noite de Natal venham todos ao asilo para ver.

       Foi embora, pulando para o cantinho das florezinhas, sem mais explicações. O que será que o grilo iria fazer? Um grilo sozinho... tão pequenino... Bem, é melhor esperar o dia para ver.

       Aninha contou para a mãe a conversa, mas não mencionou o grilo porque ela não acreditaria. Adulto não crê nessas coisas de criança falar com bicho, com anjo ou com árvores. Só disse que era um amigo, e que através dele a turma faria uma surpresa para D. Cora no dia de Natal.

- Eu só espero que ninguém saia machucado. – disse a mãe.

       As crianças conversaram com a professora, D. Noemi, que foi solicitar o consentimento da diretora do asilo para que pudessem enfeitar a árvore do jardim. Autorização concedida, e para evitar acidentes, o jardineiro ficou encarregado de colocar os enfeites natalinos em todos os galhos da árvore. Foi aí que a professora perguntou:

- E a iluminação? Vocês têm as lâmpadas?

- Um amigo... vai trazer... – respondeu Aninha meio sem jeito.

- E quem é esse amigo? – insistiu a mestra.

- Bem, professora, como é uma surpresa para D. Cora, nós não podemos dizer quem é, pois a senhora pensará que estamos inventando coisas. – respondeu o Pedrinho.

- Por que não tenta? – insistiu D. Noemi sorrindo.

       Chegou o dia de Natal. As crianças vestiram suas roupas novas e às sete horas da noite estavam entrando no salão de festas do asilo. Elas iam cantar as canções natalinas que ensaiaram durante o ano. Depois do canto, às oito horas, seria o momento da surpresa para a velhinha de 97 anos. Aninha estava nervosa e cochichava uma pergunta no ouvido da Letícia:

- Será que ele vem?

       Ninguém sabia. Cantaram como anjos e foram aplaudidas pelos velhinhos emocionados. A diretora queria saber o que significava uma árvore de natal toda enfeitada no escuro, sem iluminação. As crianças não disseram nada, só olharam uma para as outras. D. Cora já estava no seu quarto, em frente a ampla janela, sentada na cadeira de rodas esperando ela não sabia o quê. Os outros velhinhos, desconhecendo o motivo, estavam sentados por toda a varanda. As crianças da quarta série rodeavam silenciosamente D. Cora quando se ouviu um “cricri”.

- É ele... gritou Aninha quebrando o silêncio -, é ele. Ele chegou, pessoal!

– Ele quem? - quis saber a velhinha sem obter resposta.

       Outra vez se ouviu o “cricri”, novamente “cricri, e um barulho de insetos levantando voo. Era como uma nuvem de gafanhotos envolvendo a árvore enfeitada e, na escuridão do jardim, bilhões de vagalumes acendiam e apagavam as suas luzes tornando aquela simples árvore do jardim em uma verdadeira e belíssima árvore de Natal digna de um rei. Palmas e gritos de “Viva!” ecoaram pelo ar. D. Cora ficou emocionada. Do seu rosto corriam as lágrimas mais felizes de sua vida. Uma árvore de Natal verdadeira só para ela.

– Meu Deus, crianças, nunca pensei que teria um Natal tão feliz. Obrigada, meus amores.

       E por toda a semana do Natal, a iluminação continuou, pois os vagalumes, a pedido do grilo falante, acamparam por todos os galhos da grande árvore. As pessoas mais velhas diziam que aquele fato se deu por causa da derrubada da vegetação de um grande parque da cidade. Não tendo mais o abrigo natural, os vagalumes escolheram a grande árvore do asilo para ficar por um tempo. E ser dia de Natal, foi só uma coincidência. As crianças riam da história dos adultos, porque só elas conheciam a verdade.

(Maria Hilda de J. Alão)

17/09/07.

(histórias que contava para o meu neto).

O PRESÉPIO DE NATAL

 


Um dia, lá no meio da floresta,
Juntaram-se alguns bichos
Para o Santo Natal comemorar.
Queriam eles um presépio armar

 Com o pai, a mãe e o menino,
Na manjedoura tão pequenino.
Como fazer ninguém sabia.
Será que entre eles esperto havia
 
Com uma ideia mirabolante,
E que não fosse comediante,
Para tal trabalho realizar?
Foi então que surgiu a gritar
 
Do galho de grande seringueira,
Todos pensaram ser brincadeira,
Um macaco bugio engraçado
Pedindo a palavra alvoroçado.
 
- Façamos nosso presépio vivo
Com bichos não agressivos!
- Será preciso escolher, votar.
Disse um pássaro a chilrear.
 
Primeiro pensaram no leão.
- Ah! Esse não serve, não!
- Que tal um tigre da Sibéria?
Disse uma anta muito séria.
 
- Não se lembra a dona anta
Que para ser a família santa
O bicho não pode ser agressivo?
- Puxa! Ninguém dá um indicativo!
 
Exclamou uma velha coruja,
Limpando as penas sujas,
Pousada num velho carvalho.
Foi saindo de um atalho
 
Que o lobo a ideia apresentou:
- Que tal o senhor Grou?
- Ave não pode! Por isso eu aconselho
Que seja a família do coelho
 
A vencedora dessa disputa
E que ninguém mais discuta,
Senão passará o dia de Natal
E nós aqui no reino animal
 
Ficaremos sem o nosso presépio,
E se tudo por aqui é só tédio
Imagine um Natal sem a santa
Família que a nossa fé levanta.
 
Sugeriu a onça pintada,
E a bicharada comportada
Acatou a felina sugestão
Evitando longa discussão.
 
E todos os bichos em procissão
Foram comunicar ao coelho a decisão
De que neste Natal ele seria
São José da carpintaria.
 
Fizeram um majestoso cenário
Com a manjedoura e um campanário
Onde estava deitado o coelhinho,
De vermelhos olhinhos,
 
Representando com sua pureza
O nascimento e a grandeza
Do menino Jesus de Belém.
E a bicharada disse amém
 
Ao ver  no céu a estrela guia
Indicando que nova era surgia
Com o nascimento do Salvador
Significando amor, muito amor.
 
Após a oração cada bicho
Agradeceu um ao outro o capricho,
E pediram para toda a coletividade,
Paz aos bichos de boa vontade.
 
FELIZ NATAL!
 

Maria Hilda de J. Alão
18/12/11.

A Caixa Mágica (cordel)

CONTANDO CARNEIRINHOS (infantil)

  Eu acho tão engraçado A vovó contar carneirinhos Na hora de dormir. Na minha cabeça de criança Brotou a grande pergunta: E os ca...

Sorvete, Sorvetão (parlendas)