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sexta-feira, 3 de junho de 2022

O SONHO DO GATO (História)



          Tim-Tim, o velho gato, perguntou a boneca japonesa Tizuka, o que azia ela, ali parada, a noite, diante de um velho balde de boca para baixo. A boneca respondeu que queria subir para sentar no balde, mas como era pequena não alcançava.
- Ora! – exclamou o gato – Isso não é problema! - E, abaixando-se, cedeu o seu dorso para que a boneca subisse e assim alcançasse o balde.
- Pronto, linda bonequinha!
        Tizuka arrumou o quimono azul, ajeitou os cabelos negros e, muito devagar, com a elegância oriental, sentou-se no balde. Tim-Tim estava num canto do jardim observando a boneca. Do seu trono, o balde, a boneca olhava as estrelas e a Lua que se escondia atrás de uma nuvem. Era a lua cheia. O que Tim-Tim viu e ouviu o deixou maravilhado. Tizuka começou a recitar versos numa língua que ele não entendia. Cada sílaba emitia um som cristalino formando uma frase musical que foi se espalhando por todo o jardim.
De repente uma luz brilhante desceu do céu trazendo consigo mariposas, grilos, duendes, elfos, minúsculas fadas e todos os seres do mundo da fantasia irmanados pela beleza e musicalidade da voz da bonequinha japonesa.
          Tim-Tim viu o jardim mudar de aspecto. Agora havia bonsai por todos os lados, um pequeno lago com carpas, canteiros de flores artisticamente desenhados, lanternas coloridas espalhadas por todas as árvores, havia até um pequeno templo dedicado a Buda. Seria magia? Tizuka continuou a declamar os versos que enchiam de música o jardim fazendo com que todos os seres dançassem.
           Não era uma dança vertiginosa, era uma dança de leveza angelical. Ela mesma não resistiu ao encanto e, levantando-se, bailou suavemente sobre o velho balde de boca para baixo. Foi aí que ela avistou os olhos de Tim-Tim no canto do jardim. Rápida, ela saltou do balde e correu até ele.
              - Amigo, venha bailar conosco. Veja! Todos estão alegres, felizes. Vem! – Ah, que voz tinha aquela boneca! O timbre parecia milhões de sininhos tocando delicadamente à emissão de cada palavra. O gato, emocionado, quase pediu para ela repetir o convite só para ouvir os sininhos. Meio sem jeito, Tim-Tim perguntou:
 - Como aconteceu tudo isso? Por que mudou tudo?
- Querido amigo Tim-Tim, tudo isso que você está vendo ao seu redor é fruto da magia das palavras, é o poder da poesia que existe em cada coisa, em cada ser. Venha fazer parte desse mundo de sonho deixando que a poesia invada sua alma. Deixe que a força das palavras faça bater forte o seu coração de gatinho.
           Quando Tim-Tim ia se levantar para acompanhar Tizuka, um barulho forte o assustou. Era Isadora, a menina de sete anos que entrou na sala chamando em altos brados.
- Acorda, Tim-Tim, está na hora de tomar seu leite morninho e bem gostosinho. Já são seis horas, gatinho!
          Depois desse dia, todas as vezes que Tim-Tim vai dormir ele passa diante da bonequinha japonesa, que fica acomodada numa cadeirinha de balanço no quarto de Isadora, na esperança de que ela fale com ele, convidando-o para a próxima dança

(histórias que contava para o meu neto)

 (Maria Hilda de J. Alão)

PARLENDA BEATRIZ, TRIZ, TRIZ

1
Beatriz, triz, triz
Tira caca do nariz
Corre, corre Beatriz
Lava a mão no chafariz.
2
Amaral pôs no varal,
Antes de ir para o arraial,
O seu casaco legal. Veio um vendaval
E teve o Amaral
De ir buscar o casaco
No meio do bananal.
3
Sapo sapudo,
O que está olhando
Seu abelhudo?
Estou olhando você
Seu narigudo.
4
Maria Clara
Come do ovo a clara
Maria Filomena
Come do ovo a gema.

(Maria Hilda de J. Alão)

PARLENDA DOS NÚMEROS

 


UM, maionese de atum,

DOIS, é pra comer depois,

TRÊS, e dar a um gato xadrez.

QUATRO, o sol é um astro,

CINCO, telhado de zinco.

SEIS, festa de reis,

SETE, masca chiclete.

OITO, menino afoito,

NOVE, hoje não chove.

DEZ, arraste os pés,

ONZE, no assoalho de bronze.

 (Maria Hilda de J. Alão)

 

domingo, 15 de maio de 2022

A CONFUSÃO DA BICHARADA (Rimas infantis)


Enquanto o leão dormia:
O rato corria,
O porco grunhia,
A hiena ria,
O cão latia,
A ovelha balia,
O urso bramia,
A vaca mugia.

Tanta foi a gritaria
Que o porco ria,
O rato grunhia,
A hiena balia,
A ovelha latia,
A vaca bramia,
O urso mugia,
O cão dormia
E a tartaruga,
Que não estava na história,
Confusa corria
Enquanto o leão dormia.

12/09/09
(Maria Hilda de J. Alão)

NO REINO DO REI HONESTO (história)

 

Existiu, há muito tempo, um reino governado por um rei honesto e caridoso. Três filhos eram a sua maior riqueza. Amando demais as crianças, ele ensinava o valor da honestidade, da verdade e da caridade. A vida no reino era boa. As pessoas trabalhavam, pagavam impostos que o rei fazia questão de devolver em forma de serviços direcionados a todos os seus súditos. Havia um ponto que o rei fazia questão de supervisionar pessoalmente: as escolas. Era ponto de honra para o rei que toda criança frequentasse uma boa escola e, para isso, ele não poupava esforços nem dinheiro.

Um dia as crianças do reino tiveram uma grata notícia: o rei havia determinado que, três vezes por semana, três crianças da aldeia passariam o dia no castelo para brincar com seus filhos. Para os filhos do rei, dois meninos e uma menina, foi o maior presente que já tinham recebido.
Chegou o dia. A carruagem, do ministro do rei, parou diante da porta principal do castelo e dela desceram dois meninos e uma menina que foram recebidos pelo casal real e seus filhos. A carpintaria do rei, trabalhando a todo vapor, fazia todo tipo de brinquedo para entreter as crianças. E assim corria a vida no reino do rei honesto.
Um dia o rei honesto recebeu a visita de um rei vizinho que também tinha três filhos. O rei visitante, depois de descansar da longa viagem, foi conhecer o reino do rei honesto. Ficou intrigado. Por que o povo sorria e cumprimentava o rei? No reino dele não acontecia isso. Foi então que o rei honesto respondeu:
- Aqui se faz justiça. É por causa do povo que o governo existe. E tem mais, amigo, três vezes por semana três crianças do povo veem brincar com meus filhos.
- É. Você me parece estranho. Louco talvez. Respondeu o outro.
Enquanto isso, acompanhados por soldados do reino para garantir a segurança deles, os filhos do rei honesto, os do rei visitante e as crianças da aldeia, brincavam perto do rio. Os meninos brincavam de esconde-esconde e as meninas brincavam com bonecas feitas pelos artesões do reino. A princesinha Luciana, filha do rei honesto, deixou a boneca cair no rio. Que tristeza! A menina começou a chorar. Com pena da criança, uma fada apareceu e perguntou:
- Por que choras bela criança?
- Minha boneca caiu na água e não sei como recuperar.
A fada mergulhou no rio e trouxe uma boneca toda de ouro e apresentando para a criança ela perguntou:
- É esta a sua boneca?
- Não, senhora!
Então a fada mergulhou novamente e trouxe uma boneca toda de prata.
- É esta a sua boneca?
- Não, senhora!
E novamente a fada mergulhou trazendo a boneca certa:
- É esta a boneca?
- É sim, senhora! Muito obrigada!
Mas a boneca estava molhada. A fada, para premiar a honestidade da princesinha, com sua varinha mágica secou a boneca o que fez a criança muito feliz.
A princesa visitante, que a tudo assistira escondida atrás de uma moita, resolveu fazer o mesmo porque estava de olho na boneca toda de ouro. E assim pensando, assim fez. Jogou a boneca no rio e começou a chorar bem alto até que a fada apareceu:
- Por que choras, princesinha?
- Minha boneca caiu no rio. Vá pegá-la! Ordenou a menina.
A fada mergulhou e voltou com uma boneca de ouro.
- É esta a sua boneca?
- É sim! Dá-me logo! – pediu impaciente a menina.
Decepcionada com a desonestidade da menina, a fada jogou a boneca na água do rio e desapareceu. A princesinha visitante voltou para o meio das outras crianças sem a boneca nas mãos. Luciana, vendo a princesa visitante triste, perguntou a causa. Ela contou tudo. Então Luciana lhe disse:
- Você faltou com a verdade, foi invejosa e gananciosa. As fadas não gostam de pessoas assim. Seu pai não lhe ensina a dizer a verdade e ser honesta? O meu ensina. Por isso a fada devolveu a minha boneca.
Na hora da partida, quando todos já estavam na carruagem, Luciana veio se despedir a princesa. Deu-lhe um abraço e cochichando disse:
- Verdade, honestidade e caridade. Use-os e sempre tirará a sua boneca do rio.
E a vida continuou naquele reino com o rei sendo cada vez mais amado e respeitado pelo povo.

02/09/11
(Maria Hilda de J. Alão)
(Histórias que contava para o meu neto)

sexta-feira, 13 de maio de 2022

O SONHO DA LUA (história)

 


A Lua do céu, que era muito distraída, viu surgir de madrugada um belo cavaleiro. Ele vinha devagar no seu cavalo de luz, e os bilhões de estrelas faziam ala para ele passar. A Lua ficou encantada com beleza do cavaleiro e perguntou à estrela, que sempre está ao lado dela:
- Quem é esse cavaleiro que impõe tanto respeito?
- É o Sol. – respondeu a estrela. Primeiro ele põe um pé pra fora da escuridão, depois o braço e finalmente o corpo todo. Monta no seu cavalo e parte para iluminar o mundo. À tardinha, antes de ir embora, ele pinta uma aquarela de ouro para receber a Noite e o seu séquito de estrelas, inclusive você Lua.
A Lua, que nunca havia reparado o fato, ficou enamorada. Imaginou-se sendo amada por tão belo ser, porém a estrelinha a acordou do seu sonho.
- Está pensando em quê? Perguntou
- Acho que estou apaixonada pelo Sol – disse a Lua –, quero ser a namorada dele. Quero montar no seu cavalo de luz e sair por aí iluminando mundos ao lado dele.
- Você está perdendo seu tempo! - exclamou a estrela.
- Por quê? – perguntou a Lua.
E a estrelinha, fazendo uma cara de quem sabe tudo, disse:
- Reparou que vocês são opostos?
- Como assim?
- Ora minha amiga Lua, quando o Sol aparece você vai dormir. Sendo assim, como vocês poderiam namorar? Você é uma moça fria e o Sol é um rapaz de fogo. Como iriam se abraçar? Ele queimaria você. Lua, minha amiga, você tem fixação por amores impossíveis. Lembra da sua paixão pelo mar?
- Lembro. Sujeito nervoso, imprevisível. Ora estava calmo, ora estava revolto destruindo tudo. Esse eu já esqueci.
- Então amiga, é a mesma coisa. Hoje você se reflete nas águas do mar, mas não deseja que ele venha abraçá-la. Ele é seu amigo, o espelho onde você pode se mirar.
- É estrelinha, você está certa. Penso que tenho de viver um amor platônico.
- Platônico? Que diabo é isso?
- Um amor casto a distância. Ele nunca saberá.
- Desse jeito você pegará uma paixonite aguda. Como vai iluminar a Terra se estiver doente? Esqueceu que é a preferida dos namorados humanos? Que todos os poetas do mundo fazem versos em seu louvor? Pense no lado bom da coisa. Você dorme e acorda com resplendor dele. Pense, pense menina, na maravilha do céu negro-azulado coalhadinho de estrelas e você, pomposa, brilhando entre elas. Pense nas criancinhas e nas suas cantigas de roda em sua homenagem. É maravilhoso ouvir as vozes infantis cantando:

“Brilha a Lua lá no céu
Pontilhado de estrelas mil
Pena que ela não está
Na bandeira do Brasil”.

- Que emoção! Nós também amamos o Sol, mas nem por isso ficamos deprimidas. Se ele não fosse dormir, nós nunca apareceríamos no universo. Por isso somos gratas e o amamos demais. Você deve fazer o mesmo. Nem sempre se ganha.
E a Lua ficou triste. Começou a se transformar. A cada sete dias ela tem uma forma diferente. Se ela está deprimida vai para o quarto minguante onde esconde quase toda sua beleza. Mas Deus, que sabe o que faz, construiu um quarto crescente onde a Lua pode se recuperar de sua melancolia para surgir nova, e depois se transformar na bela dama Lua Cheia que faz os humanos levantarem os olhos para o céu e suspirar. Suspirar e sonhar, porque o sonho é a mola que impele o homem para frente.

(Maria Hilda de J. Alão)
(histórias que contava para o meu neto)

O REI TIRANO (história)



Há muito tempo, aos pés de grandes montanhas, existiu um reino comandado por um rei tirano. O tempo foi passando, ele envelheceu ficando muito doente. A sua visão enfraqueceu a ponto de ele não enxergar quase nada.
Certa vez, como era o costume daquela gente, o rei ia à frente de um grupo de caçadores, quando, por causa da visão falha, ele caiu em um buraco com cavalo e tudo. O grupo de caçadores seguiu em frente deixando o rei à própria sorte. Ele gritou. Nada. Todos sumiram.
Naquele momento, um homem, o mais pobre do reino, andava por ali recolhendo gravetos para acender o fogão e preparar o alimento para seus filhos, quando o rei gritou novamente. Curioso, ele se aproximou da fenda e viu o pobre rei entalado juntamente com o cavalo. O rei, humildemente, pediu:
- Bom homem, podes me tirar deste buraco? Dar-te-ei tudo que me pedires.
- Majestade, se puder aguentar mais um pouco irei chamar meus amigos para ajudar.
E assim foi feito. Logo chegaram os aldeões pobres para salvar aquele rei quase cego e orgulhoso. Eles não tinham cordas para içar o rei. Somente pás e machados, ferramentas do trabalho do dia-a-dia. Estudaram a situação e já estavam quase desistindo de salvar o rei quando um deles teve a ideia:
- Gente! E se nós cavássemos um canal das margens do riacho até aqui?
- E daí? – questionou o plantador de verduras.
- A água do riacho inundará o buraco e com isso o rei e o cavalo subirão e nós poderemos tirá-los dessa situação incômoda.
- É uma boa ideia! – afirmou o primeiro homem.
E assim fizeram. Em pouco tempo pás e machados abriram o canal e a água começou a inundar o buraco. Conforme subia o nível da água, também subia o rei e o animal. Os homens, rapidamente, retiraram os dois daquela situação perigosa. O rei, agradecido, disse para os homens:
- Peçam todo o ouro que quiserem.
Foi quando o homem que encontrou o rei no buraco disse:
- Majestade, hoje o senhor teve uma grande experiência: aqueles, que se diziam seus amigos, foram os primeiros a deixá-lo na mão. Por mais poderoso e forte que seja um governante, ele não deve menosprezar os fracos. Não queremos seu ouro. Queremos o que o senhor rei nos nega: justiça. Queremos ver os impostos que pagamos distribuídos honestamente beneficiando a todos.
E assim, o rei aprendeu a respeitar o seu povo e, mesmo doente e quase cego, governou com sabedoria e justiça até o fim dos seus dias.

01/09/11
(Maria Hilda de J. Alão)
(Histórias que contava para o meu neto)

A Caixa Mágica (cordel)

AS DUAS CARTAS

  Faltavam duas semanas para o encerramento das aulas e as crianças do Grupo Escolar Cristo Rei tinham aulas de recreação. Todos estava...

Sorvete, Sorvetão (parlendas)