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sexta-feira, 11 de março de 2022

O GATO DESAFIANDO O CÃO (Cordel Infantil)

 

Cansado de dormir o dia inteiro,
Numa fazenda do sertão mineiro,
Resolveu do nada o gato matreiro
Desafiar o cão tido como bagunceiro.

Foram para o meio do terreiro os dois,
Pulando por cima das cacas dos bois,
O gato pensando no que comeria depois
E o cão dizendo: gato bobo, ora pois.

Sentaram-se cada um em uma cadeira,
Com suas violinhas feitas de madeira,
Começando o desafio com uma zoeira
Que mais parecia serra de madeireira.

Para assistir a perigosa brincadeira
Veio o macaco trazendo uma bandeira,
A Coruja prateada que mora na aroeira
E Mimi, a velha gata alcoviteira.

O gato, dedilhando a desafinada viola,
Dizia que cão valente é coisa de gabola
Que ele, gato, é esperto e tudo controla
E quando ele rosna tem cão que rebola.

O cão respondeu: A mim você não enrola.
Por que disparas como tiro de pistola
Ao ouvir minha voz se descontrola
Entrando por aquela portinhola?

E foi pela noite adentro o desafio.
Todos cansados diziam ser desvario.
Quem é mais valente é papo sombrio
Essa cantilena está me dando calafrio,

Disse o macaco: não vejo benefício
Em continuar com esse desafio
Por que guardar esse ódio doentio
Que faz da alma um terreno baldio?

Abraçam-se o cão e o gato matreiro
E foi saindo o macaco todo lampeiro
Dizendo: volto feliz para o coqueiro
Pois acabei com aquele salseiro.

30/11/17

(Maria Hilda de J. Alão)
(histórias que contava para o meu neto)

 

segunda-feira, 7 de março de 2022

DOM RATÃO NA MANSÃO (cordel)



Chegou de mala e cuia Dom Ratão
Aos portões da nobre mansão,
E foi entrando cauteloso, sorrateiro,
Através do imenso terreiro.

Aproveitando a saída do cozinheiro,
Invadiu a cozinha como um guerreiro
Indo se entrincheirar lá no canto
Do armário que era um espanto

De tanta comida parecia um empório.
Ficou bem quietinho o finório
Esperando a noite chegar ao auge,
Pois é no silêncio que um rato age.

Dom Ratão cansado adormeceu.
Sonhou que o armário era só seu
Até convidou Ritinha, a sua ratinha,
Para saborear de tudo que tinha.

Sonhando Dom Ratão murmurava:
Sorte tamanha eu não esperava
Ritinha, minha linda, meu amor,
Sinta deste queijo o sabor.

De repente um som monstruoso
Acabou com o sonho dengoso
De Dom Ratão e da rata Ritinha.
Era Hércules, o gato, que vinha

Expulsar da cozinha o intruso.
Não, não ficarei confuso,
Preciso de um plano para escapar
Aqui não dá para eu morar.

Na primeira distração do gato ele saiu,
E em desabalada carreira se viu
Voltando para a casa pobre no escuro
Em cuja despensa só existe pão duro.

10/01/07

(Maria Hilda de J. Alão)
(Histórias que contava para o meu neto)

sábado, 5 de março de 2022

A ABELHINHA (infantil ecológica)

 

Abelhinha aonde tu vais?
Vou fabricar mel nos laranjais,
Lá nas nuvens espaciais,
Aqui tem gente demais

Devastando os mananciais.
Logo não haverá mais flores
Para exalar seus odores,
Nem pólen, néctar e cores,
Nem água para aliviar os calores,

Só tortura e muitas dores.
Verás a natureza em estertores,
Os bichos serão sofredores
Por causa de humanos traidores.


05/12/05.
(Maria Hilda de J. Alão)

DOM RATÃO NÃO GOSTA DE PÃO (cordel)


Sou um rato de fina classe
E não há ninguém que passe
A perna para me enganar.
Pão não é a minha praia,

Além de duro ele engorda
Quem mandou eu vir morar
Nesta casa de gente pobre.
Agora estou de malas prontas

De mudança para aquela mansão,
Ali em frente à casa do sacristão.
No armário tem queijo parmesão
Salame, toucinho e pastelão.

Não pensem que é no porão
Que vou morar, não senhores.
É num canto da larga cozinha,
Atrás do armário dos vinhos

Porque eu sou dom Ratão
Um rato de fino paladar.
Com tantas iguarias vou engordar,
Mas já pensei como a gordura evitar.

Farei do escorregador das crianças
Montanha pra minhas escaladas,
Da borda da piscina uma pista
Pra minhas noturnas caminhadas.

Vida como esta é tudo que desejo
Não me critiquem, pois mal não vejo,
Em querer comer do bom e do melhor,
Porque pão duro é o que há de pior.

09/01/07

(Maria Hilda de J. Alão)
(Histórias que contava para o meu neto)


quarta-feira, 2 de março de 2022

O RATO CAIPIRA (cordel infantil)

 

Eu vou contar pra vocês
A história de dois ratos
Que é a mais pura verdade:
Um vivia no campo
E outro na cidade.

O rato do campo convidou
O rato grã-fino da cidade
Para conhecer a sua casa
E viver um dia de felicidade
Fartando-se de comida boa.

Lá chegando o convidado
Ficou tão decepcionado
Com o banquete oferecido,
Pelo novo amigo, o rato caipira,
Só grãos e pão amanhecido.

Nada disse o convidado,
Mas resolveu que ia humilhar
Aquele rato caipira
Que não sabia recepcionar
Um rato chique da cidade.

Depois de muito mal comer
O rato chique convidou
O caipira que não rejeitou
Para juntos irem à cidade
Só assim o pobre saberia

O que é uma amizade
E também ser anfitrião
Oferecendo um banquetão
Com tudo que há de bom
Na cozinha de dona Zoraide.

Chegaram tarde os dois.
Na casa do rato chique
Tinha comida de todo jeito
Até queijo de Moçambique
Para comerem depois.

O rato caipira a tudo elogiava:
tudo é tão fairto, tão bão.
Mi adiscurpe amigão
Si li dei nacos de duro pão
Purque num sô chique cuma ocê.

Já se dispunham a comer
Quando um homenzarrão,
Com um pontapé, abriu a porta.
Os dois se puseram a correr
Para escapar da enorme bota.

Quando se fez silêncio,
Voltaram os dois amigos
Para a cozinha de Laurêncio,
Um cozinheiro antigo
Daquela nobre residência.

E o fato se repetiu:
Na mão uma vassoura
Laurêncio entrou grunhindo:
Onde tu estás rato atrevido?
Sei que trouxeste um amigo.

Aparece, pois tenho a vassoura
E com esta grande tesoura
Cortarei os teus bigodes.
Comigo tu não podes
Vou te ensinar a não roer,
Toda vez que eu abastecer
A despensa da cozinha,
Os alimentos caríssimos
Que só gente consome.

Vê se desaparece, some!
O pobre rato caipira tremia
Diante daquela situação.
Então ele disse ao rato chique:

Amigo, qui confusão
Pra ocê cumê um pedaço di pão!
Perfiru cumê grãus i pão duro
Na santa paz du sinhô
Du qui sê cuma ocê chique

Cumendo queijo di Moçambique
I ficar tremilicando
Toda veiz qui esse home
Entra fazeno um baruião.
Desse jeito ocê morri di fome.
Perfiru a simplicidade
A viver nessa fairtura cum medo.

Lá se foi o rato caipirinha
De volta ao seu amado campo
Onde vivia em fartura
Sem que nenhuma criatura
Aplicasse-lhe tanta tortura.

18/09/11
(Maria Hilda de J. Alão)
(histórias que contava para o meu neto)

 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

PEDRO PEDRA E A BRUXA (cordel infantil)

 



No tempo da carochinha
Morava em uma vilazinha
Um menino muito valente
Que de um fato era ciente

Que na mata vivia uma bruxa
Feia, malvada e gorducha
Que tinha o mau costume
De afiar do facão o gume

Para assustar os meninos.
Um dia, evitando os felinos,
O menino que era valente
Mas também inconsequente

Entrou na mata sem se dar conta
Da seta que a estrada aponta
Levava o incauto caminhante
À casa da bruxa Violante.

Feliz, o menino de nome Pedro
Correu e subiu em um cedro
Desceu ao ver uma goiabeira,
Cheia de frutos em uma clareira.

Para ela correu todo lampeiro
Sentindo no ar o doce cheiro
Daquelas goiabas amarelinhas.
E gritando são todas minhas

Subiu, sentando-se em um galho
Recolhendo as frutas sem atrapalho
Quando ouviu um som rouquenho
Que dizia: Pedro fome eu tenho

Desça e me dê uma frutinha
Pois sou uma fada boazinha.
Pedro tremendo de medo
Respondeu: o fruto é azedo.

Mas a bruxa malvada Violante
Tinha na cabeça a ideia brilhante
De pegar o menino de surpresa
E levar amarrada a sua presa

Lá para as bandas do ribeirão
Onde fervia o enorme caldeirão
Na fogueira feita no chão.
Pedro pensou: é uma aberração

Preciso de ideia, uma solução
Para sair dessa grande armação.
Lembrou-se que Violante dizia
Ser bruxa versada em poesia

E que não existia ninguém capaz
De vencê-la, passa-la para trás.
Então Pedro disse em alto tom:
Você diz que tem um dom

De compor versos, que é poetisa
E que nem de inspiração precisa.
Levará as frutas que peguei
Se fizer versos com a palavra lei.

A bruxa pensou e deu uma risada
Ajeitando a velha saia amassada.
Começando uma rouca ladainha
Violante disse tanta abobrinha

Igual a quem de poesia nada sabe.
Pedro ria dizendo: que o céu desabe.
A bruxa repetiu o pedido infame:
Dê-me um fruto, pois tenho fome.

A promessa não foi cumprida
Não recitou a poesia prometida
Se eu descer você me pega
E para o caldeirão me carrega.

Mas como sou um menino esperto
Quero propor-lhe em campo aberto:
Feche os olhos e fique parada
Repetindo sem parar, sem errar

A cantilena que vou lhe ensinar
Para ganhar as frutas que desejar.
Percebendo êxito nesta proposta
De pegar o menino ela aposta

Que fará tudo que ele mandar.
Fechando os olhos pôs-se a cantar
Pensando no velho caldeirão
Cozinhando o menino Pedrão.

Então repita rápido sem parar:
Quebra pedra Pedro Pedra
Se pedra Pedro não quebrar
Quem pedra quebrará?

Violante iniciou a lengalenga
Muito atrapalhada e capenga.
Errando tudo estava temerosa
Da fuga da presa ao fim da prosa.

Violante, repetindo sem parar,
A cantilena pôs-se a rodopiar.
Pedro aproveitou o momento
Para terminar seu tormento.

Desceu da árvore rapidamente
E caminhando cautelosamente
Afastou-se daquele espetáculo
Antes que surgisse um obstáculo.

Ao longe olhou para trás e viu
Que a bruxa numa nuvem sumiu
Furiosa por ter sido enganada
E não ter a grande fome saciada.

23/02/22

(Maria Hilda de J. Alão)
(Histórias que contava para o meu neto)


domingo, 20 de fevereiro de 2022

AS DUAS PANELAS (história)

 

Cansada de viver sobre o fogo cozinhando sem parar, uma panela de ferro propôs a uma de barro que fugisse daquela casa. A panela de barro desculpou-se dizendo:

- Acho mais sábio ficarmos por aqui.

- Não seja boba! Nesse caso continuaremos a ser exploradas e queimadas todos os dias de nossas vidas. – assegurou a panela de ferro que continuava a tentar a de barro para acompanhá-la na arriscada aventura.

- Imagine nós duas em outro lugar, outra casa, onde seríamos tratadas com delicadeza, viveríamos em uma prateleira limpa de um armário envidraçado, sem fogo, cinzas e colheres violentas dentro de nós. Imagine, imagine! – insistia a panela de ferro.

Pensando em sua fragilidade e nos perigos da viagem a panela de barro disse:

- Amiga, você tem a pele dura. Pobre de mim! Como poderei aguentar mudança tão brusca se a minha pele é tão frágil?
- Não se preocupe! Eu a protegerei durante a viagem.

Convencida pela panela de ferro, a panela de barro concordou com a fuga.
Antes do amanhecer as duas entraram na carroça do dono da casa, que todas as manhãs levava o leite fresquinho para a cidade vizinha. Acomodada entre um barril e a panela de ferro, a de barro estava confortável. 

E começou a viagem pela estrada esburacada. A carroça corria. Era solavanco aqui, solavanco ali até que o barril perdeu o equilíbrio rolando para fora da carroça e junto foram as duas panelas. A de barro virou um monte de cacos, a de ferro sofreu grandes arranhões. Depois de alguns minutos e com a carroça já bem distante, a panela de ferro chamou pela de barro:

- Amiga, você está bem?
- Não! Sou apenas um montão de cacos. Eu te falei da fragilidade da minha pele. Eu preferia estar naquele fogão cozinhando, cozinhando sem parar, porém inteira. Quem deixa o certo pelo duvidoso sofre as consequências.

Abandonada na estrada, foi assim que terminou a triste aventura da panela de ferro que não queria mais cozinhar.

12/05/13

(Maria Hilda de J. Alão)

 (histórias que contava para o meu neto)

A Caixa Mágica (cordel)

AS DUAS CARTAS

  Faltavam duas semanas para o encerramento das aulas e as crianças do Grupo Escolar Cristo Rei tinham aulas de recreação. Todos estava...

Sorvete, Sorvetão (parlendas)