Powered By Blogger

domingo, 16 de janeiro de 2022

A APOSTA (poesia)

 

Apostavam o Sol e o Vento
Quem mais rápido faria
Tirar o grosso casaco
O moço que pela estrada corria.

Primeiro o Vento ventou
Com tanta força que depenou
As aves e as árvores desfolhou,
Casas sua violência derrubou.

O moço fortemente o casaco segurou
E o Vento cansado e injuriado
Com forte rajada assegurou
Não ser capaz de tal aposta vencer.

É sua vez, disse o Vento ao Sol,
Espero que com dignidade se porte
Quero ver se de fato é o mais forte
Por isso lhe desejo boa sorte.

O Sol, abrindo largo sorriso disse:
Não preciso de sorte, isso é sandice,
Segurar o casaco é pura tolice
Veja só a minha façanhice.

E as três horas da tarde
Daquele dia de forte verão
O belo Sol sem coração
Elevou tanto a temperatura

Fez no solo imensas rachaduras
E no ar despejou tanta secura
Que o moço que na estrada corria
Sentiu que com o casaco derreteria

De tanto suar não sobreviveria
E a longa distância não venceria
Daquele grosso casaco se livraria
E assim o calor aliviaria.

Vendo o casaco voar pelos ares
O Sol disse rindo ao Vento:
Caro amigo tome tento
Para vencer é preciso talento.

16/01/2022

(Maria Hilda de J. Alão)

sábado, 15 de janeiro de 2022

O INVERNO E A PRIMAVERA

 


O senhor Inverno estava feliz.
Dias gelados, muita neve, chuva e vento.
Ele, lá do alto, olhava para a Terra
E via as pessoas vestidas com grossos casacos,

Tremendo de frio, andando apressadas
Para chegarem as suas casas
E se aquecerem ao calor do fogo.
Os bichos não saiam de suas tocas.

Dava até para ouvir o ronco do urso
No seu longo sono invernal.
As árvores, sem a roupagem de folhas,
Pareciam esqueletos balançando ao vento.

O céu era cinzento e o azul
Escondia-se nas grossas nuvens.
O sol batalhava para aparecer,
Mesmo que fosse por uma brechinha

Entre as pesadas nuvens.
O senhor Inverno passeava pela Terra
Fiscalizando o seu trabalho.
Não tendo moradia certa,

Ele passa um tempo num continente
E outro tempo em outro. É assim que ele vive.
Um dia, depois de gelar tudo, ele foi descansar.
Adormeceu. Quando acordou e olhou para baixo

Não acreditou no que via.
O sol estava no meio do céu azul
Sorrindo e aquecendo tudo,
Flores coloridas e viçosas estavam por todo lado.

As árvores vestiam roupa nova
De folhas tenras de um verde-dourado.
Os animais viviam seus romances de amor
Para perpetuar a espécie.

Os humanos substituíram as grossas roupas
Por outras mais leves.
As crianças, nos parques, escolas e quintais,
Brincavam e cantavam modinhas infantis

Batendo os pés e palmas para ritmar.
- Oh! Quem ousou fazer semelhante estrago!
-Vociferou, lançando uma rajada de vento gelado,
O senhor Inverno.

E procurou com seus olhos de gelo.
Encontrou. Era a deusa Primavera.
Ele queria reclamar, advertir,
Dizer a ela que não podia ir chegando

E invadindo seu espaço sem pedir licença.
Quando ia abrir a sua bocarra gelada,
A jovial Primavera desfez o nó do lenço
Que tinha no seu regaço, e dele saíram

Milhões de borboletas coloridas.
A Primavera, no seu vestido branco vaporoso,
Cantava e dançava a sinfonia da vida.
O senhor Inverno ficou apaixonado.

Percebendo o sentimento do Inverno,
A Primavera disse a ele que era impossível,
Embora ela se sentisse atraída por ele:
- Eu sou só alegria, calor e vida,

Você é só frio e tristeza. - disse ela.
O Inverno nada disse, sabia que ela tinha razão.
Agradecida pelo amor do senhor Inverno,
Ela lhe deu uma semente com a recomendação:

- Plante no gelo esta semente
E quando nascer a flor branquinha
Saberá que estou pensando em você.
E lá se foi o senhor Inverno
Para um outro continente
Deixando sua amada reinando absoluta.

23/09/2009

(Maria Hilda de J. Alão)


 

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

A BRINCADEIRA DAS LETRINHAS (história)

 


A aula havia terminado. Em algazarra, as crianças foram saindo da sala. A professora guardou, cuidadosamente, os livros no armário de aço, trancou a porta e se retirou fechando a sala de aula.

Chegou a noite. Dentro do armário de aço livros, cadernos e lápis dormiam. De repente um barulho. O livro de Gramática despertou. Ele era muito tagarela. Também, com aquela porção de letras só podia ser tagarela.

- Pessoal! É hora de acordar! – gritou ele.

As letras despertaram esfregando os olhos cheios de sono.

- O que aconteceu? – perguntou a letrinha A bocejando.

- Não aconteceu. Vai acontecer. – disse o livro sacudindo todas as páginas.

- Ai! Para de se chacoalhar senão eu caio da página. – reclamou irritada a letrinha Z a última do alfabeto da Língua Portuguesa.

- Desculpe! Não fiz por mal. Foi só para acordar todo mundo. – disse o livro rindo baixinho.

- Afinal, qual o motivo dessa bagunça toda? – perguntou, com sua voz de trovão, a letrinha X.

- Não é bagunça. É que eu pensei em fazer uma surpresa para as crianças amanhã. Pensei numa brincadeira que vai fazer a turma quebrar a cabeça só pensando.

- E que brincadeira é essa? – quis saber a letrinha C.

- Eu pensei assim: e se algumas letrinhas se embaralhassem, outras se duplicassem para formar uma palavra! As crianças terão de organizar as letras para saberem qual é a palavra. Não é uma ideia legal? – terminou todo eufórico o livro.

- Taí! Gostei da ideia. – afirmou a letrinha Q balançando o rabinho.

- E qual é a palavra? – perguntou a letrinha K.

- A palavra eu já escolhi, e afirmo que não é das mais fáceis. Vou começar chamando a letrinha D, e a seguir, as outras que formam a palavra escolhida.

- D se apresentando, comandante. – disse, fazendo continência, a letra D.

- Como faremos quando surgir a mesma letra duas vezes? – perguntou a letrinha D.

- Bem! Aí nós pediremos ajuda ao nosso amigo lápis. – respondeu o livro.

O lápis, que até o momento não dissera nada, ficou todo assanhado. Ele ia participar da brincadeira. Ele ia duplicar as letras da palavra difícil que o livro inventara. E o livro continuou a chamar as letras que, depois de todas arrumadinhas, resultou na palavra abaixo.

DORAPAPEPILELE

- Ih! Será que as crianças vão acertar? É uma confusão... Eu não sei o que está escrito aí. – disse, fazendo careta, a letrinha B.

- Eu sei. É tão fácil! Vocês é que não prestam atenção. – contestou a letrinha V.

- Eu protesto! Onde já se viu escrever palavras misturando as letras. Já pensou se os livros fossem escritos dessa forma? Coitadas das crianças. Isso não se faz... – protestou a letrinha U.

- Chega de conversa. Já fizemos a nossa parte, agora vamos dormir. Amanhã nós saberemos se as crianças são espertas ou não. – falou a letrinha T.

E o livro de gramática, agradecendo, fechou as páginas para que as letrinhas dormissem porque, pela manhã, elas teriam muito que fazer.

- Vovó, eu já sei qual é a palavra...

- Guarde para você. Não vá estragar a brincadeira do livro de gramática.

15/05/08

(Maria Hilda de J. Alão)

(Histórias que contava para o meu neto).

VERBOS QUE SÃO TRAVA-LÍNGUAS

 


Os trava-línguas fazem parte das manifestações orais da cultura popular, são elementos do nosso folclore, como as lendas, os acalantos, as parlendas, as adivinhas e os contos. O que faz as crianças repeti-los é o desafio de reproduzi-los sem errar. Entra aqui também a questão do ritmo, pois elas começam a perceber que, quanto mais rápido tentam dizer, maior é a chance de não concluir o trava-línguas. Esse tipo de poema pode ser um bom recurso para trabalhar a leitura oral, com o cuidado de não expor alunos com mais dificuldades. É nessa leitura que melhor se observa o efeito do trava-línguas e, dependendo da atividade, passa a ser uma brincadeira que agrada sempre. Há verbos da LP que são verdadeiros trava-línguas. Tentem conjugar os verbos, relacionados abaixo, falando rapidamente:


Verbo Cantarolar

Eu cantarolarei,
Tu cantarolarás,
Ele cantarolará,
Nós cantarolaremos
Vós cantarolareis
Eles cantarolarão.

Eu cantarolaria
Tu cantarolarias
Ele cantarolaria
Nós cantarolaríamos
Vós cantarolaríeis
Eles cantarolariam

Verbo Tagarelar

Eu tagarelaria
Tu tagarelarias
Ele tagarelaria
Nós tagarelaríamos
Vós tagarelaríeis
Eles tagarelariam.

Verbo Desatarraxar

Eu desatarraxaria
Tu desatarraxarias
Ele desatarraxaria
Nós desatarraxaríamos
Vós desatarraxaríeis
Eles desatarraxariam

Verbo tiquetaquear

Eu tiquetaquearia
Tu tiquetaquearias
Ele tiquetaquearia
Nós tiquetaquearíamos
Vós tiquetaquearíeis
Eles tiquetaqueariam

Verbo pintalgar (pintar-se de cores variadas)

Eu pintalgarei
Tu pintalgarás
Ele pintalgará
Nós pintalgaremos
Vós pintalgareis
Eles pintalgarão

Verbo triplicar

Eu triplicarei
Tu triplicarás
Ele triplicará
Nós triplicaremos
Vós triplicareis
Eles triplicarão

Eu triplicaria
Tu triplicarias
Ele triplicaria
Nós triplicaríamos
Vós triplicaríeis
Eles triplicariam

Verbo vascularizar (relativo a vasos sanguíneos)

Eu vascularizaria
Tu vascularizarias
Ele vascularizaria
Nós vascularizaríamos
Vós vascularizaríeis
Eles vascularizariam

Verbo descaracterizar (perder a característica)

Eu descaracterizaria
Tu descaracterizarias
Ele descaracterizaria
Nós descaracterizaríamos
Vós descaracterizaríeis
Eles descaracterizariam

14/12/2011

(Maria Hilda de J. Alão)

VAGALUME (cordel infantil)



Vagalume acende a luz 
Parece estrela a voar 
Criança corre atrás dela 
Com vontade de pegar. 

Voa, voa vagalume
Com a luzinha a brilhar 
Ilumina essa menina 
Que não cansa de sonhar.
 
 Se eu pudesse mudar 
Queria ser vagalume 
Para o mundo iluminar 
Com o clarão do meu lume, 

Voa, voa vagalume!

 25/07/11

 (Maria Hilda de J. Alão)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

O CORDEL DO DENTE DE LEITE

 

Pedrinho era um menino
Filho de Maria e Firmino,
Tinha maravilhosa saúde
Ser obediente era sua virtude.

Jogava bola, corria muito,
E era o seu grande intuito
Vencer seu belo cão pastor
Por quem tinha muito amor.

Sentado no chão de terra batida
Ele pensava que numa subida
Venceria o esperto Adamastor
Aquele esbelto cão pastor.

Outras vezes sentado no balanço
Se via gritando: corre que eu lanço!
A bola nova do irmão mais velho
Pedindo aos santos do evangelho

Proteção para que a bola linda
Não virasse, no meio da berlinda,
Uma carcaça de couro triturado
Pelos dentes do cão habituado

A ganhar sempre do pequeno.
Um dia, brincando ao sereno,
Sentiu balançar um dentinho.
Gritou desesperado Pedrinho:

Corre mamãe vou perder um dente!
Disse a mãe, criatura tão paciente:
Perder dente nessa idade é natural
Com um puxão eu resolvo esse mal.

Pedrinho esperneou, chorou de medo:
No meu dente ninguém põe um dedo.
O pai disse com calma e diplomacia:
Filho, eu quero ver no seu rosto alegria,

Vou levá-lo ao senhor dentista
Em resolver problema um especialista.
Chegando os dois à grande sala de espera,
Foram recebidos pela assistente Vera.

Choramingando Pedrinho dizia:
Essa dor será a grande agonia,
Não quero tirar meu dentinho,
Pois ficará na boca um buraquinho.

Foi aí que aquele esperto dentista
Dando uma de grande artista
Mostrou ao menino a figura de um bicho.
Tentando vencer aquele capricho.

Sabes que bicho é este aqui na figura?
Pedrinho respondeu com toda candura:
Sim. É um grande elefante dentuço.
Sei, pois a revista do meu irmão eu fuço.

Sorrindo o dentista na parede afixou
A figura do elefante e perguntou:
Sabes por que ele tem dentes grandes?
Não. Pergunte ao meu irmão Alexandre.

O elefante não quis tirar o dente que balançava
Como você ele gritava e aos santos clamava:
Não posso perder meu dentinho
Pois na boca não quero um buraquinho.

Contando a história o boticão preparava
E ao menino interessado ele perguntava:
Queres ter dentes iguais aos do elefante?
Não. Respondeu Pedrinho balbuciante.

Então abra essa bela boquinha
Que eu quero dar uma espiadinha.
Boca aberta e o boticão na mão
Lá se foi o dentinho num safanão.

E foi assim que história terminou
Do menino que um dia acreditou
Que o elefante tem dente comprido
Por não ter tirado o dente amolecido.

(Maria Hilda de J. Alão)

27/12/17

(Histórias que contava para o meu neto)

 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

A MENINA E A BONECA

 


Olhos grudados na vitrine da loja, uma pequena menina olhava uma boneca luxuosa, vestida de cetim, cabelos louros e grandes olhos azuis. Dedinho na boca, a pequena remoía o desejo de pegar aquele lindo brinquedo e sair mostrando para suas amiguinhas. Elas morreriam de inveja. - Que boneca rica...! - diria uma. Outra, despeitada, repetiria: - Vou ganhar uma igualzinha... Estava tão embevecida que tomou um susto quando o homem da loja disse: - Cai fora malandrinha!

Só então voltou à realidade de sua vida. Olhou suas roupas rasgadas, pés descalços e sujos, sentiu o estômago gritar de fome, lembrou-se das noites de frio, da solidão, dos abusos. Sua pequena cabeça não entendia porque ela não era como aquelas meninas que via passeando pelas ruas, acompanhadas dos pais, sorvete na mão e recebendo cuidados da mãe.

Afastou-se da vitrine com lágrimas nos olhos, mas ainda lançou um olhar na direção do rico brinquedo que ficou lá, olhando para ela como a desafiá-la. Foi juntar-se as outras crianças, como ela, sem esperanças. Chorou muito, lembrando do brinquedo e de como o homem a expulsara de lá. Ela não fizera nada, só estava olhando, pensava a coitadinha. Na sua inocência pediu a Deus que lhe desse uma boneca como aquela, no Natal, e uma mãe.

Dormiu na sarjeta. No dia seguinte, ela não lembrava como acontecera, acordou num lugar que sua cabecinha identificou como um hospital. Uma mulher bonita e sorridente cuidava dela. Olhou em volta procurando as amiguinhas de infortúnio. Não viu nenhuma. Queria perguntar, saber como fora parar ali e onde estava a Neguinha que ela considerava uma irmã mais velha. Sua voz não saía. Olhou para si admirada. Estava limpa, roupa nova, cama quente. - Cama! - pensou. Desde que se conhecera como gente dormia pelas calçadas. Não conhecia pai nem mãe, não tinha uma casa. Agora estava ali, cuidada e sem sentir fome.

Neste momento entra uma moça radiante, parecia estar envolta em uma luz branca, trazendo nas mãos um pacote. Aproximou-se dela e, sorrindo, disse:

- É seu. Vamos, abra!

Quando abriu o embrulho, os olhinhos arregalaram-se.

- Meu Deus, que coisa maravilhosa! Exclamou. - É pra mim...?

- Sim! - respondeu a moça. – Seu pedido foi atendido. É a sua boneca... Gostou?

- É linda - disse a menina com os olhinhos marejados - é a mais bonita que já vi...

A felicidade envolveu a pequenina que sorrindo abraçou a mulher em sinal de gratidão e, finalmente, perguntou - Onde estou? Como vim parar neste hospital?

Sorrindo, a moça lhe respondeu:

- Aqui não é um hospital, é o Céu! Esta - apontou para a mulher sorridente - é sua mãe.

 



(Maria Hilda de J. Alão)

 (Histórias que contava para o meu neto)

 

A Caixa Mágica (cordel)

CONTANDO CARNEIRINHOS (infantil)

  Eu acho tão engraçado A vovó contar carneirinhos Na hora de dormir. Na minha cabeça de criança Brotou a grande pergunta: E os ca...

Sorvete, Sorvetão (parlendas)