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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

LUZ DA MANHÃ (Cordel infantil)

 



(A menina que virou princesa)

Era uma vez, num palácio sombrio,
Uma menina que morava sozinha
Num quarto atrás da cozinha,
Pois era escrava a coitadinha,

De uma rainha muito malvada.
Luz da Manhã era o seu nome.
Doente, ela passava frio e muita fome.
Nos poucos momentos de descanso,

Para aliviar tal tormento, ela comia
Umas folhas que brotavam verdinhas
Na água corrente e límpida do riacho,
Um quilômetro floresta a dentro.

A idade de Luz da Manhã variava
Entre quatorze ou dezesseis anos,
Ninguém sabia ao certo,
Era o que ela aparentava.

A rainha megera observava
Que o castigo que aplicava
De nada adiantava
Pois a menina melhorava

Da forte tosse que incomodava
O sono dos outros empregados.
Com a falta de boa alimentação
O mal deveria piorar, pensava a bruxa.

Mal sabia a desnaturada
Que outros empregados do castelo,
Com muita pena de Luz da Manhã,
Escondiam pães, nozes e avelãs

Nos bolsos dos seus aventais
E antes de se dispersarem
Cada um para os seus afazeres
Deixavam tudo num cesto de vime,

Escondido num buraco da parede do quarto,
Para que a infeliz menina,
Ajudada por eles e pela planta,
Pudesse se livrar do mal para sempre.

Luz da Manhã crescia e a cada dia
Ficava mais rosada e mais bela
Com grandes olhos azuis
E longos cabelos cor de mel

Despertando a inveja e o rancor
Daquela rainha sem alma,
Que a expulsou do sombrio palácio,
Para aquela floresta fria e nevoenta

Com uma trouxa de roupas e mais nada.
O tempo foi passando e Luz da Manhã
Ainda vivia no mato junto com alguns bichos
Que se tornaram seus grandes amigos.

Um deles, um lobo velho de cor cinzenta,
Foi quem abrigou a menina em sua toca.
A princípio ela sentiu medo, mas o animal,
Tranquilizando-a, disse que não lhe faria mal.

Um macaco tornou-se seu grande amigo.
Se ficasse ao lado dele ela não correria perigo, dizia.
Além de presentear a amiga com tudo que comia
Ensinou-lhe a diferenciar as boas frutas das nocivas.

Aprendendo com os bichos, ela não passou fome,
Nem sentiu frio. Solidão? Estranho esse nome.
Vivia sempre cercada de amigos sinceros.
Numa tarde de sol muito bonita,

E na companhia do amigo macaco,
Ela se aproximou do riacho onde nasciam
Aquelas folhas verdinhas e gostosas
Que a sua tosse curou. Ficou ansiosa

Porque dali dava para avistar as torres
Do grande palácio dos horrores,
Sua casa por um tempo e ela queria
Esquecer para sempre o dia

Em que se embrenhou pela mata
Numa época de chuva e muito frio.
Pensativa olhava a água do riacho
Quando ouviu homens falando

Em tom nervoso e pesaroso.
Aproximando-se cautelosamente
E por entre os galhos observando
O motivo de tal confusão.

Foi então que viu um belo moço caído,
Por homens preocupados rodeado.
Ela foi chegando de mansinho,
Sem fazer nenhum barulhinho,

Mas o macaco assustado
E com medo dos cavalos,
Gritou subindo rapidamente
Num alto pé de carvalho.

Ao avistar Luz da Manhã entre as folhas,
Um dos homens, com um chapéu em forma de bolha,
Aproximou-se e perguntou como podia
Tão bela jovem estar ao meio-dia

Naquela floresta tão distante do seu castelo.
Supunha ele estar diante de uma princesa
Tal era a suavidade e a beleza
Da moça desconhecida.

Luz da Manhã contou sua história.
Era uma vida sem glória,
Mas vivia muito feliz ali
Entre macacos, lobos e javalis.

Quis saber quem era o jovem
Estirado, imóvel ali no chão.
-É um príncipe de bom coração,
Filho do poderoso rei João

Que nada teme nem urso nem leão.
Ele sofre de um mal que ninguém conhece
Tosse muito e desfalece
E, ao acordar, não reconhece

Quem o ajudar tenta.
Médicos já foram mais de setenta
Nenhum capaz de descobrir
A causa de tanto tossir.

Respondeu o homem de chapéu de bolha.
Apanhando de uma árvore a folha
Ele se pôs a abanar o jovem desmaiado
Para que se sentisse ventilado.

Luz da Manhã contou ao homem
Que um dia sofrera de mal igual,
E graças a um vegetal,
De cor verde magistral,

Recuperou a saúde
E que ela, amiúde,
Faz dessas folhas refeição.
Com todo respeito e admiração

O homem pediu à moça
Que o levasse até a planta,
E sua ansiedade era tanta
Que ele tropeçou caindo numa poça

De lama negra e fétida.
Segurando a mão do macaco,
Luz da Manhã acompanhou o homem
E com ele chegou ao riacho coberto

De folhas tenras verdejantes.
Perguntando insistentemente
Ele obteve a resposta finalmente:
Era aquela a planta milagrosa

Que livrou a moça do mal terrível.
Recolhendo punhados da erva
O homem foi até o belo rapaz
Que parecia dormir em paz.

Chamou os companheiros
E pedindo uma faca
Improvisou uma maca
Para levarem de volta ao castelo

O doente jovem e belo.
Lá chegando contaram ao rei João
O fato acontecido na floresta.
Sentindo partido seu coração

O rei pediu a um grupo de soldados:
- Tragam essa moça a minha presença
Para que me ajude a libertar de tal doença
Julian meu amado filho.

Horas depois o grupo voltou
Trazendo a jovem temerosa
De voltar aos dias terríveis
Vividos em outros tempos.

Luz da Manhã foi recebida
Pelo rei e pela rainha,
E nesse breve encontro
Ela sentiu grande simpatia

Pelo generoso casal real.
Os dias foram passando
E, com os cuidados da rainha
E de Luz da Manhã, o príncipe
Foi se recuperando do mal de tossir.

Todos os dias soldados iam ao riacho,
E em cestos traziam para o palácio
A milagrosa planta que virava
Grande prato de salada crua

Que o príncipe devorava com satisfação.
Numa tarde, quando ajudava a rainha
A enrolar lãs e linhas, Luz da Manhã
Contou que não conhecia seus pais,

Não sabia o lugar de seu nascimento
Nem como fora parar no castelo sombrio.
Ela percebeu que a rainha ficou triste.
-Majestade, eu disse alguma coisa errada?

Perguntou a menina assustada.
-Não, minha filha, não...
Mas não pôde esconder a lágrima
Que caiu morna na palma de sua mão.

Luz da Manhã soube da triste história,
Da longa busca sem vitória
Pela princesinha desaparecida
Aos dois anos de vida.

A rainha secou os olhos,
Deixou o cesto de linhas
E foi até a sala do trono
Onde estava o rei em pleno sono.

Chamou o marido que assustado
Perguntou o que ela queria.
Segurando a mão do rei João
Ela disse com toda a emoção:

- Já reparou nos olhos de Luz da Manhã?
São iguais aos da nossa Miriam.
Estou com um pressentimento,
Por isso peço que mande investigar
A origem desta menina e como ela foi parar

No castelo de Serafina megera.
Depois desse pedido o rei João
Mandou chamar o soldado Salomão
Especialista na investigação

De qualquer caso dito perdido.
Com as ordens do rei ele partiu.
Percorrendo várias estradas
Chegou a um vilarejo distante

E foi perguntando confiante
Se ali teria aparecido,
Há uns quatorze anos,
Uma linda menina

De olhos da cor do céu
E cabelos cor de mel.
Vinte moedas de ouro
Tinha ele na bolsa de couro
Para pagar regiamente
Qualquer informação convincente.

Foi aí que alguém disse
Que isso era sandice,
Tanto tempo se passou
E a criança já evaporou.

Saindo do meio do ajuntamento,
Uma senhora com esquisito paramento,
Segurando pela rédea um jumento
Pediu para falar naquele momento.

Fale senhora com clareza
Para que eu diga à realeza
Que cumpri a ordem dada
E que de mentira não tem nada

A sua informação. – disse Salomão.
- Foi num mês de quente verão
Que passou por aqui um gigante,
Vindo não se sabe de onde,

Procurando o castelo da rainha Serafina.
Ele trazia uma criança envolta
Em rica manta de veludo
Onde bordado havia um escudo

Com duas lanças e um coração.
Salomão ficou muito sisudo
Pensando: aquele era o escudo
Da família do rei João.

Continuou a mulher falando
Sobre o gigante e a criança.
- Soldado não tenha esperança
Porque a maldade da rainha é tanta

Que, talvez, tenha feito desaparecer
Aquele pequenino ser.
Salomão ligou os fatos:
- Nossa! Quatorze anos exatos...

Se fosse como ele pensava
A princesinha estaria agora
Com uns dezesseis anos de idade.
Seria Luz da Manhã a princesa?

Depois de tal informação
O experiente soldado Salomão
Entregou à mulher a bolsa de couro
Com as vinte moedas de ouro.

Voltou ao castelo cavalgando
Num cavalo que parecia voar.
Levantando poeira no ar
Parou estafado diante do castelo

Esperando a ponte descer,
E antes do completo escurecer
Estava narrando ao rei João
Todo o conteúdo da informação.

Então o rei valente decidiu
Ir pessoalmente ao castelo
Da rainha má Serafina,
Para esclarecer o mistério

Da origem de Luz da Manhã.
Nem bem rompeu o dia,
Vestindo uma armadura dourada,
Partiu o rei com seus duzentos soldados.
Depois de alguns dias, todos cansados,

Chegaram ao castelo sombrio.
Serafina ficou amedrontada
Ao ver diante de si o rei João
Que, em tom ameaçador, exigia

Que lhe dissesse quem era
A moça que, sem piedade,
Ela enviou para o meio da floresta.
O suor banhava a testa enrugada

Da malvada Serafina
Que outro jeito não teve
Senão pedir a um serviçal
Que fosse buscar a manta

Guardada no fundo de um baú.
Foi com aquela manta
Que Luz da Manhã lhe foi entregue
Pelo gigante Mussaregue.

O rei chorou ao ver a manta.
Então aquela menina da floresta
Era Miriam, a sua amada filha,
Levada para ser escravizada

Por tal criatura desprezível.
Antes de partir levando a manta
O rei passou a ordem:
- Libertem todos os escravos!

Um dos escravos, respeitosamente,
Disse ao rei que Serafina
Mandara prender covardemente
Augusto, o rei daquele lugar,

Tomando seus bens e suas terras
Escravizando a todos sem piedade.
João, imediatamente,
Enviou o soldado Clemente

Para libertar os prisioneiros.
Devolvendo a Augusto o seu reino,
Tornou-se amigo e aliado.
Os dois, em comum acordo,

Baniram Serafina para um lugar pantanoso
Onde vivem corvos e jacarés.
Por toda a sua vida viveria
Sem o luxo do castelo sombrio
Aprendendo que não se deve fazer aos outros
Aquilo que não quer para si.

Enviando à frente um mensageiro
Para comunicar a todo reino
A grande descoberta feita,
Voltou para casa o pai feliz
Para abraçar e beijar a princesinha.

25/10/10
(Maria Hilda de J. Alão)
(histórias que contava para o meu neto)

FESTA NO INTERIOR (Folclore)

 



Eu vou contar pra você,
Ó menina,
Uma bela historinha,
Ó menina,
Ocorrida no interior de Minas,
Ó menina!
Era lá o mês de agosto
Quando, por seu gosto,
A Mula-sem-cabeça
E seu amigo Saci Pererê,
Encontraram-se pra ir a uma festa
No interior da floresta.

Era o Dia Nacional do Folclore:
E que ninguém implore,
Foi logo avisando o Caipora,
Pra se vestir diferente,
Porque aqui, felizmente,
É festa do folclore brasileiro.

Eu vou contar pra você,
Ó menina!
Cobra Norato falou bem alto:
Que ninguém se vista de bruxa,
Nem de Velho do Saco europeu,
Aqui é Brasil, ora puxa...!
Vamos receber, vindo de Minas,
Lá na Região Sudeste,
O nosso amigo Chibamba,
Que, por ser fantasma,
Nem roupa ele veste.

Eu vou contar pra você,
Ó menina,
Festa como essa nunca eu vi,
Beleza de canto e dança só aqui.
A Cabra-Cabriola, filha do Nordeste,
Dançando com o Papa Figo,
Chama pra beber, o Barba Ruiva,
O sumo extraído da uva,
E a Mãe D’Água pede um pente
Para os cabelos pentear.

O Zumbi provoca a Cuca
Pra cantar um desafio,
Enquanto o Boi-Tatá se diverte
Num gostoso arrasta pé.
Eu vou contar pra você,
Ó menina,

Vi o lobisomem uivando pra lua,
A Mulher da Meia Noite chegando,
E, finalmente, pra completar,
Chegou o Negrinho do Pastoreio,
O ilustre convidado da festa
Que aconteceu na floresta.
Foi a mais bela, ninguém contesta!

Eu vou contar pra você,
Ó menina,
Podemos definir o folclore
como um conjunto de mitos e lendas,
passado de geração para geração,
Nascidos da imaginação das pessoas.
Muitas destas histórias
deram origem às festas populares,
que ocorrem pelos quatro cantos do país.

20/06/08
(Maria Hilda de J. Alão)

(aprendendo nomes de personagens do folclore brasileiro)

terça-feira, 13 de setembro de 2022

A SEREIA RAIO DE LUAR (história infantil)

 




               Três príncipes disputavam a mão da bela sereia Raio de Luar, filha do rei das águas do mundo, o Rei Tritão. Os príncipes vieram, cada qual, de um oceano diferente. O príncipe Hector, valente e bonito, era do Oceano Atlântico, o príncipe Manus, sábio e de uma cultura invejável, era do Oceano Pacifico e o príncipe Stratus, atleta de físico perfeito, era do Oceano Índico.
              Para que um deles fosse escolhido seria preciso passar por uma prova, e o vencedor se casaria com a sereia princesa. Para a realização do evento, o rei mandou preparar uma enorme arena na frente do seu palácio de mais de dois mil metros de comprimento e quinhentos metros de altura, todo construído com pérolas e conchas cor-de-rosa peroladas que reluziam, sob a água claríssima, quando o sol ficava bem em cima do mar observando os seus habitantes.
               Chegou o tão esperado dia. O dia em que um dos três príncipes ganharia a mão de Raio de Luar. A arena estava lotada, e, se tudo corresse bem, os súditos seriam convidados para a festa do casamento. Um tubarão tocou uma espécie de concha gigante anunciando a chegada do rei acompanhado de sua corte e de sua filha Raio de Luar. O soberano sentou-se no trono tendo a sua direita a princesa, linda como uma deusa.
           O primeiro a chegar foi o príncipe Hector, do Oceano Atlântico, montando um cavalo-marinho gigante acompanhado por seu batalhão de peixes-espadas. Ele vestia um traje verde feito de algas entrelaçadas com corais multicoloridos o que o tornava mais bonito ainda. Raio de Luar sorriu para ele. Logo atrás, em companhia de alguns delfins, veio o príncipe Manus vestindo uma túnica branca que lhe foi enviada por uma das deusas do Olimpo. A princesa sorriu e acenou para ele. 
               O último a chegar foi o príncipe Stratus, do Oceano Índico, montado em sua baleia branca. Ele vestia um saiote de algas enfeitado com sargaços que balançavam a cada passo que dava, fazendo aparecer o calção, tecido em tela de ouro, presente de sua mãe. Pondo-se em frente ao trono real, Stratus curvou-se saudando o rei, a princesa e todos os nobres presentes. A princesa o presenteou com o seu mais belo sorriso. Aplausos, muitos aplausos da plateia que já o havia escolhido como favorito.
            Os três príncipes fantásticos tomaram assento nas cadeiras douradas, reservadas para eles, pois ia começar o espetáculo dos peixes-palhaços, contratados para divertir o rei e a corte enquanto aguardavam a hora da prova. Após a saída dos peixes-palhaços, entraram as medusas, lindas, com suas roupas transparentes, tendo como destaque a bela Melusina, primeira bailarina do grupo. Elas começaram a bailar, com graça, a música, cujos acordes lembrava a “Dança da Fada Açucarada”, composta e executada pelos peixes-trombeta. Depois da apresentação das medusas, era a vez das moreias. Elas serpenteavam uma dança que ficou eternizada no fundo do mar como: “a dança do ventre das moreias”. O espetáculo continuou com um enorme polvo fazendo malabarismo com ouriços do mar, até que o responsável pelo cerimonial do palácio anunciou que era hora de começar a prova.
            Quando os três príncipes se preparavam para dar início às provas, a concentração foi quebrada por um burburinho vindo dos espectadores. É que havia adentrado ao recinto um moço de rara beleza. Tinha cabelos negros e longos, trançados com muita habilidade, o que lhe dava um ar de guerreiro. O rosto bonito lembrava o de Narciso da lenda grega. Os olhos, de um verde irisado, pareciam hipnotizar a todos. Seu corpo atlético, pontilhado com escamas brilhantes que tremeluziam à luz do sol, arrancava suspiros das jovens sereias. Vestia uma calça bufante que se estreitava nos tornozelos deixando aparecer os pés, parecidos com pés humanos, mas feitos de barbatanas, diferentes dos outros príncipes que, da cintura para baixo, eram semelhantes às sereias.
            Os três príncipes ficaram sérios. O rei, levantando-se do trono, perguntou-lhe:
- De qual Oceano você vem, meu jovem?
- Majestade, eu venho das águas geladas do Oceano Ártico.
- Por que está aqui se não foi convidado?
- Majestade, eu ouvi falar do torneio e fiquei curioso, pois no meu país é o rei que escolhe o marido de suas filhas. O escolhido não precisa passar por prova alguma.
- Você é da realeza?
- Não, majestade! – respondeu ele.
             Mediante essa resposta o rei mandou que se iniciasse a prova que se dividia em duas partes. A primeira era a retirada do tridente sagrado que o deus do Olimpo lançara no mar bem na frente do palácio. O rapaz que conseguisse retirá-lo estaria apto para executar a segunda parte que era esticar o arco mágico e lançar a flecha a uma distância determinada pelo rei. E o primeiro candidato, Hector, tentou arrancar o tridente fazendo uma força incrível e não conseguiu. Tentou a segunda parte da prova e tendo fracassado, retirou-se envergonhado.
             Diante do fracasso do príncipe Hector, Manus e Stratus, desmotivados, desistiram da prova. O forasteiro, cujo nome era Nemister, pediu licença ao rei para tentar as duas fases da prova, mas fez questão de esclarecer que não era candidato à mão da sereia princesa. Então, ele saltou para a arena e espalmando o tridente, o retirou do chão e, antes de depositá-lo aos pés de Raio de Luar, fez um discurso onde exaltava a beleza da princesa e a bondade do rei o que deixou a sereia emocionada. O chefe do cerimonial aproximou-se com um estojo de madrepérola nas mãos e, de dentro dele, retirou o arco mágico entregando-o a Nemister e dizendo a distância que o rei determinou para o lançamento da flecha. O moço pegou o arco e, juntando a destreza à força, o estirou arrancando da plateia um “Oh” de admiração.
              Porém, quando lançou a flecha a mil metros como mandara o rei, os espectadores deliraram. Foi um grito só: “Ele merece a mão da princesa, ele merece a mão da princesa...”. A arena foi invadida pela multidão de seres marinhos fazendo um barulho ensurdecedor.   Com os olhos, Raio de Luar procurava o estrangeiro na multidão e não o viu mais. Ele partiu sem dizer nada. A princesa entristeceu. Nem sua amiga Melusina conseguia fazê-la sorrir. A imagem do jovem não saia de sua cabeça.  O rei Tritão, diante do estado emocional da filha, mandou que procurassem Nemister por todos os mares do planeta Terra. Meses depois a equipe de busca voltou sem nenhum resultado. 
               O mago da corte, em reunião com o rei, aconselhou-o a casar a princesa apesar do fracasso do torneio. A princesa disse ao pai que só casaria com Nemister. Diante da intransigência da filha, o rei tomou uma decisão: mandou que procurassem o misterioso Nemister na terra. E, para essa tarefa, foram designadas as sereias que, em noites enluaradas, seduzem com seus cantos, pescadores e tripulantes de barcos em rios e mares na tentativa de encontrar o amado da princesa que até hoje por ele espera no fundo do mar.

04/06/07. 
(Histórias que contava para o meu neto).
(Maria Hilda de J. Alão)

sábado, 27 de agosto de 2022

DONA BARATINHA VAI SE CASAR (poesia infantil)



Mimi, a baratinha,
Está querendo se casar.
Assobia, assobia
Chama o padre Zé Maria

Pro casamento realizar.
E depois pra festejar
Será preciso um fogueteiro
Pra foguete ele soltar.

E a música para animar?
Convide para cantar
A cantora popular
A baratinha Lucimar.

Comida não faltará,
Fome ninguém passará,
Além de almoço ajantarado
Haverá doce e salgado.

A baratinha já avisou
Que esforços não poupará
Pra trazer dois cozinheiros
Que conheceu em janeiro.

São dois baratões japoneses,
Famosos entre os franceses
Pelos pratos deliciosos
E os petiscos curiosos.

São os irmãos Sushi e Sashimi.
Sushi prepara o peixe e o shari
Pra Sashimi fazer o sushi
E com as sobras Sushi fará sashimi.

Haverá pastel de vento,
De Sushi o grande invento,
Preparado com talento
Pra servir no casamento.

E será uma confusão de “mi”
Os convidados gritando em mi:
“Seu” Sushi me dê sashimi!
“Seu” Sashimi me dê sushi!

23/05/08
(Maria Hilda de J. Alão)

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

A REVOLTA DO DICIONÁRIO (história infantil)

 



          Era noite. Na biblioteca da escola, em cima de uma mesa, estavam uma pilha de livros de gramática e um pesado dicionário. Na mesa, ao lado, um porta-lápis e várias réguas, tudo bem arrumadinho. Em frente das mesas ficavam as estantes com muitos livros. A estante preferida das crianças era a que guardava os livrinhos de história infantil. Essa ficava bem perto da mesa onde repousavam os livros de gramática e o dicionário. Silêncio total na vasta sala de leitura. A iluminação da rua, através das vidraças, lançava uma tênue claridade no ambiente. De repente um soluço. Um lápis, cuja cabeça era enfeitada com uma borracha vermelha, perguntou:

- Quem está chorando?

- É o dicionário. Ele está muito tristinho. – respondeu um dos livros de gramática.

- Qual é a razão do choro? – perguntou uma régua amarela muito curiosa.

- É por causa das crianças. – respondeu o livro de história infantil Branca de Neve lá do seu cantinho na estante em frente à mesa que abrigava o dicionário chorão.

- Mas as crianças cuidam bem de nós. Não vejo motivo para essa choradeira. – resmungou um dos livros de gramática.

- Não é isso, meu amigo! – exclamou o livrinho de história infantil. – É que as crianças, doravante, não precisarão dele e não mais o chamarão carinhosamente de “Pai dos Burros”.

- Ora, isso não acontecerá! Não será exagero da parte do dicionário? – questionou o livro de gramática da terceira série.

- Que nada, meu querido livrinho! Foi decretado que falar errado é o certo.

- Como assim? Perguntou assustado o livro de gramática da quarta série.

- Por exemplo: - começou a explicar o livrinho de história infantil. – de acordo com o decreto você pode falar: “nóis vai na praia”, “nóis pega o ônibus”, “nóis come os doce” que está tudo certo.

- Que coisa feia! Mas eu tenho certeza que as professoras não concordarão com esse absurdo, portanto a criança não se expressará dessa forma.

- As professoras não podem fazer nada. A ordem vem de cima, de gente que se diz entendida em português. Entendeu agora por que chora o dicionário? Ele sabe o destino dessas crianças, coitadas. Falar “nóis jogou bola depois da aula”, “as menina chegou atrasada na crasse” é como dar uma paulada na cabeça. – finalizou o livrinho de história infantil Branca de Neve.

O dicionário parou de soluçar e, fazendo um esforço grande devido ao seu peso, ergueu-se sobre a mesa e começou a discursar.

- Caros amigos, - começou ele revoltado, - nós, instrumentos de alfabetização, estamos fadados a desaparecer. Sim! Se o errado é o certo, o nosso prazo de validade já venceu, e material vencido vai para o lixo. Precisamos lutar a fim de que as crianças tenham um futuro digno. Que elas possam ser alfabetizadas com dignidade. Que saibam se expressar corretamente porque o idioma é a identidade de um povo.

Todos os livros, lápis e réguas da biblioteca aplaudiram calorosamente a fala do dicionário. Mas como em todo lugar sempre tem um engraçadinho, a biblioteca também tinha o seu. Um lápis de cor azul já descascado de tanto ser mordido pelas crianças:

- É isso aí, dicionário! – gritou entusiasmado. – falou pouco, claro e bonito. Ainda bem que você não usou as palavras difíceis que tem aí escondidinhas nas suas páginas, ah, ah, ah, ah.

Já era madrugada quando todos foram dormir. Antes de se acomodar para o merecido descanso, o lápis de cor azul, não se sabe como, conseguiu ficar de cabeça para cima e, com sua ponta fininha, escrever no papel que forrava a mesa:

- Abaixo a incompetência dos “filólogos”, tudo por um ensino digno. Ah, ah, ah, pensam que é só o dicionário chorão que sabe palavra difícil? Eu, lápis, também sei. Viram o que escrevi? Filóloooogoooooo. Gracinha!!!

25/05/11.
(histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de J. Alão)

 

A RAPOSA E O GALO CARIJÓ (história infantil)

 


        O dia ainda não havia raiado e uma raposa perambulava pelas redondezas de um terreiro quando viu, no galho de uma árvore, um galo carijó cantando bem alto, có,có, cocoricó. Ao ver aquela ave tão gorda e bonita, a raposa decidiu que o seu café da manhã seria aquele belo galo carijó. Ela sentou-se e, olhando para o galo pousado no galho, disse:
 
- Sua voz é maravilhosa! Quando entoa a nota dó parece um deus do Olimpo. E esse seu peito estufado, ah, lembra-me a figura de Apolo. Mas como eu sou meio surda, peço que desça dessa árvore e cante para mim e bem pertinho de mim.
O galo, que não era bobo nem nada, respondeu:

- Eu canto para despertar os homens. Canto para anunciar o raiar do dia. Se canto alto, aboletado no galho dessa árvore, é para que todos, sem exceção, ouçam a minha voz.

- Ora, seu galo carijó, os homens se queixam do barulho que você faz acordando a todos nas madrugadas frias. A mim você não incomoda, pelo contrário, eu aguardo ansiosa a madrugada só para ouvir sua bela voz de tenor. Vamos, desça! Venha cantar só pra mim!
Para responder à raposa, o galo entoou um canto que dizia:

- Có, có, cocoricó!
A raposa é muito esperta,
Mas o galo é muito mais
Voo rasante, pouso em galhos
Isso raposa não faz.

A raposa, fingindo-se de simpática e paciente, respondeu com versos que inventou na hora:

- Vamos galinho cantor
Neste terreiro brincar.
Teu canto em ré, mi, fá
Parece de um canário a trinar. 
Foi aí que o galo respondeu cantando muito alto:

- Có, có, cocoricó,
Dona raposa manhosa
Teu pelo é uma formosura,
Tua voz uma doçura,
Mas se eu daqui descer
Sei bem o que pode acontecer.

E o canto insistente do galo, acordou os cães da fazenda que, farejando a raposa, invadiram o terreiro pondo em fuga a invasora que queria ter como café da manhã o belo e gordo galo carijó.

30/06/11
(Histórias que contava para o meu neto)
(Maria Hilda de J. Alão)

domingo, 21 de agosto de 2022

História- A Revolta das Cenouras - 1° e 2°Ano-Prof° Letícia.


(História escrita por Maria Hilda de J. Alão e publicada no seu livro de histórias infantis: Dona Baratinha não Casou à pag. 12)

A Caixa Mágica (cordel)

AS DUAS CARTAS

  Faltavam duas semanas para o encerramento das aulas e as crianças do Grupo Escolar Cristo Rei tinham aulas de recreação. Todos estava...

Sorvete, Sorvetão (parlendas)