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sábado, 19 de fevereiro de 2022

O PINGO D' ÁGUA

 


Todos os dias a vovó arrumava a cozinha: lavava a louça, guardava no armário, secava a pia e depois ia fazer o seu tricozinho.

Naquele dia seria a mesma coisa se não fosse um fato: ela não fechou a torneira da pia direito.

A cozinha estava silenciosa. As crianças estavam na escola. Na sala o som da televisão indicava que a vovó fazia seu tricô assistindo a novela da tarde tendo deitado aos seus pés um pachorrento gato angorá.

Enquanto isso acontecia, lá na pia de mármore da cozinha, um pingo d’água vinha, vagarosamente, lá do fundo do cano. Ele chegou à boca da torneira e ficou pendurado olhando o ambiente. Paredes revestidas com azulejos claros, a geladeira branca com bilhetes das crianças presos à porta com imãs, uma mesa espaçosa com suas seis cadeiras, armários e o fogão ao lado da pia. Curioso ele pensava:

- Como é diferente aqui fora. Tudo é claro e bonito. Acho que vou descer para conhecer melhor este lugar.

Mas quando ele olhou para baixo e viu a altura, tremeu de medo. Se caísse acabaria esborrachado e seria tragado para aquele enorme buraco que era o ralo da pia. E agora? Ele já estava cai-não-cai. A pia, com pena do pobre pingo, sugeriu:

- Por que não pede ajuda a sua mamãe torneira?

O pingo aceitou o conselho e pediu:

- Mamãe, não me deixe cair... eu estou com tanto medo...

E a torneira, cuidadosa como todas as mamães, fez: Glub – engolindo o curioso pingo d’água evitando o acidente.

 31/10/06.

 (Maria Hilda de J. Alão)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

UM SAPATO PRO SACI (folclore)

 


Meu amigo saci-pererê
Pra você calçar com classe
Fiz este lindo sapato
Das pétalas do girassol.

Quero ver na sua face
O sorriso matreiro
De personagem fuzarqueiro
Pensando como é engraçado

Um saci pulando no mato
Trazendo no único pé
Uma coisa amarela
Chamada de sapato.

Venha pra festa do folclore,
De colete aberto no peito
Com seu gorro vermelho
E o seu calção riscadinho.

Não esqueça do cachimbo
Pra fazer muita fumaça
E assim espantar
Pernilongo e muriçoca.

Não faça arte pelo caminho
Pro sapato não estragar,
Não sujar o gorro todinho
Sua mãe uma fera vai ficar.

Agora eu estou terminando
Uma tiara pros cabelos
Da minha querida Uiara,
Trançada com flores claras

Combinando com o vestido azul,
Que a lenda fez pra ela.
Enquanto os pássaros trinam
Suas eternas cantilenas

Do rio vou seguindo a corrente
Para passar horas a fio
Saboreando intensamente
Histórias contadas ou escritas,
Do rico folclore do Brasil.

19/08/06.

(Maria Hilda de J. Alão)

O GNOMO VERDINHO (história)

 


Um homem andava pelo jardim da sua casa olhando as plantas e as flores quando viu, no galho de uma árvore, um casulo.

- Nossa! Que coisa feia! – exclamou, já levantando a mão para jogar o casulo no chão e esmagá-lo com o pé. Neste momento ele ouviu uma voz fininha que o chamava.
- Moço, moço!
Com a mão suspensa no ar ele procura o dono da voz. Não viu ninguém. Outra vez o chamado.
- Moço, eu estou aqui no galho da roseira.

Ele se virou, e lá estava sentado no mais forte galho, apoiando o corpo no terceiro espinho, um gnomo verdinho com um sorriso bondoso estampado na cara.

- Quem és tu criatura esquisita? – perguntou espantado.
- Sou um gnomo de jardim – respondeu a criaturinha.
- O que faz um gnomo de jardim?
- Eu protejo as plantas e os bichinhos que moram nelas.
- E o que é que eu tenho com isso?
- Nada, moço. Eu reparei que você ia destruir o casulo e...
- É uma coisa muito feia e o bicho que mora aí dentro deve ser horroroso. – disse o homem interrompendo o gnomo.
- Agora ele é feio.
- Que quer dizer com agora? – questionou o homem.
- É que está chegando a hora do milagre, da explosão da beleza. – respondeu o gnomo verdinho irritando o homem.
- Ora, deixe de besteira! Uma coisa feia como esta será sempre uma coisa feia. Não há milagre que possa mudar isto.
- Bem se vê que você não conhece a natureza. – insistiu o gnomo – Que tal você voltar a este jardim antes de o sol se esconder?
- E por que eu faria isto?
- Venha! Valerá a pena, eu garanto. – afirmou o gnomo.

O homem foi para casa pensando que, por causa da conversa com o gnomo, ele se esqueceu de arrancar o casulo do galho. Antes do sol se esconder o homem chegou. O gnomo estava a sua espera com o seu sorriso no rosto.
- Oi, moço, eu estou aqui no mesmo lugar!
- Então, o que é que vai acontecer agora? – perguntou, impaciente, o homem.
- Sente-se e fique olhando aquela coisa que você acha feia, e por pouco não acabou com ela.

O homem sentou. Ficou olhando para o casulo no galho da árvore. O gnomo dizia:
- Preste bem a atenção. Olhe com a alma. Pensamentos puros para participar do milagre.

O casulo começou a se abrir, bem devagarzinho, quase não dava para se perceber. De repente: Bum! O homem ficou extasiado quando se deu a explosão e de dentro daquilo saiu uma maravilhosa borboleta de asas azuis com detalhes dourados e negros. Ela voou. Não era um voo, era a dança da vida com evoluções que eram verdadeiras preces de agradecimento. O homem estava encantado, até ouviu, no bater das asas da borboleta, um hino de louvor cantado por seres invisíveis, os anjos do jardim. Ficou imaginando que se ele tivesse esmagado o casulo, jamais veria um espetáculo como aquele. Não sentiria aquela emoção, a emoção de ver uma vida desabrochar. Neste instante, interrompendo os seus pensamentos, o gnomo disse:

- Viu como é a natureza? Ela é sábia. Faz coisas que a mente humana não é capaz de entender.
Enquanto o gnomo falava, apareceu uma revoada de borboletas, em torno do homem, como um presente por ele não ter destruído um ser da natureza. Ele, de braços abertos, rodopiou junto com as borboletas.
Virou criança. O gnomo ficou feliz por ter ajudado o homem a entender a importância de todos os seres na natureza. E voltou para a sua casinha na árvore com a certeza do dever cumprido.

15/06/06.

Maria Hilda de J. Alão.

(histórias que contava para o meu neto.)


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A MENINA E O MAR

 


Pisando a areia com graça
A menininha falava ao mar:
- Tu mais pareces uma praça
Feita pra criança brincar.

As ondas são carrosséis,
Os pássaros pipas no ar
Feitas de brancos papéis
Pra tua grandeza exaltar.

Agora inalo teu perfume,
Provo teu gosto salgado,
E digo sem queixume:
Sabes a bife malpassado!

Olha, tu tens uma estrela
Por certo a pegaste do céu
Ou tiveste a vontade de tê-la
Satisfeita por um ventaréu

Derrubando a estrelinha
Na tua água clara e morna
Pra ser a tua filhinha,
E enfeite que adorna

A fina areia da praia.
Cantas como gondoleiros
Remando seus barcos na raia
Rompendo os nevoeiros

Dos meus sonhos infantis.
Corro. Deixo as marcas dos pés.
Oh, brancas ondas gentis
Levem meus passos ao convés

Do barco da minha infância
Ancorado em águas de saudade crua,
E não me importa a distância
Desde que eu possa ver a lua!

Dos olhos do mar, de pupilas claras,
Caíram lágrimas cristalinas
E dissipando todas as neblinas
Transformaram-se em pérolas raras

Rolando até os pés da menina.
E antes de continuar seu caminho
Guardou na bolsa pequenina
O presente dado com tanto carinho

Pelo rei, o mar sem fim,
Para que dele não se esqueça
E que sempre seja assim
Uma criança e feliz permaneça.

27/08/06.

(Maria Hilda de J. Alão)


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

AS MENTIRAS DA BARATA. (poesia)

 


A Barata diz que tem
Um perfume de roseira.
É mentira da Barata
O perfume é de sujeira.

A Barata diz que tem
Um nariz muito elegante.
É mentira da Barata
O nariz dela é de elefante.

A Barata diz que tem
Um castelo bem bacana.
É mentira da Barata
Ela tem é uma cabana.

A Barata diz que tem
Um lindo colar de prata.
É mentira da Barata
O colar dela é de lata.

A Barata diz que dorme
Numa cama de alto luxo.
É mentira da Barata
Ela dorme é no chão sujo.

A Barata diz que tem
Brincos que ninguém tem.
É mentira da Barata
Nem orelhas ela tem.

27/02/2010

(Maria Hilda de J. Alão)

A TROMBA DO ELEFANTE (história)

 

Num tempo muito distante, os elefantes não possuíam tromba como os de hoje. Tinham um nariz curto e redondo e eles só podiam comer o alimento que encontrassem no chão. Às vezes eles olhavam para as árvores, só olhavam porque não tinham como alcançar frutos ou folhas novas dessas árvores. Como seria bom comer diretamente das árvores sem precisar sujar o nariz de terra, pensavam os elefantes mais velhos. E assim iam vivendo os elefantes de nariz curto e redondo.

Anos depois, nasceu um elefantinho. Todos correram para ver o bebê. Ele era igualzinho aos outros, nariz curto e redondo. A mãe, orgulhosa do seu filhote disse:

- Um dia meu filho fará a diferença. Dele nascerá uma nova raça de elefantes.

As outras mamães elefante riam dela e diziam que era maluca talvez cega. Que raça diferente poderia vir daquele elefantinho de nariz curto e redondo igualzinho a qualquer outro? Pergunta uma mamãe elefante que teve seu filhote levado por caçadores. O bebê elefante cresceu um pouco e como toda criança era curioso demais. A mãe o cercava de cuidados, mesmo assim ele escapava e se embrenhava pela mata cheirando tudo que encontrava pelo caminho.

Foi numa dessas escapadas que o bebê elefante se viu diante de uma árvore enorme. Olhou para cima. Quanta folha nova verdinha. E aquelas bolas amarelas? Que seriam? Frutos! É isso. Ele já as vira pelo chão todas sujas de terra ou esmagadas pelas patas dos bichos. Lembrou-se da recomendação da mãe para que não as comesse. Aquelas frutas amarelas nos galhos da árvore despertou seu apetite. Alcançá-las como? Elefante não sobe em árvore. Então ele pôs as patas dianteiras no tronco da árvore e balançou do jeito que seu pai fazia. A árvore nem se mexeu. Ele tentou com a testa, nada. Uma coruja, que estava no alto da árvore, disse rindo:

- Você é só um bebê e esta árvore tem mais de 300 anos. Volta para sua mãe, criança, isso é coisa para elefante adulto.

O bebê elefante, ainda olhando para as folhas tenrinhas e os frutos amarelinhos, desejou de todo coração.

- Eu queria ter um nariz bem comprido para chegar até onde está a frutinha amarelinha, pois de água se enche a minha boquinha.

E a voz subiu para o céu indo além das estrelas onde morava a deusa dos desejos. Ela olhou para baixo e viu o filhotinho com as patas dianteiras apoiadas no tronco da velha árvore olhando para o alto. Parecia estar em estado de graça. A deusa ficou comovida com a inocência do bebê. Abrindo os braços e flutuando no espaço ela profetizou:

- Assim será, bebê elefante. De hoje em diante teu nariz será comprido e se chamará tromba.

E o nariz do bebê cresceu. Cresceu tanto que ele alcançou uma folha verdinha do primeiro galho da velha árvore. Ele voltou para casa o mais rápido que pôde. Depois desse acontecido, nunca mais nasceu um elefante de nariz curto e redondo. O bebê fez a diferença como disse sua mãe. Dele nasceram todos os elefantes de tromba.

10/03/12



 (Maria Hilda de J. Alão)

 (histórias que contava para o meu neto)

BRINCADEIRAS DA INFÂNCIA (Cordel infantil)

 


Brincadeira é cultura
E também tem tradição,
Símbolo de educação
Retrata a infância passada
Na memória fixada
De meninos e meninas.

MENINO

O menino é jogador
Do futebol popular,
Corredor de bicicleta
Que aprendeu a andar
Nos tenros anos de vida.
Laçador de pipa no ar
Mais hábil do lugar.
Rei das bolas de gude,
Do pião riscando o chão,
De correr com seu cão,
Fazer bolas de sabão,
Disputar corrida de saco
Pular muro, subir em árvore,
Comer salsicha no pão.

MENINA

Brincar com bonecas,
Pratinhos e panelinhas,
Fazer comida de mentirinha,
Pular a amarelinha,
Fingir ser professora
Das bonecas e bonecos
Arrumadinhos em fila
Na mesa grande da sala.
Falar com a boneca de pano,
Fazer penteados diferentes
Nas que ganha todo ano.
Correr de bicicleta à tarde
Competindo com os garotos,
Pegar joaninha nas flores
Meninas, são uns amores.

11/01/12
(Maria Hilda de J. Alão)

A Caixa Mágica (cordel)

AS DUAS CARTAS

  Faltavam duas semanas para o encerramento das aulas e as crianças do Grupo Escolar Cristo Rei tinham aulas de recreação. Todos estava...

Sorvete, Sorvetão (parlendas)