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sábado, 18 de dezembro de 2021

A CAIXA MÁGICA (cordel infantil)

 



Depois de muita patifaria
E de truques que fazia
Para pegar o rato Edevar
Pensou o gato Beraldo,
De porte avantajado,

Que só por meio de magia
De fato conseguiria
Abocanhar o pobre Edevar,
Que também vivia cansado
De fugir do terrível Beraldo.
 
Em busca de solução
Para resolver a situação,
Lá se foi o gato Beraldo,
Levando um pequeno fardo,
A procura de um mágico.

Depois de longa caminhada
Chegou Beraldo em Miau City,
Cansado e empoeirado,
E foi logo perguntando:
- Por acaso aqui existe

Um mágico sério e honesto
Que possa me ajudar
A dar um bom corretivo
Num rato sujo e funesto
De nome Edevar?
 
Então lhe foi indicado
Um mágico muito afamado,
O senhor gato Bertoldo
Que fazia qualquer acordo
Desde que lhe pagassem bem.

Chegando a casa do gato mágico
Beraldo contou o caso trágico
De como por várias vezes
Foi por Edevar humilhado.
- Só com a caixa mágica
Seu problema será resolvido.

Foi o que disse Bertoldo
Depois de receber o soldo.
Beraldo então recebeu
A tal caixa que lhe valeu
Trinta moedas de ouro.

Enquanto isso entre os ratos
Corria o que seria boato
Da tal de caixa mágica
Que traçaria a sorte trágica
Do pobre ratinho Edevar.

Dos ratos de Miau City
Ele recebeu mensagem secreta:
- Edevar fique alerta:
Segue o segredo da caixa do pateta.
 E chegou Beraldo com sua caixa.
 
Silenciosamente, na parte baixa
Do lugar onde vivia Edevar
Ajudado pelo gato Elival
Pôs a caixa e retirou o manual
Que ensinava como fazer
A engenhoca funcionar
E dentro dela prender
Aquele que era sua dor de cabeça:
O rato Edevar.

Lendo o esquisito manual
Dizia em forma de ritual:
- Cheiro de queijo parmesão,
Traga para dentro da caixa
Edevar, o rato bobão.

O rato, fazendo teatro,
Andando em câmera lenta
Entrou na caixa mágica
Fechando a abertura da frente.
Pronto. Estava feito.

Beraldo miou de felicidade.
Era só abrir e tirar de dentro
Aquele que era o centro
Do desgosto de um gato:
O ratinho que vivia no mato.

E lá foi bem de mansinho
O gato para tirar o rato
Da caixa mágica que lhe custara
A poupança que acumulara
Para a sua aposentadoria.
 
Ao abrir a caixa com afoiteza
E para sua grande surpresa
Dentro estava a Marquesa
Uma linda gambazinha
Que presenteou o gato Beraldo
Com seu asqueroso perfume.

Onde estava o rato Edevar?
Ele saiu pela abertura dos fundos
E ligeiro ganhou o mundo
Rindo do gato que além de tudo
Foi enganado por Bertoldo,
Mágico de meia tigela,
Que usava bota com fivela,
Casaco e chapéu de feltro.

De magia nada entendia
Fazia tipo só para surrupiar
De tipos como Beraldo
Tudo que tinham economizado
E aumentar seu patrimônio
Sem precisar trabalhar.

10/10/11

(Maria Hilda de J. Alão)

BRINCANDO COM A CACOFONIA

 

Elegante está a baratinha
Saia rodada riscadinha
Numa das mãos ela tinha
Uma bolsa douradinha.

Onde está a menina Suzi?
Perguntou tia Marlene.
Eu vi ela lá na praça
Respondeu a Marilene.

Eles não jogam como nós
Disseram rindo as meninas
São verdadeiros pernas de pau
O time deles nunca ganha.

Mamãe comprei dez balas.
Quanto pagou por cada?
Não foi porcada, mamãe,
Foram só as balas, ah, ah, ah.

Já não brigo com a rosa,
Amo ela de verdade.
Declarou o cravo à violeta,
Só quero paz no planeta.

Não foi preciso ajudar
O cego a rua atravessar
Já que tinha uma bengala
Que o podia auxiliar.

Eu ajudo, você me ajuda,
Uma mão lava outra
Nada mais justo.

  16/12/21

 (Maria Hilda de J. Alão)

SENHORA DONA CATACRESE

 


Mamãe eu quero saber:
O alho tem dente, ele morde?
O fogão tem boca, ele come?
A mesa tem perna, ela anda?
 
Diga-me, também, sem ficar brava,
A xícara tem asa, ela voa?
Filho, isso é coisa de dona Catacrese,
A distinta figura de linguagem
Do nosso rico idioma.

Ela brinca de fazer comparação
De objetos com partes do corpo humano,
Dos bichos e das aves também.

Ela ganhou vida depois do apagamento
Da etimologia da palavra,
Fazendo-a semelhante à metáfora,
Mas desprovida de poética. Coitada!

Veja menino, em hipótese alguma,
Tente dar alfafa aos cavalos do motor
Do carro zero quilômetro
Lá na garagem do seu avô.

Não quero que me pergunte
Se tendo cabeça o prego pensa,
Nem se o coração da floresta
Bate descompassado.

Nariz de avião não sofre de resfriado,
Olho de furacão não precisa óculos,
Louco é quem se atreve
A coçar as costas da cadeira.

Não diga nunca a ninguém
Que o piano abana a cauda
Lá na sala de música
Nem que cabeleireiro
Penteia o cabelo do milho.

Se pensa que pode ganhar
Dos braços da poltrona um abraço,
Pode esquecer seu sapeca,
Nada de televisão!

Você entendeu o que eu disse?
Abra o livro e estude
Porque no peito do pé eu sinto
Um formigamento estranho
Por ficar em pé falando
De tão importante figura.
 
Veja lá meu garotinho,
Quando nos falta um termo específico
Para designar um conceito
Tomamos outro por empréstimo.

Mamãe, foi tão boa a nossa conversa,
Você sabe de tudo um pouco
Agora, diga-me o que tem pra comer
Porque a barriga da minha perna
Está roncando de fome. Ahahahaha!

(Maria Hilda de J. Alão)

A LENDA DO FOGO

 



 A vovó estava atarefada na cozinha preparando os doces para a festa de aniversário do seu neto mais novo. Cinco anos completava o menino, e ele tinha pedido como presente um bolo de chocolate bem grande.

De repente a cozinha foi invadida por um bando de crianças para ver dona Zezinha preparar o grande bolo. Ela bem sabia que a intenção não era ver fazer o bolo, mas lamber a tigela depois que ela pusesse a massa na fôrma. Era assim todos os anos e ela sempre deixava um pouco de massa para a criançada se divertir.

Como morava numa cidade do interior de São Paulo, dona Zezinha tinha fogão à lenha e, como ela sempre dizia, todo o alimento feito no fogão à lenha fica bem mais gostoso. Fogão a gás só para ferver água. Enquanto a vovó batia a massa do bolo, Quitéria, a empregada da família, atiçava as brasas e testava a temperatura do forno. Tudo pronto. O bolo foi para o forno. As crianças lamberam a tigela e ficaram ali aguardando a retirada do bolo depois de assado.

Foi quando Pedrinho, o aniversariante, olhando a lenha ardendo perguntou:

- Vovó, como surgiu o fogo?

- É mesmo! – repetiram as crianças – A senhora conta pra gente?

- Ah, meninos! Existem muitas histórias a respeito do fogo. Tem história grega, alemã, mas eu vou contar uma que é relatada pelas tribos indígenas:

Os índios contam que seus antepassados só tinham para se aquecerem a luz do sol e por isso passavam frio e comiam os alimentos crus. Um índio, de uma tribo longínqua, conhecia o fogo, mas não o dividia com as outras tribos. A filha desse índio era a guardiã da chama que nunca se apagava.

Outra tribo, sabedora do fato, designou o índio mais esperto para descobrir o segredo e trazer o fogo para eles. Este índio vigiou por muitos dias a cabana onde o fogo ficava sempre aceso, até que a índia guardiã saiu para tomar banho no rio. Então ele se transformou numa ave e caiu no rio. A índia, penalizada, recolheu a ave e a levou para a cabana para secar as penas ao calor do fogo.

Quando as penas estavam secas, a ave voltou a ser índio e roubando uma brasa fugiu para a floresta, escondendo-se em uma gruta até que a guardiã do fogo desistisse de procurá-lo.

Percebendo que podia sair sem perigo, o índio transformou-se novamente em ave e, carregando a brasa no bico voou pousando num pinheiro. A brasa incendiou um ramo de sapé. Levando o ramo no bico, a ave voltou para sua tribo ficando a brasa entre as folhas secas. Com o vento, o fogo se espalhou pelo campo e durante muitos dias a mata ardeu em chamas. Vendo aquele fogaréu no mato, os índios de todas as tribos foram buscar brasas e ramos incendiados, levando para suas casas e, partir daí, gente, nunca mais o homem deixou o fogo se apagar.

- Na minha casa o fogo não fica sempre aceso. – disse Marieta, a amiguinha de Pedrinho.

- Para isso o homem deu tratos à bola inventando coisas para acender o fogo sempre que ele queira. – respondeu a vovó.

- Já sei. Ele inventou os fósforos, o isqueiro... – disse Carlinhos o irmão mais velho de Pedrinho.

- Isso mesmo. No começo eles acendiam o fogo batendo uma pedra na outra para gerar uma faísca e assim acender o fogo. Era muito trabalhoso e demorado – explicou dona Zezinha.

Enquanto a vovó falava o cheiro de bolo assado impregnava a cozinha e a casa toda, deixando a meninada com água na boca. E foi sob grande algazarra que Quitéria tirou o bolo fofinho do forno, colocando-o sobre a bandeja de prata para esfriar e receber a gostosa cobertura de chocolate com morangos.

- Vovó, está tão lindo o bolo! – exclamou Pedrinho.

- Viu, meu querido, se não fosse o fogo, adeus bolo de aniversário.

(Maria Hilda de J, Alão)

A LENDA DA CACHOEIRA

 


 

Depois de criar a Terra, Deus foi descansar um pouquinho. Quando estava bem descansado e bem disposto, Ele desceu e ficou por muito tempo observando o trabalho que fizera com  muito amor. Chamou um de seus anjos para Lhe fazer companhia e, daquela montanha muito alta, Deus olhou as florestas, riachos e rios, oceanos e mares e lagos e lagoas.

O anjo apontou as flores e os olhos de Deus brilharam de alegria. Eram tantas as cores e os perfumes que Deus parecia um menino escolhendo brinquedos. Os pássaros voando no espaço cantavam e Deus, pelo canto, identificava cada um deles dizendo ao anjo.

- Este é um canário, este um sabiá...

- Veja os bichos, Senhor! São maravilhosos. Aquele de listras pretas e brancas é o mais alto. Olhe aquele pequenino, todo branquinho de olhos vermelhos, como corre! Eu gosto dele.

Quando o anjo parou de falar e olhou para Deus, viu que Ele chorava. As lágrimas, descendo pela face do Senhor, caiam aos seus pés sendo absorvidas pela terra. Depois de um tempo formou-se uma pequena nascente que foi crescendo. O volume de água aumentou e, caindo do alto da montanha, formou a primeira cachoeira.

Os antigos dizem que toda vez que se descobre uma cachoeira é sinal que Deus esteve ali apreciando o seu trabalho e chorou diante de tanta beleza.

(Maria Hilda de J. Alão)

A LENDA DO BEM-TE-VI

 


 

 Era uma vez um rei que não permitia crianças no seu castelo. Nobre que tivesse filhos ali não podia morar. A razão dessa intransigência era que a sua rainha não podia ter filhos e por isso vivia triste pelos cantos do seu aposento. A tristeza era tanta que a rainha adoeceu. Médicos renomados foram chamados para cuidar dela. Tudo foi feito para que ela melhorasse, mas de nada adiantou. Um dos médicos chamou o rei e lhe disse:

- A rainha necessita de uma criança. É isso que a faz tão triste a ponto de adoecer.

- Ela não pode ter filhos. O que posso fazer para que ela se conforme com o fato?

- Majestade, por que não adota uma criança?

- Como? Onde encontrarei uma criança de sangue real para ser adotada?

- Eu sugiro que o senhor procure em reinos distantes. Talvez encontre.

E o rei mandou procurar. Todos os emissários enviados voltaram de mãos abanando. Nada de criança para adotar. E agora? Perguntava o rei ao seu ministro que também não encontrava solução para o problema. Um dia, em que se encontrava melhor de saúde, a rainha pediu que a levassem ao convento das freiras que ela não visitava há alguns anos. A rainha chegou e foi recebida alegremente pelas freiras e por um menino. A rainha quis saber se o convento se tornara abrigo para crianças, mas a madre superiora lhe disse que aquele menino era uma exceção.

- Pois é, majestade. Um dia de inverno nós encontramos o menino na porta do convento. Alguém o deixou com um bilhete que dizia: “cuidem dele, pois eu não tenho recursos para criá-lo.” Não havia assinatura e por isso não sabemos nada sobre os pais. Este fato aconteceu há cinco anos. A senhora chegou bem no dia do aniversário dele. Todos os anos nós fazemos uma festinha para ele.

- E como é ter uma criança entre vocês? – perguntou a rainha à madre superiora.

- É uma alegria total. Francisco é um anjo que Deus nos enviou.

- E quando se tornar adolescente que farão com ele, madre?

- Será enviado ao convento dos jesuítas para se tornar um deles.

A rainha ficou para a festinha do menino. Francisco logo se tornou amigo de Margarida, a rainha. Segurando-lhe a mão ele a levou ao imenso jardim do convento, onde costumava brincar, e a fez correr escondendo-se atrás dos troncos das árvores. Depois pediu a Margarida para tirar os sapatos e pisar na terra úmida como ele fazia; molhar os pés no pequeno lago de flores aquáticas; correr atrás de borboletas; colher flores para a capela do convento.

Madre Celeste, preocupada com a demora dos dois, saiu à procura deles indo encontrá-los sentados sob um imenso carvalho rindo a vontade. A freira, preocupada, ralhou com Francisco:

- Ora, Francisco, veja só o que fez! Olhe para os pés da rainha, estão sujos de terra. Ela é uma rainha, não pode fazer essas brincadeiras com ela.

- Por que não? Ela gostou. Não gostou, senhora?

- Gostei sim. Nunca me senti tão feliz. Este foi o melhor dia da minha vida. – disse a rainha recolhendo os sapatos do chão e foi caminhando descalça para a porta do convento segurando a mão do menino e rindo muito.

Na volta ao palácio, em sua carruagem, ela cantarolava a canção que o menino lhe ensinou:


- Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré deci.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré deci.

Chegando ao castelo foi recebida pelo rei que a olhava espantado por ela estar descalça e com o vestido sujo de terra. A rainha narrou os acontecimentos daquele dia. Falou da corrida na grama, da terra úmida sob seus pés e até das minhocas que ela pegou com Francisco para jogá-las aos peixinhos do lago. Margarida era outra pessoa. A alegria voltara a iluminar o seu rosto. Foi então que ela fez o pedido ao rei.

- Majestade, será que o menino pode ficar uns dias conosco?

- Ora, Margarida, ele é um plebeu...

- Não, senhor meu rei, ele é apenas uma criança.

A rainha ficou decepcionada com a atitude do rei. Sentindo remorso pela resposta grosseira dada à esposa, o monarca foi aos aposentos reais e, pedindo desculpas a Margarida, consentiu que o menino ficasse desde que não atrapalhasse a rotina do castelo. Os olhos de Margarida brilharam de felicidade. Agora sim, ela teria um filho nem que fosse só por uns dias.

Era o mês de dezembro. A rainha pediu a madre superiora que deixasse Francisco passar o natal e o ano novo no castelo. Sendo o pedido real atendido, o menino ganhou o direito de correr e brincar pelo castelo. Ele só não podia chegar perto da sala do trono. Essa era a ordem do rei. Faltavam uns dez dias para o natal e fazia muito frio, Francisco passava pelo corredor que levava à sala do trono quando viu o rei entrar e não fechar a porta. Ele veio silenciosamente e, pela porta entreaberta, olhou a sala do trono. Como era bonita! Pensava o menino. Procurou com os olhos, pela pequena abertura, o rei. No trono ele não estava. Devagarzinho ele empurrou a porta aumentando o espaço para a visão. Pronto! Ele viu o rei olhando, pela vidraça, o jardim do castelo coberto de neve. Parecia tão triste que o menino arriscou chamá-lo.

- Senhor rei!

- Que queres menino?

- Já que eu não posso entrar, será que poderia sair um pouquinho? Queria mostrar uma coisa para o senhor.

A voz de Francisco era tão suave que o rei não se zangou.

- Entra, menino...

Francisco entrou e foi direto para o trono. O rei ia pedir que ele desocupasse o assento real, mas a sinceridade e a pureza da criança impediram que as palavras ásperas saíssem de sua boca.

- O senhor rei já fez um boneco de neve?

- Não! Um rei não faz essas coisas. Tenho muitos deveres, coisas sérias que você não entende.

- E por que não vamos lá fora experimentar essa brincadeira? – disse Francisco já segurando a mão do rei e o puxando para fora da sala do trono.

O monarca acompanhou o menino. A princípio meio chateado com a insistência, mas ao chegar ao jardim gelado, como que por encanto a atitude do rei mudou.

- Vamos, menino! Ensine seu rei a fazer um boneco de neve.

Nesse exato momento chegavam à sala do trono os ministros e generais que foram convocados para uma reunião. Sentaram-se e esperaram. Passou uma hora e nada do rei. Duas horas, nada do rei. Todos ficaram apreensivos. Que teria acontecido? Perguntavam uns aos outros quando ouviram um gritinho. Parecia a voz do rei. Um dos generais levantou-se, abriu a pesada cortina da janela da sala, e o que ele viu no jardim o deixou de boca aberta. O rei e o menino terminavam de construir um boneco de neve, “o mais maior do mundo”, como dizia Francisco. Todos, agrupados diante da janela, ficaram mais espantados ainda quando o rei tirou o cachecol do pescoço e deu a Francisco. Em seguida ergueu o menino para que ele colocasse a peça no pescoço do boneco de neve.

Foi aí que o ministro das finanças abriu a janela e chamou o rei.

- Majestade, a reunião está atrasada...

- Ah, é verdade. Já estou indo...

Segurando a mão da criança, o rei entrou com os sapatos molhados pela neve e a cada marca deixada no chão reluzente ele dizia rindo ao menino.

- Meu pé é maior que o seu..

- Ah, h, ah, o meu é que é “mais maior”...

Entregando Francisco a Margarida, foi para a sala do trono sem se importar com o estado do manto real, molhado e amassado. Resolvidos os assuntos da reunião, o rei foi ao encontro da esposa para falar sobre os momentos de alegria que ele passou com Francisco e da ordem que deu: a partir de agora as crianças poderiam viver no castelo.

- Eu não disse, senhor meu esposo, que uma criança faz milagres?

E os dias que faltavam para o natal foram coroados de muita alegria com o casal real aprendendo que a felicidade está nas coisas simples da vida. A rainha deixou de ser triste, o rei passou a ser mais tolerante e sorria mais. Finalmente chegou o dia do natal. A árvore toda enfeitada estava carregada de presentes. Após a ceia Francisco, cansado do dia agitado que tivera, dormia no colo da rainha. O rei olhava a cena emocionado. Margarida parecia a mãe de Jesus segurando o menino. Então ele foi até a árvore de natal, pegou um envelope lacrado e o entregou a sua rainha dizendo:

- Querida, este é o seu presente de natal...

Margarida abriu e deu um grito.

- É verdade? Ele é nosso? Oh, meu Deus que felicidade! Você fez tudo sem eu saber. Meu filho, meu filho!

Anos se passaram e Francisco cresceu tornando-se herdeiro do trono do rei Teodoro.

(Maria Hilda de J. Alão)

8/01/12

(histórias que contava para meu neto)

MILAGRE DE UMA CRIANÇA

 


 

 Era uma vez um rei que não permitia crianças no seu castelo. Nobre que tivesse filhos ali não podia morar. A razão dessa intransigência era que a sua rainha não podia ter filhos e por isso vivia triste pelos cantos do seu aposento. A tristeza era tanta que a rainha adoeceu. Médicos renomados foram chamados para cuidar dela. Tudo foi feito para que ela melhorasse, mas de nada adiantou. Um dos médicos chamou o rei e lhe disse:

- A rainha necessita de uma criança. É isso que a faz tão triste a ponto de adoecer.

- Ela não pode ter filhos. O que posso fazer para que ela se conforme com o fato?

- Majestade, por que não adota uma criança?

- Como? Onde encontrarei uma criança de sangue real para ser adotada?

- Eu sugiro que o senhor procure em reinos distantes. Talvez encontre.

E o rei mandou procurar. Todos os emissários enviados voltaram de mãos abanando. Nada de criança para adotar. E agora? Perguntava o rei ao seu ministro que também não encontrava solução para o problema. Um dia, em que se encontrava melhor de saúde, a rainha pediu que a levassem ao convento das freiras que ela não visitava há alguns anos. A rainha chegou e foi recebida alegremente pelas freiras e por um menino. A rainha quis saber se o convento se tornara abrigo para crianças, mas a madre superiora lhe disse que aquele menino era uma exceção.

- Pois é, majestade. Um dia de inverno nós encontramos o menino na porta do convento. Alguém o deixou com um bilhete que dizia: “cuidem dele, pois eu não tenho recursos para criá-lo.” Não havia assinatura e por isso não sabemos nada sobre os pais. Este fato aconteceu há cinco anos. A senhora chegou bem no dia do aniversário dele. Todos os anos nós fazemos uma festinha para ele.

- E como é ter uma criança entre vocês? – perguntou a rainha à madre superiora.

- É uma alegria total. Francisco é um anjo que Deus nos enviou.

- E quando se tornar adolescente que farão com ele, madre?

- Será enviado ao convento dos jesuítas para se tornar um deles.

A rainha ficou para a festinha do menino. Francisco logo se tornou amigo de Margarida, a rainha. Segurando-lhe a mão ele a levou ao imenso jardim do convento, onde costumava brincar, e a fez correr escondendo-se atrás dos troncos das árvores. Depois pediu a Margarida para tirar os sapatos e pisar na terra úmida como ele fazia; molhar os pés no pequeno lago de flores aquáticas; correr atrás de borboletas; colher flores para a capela do convento.

Madre Celeste, preocupada com a demora dos dois, saiu à procura deles indo encontrá-los sentados sob um imenso carvalho rindo a vontade. A freira, preocupada, ralhou com Francisco:

- Ora, Francisco, veja só o que fez! Olhe para os pés da rainha, estão sujos de terra. Ela é uma rainha, não pode fazer essas brincadeiras com ela.

- Por que não? Ela gostou. Não gostou, senhora?

- Gostei sim. Nunca me senti tão feliz. Este foi o melhor dia da minha vida. – disse a rainha recolhendo os sapatos do chão e foi caminhando descalça para a porta do convento segurando a mão do menino e rindo muito.

Na volta ao palácio, em sua carruagem, ela cantarolava a canção que o menino lhe ensinou:


- Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré deci.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré deci.

Chegando ao castelo foi recebida pelo rei que a olhava espantado por ela estar descalça e com o vestido sujo de terra. A rainha narrou os acontecimentos daquele dia. Falou da corrida na grama, da terra úmida sob seus pés e até das minhocas que ela pegou com Francisco para jogá-las aos peixinhos do lago. Margarida era outra pessoa. A alegria voltara a iluminar o seu rosto. Foi então que ela fez o pedido ao rei.

- Majestade, será que o menino pode ficar uns dias conosco?

- Ora, Margarida, ele é um plebeu...

- Não, senhor meu rei, ele é apenas uma criança.

A rainha ficou decepcionada com a atitude do rei. Sentindo remorso pela resposta grosseira dada à esposa, o monarca foi aos aposentos reais e, pedindo desculpas a Margarida, consentiu que o menino ficasse desde que não atrapalhasse a rotina do castelo. Os olhos de Margarida brilharam de felicidade. Agora sim, ela teria um filho nem que fosse só por uns dias.

Era o mês de dezembro. A rainha pediu a madre superiora que deixasse Francisco passar o natal e o ano novo no castelo. Sendo o pedido real atendido, o menino ganhou o direito de correr e brincar pelo castelo. Ele só não podia chegar perto da sala do trono. Essa era a ordem do rei. Faltavam uns dez dias para o natal e fazia muito frio, Francisco passava pelo corredor que levava à sala do trono quando viu o rei entrar e não fechar a porta. Ele veio silenciosamente e, pela porta entreaberta, olhou a sala do trono. Como era bonita! Pensava o menino. Procurou com os olhos, pela pequena abertura, o rei. No trono ele não estava. Devagarzinho ele empurrou a porta aumentando o espaço para a visão. Pronto! Ele viu o rei olhando, pela vidraça, o jardim do castelo coberto de neve. Parecia tão triste que o menino arriscou chamá-lo.

- Senhor rei!

- Que queres menino?

- Já que eu não posso entrar, será que poderia sair um pouquinho? Queria mostrar uma coisa para o senhor.

A voz de Francisco era tão suave que o rei não se zangou.

- Entra, menino...

Francisco entrou e foi direto para o trono. O rei ia pedir que ele desocupasse o assento real, mas a sinceridade e a pureza da criança impediram que as palavras ásperas saíssem de sua boca.

- O senhor rei já fez um boneco de neve?

- Não! Um rei não faz essas coisas. Tenho muitos deveres, coisas sérias que você não entende.

- E por que não vamos lá fora experimentar essa brincadeira? – disse Francisco já segurando a mão do rei e o puxando para fora da sala do trono.

O monarca acompanhou o menino. A princípio meio chateado com a insistência, mas ao chegar ao jardim gelado, como que por encanto a atitude do rei mudou.

- Vamos, menino! Ensine seu rei a fazer um boneco de neve.

Nesse exato momento chegavam à sala do trono os ministros e generais que foram convocados para uma reunião. Sentaram-se e esperaram. Passou uma hora e nada do rei. Duas horas, nada do rei. Todos ficaram apreensivos. Que teria acontecido? Perguntavam uns aos outros quando ouviram um gritinho. Parecia a voz do rei. Um dos generais levantou-se, abriu a pesada cortina da janela da sala, e o que ele viu no jardim o deixou de boca aberta. O rei e o menino terminavam de construir um boneco de neve, “o mais maior do mundo”, como dizia Francisco. Todos, agrupados diante da janela, ficaram mais espantados ainda quando o rei tirou o cachecol do pescoço e deu a Francisco. Em seguida ergueu o menino para que ele colocasse a peça no pescoço do boneco de neve.

Foi aí que o ministro das finanças abriu a janela e chamou o rei.

- Majestade, a reunião está atrasada...

- Ah, é verdade. Já estou indo...

Segurando a mão da criança, o rei entrou com os sapatos molhados pela neve e a cada marca deixada no chão reluzente ele dizia rindo ao menino.

- Meu pé é maior que o seu..

- Ah, h, ah, o meu é que é “mais maior”...

Entregando Francisco a Margarida, foi para a sala do trono sem se importar com o estado do manto real, molhado e amassado. Resolvidos os assuntos da reunião, o rei foi ao encontro da esposa para falar sobre os momentos de alegria que ele passou com Francisco e da ordem que deu: a partir de agora as crianças poderiam viver no castelo.

- Eu não disse, senhor meu esposo, que uma criança faz milagres?

E os dias que faltavam para o natal foram coroados de muita alegria com o casal real aprendendo que a felicidade está nas coisas simples da vida. A rainha deixou de ser triste, o rei passou a ser mais tolerante e sorria mais. Finalmente chegou o dia do natal. A árvore toda enfeitada estava carregada de presentes. Após a ceia Francisco, cansado do dia agitado que tivera, dormia no colo da rainha. O rei olhava a cena emocionado. Margarida parecia a mãe de Jesus segurando o menino. Então ele foi até a árvore de natal, pegou um envelope lacrado e o entregou a sua rainha dizendo:

- Querida, este é o seu presente de natal...

Margarida abriu e deu um grito.

- É verdade? Ele é nosso? Oh, meu Deus que felicidade! Você fez tudo sem eu saber. Meu filho, meu filho!

Anos se passaram e Francisco cresceu tornando-se herdeiro do trono do rei Teodoro.

(Maria Hilda de J. Alão)

8/01/12

(histórias que contava para meu neto)

A Caixa Mágica (cordel)

AS DUAS CARTAS

  Faltavam duas semanas para o encerramento das aulas e as crianças do Grupo Escolar Cristo Rei tinham aulas de recreação. Todos estava...

Sorvete, Sorvetão (parlendas)